TRILHOS  DE  SONHO

 

 

Todo

 

Todo o amor mente,

Que o Todo não é credível:

Todo o amor, todo, é fisicamente

Impossível.

 

 

Proposta

 

Uma proposta tentadora

Tem o calor

Que define, na hora,

O amor.

 

 

Epiderme

 

A epiderme

De apaixonado andar

É esquecer-me

De pensar.

 

 

Arcano

 

O decano dos arcanos:

A idade não

É de medi-la em anos,

- Medimo-la em paixão.

 

 

Tristeza

 

A tristeza duma criança,

Tenha embora todos os bolos,

É ver que jamais alcança

Quem lhe festeje os golos.

 

 

Nuvens

 

Quando amamos, as faixas

São tão celestiais

Que até as nuvens ficam baixas

Demais.

 

 

Agora

 

Se para amar houver mais,

Quero-o agora,

Não vá, pela demora,

Devir tarde demais.

 

 

Mais

 

Mais que do mundo todas as escolas,

Que dos livros do mundo toda a sina,

Que da vida a dureza das esmolas,

- O amor ensina.

 

 

Propor

 

Na vida

Só vale a pena propor

O que mais me agrade e agrida:

- O amor.

 

 

Merece

 

Único alvo

A propor

Que merece ser salvo:

- O amor.

 

 

Viver

 

Amor é deixar de ver

O que é estar vivo

E passar, assertivo,

A ver o que é viver.

 

 

Tenta

 

O amor inventa

Aquilo com que me acerto e me iludo.

- O amor tenta

Tudo.

 

 

Léu

 

Como o amor

Me põe ao léu,

De que vale me opor?

A derrota já ocorreu...

 

 

Perdido

 

Se “estou perdido!” nunca gritaste

Com terror,

Então decerto te enganaste:

- Não é amor.

 

 

Motor

 

O motor,

Se te moves um bocado,

Quando em ti tudo anda parado,

Então é o amor.

 

 

Tempo

 

Quando o tempo de quem amas

É sempre, com fervor,

Proclamas

Saber a amor.

 

 

Basta

 

Basta estender

A tua mão

Para todo o amor aí caber:

- Tua mão sou eu então.

 

 

Dilata

 

O que os corpos dilata

Não é o calor,

A dilatar o que os desata

É o amor.

 

 

Demais

 

Tudo tem medida e peso

Da terra nos quintais.

Apenas o amor que prezo

É demais.

 

 

Adejo

 

Mais que um adejo

De asa,

O amor faz de cada beijo

Uma casa.

 

 

Inferior

 

Se, por superior que sejas

Te vês sempre inferior

Quando pelo Infinito adejas,

Então é amor.

 

 

Sair

 

Como sair donde se tem tudo,

De entrada,

E a gente se sente, sobretudo,

Nada?

 

 

Desencontros

 

As amizades estão lá,

Para sempre existem,

Mas os desencontros, aqui ou acolá,

Enganam: é que, mesmo inocentes, persistem.

 

 

Sai

 

O que um lar arrasa

Quando cai:

- Quando a mentira entra em casa,

O resto sai.

 

 

Par

 

Da vida na caminhada,

Sem par ao lado,

Toda a mulher apaixonada

É um abraço desempregado.

 

 

Amigo

 

O grande amigo é também

O que entende os sinais

Quando a amizade que tem

Fica a mais.

 

 

Compreender

 

Felicidade,

Compreender o outro para assim

Poder de verdade

Amar-me a mim.

 

 

Sempre

 

Dás-me para sempre felicidade

Sempre que de felicidade eu precisar

- É do amor a identidade

Singular.

 

 

Cota

 

O amor tem uma cota

Alta e baixa por igual:

É derrota

Mas é derrota imortal.

 

 

Congrega

 

Do graúdo ao miúdo,

Tudo se congrega no íntimo fulgor.

Quando se conluia tudo,

Então é amor.

 

 

Palhaço

 

Quando não passo,

Pese embora meu valor,

Dum palhaço,

É o amor.

 

 

Lar

 

No lar

Do porvir

Tentar

É a antecâmara de conseguir.

 

 

Corpo

 

Um corpo é o que resta,

Apagado o lume do calor,

Dejecto do que presta:

- Ao corpo só resiste o amor.

 

 

Silêncio

 

Convence-o,

Ao ensurdecedor

Silêncio,

- Senão não é amor.

 

 

Música

 

Amar

É música a sós

A germinar

Em nós.

 

 

Precisa

 

Se de braços teu laço precisa,

Não é um abraço

Que viabiliza,

É um fracasso.

 

 

Procurar

 

Mais difícil que procurar

Quem auguras

É saber ser encontrado, singular,

Por quem procuras.

 

 

Encontrar

 

Alguém que não existe nem há-de existir

Ando a procurar.

Isto não me irá, porém, inibir

De, no desencontro, encontrar.

 

 

Maior

 

O amor maior é o de quem se separa,

No disfarce

Que melhor o simulara,

Sem ter de separar-se.

 

 

Único

 

De escândalo não há temor

Algum:

Ou é único o amor

Ou não é nenhum.

 

 

Ai

 

Fazer de Deus dói,

Tão sozinho perante o adorador.

Ai?! Então foi,

Então é o amor.

 

 

Loucura

 

Se é loucura

De mim tudo à flor,

Não tem cura:

- É o amor.

 

 

Somos

 

Ontem era eu, eras tu,

Agora somos nós, sem pavor

Do tabu:

- É o amor.

 

 

Segundo

 

Cada segundo do dia

Elevar

De para-sempre à categoria

É amar.

 

 

Nadas

 

Uma cadeia de nadas

Em tudo transmudar

Pelas jornadas

É amar.

 

 

 

Assenta

 

Um sofrimento

Que nos assenta perfeito,

Eis o momento

Dum amor do peito.

 

 

Sofrendo

 

Vai sofrendo, sofrendo,

Sempre da alegria num pendor

Em que morre vivendo:

- É o amor.

 

 

Borla

 

Mesmo a elevada quantia

É quase de borla

E nem repararia?

- É do amor a orla.

 

 

Procura

 

Vou à procura de Deus,

Tudo acalenta o fervor

De trepar aos céus...

- É o amor.

 

 

Abraço

 

Um abraço real,

Na demora,

Aperta muito mais, fatal,

Por dentro que por fora.

 

 

Ajoelhe

 

Ante o fulgor do infinito

“Ajoelhe, por favor!”

É o grito.

E é o amor.

 

 

Apenas

 

Um corpo com outro corpo é apenas isso que temos.

Apenas. Não merece palmas.

Todo o prazer vem das almas,

Do que sentimos por dentro do que fazemos.

 

 

Sinal

 

Sou o mais feliz do mundo

E o mais triste, por igual?

- É o sinal

Do amor fecundo.

 

 

Garrafa

 

Abrir uma garrafa de champanhe

Como um tiro na cabeça, de estupor,

- É o perfil que sempre em nós ganhe

O amor.

 

 

Reflectes

 

Se reflectes como amas e desamas,

Quando e porquê,

Então é

Porque já não amas.

 

 

Sem

 

Permanecer

Sem amar

É apenas estar, aguentar,

Até ver...

 

 

Linguagem

 

Todos os que amam falam,

Bem feita a triagem

Do que mutuamente doem e regalam,

Falam a mesma linguagem.

 

 

Escorregar

 

No precipício final a escorregar,

Espero que estejas aí a bulir

Para me agarrar

Quando eu cair.

