DÉCIMO  SEGUNDO  TROVÁRIO

 

 

                      E  O   DEVER  COM  O  SONHO  SE  CONFUNDE

 

 

 

 

 

 

 

Escolha um número ao acaso entre 1217 e 1340, inclusive.

Leia o poema correspondente como uma mensagem particular para o seu dia de hoje.

 

 

 

 

 

 

 

 

                                             1217 - E o dever com o sonho se confunde

 

                                             E o dever com o sonho se confunde

                                             Em quadra de metro irregular,

                                             Com a rima onde se funde

                                             O sonho que me inunde

                                             Com a minha pegada a encaminhar.

 

                                             Na métrica incerta,

                                             Inesperada,

                                             A rima rima e desconcerta

                                             Acertando no desconcerto da chegada.

 

                                             O que o sonho visa

                                             O acto o incarna aqui no chão

                                             E então maior lonjura se divisa.

 

                                             O poema sopra o morrão

                                             Com que as florestas do Homem se incendiarão.

 

 


1218 - Grandeza

 

Se um dia lograr o que quiser ser,

Conquistarei da liberdade

A grandeza de saber-

-Me inteiro de verdade.

 

 

1219 - Caber

 

De homem o fado é não caber no berço,

E não só no de agora, mas de antes:

Desde os primórdios que me exerço,

Somos emigrantes.

 

 

1220 - Malhas

 

Somos o que só nós sabemos,

Da vida nas malhas do fio de retrós,

E parecemos

O que os outros contam de nós.

 

 

1221 - Fome

 

Há quem se engane de cama

A dormir com falsa verdade:

Nossa fome não é de fama,

É de eternidade.

 

 

1222 - Selo

 

Meu selo aponho

À humilde traição da física verdade:

Quem se não livra pelo sonho

Das fúrias da realidade?

 

 

1223 - Recanto

 

Num recanto nascemos

E, pela vida fora,

Do fragão o mundo vemos

Que mirante nos foi na primeira hora.

 

 

1224 - Busca

 

Na busca de tudo quanto quiser

O cuidado ter convém

De não perder

O que tem…

 

 

1225 - Repara

 

Repara, quando a força renovas

Para o teu da,

Que esperanças novas

São fonte de energia.

 

 

1226 - Difícil

 

É difícil um prémio merecer.

Tanto ou mais, todavia,

É algum dia

Sabê-lo receber.

 

 

1227 - Enganar

 

O que queiras, faz de seguida.

É, todavia, tudo vão:

Podes enganar a vida,

A morte, não.

 

 

1228 - Lento

 

Ainda bem que pelo tempo fora lento ardes!

Envelhecer

Não é para covardes

E, muito menos, morrer.

 

 

1229 - Perene

 

Tudo está vivo, já que tudo é eterno

E em perene evolução.

Não há morte de nada, só um Inverno,

Tudo apenas transição.

 

 

1230 - Beleza

 

Com a beleza que Deus nos dá

Nascemos

E morremos com a que por cá

Vida fora merecemos.

 

 

1231 - Aprendeu

 

Aquele que dele mesmo

Aprendeu a rir

Nunca irá, na vida a esmo,

Parar de se divertir.

 

 

1232 - Bebe

 

Há quem beba antes de olhar

Uns instantes:

Bebe para tornar

Os outros interessantes!

 

 

1233 - Energia

 

Não é de palmilhares a esmo

Tua sina,

Antes de seres tu mesmo

Mas com energia divina.

 

 

1234 - Possível

 

Tudo é possível, tudo.

O impossível em que teimais

Só demora, cabeçudo,

Um pouco de tempo mais.

 

 

1235 - Sair-se

 

O homem que sabe,

Onde outrem vegetaria e pereceria

Acaba por sair-se bem da dificuldade

Que o desafia.

 

 

1236 - Ajuda

 

Sempre te iludes

Com a ajuda dos céus:

É bom que te ajudes

Para que nisto te ajude Deus.

 

 

1237 - Concretizar

 

Concretizar a utopia

Revolucionária

Degenera sempre, em toda a via,

Na meta contrária.

 

 

1238 - Norma

 

É norma da criação

A escolha do que queremos:

Sendo sempre separação,

Na escolha, todavia, é que crescemos.

