O LIVRO DAS MUTAÇÕES – “I CHING”

 

 

            Na tradição asiática, o “Livro das Mutações” (I Ching) não é por norma lido sequencialmente. Tratando-se de indicações relativas à melhor arte de viver, lê-lo do princípio ao fim, como um tratado ou um romance, levaria a perder, no acervo das múltiplas vias, a maior parte das sábias indicações dele constantes. Ao contrário, a obra é aproveitada para treinar cada qual a abrir-se, acolhedor, ao inesperado: folheada ao acaso, os utentes fecham então os olhos e pousam o dedo num ponto qualquer. Lêem depois o pensamento que aí estiver: acatam-no como a mensagem para aquele dia.

 

            No resto do mundo há muito quem consulte regularmente a Bíblia, o Alcorão e a Tora de igual modo e com idêntica finalidade.

 

            As Humaníadas, até pela enorme vastidão que têm, fatigariam o leitor mais persistente, caso fossem desbravadas de fio a pavio, duma assentada. Mais aconselhável será, até porque a temática é igualmente a da sabedoria de vida e arte de viver, fruí-las dum modo paralelo ao atrás reportado. Evidentemente que estão aí disponíveis para o gozo de quem aprecie poesia (e goste desta em particular), sem limite algum. A saciedade, porém, embota o gosto e o excesso desemboca no fastio. Daí sugerirmos uma abordagem aleatória por três etapas até ao poema-mensagem do dia:

 

            1 – Escolher ao acaso um dos títulos, do n.º 1 ao n.º 14;

            2 – Escolher ao acaso uma das catorze partes de tal título;

3 – Escolher ao acaso um número, entre os do primeiro e do derradeiro poema    desta parte, inclusive.

 

            Depois é apenas ler o poema que lhe coube em sorte, como a mensagem para o dia que o inesperado lhe enviou e com que o desafia.

 

            Para quem pretenda aprofundar a disponibilidade interior para acolher positivamente o imprevisto com que a vida quotidianamente nos provoca (o que designamos como o destino, o acaso, o fatal, o imponderável, o aleatório…), poderá ir mais longe através dum poliedro de catorze faces numeradas, construído conforme as indicações referidas adiante no item dos arquétipos de numerologia. Substituirá então a própria escolha, nas duas primeiras etapas, pela que o dado transformado, após lançá-lo, lhe der. Só terá de escolher o número do poema por si próprio, no fim. O título e a parte serão os dos números fortuitos que o poliedro lhe mostrar na face quadrada ou triangular de cima, quando pare, após cada um de dois lançamentos.

           

            E eis como o “Livro das Mutações” (I Ching) nos pode também a nós inspirar uma abordagem mais gratificante e construtiva das Humaníadas.