 

 

Alguém

 

Se alguém eu for que ama alguém,

Quando tal alguém me morre,

Fica o vazio que advém

Por onde o eu-ferida me escorre.

 

 

Agora

 

Sem demora, sem demora

E tudo com toda a cor.

Se só pode ser agora,

Então é amor.

 

 

Corre

 

Se o que te percorre

É o ardor

Dum “vá, corre!”,

- Então é amor.

 

 

Tudo

 

Não digo nada

Mas faço tudo – é o rumor

Da chegada

Do amor.

 

 

Monstro

 

Ninguém imagina

O monstro que eu for,

- É a sina que me destina

O amor.

 

 

 

Não é nunca já

Mas sempre agora

- Eis como estará

O amor na demora.

 

 

Jeito

 

Não sei se o devia ter feito

Mas fiz,

- É do amor o jeito

Feliz.

 

 

Custos

 

Tem custos

E custos elevados:

Os amores não são justos,

Por mal de meus pecados.

 

 

Assim

 

Quero-o assim,

Por bizarro que seja o teor

Que manda em mim:

- É o amor.

 

 

Redor

 

Todos somos

O que estiver em nosso redor,

De que dispomos e não dispomos?

- É o amor.

 

 

Dor

 

Jamais é por engano

A dor

(Como se doer não fora humano!)

- É amor.

 

 

Desde

 

Desde o dia em que te vi

Desataram-se-nos do mundo todos os nós,

Só nós ficamos aqui,

Só nós.

 

 

Cada

 

Cada vez menos eu,

Cada vez mais tu,

Eis como em mim cresceu

Meu eu sem tabu.

 

 

Temo

 

Temo que o mundo

Não esteja pronto para te entender:

É o amor fundo

A ser.

 

 

Dimensão

 

Quando aqueles a quem amas

Não têm dimensão para o acolher,

São do amor as chamas

A ferver.

 

 

Requer

 

Tudo o que faço

Te requer a ti,

É do amor o laço

Em frenesi.

 

 

Crer

 

Amar é crer, casmurro,

Em tudo o que quem se ama for:

Se é burro, é burro,

Se é sonhador, é sonhador.

 

 

Luta

 

O amor é poder de luta,

Ninguém luta mais que quem ama.

Da vida na disputa,

Lição de vida em toda a trama.

 

 

Decreta

 

Tem da eternidade o recorte

E o fulgor.

Se não decreta a morte,

Não é amor.

 

 

Longe

 

Há que bem fundo descer

Para bem longe chegar

- É o amor a crescer

Ao fermentar.

 

 

Parece

 

Se para sempre não parece que irá durar

Sem deixar de parecer

Que para sempre vai acabar,

Então amor não há-de ser.

 

 

Chegou

 

O amor chegou:

A floresta floresceu,

O mar acalmou

- E a vida aconteceu.

 

 

Ínfimo

 

Existo e não existo

No mais ínfimo pormenor,

Ninguém logra explicar isto...

- É o amor.

 

 

Fugir

 

Assim vale a pena fugir

De ti, de mim, do mundo em redor,

Sem ter para onde ir?

- É amor.

 

 

Alta

 

Mesmo quando tudo em alta

Em mim andar e em redor,

O teu corpo faz-me falta,

- É o amor.

 

 

Resignado

 

À justa

Sofro, resignado, qualquer dor.

É (mas custa...)

O amor.

 

 

Fugir

 

Amas quem amas para fugir

À precisão, à dor.

Todos os actos são fugas, a se escapulir,

São cobardes, mas... que bom sabor!

 

 

Tem

 

Se tem de ser,

Então tem muito valor:

Acaba de acontecer

Amor.

 

 

Destruidor

 

Não desistir de procurar

O que não aquece nem arrefece

É o maior destruidor dum lar

Que o planeta conhece.

 

 

Retorno

 

Amar é o retorno à meninice,

Descobrir novas vivências e folguedos,

Em perene traquinice,

E até novos brinquedos.

 

 

Indecifrável

 

Se é indecifrável e enche por completo

O fervor

De que vem repleto,

Então é amor.

 

 

Amado

 

Se não és o ser

Mais amado que a terra conhece em todo o lado,

Então nem és sequer

Amado.

 

 

Está

 

Dói,

Basta, porém, saber que está.

Sempre o amor assim foi,

É e será.

 

 

Antes

 

“Mexe-te, antes

Que se desvaneça!”

- Eis os garantes

De que o amor aconteça.

 

 

Ontem

 

Se até planear o ontem

Viável for,

Então com ele contem,

- É o amor.

 

 

Respiração

 

Se é pela respiração dele

Que te manténs a respirar

Através de toda a pele

- Então é o amor a amar.

 

 

Privilégio

 

Viver a vida é um privilégio

E é um privilégio quando se ama.

Quando não se ama é um sacrilégio

O privilégio de saltar cada dia da cama.

 

 

Rumo

 

Amor é, do perto

Ao longe, fecundo,

Todo o mundo

No rumo certo.

 

 

Quesito

 

Nem o céu é tão bonito

Nem o inferno, tão quente

Em nenhum quesito

Dum amor presente.

 

 

Cem

 

Cem por cento és falível

(Verdade que nunca falha)

- E é do amor a incrível

Falha.

 

 

Faca

 

Isolda e Tristão, Romeu e Julieta,

Inês e Pedro...

Há uma faca que entre eles se espeta:

O amor onde medro.

 

 

Amputado

 

Se te dói o que não tens,

Amputado fingidor,

Toda a dor que em ti reténs

É o amor.

 

 

Vivo

 

Se ainda te deixa vivo

Depois de toda a dor

A que nem se esquiva, esquivo,

- É o amor.

 

 

Perna

 

Se até arrancares uma perna, de paixão

É um acto de ardor,

Então

É amor.

 

 

Respirar

 

Enquanto, ao respirar,

Algo está mal

- É do amor o sinal,

Ao entrar.

 

 

Calçada

 

Se não dói como deve ser,

Não presta para nada

- É o amor a correr

As pedras da calçada.

 

 

Conta

 

Vamos fazer de conta

Que não sabes de nada

- Do amor é a ponta

Da chegada.

 

 

Muito

 

Tem de doer muito

Para findar de vez

- Foi sempre o intuito

De que o amor se fez.

 

 

Penhor

 

- Não te estou a entender!

É o primeiro penhor

Do que há-se ser

Um amor.

 

 

Quão

 

Quão mais longe estiveres,

Mais perto do começo

- É amor, ao seres

Teu próprio tropeço.

 

 

Sugestão

 

Quando toda a sugestão

Perde o valor

Porque não existe outra opção,

- Então é amor.

 

 

Resultado

 

Se menos que uma vitória

Nenhum resultado for,

Então, glória:

- É o amor!

 

 

Actividade

 

Se é a única actividade mantida

A que podes, com pundonor,

Chamar vida,

Então é amor.

 

 

Ganhar

 

Se só pudermos ganhar,

Quer à neve, quer ao calor,

Não há que duvidar:

- É amor.

 

 

Multidão

 

Se meu lar é no meio da multidão

Com o drapejar do calor

Em cada tição,

Então é amor.

 

 

Vida

 

“És a pessoa da minha vida”

Ecoa

“És a vida da minha pessoa”

Em ti contida.

 

 

Apertam

 

Mãos que apertam o medo,

Dissolvem a ansiedade ao calor,

- É o credo

Do amor.

 

 

Resto

 

O resto é um corpo a respirar,

Estendido ao suor

- É o mapa linear

Do amor.

 

 

Resultados

 

Resultados definitivos,

Só lá para o fim da noite

- São segredos activos

Que o amor acoite.