 

 

1239 - Pulsão

 

Apenas uma paixão

Radical nos invade:

A pulsão, a visceral pulsão

Para a felicidade.

 

 

1240 - Fala

 

Repercuta,

Que só fala para se fazer escutar

Quem escuta

Antes de falar.

 

 

1241 - Sentiu

 

Quem nunca sentiu o essencial

Imagina e insiste

Que o invisível, afinal,

Não existe.

 

 

1242 - Ajuda

 

Qualquer enfermaria

Se deveria alegre embonecar:

A alegria

Ajuda a curar.

 

 

1243 - Bronzeai

 

Ri, joga, esquece os sarilhos,

Bronzeai juntos na praia as peles!

Afinal, também temos filhos

Para nos divertirmos com eles.

 

 

1244 - Aprender

 

Aprender conjuga sempre, no renovo

Aprendido,

Curiosidade ante o novo

Com medo do desconhecido.

 

 

1245 - Tumba

 

Joga doutra maneira,

Correcto no mundo incorrecto,

Que o teu corpo não seja a primeira

Tumba de teu esqueleto.

 

 

1246 - Voo

 

Para onde voo, fatal,

Em cada golpe de asa?

- Voo sempre, no final,

Para casa.

 

 

1247 - Insignificante

 

Uma era grandiosa

Eleva um insignificante qualquer

E aumenta, poderosa,

As forças que ele nem tiver.

 

 

1248 - Imaginárias

 

Por mais vivos e amáveis que sejam os artistas,

As criaturas imaginárias de que são autores

São mais vivas e belas, nas paisagens entrevistas,

Que delas tais poetas criadores.

 

 

1249 - Preciosidade

 

Ao correr da viagem da vida

Verificamos, envergonhados,

Que toda a preciosidade entretanto perdida

É dispensável, afinal, anos passados.

 

 

1250 - Importância

 

Toda e qualquer iniciativa

Me desespera e põe feliz:

Excitado e ansioso faz que eu viva,

A importância perdida restitui a meu cariz.

 

 

1251 - Insatisfeita

 

É uma pessoa bonita,

Insatisfeita também:

Busca a lua que concita,

Não dá conta que a já tem.

 

 

1252 - Trás

 

Quem põe a mão no arado

E olha para trás sem querer ir

Não merece o fado

De servir.

 

 

1253 - Perdoar

 

Ajusta

O teu pendor:

Perdoar custa,

Mas não perdoar é pior.

 

 

1254 - Vítima

 

Da vítima a ferida

Menos enguiça,

Cicatriza nalguma medida,

Quando é feita justiça.

 

 

1255 - Antes

 

Um homem tem previamente de saber

O que procurar

Para algum dia poder

Encontrar.

 

 

1256 - Hora

 

Para encher tua medida

Inteira,

Vive cada hora de tua vida

Tal se fora a derradeira.

 

 

1257 - Fundamentalismo

 

Se todos souberam mais sobre as religiões,

O fundamentalismo não incendiaria o mundo

E as seitas não matariam, nos saguões,

Tanto inocente infecundo.

 

 

1258 - Odisseia

 

O que nos faz perder a calma,

Quantas vezes de cabeça perdida,

É que nossa odisseia de alma

Contradiz nossa odisseia de vida.

 

 

1259 - Sublime

 

Talvez se requeira de eros um punhado

Para de sublime algo atingir,

Como de milhares de flores um braçado,

Para umas gotas de perfume produzir.

 

 

1260 - Sintomas

 

Nossos mórbidos sintomas apontam o futuro,

Prometem da derrota a transformação

Numa forma onde inauguro

Minha lunar transfiguração.

 

 

1261 - Pontuam

 

Ingenuidade

E cinismo

Pontuam a incapacidade

De atingir da inocência o abismo.

 

 

1262 - Apenas

 

Como com as inefáveis visões

De milhões de estrelas,

Não temos de fazer nada com as recordações,

É apenas vê-las.

 

 

1263 - Entreaberta

 

A flébil alma sem parar

Devemos entreaberta conferir

Para o céu não ter de esperar

Se se lhe dirigir.

 

1264 - Pequeno

 

O pequeno mundo de nosso dia-a-dia

Configura

Do Cosmos a infinita magia

Em miniatura.

 

 

1265 - Desafio

 

Um desafio nos negaceia

Em tudo onde a vida mora:

Ver o mundo inteiro num grão de areia,

A eternidade numa hora.

