ARQUÉTIPOS de NUMEROLOGIA

 

 

            As Humaníadas estão entretecidas à roda do arquétipo do número sete que nos estrutura a vida desde sempre em múltiplas vertentes: a primeira e mais captável, a da semana de sete dias que se generalizou planetariamente e que se organiza à roda de seis dias de trabalho (os chamados dias “úteis”) e um de descanso (o domingo, o dia do Senhor; ou o sábado, o dia sagrado ou consagrado); a segunda, mais radical porque cósmica e com muitas ramificações, a dos 366 dias do ano, um múltiplo de seis (há séculos sabemos que é de 365 dias e cerca dum quarto a duração anual), o que redundou na primitiva contagem de base 6 (assírio-caldaica) e conduziu aos doze meses do ano (novo múltiplo), às 24 horas do dia (outro), bem como aos 60 minutos da hora e aos 60 segundos do minuto (uma vez mais); e levantou o problema do número de dias do mês, que deveria ser de trinta, se a simetria se mantivesse e fosse cosmicamente perfeita, só que o não é: cresciam dias no fim, pelo que se teve de acrescentar um dia a vários meses, quebrando aparentemente a harmonia do arquétipo.

 

                Só aparentemente, porém: é aqui que nasce o sentido do número sete como diferente do seis que o antecede – o Cosmos, na experiência da Terra, não se estrutura apenas na base de ciclos de seis, mas contém nele o germe do número seguinte, o sete, que se não deixa apreender à primeira, se mantém como que escondido, virtual. Daí o estatuto diferente e sagrado do domingo ou sábado: é a área dum mistério cósmico, uma ligeira assimetria que nele existe e se manifesta quando se observa com muita precisão e subtileza, senão escapa-nos.

 

            Foi isto que levou à escrita do primeiro capítulo do Génesis na Bíblia e na Tora (cerca de 500 a. C.), consagrando os seis dias da criação e o sétimo para descanso do Criador. É a mesma ligeiríssima assimetria da descoberta astronómica de que há uma variação minúscula no comprimento de onda do ruído de fundo do Cosmos, vestígio arcaico, hoje ainda detectável, da explosão primitiva do Big-Bang: este pequeno nada que constitui excepção ao resto é que permitiu a formação dos biliões e biliões de Galáxias, dos triliões e triliões de astros do imenso Universo onde a Terra é um vago grão de pó. Doutro modo, toda a massa cósmica seria homogénea e nada se teria conseguido diferenciar. Quer dizer: nem nós sequer poderíamos alguma vez ter existido. Nem, perante o determinismo universal, sermos esta ínfima gota de liberdade, semente doutro mundo: a nossa vida interior com o livre arbítrio que nos marca. Somos directamente o fruto do que há de estranho, de irregular por trás do número sete: ele anota, na base seis, a desviância criadora que é um princípio universal, o estruturador-gerador radical do Universo inteiro, tal como existe.

 

            A génese aritmética do sete confirma o mesmo sentido. Tudo começa com o arquétipo três: nele assenta milenarmente a Trindade Divina, bem como a noção da mudança histórica, como de qualquer transformação, desenvolvimento ou evolução, mesmo individuais – a conjuntura que impera (Pai), aquela em que pode transmudar-  -se (Filho) e o movimento dinâmico que leva duma à outra (Espírito), o que constitui o modelo formal de toda a dialéctica, plurissecularmente (tese – antítese – síntese; afirmação – negação – negação da negação…). Ora, o três resulta da soma do um (o uno original, indiferenciado) com o dois (o primeiro múltiplo, símbolo de todos os mais, de toda a diferenciação e individualização humana e cósmica). Juntos os dois, o uno e o múltiplo, temos o Todo sem qualquer fronteira, o Infinito: o três simboliza a Infinidade porque é tudo, por isso identifica-se a Deus (a Trindade).

 

            O ciclo de toda a mudança, porém, como o da nossa própria transformação pessoal, é interminável: após cada ciclo de três momentos ocorrem outros três e assim permanentemente, ao infinito. Ora, a primeira soma de dois ciclos (que simboliza todo o encadeamento) dá-nos o número seis. O sinal de que os elos não terminam aí, de que se prolongam indefinidamente e, eventualmente, na infinidade se acabarão por consumar de alguma forma misteriosa, é o que significa o número sete, o primeiro do infinito prolongamento, o primeiro do Infinito: a porta da Eternidade. O sete significa a esperança da consumação em plenitude, aponta o Céu, é o Além realizado já nos que ainda vão a caminho, através dum Universo em expansão.

 

            As Humaníadas estruturam-se em catorze vezes catorze partes: são duas vezes o sete, em cada bloco. Falta o terceiro sete, aparentemente, para o arquétipo três aqui também se verificar. Só que ele, a marca do Infinito consumado, ainda aqui é virtual: está apenas em gérmen, na germinação das vidas que queiram servir-se das Humaníadas para inspirar-se nos itinerários que inaugurarem. Mas virtualmente é presente já também numa propriedade dos números do poliedro com que aleatoriamente quenquer pode fazer a escolha do poema-mensagem do dia, nas duas primeiras etapas (referidas atrás em o “Livro das Mutações” – I Ching).

 

            O poliedro das catorze faces deve ser construído a partir dum cubo, o arquétipo geométrico da Kaaba, o monumento sagrado de Meca, de referência para todo o mundo muçulmano.

 

            1 – Constrói-se primeiro um cubo, com as seis faces (de novo duas vezes o número três) numeradas de tal modo que a face superior tenha o número 1 e aquela em que poisa, o 6; a que fica de frente para o observador tenha o 2 e a oposta, o 5; a que fica à esquerda do dois deverá ter o número 3, a da direita, o 4; deste modo, a soma das faces opostas será sete, o número arquetípico de referência, e a disposição relativa delas será, nos números baixos, a do movimento aparente do Sol no hemisfério norte e dos ponteiros do relógio que o reproduz, enquanto os números mais altos se disporão no sentido inverso, em conformidade com a rotação real da Terra, verdade milenarmente oculta e muito tardiamente descoberta.

            2 – Seguidamente cortam-se os oito vértices do cubo pelo meio das faces de cada quadrado, resultando daqui oito triângulos (de novo o número três, agora o dos lados destas faces, a figura geométrica da Trindade e do Olho Divino), a enquadrarem os seis quadrados do cubo original (agora de tamanho reduzido pelo corte); seis quadrados mais oito triângulos dão as catorze faces do poliedro.

            3 – A numeração das faces triangulares deverá ser feita, pelas mesmas razões reportadas em 1, da seguinte forma: pousando o poliedro com o n.º 1 virado para cima e o dois de frente para o observador, os números 7, 8, 9 e 10 devem ser atribuídos, a começar pelo triângulo da esquerda, segundo o movimento dos ponteiros do relógio; os triângulos que se opõem a cada um destes (em que o poliedro repousa quando cada face triangular fica para cima) terão, respectivamente, os números 14, 13, 12 e 11, de modo que a soma das duas faces contrapostas, a visível e a oculta, dê sempre 21.

 

            E eis como encontramos o terceiro sete (3x7=21), o do desafio do Infinito ao tempo da finitude, o da nossa semente de germinar eternidade.