 

 

Impeçam

 

Aquilo que não permite

Que te impeçam de ser feliz

É do amor palpite

De raiz.

 

 

Lado

 

O amor não vai dar a lado nenhum, por isso

Vai a todo o lado

No chamiço

Incendiado.

 

 

Inconsequente

 

Todo o amor é inconsequente

E não é por isto que, por excelência,

É o que mais tem congruente

Consequência.

 

 

Esfera

 

Se até não é o que cuidavas que era

E continua sendo o que sempre foi,

É da esfera

Do amor: dói.

 

 

Imagem

 

Uma imagem

Que só tem a imagem dele:

É a viagem

A que só o amor impele.

 

 

Mundo

 

Colocar o mundo no lugar de ti,

Sendo tu o mundo inteiro

Aqui,

É o amor: primeiro sempre e derradeiro.

 

 

Impede

 

És o que me impede de morrer

Quando

Não deixas de ser

O que me vai matando.

 

 

Mancha

 

Se não admite

Uma única mancha,

É o amor no limite

Que em teu peito se engancha.

 

 

Mãos

 

Se até as mãos recordam

Quem é amado ao amador,

Todos os recantos em nós concordam:

É o amor.

 

 

Pertença

 

Se a felicidade de teu par

Não é pertença tua,

Aí, singular,

É o amor que actua.

 

 

Contigo

 

Se caminha contigo,

Mesmo quando estás sozinho,

Mais que teu abrigo,

É o amor teu caminho.

 

 

Nega

 

Se não nega aquilo que és

Enquanto afirma o fulgor

Que em ti negas cada vez,

- Então não é amor.

 

 

Ainda

 

“Ainda não estou pronto para te amar”

Ouvirás talvez.

Podes ouvir mais verdadeiro, a par:

“Estou pronto para te amar outra vez.”

 

 

Abraço

 

Se um abraço te faz sentir

Que até a morte já passou, na dor

A refluir,

Então é amor.

 

 

Bala

 

Se nem uma bala o mata,

No furor

Que o maltrata,

Então é amor.

 

 

Esquecer

 

Se te faz esquecer,

Na euforia do calor,

Que até podes morrer,

Então é amor.

 

 

Certeza

 

Se até aquilo em que não crês

É certeza para ti,

Então, durante o entremez,

O amor anda por ali.

 

 

Pena

 

A pena irrita,

Fere com dor.

Se até a pena te excita,

Então é amor.

 

 

Orgulho

 

Se de maneira alguma

O orgulho o admite,

Então é o amor que, em suma,

O concite.

 

 

Agradeces

 

Se o que nem sabes agradeces,

Seja lá o que for,

Então em ti não esqueces:

Mora o amor.

 

 

Menos

 

Se cada vez mais

O entendes tu menos,

São do amor sinais

E acenos.

 

 

Fala-te

 

Fala-te alguém

Com calor,

Como se te conhecera bem?

- É o amor.

 

 

Ocorreu

 

Algo ocorreu

Com a estranheza do fervor?

- Aconteceu

Amor.

 

 

Sendo

 

Se não entendes

O que anda ocorrendo,

Para onde pendes?

- É o amor sendo...

 

 

Entender

 

Um amor que logro entender

É tudo o que for

Para quenquer

Menos amor.

 

 

Rendes

 

Se o não entendes

Nem consegues entender,

Então o que em ti rendes

É o amor a ser.

 

 

Resto

 

Se tudo o resto, sem valor,

É tempo perdido,

Então é amor

Vivido.

 

 

Desilusão

 

Se nem o medo da desilusão

A ilusão lhe retira,

É o amor então

Em mira.

 

 

Coma

 

Todos os amores estão

Em estado de coma

E só reviverão

Se em cada dia nova vida se lhes soma.

 

 

Amizade

 

Em amizade

De raiz

Se mede o que grade

A riqueza dum país.

 

 

Lugar

 

Se todo o lugar o vir com a pele

Minha e tua num único andor,

A procissão que me impele

É o amor.

 

 

Parte

 

Se é parte dum destino comum

Perenemente a propor

O desjejum,

Então é amor.

 

 

Passos

 

Se todos os passos te aproximam

De alguém,

As flores que o encimam

São amor que advém.

 

 

Perdoar

 

Perdoar, no lar maninho,

Limpa os canos, decidido.

Quem não perdoa vai a caminho

De ficar entupido.

 

 

Capaz

 

Quem não é capaz

De ajoelhar

É incapaz

De amar.

 

 

Intenso

 

Um amor intenso

Pode não ser intensivo.

Vai resistindo, não muda, denso,

Até que a máquina desliga o morto-vivo.

 

 

Mesmo

 

Se de teu par a felicidade

Está no mesmo lugar da tua,

É amor de verdade

Que em ti actua.

 

 

Mata

 

Como dizer a quem nos mata

Que o amamos (deste amar

Que nos maltrata)

Nem que a morte nos separe?

 

 

Cemitério

 

Se até um cemitério

Romântico for,

Não é um refrigério,

- É um amor.

 

 

Tudo

 

Se, quando nada tens,

Te abraça, contudo,

Então não há reféns:

- Tens tudo.

 

 

Maneira

 

Se maneira não houver

De o dizer doutra maneira,

Então há-de ser

O amor à beira.

 

 

Trambolhões

 

Se não te obriga a dar trambolhões,

Do serão ao calor,

Embora não tenha senões,

Não é amor.

 

 

Ninguém

 

Se não há mais ninguém,

O fulgor

Que ali se mantém

É amor.

 

 

Intenção

 

Se é com intenção,

É fingido o fulgor.

Então,

Não é amor.

 

 

Primeira

 

Dito embora milhões de vezes,

Milhões de vezes feito, charrua ao chão,

O amor, apesar dos reveses,

É sempre em primeira mão.

 

 

Importa

 

Se é o que importa

No meio de seja o que for,

Então, esta porta

É o amor.

 

 

Nem

 

Nem eu nem tu,

Apenas o nós plural, com todo o teor

E sem tabu,

- Então é o amor.

 

 

Queres

 

Se não queres voluntariamente,

Com o que és de melhor e de pior,

Ser feliz com toda a gente,

- Então não é amor.

 

 

Emergência

 

Se não é uma emergência,

Seja lá o que for,

Então, com evidência,

Não é amor.

 

 

Manténs

 

Se manténs o mesmo estado

Hoje e sempre, com pundonor,

Então andas enganado:

- Não é amor.

 

 

Contra

 

Se até contra o impossível

Logras argumentar com valor,

Não é incrível,

É amor.

 

 

Falecer

 

Quem falecer de amor

Jamais soube o que amor é.

De amor só se morre no horror

Que, ainda por cima, nos mantém de pé.

 

 

Especializa

 

Quem ama é que se especializa

Em tudo o que enrije,

Na trama que dia fora lhe desliza

Pelo que o amor exige.

 

 

Lençóis

 

Quando se ama, o que ocorre

É que é debaixo dos lençóis, jucundo,

Que se percorre

O mundo.

 

 

Universal

 

Se é a verdade universal de tua vida,

Seja lá isto o que for,

Ninguém duvida,

É amor.

 

 

Bom-dia

 

Se até um bom-dia

É de amor declaração,

De ti apenas é amor o que irradia

Então.

 

 

Vivo

 

Se estar vivo

É de amor vos germinardes,

Então é amor: festivo

E sem alardes.

 

 

Levas

 

Se levas o destino que te leva,

Enquanto ainda a caminho,

É amor, na treva,

De mansinho.