 

 

1266 - Viagem

 

Todos em viagem para casa,

Não ficaremos pelo caminho:

Deus, o imo que nos apraza,

Não o permite nem ao maior desalinho.

 

 

1267 - Escolha

 

Escolha o caminho que escolher,

Não pode, no fim, deixar

Quenquer

De à Verdadeira Casa chegar.

 

 

1268 - Caminhos

 

Como todos os caminhos a que a escolha me impele

A Casa dar vão,

Por que escolher este ou aquele

- É só que menos doloridos alguns deles são.

 

 

1269 - Proteger

 

Se das tempestades proteger a montanha,

Jamais poderei ver, nem por instantes,

Das formas dela mais extravagantes

A beleza tamanha.

 

 

1270 - Medo

 

Quem da morte medo não tem,

Não tem medo de nada.

Deveras pode, como ninguém,

Viver então duma assentada.

 

 

1271 - Prova

 

A tua presença é uma prova de que aqui ronda

A existência de Deus, num qualquer plano:

A presença da onda

Prova a existência do oceano.

 

 

1272 - Maneira

 

A maneira como algo olhamos

Cria a maneira como o vemos.

E o distanciamento que tomamos

Cria a perspicácia que teremos.

 

 

1273 - Ciclo

 

O ciclo contínuo do Eu

É a vida eterna com Deus:

O que vivencias, erguido o último véu,

São os céus.

 

 

1274 - Através

 

A morte é o processo

Através de cuja radicalidade

Restabeleço

Minha originária identidade.

 

 

1275 - Alturas

 

Ergue-te às alturas do destino,

Alarga-te ao infindo onde não cabes:

Tu és a felicidade do Divino

E a verdade é que o nem sabes!

 

 

1276 - Muitas

 

Entre as freimas repartidas

Mal dou conta de meus conveses:

Ando a viver muitas vidas,

Ando a viver esta vida muitas vezes.

 

 

1277 - Começar

 

Basta começar a entender como a vida opera

E o que representa a morte sem véus,

Para começar a sentir-me em minha esfera:

- Em Casa com Deus.

 

 

1278 - Modificar

 

Não podes modificar tua experiência,

Nem nesta vida nem dela após o engaste,

Até teres percebido, com fulminante evidência,

Que foste tu que a criaste.

 

 

1279 - Tornamos

 

A morte é um momento

Em que nos tornamos mui poderosos

Porque do que sou todo o elemento

É da morte ampliado pelos patamares misteriosos.

 

 

1280 - Identidades

 

Na morte, tuas identidades individuais

Todas se confundirão:

Entre ti mesmo e ti não há mais

Nenhuma separação.

 

 

1281 - Simplesmente

 

"Eu sou tu, do princípio ao fim,

E ando simplesmente a levar-te

De Mim

A lembrar-te."

 

 

1282 - Fora

 

Para entenderes deveras

A Realidade Última em tua vertente,

Tens de estar fora das esferas

De tua mente.

 

 

1283 - Usa

 

Usa os eventos de hoje para criar

De amanhã toda a promessa,

Usa a experiência de agora para gerar

A maravilha do sempre que não finda nem começa.

 

 

1284 - Tu

 

A vida é uma glória e um espanto

Para além do que possas ter imaginado.

E uma glória e um espanto és tu, entretanto,

Muito além do que quer que já tenhas vivenciado.

 

 

1285 - Fruir

 

A fome de fruir de minha essência

Continua até se dissipar, tempo além,

Finalmente, na esplendência

De eu, no fundo, não ser ninguém.

 

 

1286 - Importante

 

De si a compreensão

Não é tão importante nem acalma

A apreensão

Como viver de alma.

 

 

1287 - Suprema

 

Suprema criatividade

É viver sem hesitar

A mortalidade

Em vez de a evitar.

 

 

1288 - Coragem

 

Importa não negar a morte

Mas importância mais prestimosa

Tem viver cada dia a boa e a má sorte

Com coragem generosa.

 

 

1289 - Factos

 

A vida espiritual,

A viver do mundo a poesia

Equivale

E não factos sem magia.

 

 

1290 - Consciência

 

A consciência é o sinal,

Questionando a irresponsável calma,

De que ainda não aprendemos, afinal,

A viver de alma.

