DÉCIMO  TERCEIRO  TROVÁRIO

 

 

                        SER  E  AMOR,  LEI,  UTOPIA  SE  UNEM  ALÉM

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Escolha ao acaso um número entre 1341 e 1428, inclusive.

Leia o poema correspondente como uma mensagem particular para o seu dia de hoje.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

                                             1341 - Ser e amor, lei, utopia se unem além

 

                                             Ser e amor, lei, utopia se unem além,

                                             Em sonetos e trovários os capturo

                                             Como devêm,

                                             Ora a sós, ora juntos também,

                                             E na palavra o que inauguram inauguro.

 

                                             No metro e na rima configuro,

                                             Consumados,

                                             Os dinamismos que dentro de mim apuro

                                             Que me tecem por dentro e por fora os meus lados.

 

                                             Tudo unido, sou inteiro,

                                             Poema em carne assumido,

                                             E as palavras são do corpo meu viveiro.

 

                                             O que vivo tem, portanto, este sentido

                                             De como um todo viver rumo ao Todo prosseguido.

 

 


1342 - Bases

 

Aqueles que têm sorte

Não têm sorte nenhuma.

Sorte têm por recorte

Das bases que cada assuma:

 

Quaisquer oportunidades

Aproveitam expeditos,

Antecipam novidades,

De expectativas peritos

 

Positivas de vitória,

Cultivam uma atitude

De persistência notória

 

Que acaba tendo a virtude

De afastar, devindo forte,

Deles o que for má sorte.

 

 

1343 - Lindo

 

Cinzento ou chuvoso,

Frio ou ventoso,

Que lindo que é o dia de hoje!

 

Todo e qualquer dia

Surpreender-nos-ia

No entrançado que nos foge.

Terás de observar

Sol, vento ou luar,

Saborear a variação:

- Vislumbras que é belo então.

 

Mesmo a tempestade,

Mesmo o furacão

São uma beldade

A nos dar a mão.

 

 

1344 - Preferindo

 

Vamos preferindo imagens

Que mostrem a realidade

Que nos é própria, mensagens

Do que é nossa identidade.

 

Deviemos desconfiados

De vidas fantasiosas,

Sensatos e programados

Para saber que tais glosas

 

Nos dão uma realidade

Lipoaspirada, implantada,

Soerguida em qualquer grade,

 

Siliconada, apertada…

É um real muito irreal,

- Bem melhor é o nosso mal!

 

 

1345 - Contributo

 

Somos interdependentes:

Somente de estar aqui

Meu contributo é presente

À raça humana e, daí,

 

Ao porvir da humanidade.

Quem cuidar que é mesmo inútil

É que a praia o persuade

Que os seixos que a onda fútil

 

Banha e tornou a banhar

Em nada os faz diferir.

Deve daqui a um milhar

 

De anos à tal praia vir

Verificar quão de areia

Ela então andará cheia.

 

 

1346 - Esbanjar

 

Não têm fim as maneiras

De esbanjar quaisquer fortunas,

Para impressionar inteiras

Plateias ante que enfunas

 

As velas de interessado.

Dos negócios os gigantes

Crêem, porém, noutro fado,

Três mandamentos instantes:

 

Ao mínimo induzir custos,

Aplicar todos os ganhos

Na empresa aos preços mais justos

 

E nunca, em nenhuns amanhos,

Ostentar qualquer riqueza:

Isto o porvir tem que preza.

 

 

1347 - Querido

 

Quem nos é querido morre

Mas não nos deixa deveras.

Laboriosamente ocorre

Construirmos, pelas eras,

 

Altares aconchegados

Para eles, com as fotos

Na cómoda e noutros lados

Tanto ou mais que ela devotos:

 

Nas memórias dolorosas,

Pacíficas e saudosas.

É no incensar deste culto

 

Que o passado é desoculto

E que por nós eterniza

Os sonhos que realiza.

 

 

1348 - Ouvir

 

Para quando a aceitação

Dos outros com seus tormentos,

Toda a predisposição

De ouvir-lhes os argumentos?

 

E como não conceder

As migalhas só que restam

De nossa febre de ter,

Que nem aprestos se emprestam?

 

O termómetro anuncia,

Tal noutra febre qualquer,

Doença que cresceria:

 

Nosso vazio de ser

A invadir-nos fatalmente

Desde o coração à mente.

 

 

1349 - Itinerário

 

O itinerário do luto,

Via sacra dolorosa,

Que tarefa sem produto

E como é laboriosa!

 

Acolher real a perda,

Sofrer a dor que provoca,

Adaptar-se ao meio que herda

A vida doravante oca,

 

Guardar quem se foi em mente,

Seguir em frente o caminho

Com a saudade dolente,

 

Com a força do carinho

Que só a memória acarreta

Numa aurora a nascer preta.

 

 

1350 - Mereça

 

Vir ao mundo vale a pena

Apenas quando uma imagem

Deixa ali, mesmo pequena,

Que mereça, na triagem

 

De todo o tempo e lugar,

A celebração daqueles

Que ficam, erguendo o altar,

Mais a bênção a que apeles

 

Da natureza em redor.