 

 

Rodar

 

Se a terra ainda deixa de rodar

Quando te beija com fervor,

Então ainda é lugar

De amor.

 

 

Vezes

 

Se jamais olhas alguém

Vezes bastantes,

É o amor que tem

Lonjuras a mais antes.

 

 

Sobrevive

 

Nenhum amor sobrevive

Sem vísceras nem pele:

Se “estás bem?” é a pele que arquive,

“Amo-te!” são as vísceras por que se impele.

 

 

Resposta

 

Se “estás bem?” não obtém resposta

Mesmo de frágil palor,

Qualquer que seja a aposta,

Não é amor.

 

 

Sentido

 

Se o mundo fazer sentido

Fizer com fulgor,

Então o ali vivido

É amor.

 

 

Sumo

 

O amor tem sumo

Com sabor,

Se não é um rumo,

Não é amor.

 

 

Amo-te

 

Se “amo-te” não tem resposta,

Sem da rotina ser o rumor,

A mesa posta

Não é a do amor.

 

 

Mata

 

Se a possibilidade de teu par morrer

Te mata de horror,

O que te ata

É amor.

 

 

Monossílabo

 

Se é monossílabo toda a palavra

Que diz o que sentes no interior,

O fogo que em ti lavra

É amor.

 

 

Salvação

 

Quando, em todos os abraços,

De salvação cada um for,

Então há laços,

É amor.

 

 

Passado

 

Se ao passado não cura

Da dor,

Então não é a figura

Do amor.

 

 

Estar

 

Se basta estar

Sem impor

Sequer o lugar,

Então é amor.

 

 

Única

 

Se tu és a peça única

Que sempre requer o par,

Inconsútil túnica,

Então é amar.

 

 

 

Só quem ama consegue,

Prisioneiro do fulgor

Que o persegue,

Ver o amor.

 

 

Sais

 

Se entras liberdade

E sais fervor

Que te invade,

Então é amor.

 

 

Dias

 

Se é do outro pelos dias

Que os teus teces com vigor,

Então não são fantasias,

É amor.

 

 

Entretido

 

Se entretido demais não te deixa

Para poder viver ao sabor,

Então a tua deixa

Não é amor.

 

 

Prisão

 

Se até uma prisão te faria

Feliz, ao se te impor,

Então não é do teu dia,

É do amor.

 

 

Voo

 

Se te faz ver-te como jamais te viste,

Feito voo de condor,

Não és tu que existes no que em ti existe,

É amor.

 

 

Visam

 

Pelo que visam no que são,

Todos os amores

Então

São superiores.

 

 

Fala

 

Se quando te fala te ouves a falar,

Tu que nem és falador,

Então és lugar

De amor.

 

 

Imaculado

 

Se mesmo sangrando é imaculado,

Tal o fervor,

Não há chaga do lado,

Há amor.

 

 

Interrompe

 

Se interrompe tudo o resto

Com um murro sem pudor,

Só pode ser um apresto

De amor.

 

 

Continuar

 

Como continuar a vida

Quando uns olhos te deixam fixo na parada?

Como pedir um caminho, em seguida,

Se encontras um destino à chegada?

 

 

Nós

 

Para irmos para nós

Por onde vamos?

Em que lugar, com que avós,

Onde o nó do nós para onde caminhamos?

 

 

Errado

 

Se tens tudo para dar errado

E, contudo, é do mundo o melhor

E mais acertado,

Então é amor.

 

 

Ambos

 

Nós ambos e a parede entre

É tudo de que temos precisado

Para que tudo gradualmente se nos adentre,

Um silêncio partilhado.

 

 

Vida

 

A vida que faltava,

A liberdade com um corpo a se propor,

Alguém que nem sonhava,

- É mesmo o amor.

 

 

Melhor

 

Se crês que em teu parceiro

Tudo é o melhor

No fundo mais fundo e derradeiro,

Então é amor.

 

 

Língua

 

Se apenas aquela língua terna,

De palavras até sem rumor,

É materna,

Então é amor.

 

 

Deserto

 

Se mesmo a meio do deserto

Te encosta à parede, senhor,

Então é, desperto,

O amor.

 

 

Segues

 

Se o segues mesmo ignorando

O teor

Do que se andar passando,

Então é amor.

 

 

Vais

 

Vou para onde vais,

Que, mesmo que vá para outro lado,

Não deixarei de ir ancorado

Ao teu cais.

 

 

Caminhar

 

Quando se amar,

Até a forma extrema

De caminhar

É poema.

 

 

Tudo

 

Amor é o que faz haver

Tudo

O que todas as vidas, a miúdo,

Têm de ter.

 

 

Procurar

 

O que te ensinar

Com ardor

A procurar

É amor.

 

 

Longe

 

Se é sempre demasiado longe

Onde não estiver

E tu, embora na multidão, um monge,

- É o amor a ser.

 

 

 

Tentar

 

Chegar

E, com ardor,

Tentar,

- Eis o amor.

 

 

Nada

 

Se, com a mão cheia de nada,

Tens tudo o que preciso for

Para tudo comprar duma assentada,

Então é amor.

 

 

Bastante

 

Se não é o bastante

Para meter nojo, com falso pudor,

A quem passou adiante,

Então não é amor.

 

 

Acréscimo

 

Temos o bastante para não ter nada,

O resto só por acréscimo,

Estamos prontos para a estrada

- É do amor o préstimo.

 

 

Meio

 

Se a meio caminho admite começar,

Meio sol-pôr,

Então, seja o que for que aí andar,

Não é amor.

 

 

Tocáveis

 

Se nem os corpos são tocáveis,

De tão interior

Em afectos inefáveis,

Então é amor.

 

 

Incerto

 

Se, embora incerto,

Te deixa seguro e senhor,

Mais longe ou mais perto,

É sempre amor.

 

 

Grande

 

Se é grande demais para o tamanho

Do melhor entendedor,

Então é amanho

Do amor.

 

 

Céu

 

Todo o amor se ama no céu.

Se pés na terra vem propor,

Rasgou o véu:

Não é amor.

 

 

Satisfaz-te

 

Satisfaz-te e nunca te impede

De mais te impor

E mais te concede e a mais procede...

- É o amor.

 

 

Silêncios

 

Se até as palavras

São silêncios no brando rumor

Das lavras,

É o amor.

 

 

Pequeno

 

Se faz Deus sentir-se pequeno,

Tal o esplendor

Sereno,

Então é amor.

 

 

Nova

 

Se uma nova verdade te leva a inventar

Maior, melhor,

Então, singular,

É o amor.

 

 

Arder

 

Se já deixou de arder,

Amor já deixou de ser.

 

Por mais que a garra tenha sido adunca,

Não foi amor nunca.

 

 

Pareces

 

Se de repente tu nem tu pareces,

Do súbito palor

Com que me apareces,

Então é amor.

 

 

Arroste

 

Se te faz voltar ao que nunca foste

No interior

Que contigo arroste,

Então é amor.

 

 

Tropeças

 

“Nunca mais apareças,

Mas volta sempre, por favor!”

- Se nisto tropeças

É amor.

 

 

Volta

 

Se volta sempre embora nunca mais apareça,

A dor

Que meça

É amor.

 

 

Faço

 

Se aqui me faço

Do teor

Com que me enlaço,

Então é amor.

 

 

Cabe

 

Se o que foste ali não cabe,

Não tem o sabor

A que hoje sabe,

Então é amor.

 

 

Intocável

 

Se é intocável,

De sacrário com pendor

Inefável,

É amor.