 

 

1291 - Irromper

 

Por si próprio algum desinteresse

Pode ser a rigorosa faceta

Que permite irromper qualquer alma que emurchece

Doravante com a energia e criatividade completa.

 

 

1292 - Empatia

 

Na empatia sem limites,

Descobrindo os infindos modos de ser humano,

Transformo-me, cumpridos os desquites,

Em quem esperava ser, sem mais engano.

 

 

1293 - Imaginação

 

Uma vida ilesa

Quer realistas pactos:

A imaginação pesa

Mais que os factos.

 

 

1294 - Olhos

 

Os nossos olhos da imaginação

Do quotidiano observam a monotonia

E aí verão

A poesia.

 

 

1295 - Deixa

 

Festiva

Em qualquer lugar,

Nunca deixa uma mente viva

De se maravilhar.

 

 

1296 - Mistério

 

Quando acolhemos uma intuição

Do mistério divino, o que nos invade,

Inesperadamente, então,

É a nossa humanidade.

 

 

1297 - Metade

 

Metade da humanal alma é eterna.

Se ignorarmos tal metade,

Somos apenas meio humanos, o que enferma

Dum mal tal como não sermos humanos de verdade.

 

 

1298 - Louco

 

Quem é mais louco, da vida no estrado:

Quem mata anseios fundos por respeitabilidade,

Ou quem corre o risco de ser censurado

Em nome da autenticidade?

 

 

1299 - Cuidar

 

Cuidar de qualquer alma, muitas vezes,

Não significa algo fazer, tratar do ninho,

Mas sim desimpedir, corteses,

O caminho.

 

 

1300 - Além

 

O infinitamente remoto

Não é o além, não,

Mas o que, ignoto,

Tenho aqui à mão.

 

 

1301 - Rosto

 

A questão mais radical

A esclareceres:

Qual era teu rosto original

Antes de nasceres?

 

 

1302 - Narrativas

 

Novo mundo visível andamos a criar

Que do mundo invisível requer nova abordagem

Onde fermentem narrativas de moldar

Vida em rota de viagem.

 

 

1303 - Histórias

 

Conhecer as histórias no que bem me agrade,

No que me motivam, de que me motivo,

Permite-me um grau de liberdade

Inesperadamente significativo.

 

 

1304 - Núcleo

 

Da religião o núcleo radical e saboroso

É distinguir, dela nas loisas,

O sublime e grandioso

Na mais humilde das coisas.

 

 

1305 - Mundo

 

Religião, arte de conceber e manter

Um mundo material tão belo, recto e invulgar

Que todos os tipos de espíritos o vão querer

Como Lar.

 

 

1306 - Educadores

 

Educadores da personalidade

Que temos,

Mais que nunca, em profundidade,

Somos o que lemos.

 

 

1307 - Vive

 

Para quê tantas perguntas?

Vive, vive de pé

E, quanto às questões que assuntas,

Tem fé!

 

 

1308 - Digna

 

Para uma digna vida empreender

Ter fé pode ser preciso:

Sem saber tudo podemos confortáveis viver

E libertar o riso.

 

 

1309 - Riso

 

Na terra mística anterior

A meu nascimento e ao dos meus,

O riso fundo era o penhor

Da presença de Deus.

 

 

1310 - Rectidão

 

A rectidão pode ser uma forma de demência

Em que é sufocada

Da comunidade a protectora consciência,

Em nome da inteireza obstinada.

 

 

1311 - Prefiro

 

De viver em comunidade a intenção

Prefiro bem mais

Que a rotineira função

Das comunidades institucionais.

 

 

1312 - Cultivar

 

Cultivar o silêncio não significa

Obrigar os ouvidos a não ouvir

Mas aumentar o volume da dica

Do mundo e das almas que houver a intuir.

 

 

1313 - Companheiros

 

Seremos capazes de abrir

Nossas portas e nossos corações

Uns aos outros, a seguir,

De parceiros de viagem enquanto bordões?

 

 

1314 - Mistério

 

A ideia de Deus tem de estar bastante vazia

E o mistério bem referido e demarcado,

Senão a oração deviria

Exploração do divino no mercado.

 

 

1315 - Presença

 

O que faz de alguém quem for

Não é consciência nem de si compreensão,

Mas uma presença interior

A si próprio com paixão.