Se a posteridade sente

Que de todas a maior

 

Grandeza entre nós presente,

A que leva às mais a palma,

É sempre a grandeza de alma.

 

 

1351 - Dádiva

 

A todos Deus nos dá força e fraqueza.

A dádiva por vezes da pessoa

É uma deficiência então que a lesa:

Consiste em ajudar alguém à toa

 

Compaixão a mostrar, em hora boa

De aceitação de tudo o que despreza.

Talvez a imperfeição que te destoa

Outrem possa ajudar em grata reza

 

E apreço por não ter deficiência:

Só não tombei ali graças a Deus.

Quem com tal de manter tem convivência

 

Pode desempenhar de professor:

Paramos de julgar, entendo os céus,

Quenquer é meu vizinho e tudo é amor.

 

 

1352 - Consertamos

 

Nós consertamos o que for preciso

Para alcançarmos o que acreditamos

Ser nossa meta, com ou sem ter siso.

Se, mesmo assim, conserto não logramos,

 

Se na parede estamos a bater,

Provavelmente significa então

Que não estamos a tentar fazer

O que fundo mandar o coração.

 

Mais dia ou menos muda a profissão:

Estamos destinados a acolher,

Mudado o rumo noutra direcção,

 

Certamente outra profissão qualquer.

Ora, o que importa é o coração aí

Bater conforme o que é meu ser em si.

 

 

1353 - Evento

 

Uns são sempre mais felizes,

Outros menos o serão.

Os pessimistas matizes

De má nova aqui verão,

 

Que nunca irão melhorar.

Há, porém, uma esperança:

Ser feliz tem mais lugar

No modo como se alcança

 

Um evento interpretar

Que nos ocorre na vida,

Que no evento singular

 

Por si tomado à medida.

Provém de minha atitude

Ler desgraça ou ler virtude.

 

 

1354 - Religo

 

Quando me religo ao Todo

Donde vem ainda o medo?

Sempre o medo é o nosso modo,

Não o elide nenhum credo.

 

Quando aqui, porém, o tenho,

Aceito a fragilidade,

Não tento, como o rebanho,

Ser forte contra a verdade.

 

É que sempre aqui em baixo

Haverá medo bastante:

Na matéria onde me encaixo

 

É a vivência dominante

E, ao invés, lá em cima vale

O amor incondicional.

 

 

1355 - Fundamental

 

A harmonia, a experiência

Fundamental da matéria,

É estar denso da vivência

De emoções duma miséria

 

Que é sempre mal resolvida

Mas por igual conectado

Ao infindo pressentido

No abismo de nosso fado.

 

Uma metade no céu,

Outra metade na terra,

Raízes no macaréu,

 

Antenas além da serra,

Tudo simultaneamente,

É de mim minha semente.

 

 

1356 - Falo

 

Falo do poder de libertar

Um homem da própria dele sombra.

Falo do poder de reparar

Num homem atado numa alfombra

 

De energias de hera enredadas,

De antanho provindas por herança

De cultura ou genes, lá injectadas.

Falo em liberdade que descansa,

 

Plena e finalmente, o transviado.

Falo do poder de entreajudar

O irmão prisioneiro que é encontrado

 

Na jaula detido que acusar,

Mui postumamente, os erros de antes

Que o prendem nos braços de gigantes.

 

 

1357 - Lágrimas

 

Andar triste todo o dia,

Lágrimas contendo adiadas,

Quanta perda de energia!

Pronto sempre deixaria

Corrê-las inesperadas

 

Em toda a altura e lugar.

É que é mesmo bem melhor

Tudo duma vez chorar,

À tristeza a hora impor,

 

A fim de me ver liberto

Da corrente a mim prendida

Em meu tornozelo incerto,

 

Tomar-me em mãos à medida

E prosseguir com a vida.

 

 

1358 - Circunstâncias

 

Só quando me vir cativo

Das circunstâncias da vida

É que sinto quão esquivo

É o lampejo decisivo

Da liberdade hoje haurida.

 

Então é que mesmo um nada

Pode ser tão importante,

De ar um hausto, uma lufada

Numa boca agonizante

 

Por vezes é uma viagem

À rua, ao supermercado,

Que à morte despe a roupagem…

 

Bebo um copo deste suco

E já não findo maluco.

 

 

1359 - Castigo

 

A perda como a doença

Nem sempre são merecidas

Nem de castigo sentença

De Deus, a testar a imensa

Multidão de almas perdidas.

 

Doença e morte há porque sim,

A maior parte das vezes.

O teste correcto, assim,

É o da escolha ante os reveses.

 

Orar pode não curar

Mas de fé dar energia,

Meios de com tal lidar.

 

"Eu por quê?" - mau se anuncia;

"Eu por que não?" - é que é via.

 

 

1360 - Proclamo

 

Não proclamo que sei tudo,

Explico só que mudei,

E que não há, sobretudo,

Magia em nada que mudo.

Aos bocados avancei,

 

Bocadinho a bocadinho,

E muitos nadas resultam

Num positivo caminho

Que uns tempos mais desocultam.

 

A vida é demasiado

Preciosa para ser

Um trapo desperdiçado.