 

 

Acordar

 

Se te faz acordar para o que és,

Com subtil candor,

A arrepiar-te da cabeça aos pés,

É amor.

 

 

Fincando

 

Amor é o que, aqui

Se fincando,

Te tira de ti

A ti te levando.

 

 

Perfeição

 

A perfeição no amor,

Perene revisão de conduta,

Jamais se poderá propor

Como absoluta.

 

 

Perdão

 

Se pedes que te peçam perdão

Por favor,

Pelo que nem sabes se é perdoável, então

É amor.

 

 

Risco

 

Só quem ama corre o risco de morrer.

Os mais, por mais absortos,

Apenas o risco poderão correr

De continuar mortos.

 

 

Queda

 

Se mesmo em queda te obriga a avançar

Com o mesmo verdor,

Então, lapidar,

É o amor.

 

 

Raro

 

Se é raro a consciência

Lograr chegar à boca,

Então é do amor a excelência

A sair da toca.

 

 

Treva

 

Se na fuga à treva

É um archote de calor,

Se só vais para onde te leva,

É amor,

 

 

Fizer

 

Se até dum não fizer um sim,

Seja em que domínio for,

Assim

É amor.

 

 

Resiste

 

Se nem a consciência lhe resiste,

Perdido o vigor,

O que ali assiste

É amor.

 

 

Letra

 

Quando uma letra basta para o definir

E é um íntimo alvor,

Então, o que nos leva a ir

É o amor.

 

 

Interrompe

 

Se não interrompe até

O que ainda nem começou,

Então não é

Amor que ali soou.

 

 

Ouves

 

Se, quando ouves “acabou”,

“Acabei-me“ for

O que entendes que soou,

Então é amor.

 

 

Escravizado

 

Se até mesmo escravizado

Te sentes um rei, senhor,

Então, em todo o costado,

É amor.

 

 

Quebra

 

Se te quebra todo

Largando-te no pendor

Que afinal é o do teu modo,

Então é amor.

 

 

Conflito

 

Se até o conflito pacifica

No dinamismo do calor

Que ambos funde no que os multiplica,

Então é amor.

 

 

Silêncio

 

Quando até no silêncio ouvimos,

Inconfundível rumor

Da fundura dos cimos,

É amor.

 

 

Gota

 

Se te abarrota

Um ror

Com apenas uma gota,

É amor.

 

 

Contudo

 

Nada

Em redor

E, contudo, tudo é estrada

- É o amor.

 

 

Muro

 

Quando até o muro que separa

É trampolim de unir o saltador

Com o par que se lhe depara,

Então é amor.

 

 

Salões

 

Quando em salões contíguos estais

E estais no mesmo salão,

Numa lonjura mais perto que jamais,

É o amor então.

 

 

Pisadura

 

Quando a pisadura, mais que no pisado

Dói no pisador,

A ferida do lado

É do amor.

 

 

Louco

 

Se chamarem-te louco te elogia

Sem rancor

Nem ironia,

Então é amor.

 

 

Mexe

 

Se nada mexe em ti

Por mais que tudo mexa em redor,

Então, aí,

É o amor.

 

 

Hora

 

Quando a toda a hora a vida te espera

E o poente é um alvor

De quimera,

Então é o amor.

 

 

Sentes

 

Se, por mais guerra que haja, te sentes em paz;

Se, por mais paz que haja, te sentes em guerra;

A contradição o que a faz

É o amor que te ferra.

 

 

Segundos

 

Quando poucos segundos valem

Uma vida inteira

E dela inteira falem,

É o amor à tua cabeceira.

 

 

Sonho

 

Olhos abertos a encontrar o sonho,

Seja lá por onde for,

E do Universo inteiro disponho,

- Então é o amor.

 

 

Babar

 

Se te não faz babar,

Do interior

Fogo pingar,

Então não é amor.

 

 

Braço

 

Quando nenhum braço

Se vem contrapor

A um abraço,

Então é amor.

 

 

Acordar

 

Se te faz acordar

Com fervor

Sem deixar de te fazer sonhar,

É amor.

 

 

Quase

 

Se parece que está quase a acabar,

Sempre quase em sol-pôr

E quase sem luar,

Então é amor.

 

 

Urgente

 

Se quase te matou

E é urgente salvar-lhe a vida

Que se encravou,

É o amor em lida.

 

 

Evita

 

Se não evita a morte

Com fervor,

Desta sorte

Não é amor.

 

 

Principiou

 

Se tudo por “ haja-o-que-houver”

Principiou por se propor,

Então há-de ser

Amor.

 

 

Agora

 

Se tem de ser agora,

No calor

Da hora,

Então é amor.

 

 

Daqui

 

Se pode ser daqui a pouco,

Quando o verdor

Já ficou mouco,

Então não é amor.

 

 

Rede

 

Estar numa zona sem rede

Com o suor

De toda a sede,

Então é amor.

 

 

Piroso

 

Se não é piroso, não te deixa inapto,

Se não causa, a contrapor,

Enjoos em quem te vir mentecapto,

Então não é amor.

 

 

Descoberto

 

Se inteiramente a descoberto

Te finda a pôr,

Então, livro aberto,

É amor.

 

 

És

 

Se doutrem és

Como jamais de ti foste, sem error,

Então, sem mais talvez,

É amor.

 

 

Execrável

 

Se do mundo o mais execrável

Não deixa de se impor

Como do mundo o mais amável,

Então é amor.

 

 

Mentir

 

Se te é irresistível

Mesmo a mentir,

Não é incrível,

É o amor a fluir.

 

 

Aldraba

 

O amor, sem definição,

Não aldraba:

É um lugar que não

Acaba.

 

 

Nome

 

Um nome

E é o que há de mais excitante no mundo!

Mais que de amor a fome

Que é que haverá de mais fecundo?

 

 

Recuperado

 

Embora de vez perdido,

Está sempre a tempo de ser recuperado:

O amor tem sentido,

Não fado.

 

 

Tom

 

O amor contém

Este tom:

Só o que lhe convém

É bom.

 

 

Imbatível

 

O imbatível

Dentro de nós,

Incoercível,

São do amor os cipós.

 

 

Mania

 

O apaixonado

Tem a mania pateta

De que o dia

É poeta.

 

 

Vem

 

Se souberes donde vem,

Tenha embora o valor

Que tem,

Não é amor.

 

 

Desocupado

 

Se está desocupado,

Mesmo um recanto em teu redor

Ignorado,

Não é amor.

 

 

Frente

 

Quando o outro à tua frente

Vais antepor,

Então, automaticamente,

É amor.

 

 

Nenhuma

 

Se nenhuma filosofia

Lhe explica sentido nem sabor,

Nem nenhuma sabedoria,

Então é amor.

 

 

Ouvir

 

Se te impede de ouvir

Seja lá o que for

Que dali não vejas provir,

Então é amor.

 

 

Deprimente

 

O amor é deprimente

Para o que o não tem no horto

E dele viver ausente:

Se te deprime, estás morto.

 

 

Nunca

 

Se amas um país, nunca amaste:

Num naco de terra o amor colocar

É não merecer que baste

Por cima da terra andar.

 

 

Preferir

 

Se te leva a preferir

A realidade cerzir ao sonho, mesmo o maior,

Então, por ti além a ir,

É o amor.

 

 

Tudo

 

Entra com tudo fechado,

Ganha lugar com tudo cheio,

Então todo o lado

É de amor o meio.

 

 

Livre

 

Se te sentes mais livre, sempre mais,

Quão mais preso a teu par isto for,

Então não são ais,

É amor.