 

 

1316 - Apesar

 

Presta? Não presta?

Viver o presente

É o que nos resta,

Embora deveras insuficiente.

 

 

1317 - Actos

 

É bom que meças

Até onde os actos são profícuos,

Que em promessas

Podemos todos ser ricos.

 

 

1318 - Obrigados

 

Mesmo os melhores se irão sentir,

Muitas vezes, dos dias nas lavras,

Obrigados a engolir

As palavras.

 

 

1319 - Agradecido

 

Pelo que tem

Esteja agradecido como jamais.

Acabará então, também,

Por ter mais.

 

 

1320 - Nunca

 

Não seja o primeiro a chegar à festa

Nem o último a sair

E nunca, mas nunca, quando se apresta,

Ambas faça, uma à outra a seguir.

 

 

1321 - Capazes

 

Não podemos viver sem humor,

Capazes de rir temos

De ser de nós próprios, sem pudor,

De contrário sofreremos.

 

 

1322 - Despoletar

 

Tudo o que as boas recordações

Leve a despoletar, mesmo o varapau,

Não pode, ponderadas as razões,

Ser mau.

 

 

1323 - Perca

 

Não perca um minuto a ser infeliz:

Se uma janela se fechar,

Busque outra, doutro cariz,

Ou uma porta corra a arrombar!

 

 

1324 - Gostar

 

Qual é o problema

De ser sentimental?

Ser sentimental é, por lema,

Gostar das surpresas da vida real.

 

 

1325 - Lesões

 

Quando as lesões se antolham intermináveis,

Não te deixes tornar uma presa,

Torna as coisas agradáveis,

Alisa a toalha da mesa!

 

 

1326 - Descobre

 

Descobre o poder da palavra

A aproximar ou afastar cada indivíduo

E que menos importa o idioma com que lavra

E mais o intuito do que é proferido.

 

 

1327 - Consciência

 

Quão mais consciência temos

Das etapas por que passamos

Mais aptos a mudar-nos estaremos

De modo equilibrado em todos os ramos.

 

 

1328 - Muda

 

Na muda o mais interessante

Não é apenas observar

A novidade que se espraiar adiante,

Mas os factos aceitar.

 

 

1329 - Tornar-se-á

 

Com o tempo, nem mais sábio nem mais paciente

Devirá ninguém.

Com o tempo tornar-se-á somente

Mais do que já era, bom ou mau, pelo tempo além.

 

 

1330 - Puxar

 

Antes de puxar demais a corda,

Concentra-te, repete para ti a toada

De que não há problema que surja nem morda

A partir do nada.

 

 

1331 - Aceitação

 

Aceitação não há bem sucedida

Se houver mentira com o próprio ou com os mais.

A resignação que advier em seguida

É da mentira uma das traduções reais.

 

 

1332 - Hipócritas

 

Não é por serem hipócritas, no fundo,

Que não desvendam o pensamento

Mas por atacá-los todo o mundo

Se se atrevem a divergir nalgum momento.

 

 

1333 - Fermento

 

Quando me proponho

De verdade,

Os fantasmas são fermento de sonho

E o sonho, fermento de realidade.

 

 

1334 - Pequenas

 

Vigia que lonjuras te projectam

Os destinos,

Já que as pequenas coisas apenas afectam

Os espíritos pequeninos.

 

 

1335 - Futuro

 

A única maneira de prever

O futuro sem errá-lo

Há-de ser

Inventá-lo.

 

 

1336 - Três

 

Liberdade, paz de espírito e felicidade,

As três metas por que mais vou aspirando,

Apenas adquiridas são de verdade

Quando aos outros as vou dando.

 

 

1337 - Jovens

 

Os jovens ouvirão com agrado

Se também forem ouvidos,

Se lhes mostro que o que vivem no frescor do prado

Me importa sinceramente em todos os sentidos.

 

 

1338 - Dá

 

A transmissão

É a melhor maneira que concebe

Quem algo quer ter à mão:

- Quem dá, recebe!

 

 

1339 - Difícil

 

Para os outros com fé

Como há-de viver quenquer

Se tão difícil é

Para si próprio viver?

 

 

1340 - Passagens

 

Nas difíceis passagens,

O que tiver dado ser-lhe-á devolvido

E única ponte isto será, nas viagens,

Para a travessia que houver empreendido.