 

 

Começo

 

Se é um bom começo

E sempre um bom começo seja lá o que for,

Então qualquer tropeço

É amor.

 

 

Acaba

 

Mais que o que nunca acaba,

O amor, a par,

Para o que não menoscaba,

Vive sempre a começar.

 

 

Mata

 

Um amor largado à sorte

E com bravata

É como a morte:

Um dia mata.

 

 

Relacionamento

 

Um relacionamento,

Ao se erigir,

É, a todo o momento,

Construir, construir, construir...

 

 

Ponto

 

Se em ponto de não-retorno

Ainda não for,

Por belo que seja o contorno,

Não é amor.

 

 

Alvo

 

Amar alguém é ficar

Nas mãos de toda a gente,

Alvo fácil que, ao amar,

Sou, indigente.

 

 

Queda

 

Se precisa duma queda

Para se erguer superior,

Ceda o que ceda,

Não é amor.

 

 

Como

 

Se não sabes como nem porquê,

Seja lá o que for

Que em ti toma pé,

Então é amor.

 

 

Certeza

 

Se apenas avanças na certeza

De que o rumo te não vão impor,

A tua empresa,

Então, não é amor.

 

 

Pesa

 

Se não pesa demais,

Chumbo ao calor

Da bigorna dos ideais,

Então não é amor.

 

 

Apenas

 

Apenas o amor

É tema que jamais se encerra:

Engloba-te, funda-te, faz-te, de pés na terra

E a cabeça na infinidade do alvor.

 

 

Encontra

 

O amor ninguém encontra

E não tem cura:

Tendo eternamente um contra

Apenas a vida inteira se procura.

 

 

Acreditar

 

Amar é acreditar

Que basta amor, por mais furtivo,

Para sustentar

Um ser vivo.

 

 

Notícia

 

Quando amamos,

Toda a notícia, mesmo à toa,

Que não seja a do fim do amor que respiramos,

É boa.

 

 

Acabe

 

Por mais que te enalteça e gabe,

Se a toda a hora não tens temor

De que acabe,

Então não é amor.

 

 

Dor

 

Quando amamos, de quem amamos a dor

Não é, já que em nós a sentimos.

Se nos impede de ser, presos aos limos,

Então é amor.

 

 

Poema

 

Quando amamos, até a prosa,

Independentemente do tema

Que glosa,

É poema.

 

 

Agradecer

 

Amar é agradecer

Algo, mais dele o contrário,

Com o mesmo parecer

Sumário.

 

 

Abraçar

 

Quando amo,

Nenhum gesto de abraçar,

Entre as vidas um tramo,

Consegue acabar.

 

 

Oferece

 

Se o que te oferece quem amas com fervor

Não te arrebata,

Então não é amor

O que te mata.

 

 

Presente

 

Amar é o presente perfeito sempre ver,

Ao reparar

Em todo o presente que vier

De quem se amar.

 

 

Abraçar

 

Amar é abraçar sempre o mesmo abraço

 E no mesmo abraço presente

Viver sempre o traço

Dum abraço diferente.

 

 

Menino

 

Se te sentes um menino

Ao sabor

Do destino,

Então é amor.

 

 

Inéditos

 

Por mais que os créditos

Corram iguais de mão na mão,

Amar é ver inéditos

Em cada repetição.

 

 

Modula

 

O amor modula as artes

E o modo:

Amar é saborear as partes

Sem destruir o todo.

 

 

Apenas

 

Quando apenas amor tens

E acreditas, contudo,

Que tens tudo,

Então é amor em seus aléns.

 

 

Diz

 

Se o que diz a ti te diz

Como se tiveras dez anos,

Então é amor de raiz

Por trás dos panos.

 

 

Fichas

 

Se todas as fichas, sem mais nada conexo,

Vem pôr

No sexo,

Então não é amor.

 

 

Espaço

 

Se deixa espaço para mais,

É dos pequenos:

Sinais

De amor a menos.

 

 

Casal

 

Casal feliz é o casal

Que de sonhos mantém um ror.

Se não sonhar, ideal,

Não é amor.

 

 

Suficiente

 

Se não for suficiente

O pé ao pôr

No patamar da frente,

Então não é amor.

 

 

Rotina

 

Quando alguém ama, tudo inclina

Para o pendor desejável:

Até a rotina

Devém amável.

 

 

Exalte

 

Amar é, sobretudo,

Quanto exalte:

É sentir que está ali tudo,

Por mais que tudo falte.

 

 

Beijo

 

Sem pejo,

Em brasa,

O amor faz de cada beijo

Uma casa.

 

 

Fazíamos

 

Enquanto só amor fazíamos,

A decepção maior

É que ambos críamos

Que éramos amor.

 

 

Prazer

 

Só prazer, não,

Nem mares dele, nem rios:

É que aquilo em que o prazer é bom

É em cobrir vazios.

 

 

Pior

 

Pior que a morte

Mais atroz

Só matar um amor bem forte

Dentro de nós.

 

 

Segundo

 

Amar

É, de cada segundo

Um para-sempre elaborar,

Fecundo.

 

 

Resto

 

O resto são estruturas de entretenimento,

Quando muito, caminhos, a grosso e a fino

No mapa do momento...

- Só o amor é o destino.

 

 

Feita

 

Qualquer alma é feita de amor.

Ou amas todo e todo és amado

Ou, se tal não for,

Amor não há em nenhum lado.

 

 

Amas

 

Se amas e és amado,

Então tens o que mais ninguém,

Em mais nenhum lado,

Tem.

 

 

Jovens

 

São jovens demais

Para saberem, sobretudo,

Que nenhum amor jamais

Consegue tudo.

 

 

Saber

 

Amar,

Mais que uma aposta,

É apenas precisar

De saber que se gosta.

 

 

Pouco

 

Mouco

Na estrada,

O amor, se sabe a pouco,

Então não sabe a nada.

 

 

Inesquecível

 

Amar é esquecer,

De tão vulnerável, intangível.

Por isso é que não deixa de ser

Inesquecível.

 

 

Curto

 

Do vulcão o surto

É tal surto de fervor,

Que todo o poema é curto

Para o amor.

 

 

Idade

 

O amor jamais há-de ter

Qualquer idade:

É fazer

Eternidade.

 

 

Indigna

 

Se toda a palavra estiver a mais,

Indigna do fulgor

Com que brilhais,

Então é amor.

 

 

Génio

 

O amor

Descobriu, lapidar,

Que o génio maior

É o que sabe amar.

 

 

Duração

 

Não é na duração

Que o amor se mede ou persuade,

É na gestão

Da profundidade.

 

 

Pronto

 

Se não sabes, de repente,

O que é o amor, hás-de então estar

Pronto, finalmente,

Para amar.

 

 

Suporte

 

Qualquer suporte, por mais agudo,

Outros requer por seu norte.

O sexo suporta tudo

Menos ser o único suporte.

 

 

Cura

 

O amor procura, procura

A cura, com ardor.

Se tem cura,

Não é amor.

 

 

Risco

 

Se o que fazes

O ponderas como um risco,

Então teus gestos, por mais capazes,

Não têm de amor um cisco.

 

 

Magoar

 

Quando de magoar

Capaz não for

Ao te excitar,

Então não é amor.

 

 

Banal

 

Se quem amas te parece banal,

Apesar das heróicas famas,

Então, afinal,

Não é quem amas.

 

 

Pulsar

 

Aqueces,

É o amor a pulsar

Quando te esqueces

 De pensar.

 

 

Estai

 

O amor é o meio,

Da mastreação o estai.

Importa-me lá saber donde veio!

Importa-me é saber para onde vai.

 

 

Vazios

 

O prazer é bom a encobrir vazios,

O prazer esconde.

Depois cuidas amar quem te apraz em teus estios

E só amas o prazer que te responde.

 

 

Capaz

 

Afinal não é amor

Quando, afinal, és capaz de pensar

Com todo o teor

Junto de quem cuidavas amar.

 

 

Mesmo

 

Mesmo quando lesa,

Mesmo quando há dor,

Se o amor pesa,

Então não é amor.

 

 

Dilata

 

O que os corpos dilata

Não é o calor.

Não é fogo de oiro nem de prata,

É o do amor.

 

 

Apraz

 

No amor tudo apraz

No que se der.

Quando amamos, tudo o que dermos o que faz

É receber.

 

 

Sóis

 

Quando amamos, todos os sóis

Habitam o instante,

Todos os antes e os depois

São durante.

 

 

Sim

 

Quando amamos, as lavras

Arroteiam-se num tal confim

Que todas as palavras

Dizem sim.

 

 

Conexo

 

Todos os amores deviam amar

Como se fora tão conexo

O par

Que todo o corpo é um sexo.

 

 

Lágrima

 

Quando amamos, a lágrima que dum escapara

E corre

Do outro pela cara

Escorre.

 

 

Mel

 

Quando amamos,

Todas a luas, mesmo as de papel

Que recortamos,

São luas-de-mel.

 

 

Casa

 

Quando amamos, por uma janela ao lado

Se espreita:

O corpo amado

É a casa perfeita.

 

 

 

Quando amamos, atado o nó

Das ilusões,

Os dois corpos são um só

Parque de diversões.

 

 

Descubro

 

Descubro o teu corpo tal se descobrira

Deus, além.

A felicidade é o rosto que melhor confira

O aspecto que Deus tem.

 

 

Conquistar

 

Com gestos corteses

Que é que talhamos?

Amar é conquistar todas as vezes

O que já todas as vezes conquistámos.

 

 

 

Quando se ama, com fé

Tanto na paz como no conflito,

“Amo-te” é dito

Com olhos de quem vê.

 

 

Inteiramente

 

Querer ser inteiramente

O que hoje és tem o perfil

De seres integralmente

Imbecil.

 

 

Visto

 

Quando amamos, mesmo sem antolhos,

É isto:

Só o que está diante dos olhos

É pequeno demais para ser visto.

 

 

Traço

 

Quando amamos e nada o distorça,

O traço

Dum abraço

É sempre com força.

 

 

Olho-te

 

Olho-te e reparo

Que as palavras que eu acolho,

Quando fundo as aclaro,

Moram dentro, afinal, do que em ti olho.

 

 

Casamento

 

Quando amamos, aos régios

Aprestos afeitos,

No casamento não adquirimos direitos,

Ofertam-nos privilégios.

 

 

Papel

 

Quando amamos, casamento

Não é papel assinado, num prurido

De momento:

- É papel sentido.

 

 

Falamos

 

Falamos de amor

Deste jeito:

Quando for

Sem precisar de ser feito.

 

 

Teste

 

É amor que ajuíza

Que preste

Quando não precisa

De teste.

 

 

Pele

 

É amor em tua pele

Aí,

Quando até chegares a ele

Nunca soubeste de ti.

 

 

Manifesto

 

O amor é um manifesto

De realidades

Quando o resto

São impossibilidades.

 

 

Cabo

 

O amor

É o coração

A dar cabo do melhor

Da razão.

 

 

Memorável

 

O amor

O que tem de memorável

É que jamais dele o teor

É aconselhável.

 

 

Basta

 

Quando basta existir, como se de lei

Com o favor,

Para quenquer se sentir rei,

Então é amor.

 

 

Parte

 

Falamos de amor

Quando uma parte é de tal modo

Que é uma amostra do teor

De todo o todo.

 

 

Liberdade

 

Quando só há liberdade

Por dentro desta prisão

Que tão meiga nos persuade,

É amor então.

 

 

Pele

 

Quando é só ele,

Quando é só ela,

É amor na pele

Que toda se arrepela.

 

 

Maneira

 

Se doutra maneira

Não pode ser nem supor

Para a vida inteira,

Então é amor.

 

 

Dividido

 

Quando dividido,

É tão grande o amor

Que em cada bocado repartido

É maior.

 

 

Tamanha

 

O amor é de grandeza tamanha

Que escolhe sempre bem os píncaros visados

Da montanha

Até de olhos fechados.

 

 

Senti

 

Tanto em mim te senti

Que te sinto até meu confim.

Cada dia sem ti

É um dia sem mim.

 

 

Feliz

 

Quando alguém está feliz

Para ver feliz quem ama,

Então é amor da raiz

Até à rama.

 

 

Lareiras

 

Já vi mais de cem lareiras e nem uma

Me aqueceu o coração.

Tu não tens lareira nenhuma

E o calor que me vem de tua mão!

 

 

Desperta

 

Amar,

No que nos desperta,

É deixar sempre, deixar

Uma porta entreaberta.

 

 

Mistério

 

O mistério jamais o resolvi,

Fica sempre após:

O sentido da vida é de mim para ti

Eternamente a caminho de nós.

 

 

Antes

 

Antes de ti, doente,

Doíam-me as costas tanto, tanto!

Agora, no presente,

Apenas tu me dois. E quanto!

 

 

Minuto

 

Dá-me um minuto, um qualquer

Mas de verdade,

Para eu te conhecer

Desde toda a eternidade.

 

 

Percorri

 

Percorri mundo, muito mundo,

A gosto e contragosto,

E não há paisagem fértil nem porto mais fecundo

Que o teu rosto.

 

 

Curta

 

A vida é curta demais

Para perdermos energias

Com o que não envolva mais

Do amor as fantasias.

 

 

Elegância

 

A elegância,

Quando apareces,

É aquela instância

Em que aconteces.

 

 

Leva

 

Que aconteceu

A quem ama?

- Leva para a cama

Quem só pode levar para o céu!

 

 

Juntos

 

Não há intimidade maior,

A avivar as chamas,

Que olharmos juntos, amor,

Para o que mais amas.

 

 

Mundos

 

O amor são dois mundos que se unem

Sem fazerem ideia, a seguir,

Mal se coadunem,

De como se hão-de unir.

 

 

Nunca

 

Haja o que houver,

Nunca deixamos

De ser

O que amamos.

 

 

Tema

 

Da poesia o tema

Nunca o vi a nu

Senão no poema

Que és tu!

 

 

Preparado

 

O amor é andar preparado

Perenemente desde já

Para aquilo que sabemos pelo fado

Que nunca ocorrerá.

 

 

Procura

 

Ando pela vida, sem engodos,

À procura de ti, no real e fantasias,

E ainda bem que te encontro todos

Os dias.

 

 

Ratoeira

 

Há uma ratoeira

Com o engodo de Deus

Quando teus olhos, à minha beira,

Cegam os meus.

 

 

Melhor

 

Tento o melhor para me amares

Ou amares mais,

Que a um homem só de que servem patamares,

Embora geniais?

 

 

Dentro

 

Ninguém sabe o que é perder,

Meu dentro a se esvaziar,

Enquanto pai e mãe tiver

Para abraçar.

 

 

Perder-te

 

Perder-te mudou tudo,

Da vida na resma,

E tudo continua, contudo,

Na mesma.

 

 

Casas

 

As casas

Não servem para morar,

Que têm asas:

- Servem para amar.

 

 

Procurarem

 

Amar é o estado

De procurarem mais os dois

Mesmo depois

De já terem encontrado.

 

 

Caminhos

 

Ama-me por caminhos

Inviáveis

Como se fôssemos, sozinhos,

Intermináveis.

 

 

Contigo

 

Vida além contigo embarco:

Antes um navio afundado

Que um barco

Que não vai a nenhum lado.

 

 

Quedas

 

Há motivos fúteis,

Este, porém, é singular:

Todas as quedas são úteis

Se me puderes levantar.

 

 

Sempre

 

A bisturi

A eternidade me grava:

Quando te conheci

Desde sempre que te amava.

 

 

Basta

 

Basta acenares

Mesmo um gesto distraído

Para todos os lugares

Fazerem sentido.

 

 

Vales

 

Vales minha vida toda e, afinal,

Apesar do mundo inteiro que envolve,

Não equilibra a balança comercial

Nem o défice resolve.

 

 

Perante

 

Perante ti, afinal,

Fico mudo:

Desde quando um mais um é igual

A tudo?

 

 

Contradição

 

A contradição a que ágil

Me grudo:

O amor é tão frágil, tão frágil

Que resiste a tudo.

 

 

Mais

 

Do amor a montra

Dos sinais

É que se encontra

À procura de mais.

 

 

Acorda

 

O amor, quando nos morda,

Cortês,

Sempre nos acorda

Pela primeira vez.

 

 

Guarda

 

O amor guarda um credo

Dele na ermida:

O segredo

Da vida.

 

 

Resiste

 

Ou o desenvolvimento existe

Ou não.

Nenhuma relação resiste

À perfeição.

 

 

Inviável

 

Um amor já não existe,

Inviável,

Quando o antes e o depois dele persiste

Imutável.

 

 

Cadilho

 

Há sempre um filho a mais

Quando um casal tem por cadilho

(Não se unindo ambos enquanto tais)

Um filho.

 

 

Doer

 

Se não puder doer, não é amor.

Pode até nem doer, nem agora nem nunca,

Mas tem tal poder ao dispor

Que as vísceras de ameaça nos junca.

 

 

Dor

 

Sem dor

Uma relação

Não é a relação que é de supor,

É mera representação.

 

 

Quanto

 

Quanto terei de ouvir,

Em que maldito confim,

Para conseguir

Não te ouvir em mim?

 

 

Olhar

 

Quando me olhas com teu olhar

Sereno,

O mar

Parece tão pequeno!

 

 

Sem

 

Um homem normal,

Sem amor algum,

Parecendo que não, afinal,

Não é homem nenhum.

 

 

Algo

 

Como é que algo tão pequeno

Como dois corpos irá sustentar

Algo tão grande como o aceno

Do “para sempre” de nosso olhar?

 

 

Mais

 

Que mais que um corpo sou

Só sei ao reparar

Quando vens em teu voo

Para me acordar.

 

 

Aquém

 

Grande artista é quem

No íntimo clama

Que anda sempre aquém

Daquilo que ama.

 

 

Tamanho

 

O dia pleno

É o dia em que descobri

Que sou pequeno

Para o tamanho de ti.

 

 

Acesas

 

Acesas as chamas,

A vida resume-se a ver

Quem amas

Viver.

 

 

Distância

 

Amar à distância,

Só quando não se ama.

Até a lonjura dum beijo enche de ânsia

E, por ser demais, reclama.

 

 

Tamanho

 

O tamanho de teus braços minto

Traço a traço.

Há que apertar o interior do que sinto

Para medir um abraço.

 

 

Convence

 

O amor convence que a vida,

Sendo nela tudo restrito,

Tem a medida

Do infinito.

 

 

Deixar

 

O amor pode muito bem consistir

Em corar

Um pouco e deixar

Prosseguir.

 

 

Falariam

 

Falariam de tudo,

Ele sério, ela tímida, ambos excitados.

Contudo,

Só falariam de amor em mil e um traslados.

 

 

Mudaria

 

Um dia mudaria o mundo com uma só palavra.

Até que chegou

A hora e o lugar da lavra:

“Amo-te.” E mudou!

 

 

Adulto

 

Como obter dum apaixonado

Um adulto, com que instância,

Se o amor é termos retornado

À infância?

 

 

Duas

 

A vantagem de amar duas mulheres

É o perigo de um dia, acalmado o pó,

Por mágica coincidência que nem entenderes,

Ambas se encontrarem numa só.

 

 

Silêncios

 

Os silêncios apenas temo

Quando, alertado,

Parado o remo,

Não te ouço calada a meu lado.

 

 

Pouco

 

Todos os sonhos sabem a pouco,

Famintos, só osso e peles,

Quando não te sonho, louco,

Dentro deles.

 

 

Falta-nos

 

Falta-nos tanto em tanto espaço!

Contudo

Basta um abraço

Para termos tudo.

 

 

Apaixonado

 

Apaixonado

É quem está

Viciado

No que quem ama lhe dá.

 

 

Certinho

 

Antes dois loucos a voar

Pela imensidão

Que um certinho a palmilhar

O chão.

 

 

Bom

 

O bom de contigo estar

Em guerra neste cerco

É que, mesmo quando perco,

Saímos ambos a ganhar.

 

 

Avó

 

À tua avó, pioneiro,

Diz-lhe devagar

Que ela é um campo inteiro

Por semear.

 

 

Eles

 

Amaram,

Procurando a mútua suavidade das peles.

Casaram

E foram eles para sempre, eles.

 

 

Infelicidade

 

Quem ama suporta

A própria infelicidade,

Nunca a infelicidade à porta

De quem ele ama de verdade.

 

 

Casal

 

Um casal que tem tudo para dar errado,

Se tem amor, decerto

Tem o que é requerido em qualquer lado

Para dar certo.

 

 

Procura

 

Ando o dia inteiro à procura de ti,

Atarefado,

Quando te tenho aqui

Ao meu lado.

 

 

Abrir

 

Amar não encegueira,

Apesar dos escolhos:
É da incapacidade ficar à beira

De abrir os olhos.

 

 

Confim

 

O amor tem um confim

Para além do que podemos imaginar:

Deita-te em mim

E faz-me acordar!

 

 

Balada

 

O amor é uma linda

Balada de amanhecer:

Quero-te pelo que és e mais ainda

Pelo que me levas a ser.

 

 

Acordo

 

Acordo contigo

E, por trás do véu

O abrigo

É como quem acorda para o céu.

 

 

Quando

 

Alguém por amar acama

E arrefece.

É quando se ama

Que a vida acontece.

 

 

Sempre

 

Ama-me para sempre. Porém,

Ama-me sobretudo

Sempre, mais que a miúdo,

Como imediatamente também.

 

 

Dor

 

Dor de parto dura à hora,

A de não ter filhos, em contrapartida,

Demora

Toda a vida.

 

 

Engano

 

Sem falar causa tal dano

A formosura a miúdo!

É um engano

Mudo.

 

 

Credo

 

O credo

Que mais nos obriga a seja o que for

Não é o medo,

É o amor.

 

 

Lisonja

 

A mulher aprecia a lisonja

Sem receio

De apagá-la a esponja

De incrível ser o galanteio.

 

 

Forte

 

Um homem forte

Há-de obrigatoriamente ter,

Agulha de seu norte,

Uma forte mulher.

 

 

Reuniões

 

As reuniões que mudam o mundo

Requerem apenas duas pessoas:

A que ama e a que é amada. E o fecundo

Vice-versa na estrada aonde voas.