 

O trapo apreciar quenquer

Deve à vida que lho der.

 

 

1361 - Formado

 

É formado o coração

De tal modo que fazer

Algo que em recordação

Lhe fique em marca no chão

Vida além sempre requer

 

Que de vez lhe sobreviva.

Marca a superioridade

Sobre quanto a terra esquiva

Permite que sobrenade.

 

É o que lhe funda o poder

Com que os sonhos pontifica

Do que atinge e quiser ser.

 

E é o que em tudo verifica

Que no mundo o justifica.

 

 

1362 - Palavras

 

Quantas vezes te arrependes

Das palavras proferidas!

Jamais repeso te atendes

Daquelas que tu entendes

Não dizer, em ti retidas.

 

Às proferidas jamais

As poderás retomar

Dos furacões, vendavais

Que hajam de desencadear.

 

Porém, às não proferidas,

Se algum bem delas vier,

Jogá-las às avenidas,

 

Sempre e num lugar qualquer,

Podes, se tal te aprouver.

 

 

1363 - Anúncio

 

Um anúncio de mulher

Tónica põe na aparência;

Dum homem é o que puser

Recursos em evidência.

 

Quão mais velha uma mulher,

Menos respostas recebe;

Com os homens ocorrer

O contrário se concebe.

 

Sempre é de incluir simpático

Num anúncio singular:

Quem o faz é feliz, prático,

 

Sociável, popular.

E tudo isto preconiza

A boa prole que visa.

 

 

1364 - Mar

 

Fico logo mais feliz

Quando alguém a si me uniu

E, nele, a toda a raiz

Dum povo que me teceu.

 

Já não sou mais solitário,

Já não vivo mais sozinho.

No mar grande originário

Apenas um sou, maninho,

 

Mas pertenço ao mar infindo.

Minha vida separada

Já não vive além do lindo

 

Pélago, todo em meu nada.

Quão mais nada sou em Tudo

Mais eu nele ao fim me mudo.

 

 

1365 - Longe

 

A vera sabedoria

Poderá ser encontrada

Dos homens longe da via,

Das habitações da estrada,

 

Nas vastidões solitárias,

Grandes a perder de vista,

E alcançada em temerárias

Dores que são dela a pista.

 

Sofrimentos, privações

São os únicos portais

Aptos a abrir os saguões

 

Da mente àqueles sinais,

Ocultos doutros aos olhos,

Que, reais, são vida aos molhos.

 

 

1366 - Menos

 

Um homem é tanto mais

Quanto menos ele for

E tanto menos, aliás,

Quanto mais for produtor.

 

Já nenhum produto exprime

O imo dele nem prolonga

O profundo que o redime,

Que o ser tempo além lhe alonga.

 

Mera força de trabalho,

Entre coisas coisa reles,

Mais não será sob o malho

 

Do mercado que interpeles:

Este é o tempo desgarrado

Dum homem coisificado.

 

 

1367 - Brincam

 

Brincam anjos com estrelas

Se brincamos com crianças,

Solta a brincadeira as velas,

Abre os portões para as danças

 

Pelos jardins infantis

Cósmicos dum Universo

Onde todos, juvenis,

Com um Criador diverso

 

Brincamos em jogo alegre,

Bailando a festa do amor

Que dar-receber integre

 

Num espontâneo fulgor.

Quando com crianças brinco,

O açude à vida destrinco.

 

 

1368 - Sendo

 

A si próprio rotular-se

Como sendo um incapaz

Maior mal vai revelar-se

Do que o que o sintoma traz.

 

Pode levar a negar

O domínio interior,

Capacidade a emperrar

Seja que vertente for.

 

Atenção, pois, e cuidado

Antes de alguém vir a ser

Por qualquer mal rotulado

 

E tratado por quenquer

Tal se houvera um dado tal,

Pois nunca em ninguém é real.

 

 

1369 - Ambiente

 

As crianças bem florescem

Em ambiente de estremas

Bem marcadas que o guarnecem,

Que do aceitável são lemas,

 

Onde também se encoraje

Uma exploração aberta

Até o limite da laje.

Temos de estar sempre alerta

 

A manter limites claros,

Flexíveis a os alterar,

A ajustar os anteparos

 

A par do que os filhos crescem.

Sendo firme e justo a par,

Nunca os bens comuns decrescem.

 

 

1370 - Confiança

 

Os miúdos desenvolvem

A confiança à medida

Que aprendem que se resolvem

As carências que há na vida

 

Por quem toma conta deles,

Os adultos lá presentes.

As mensagens aos imbeles

E os cuidados persistentes

 

Devem ser mais agradáveis

Do que dolorosos ser,

No amor com bases fiáveis

 

Mais que no temor que houver.

E a teia da intimidade

Ata idade com idade.

 

 

1371 - Afectarão

 

Vergonha e culpa infundadas

Afectarão negativas

A procura das estradas

Individuais mais vivas.

 

Emoções tão poderosas

Bloqueiam frequentemente,

Pelo que são dolorosas,

O que o curioso tente,

 

Matam tanto a brincadeira

Como a criatividade.

Do refechamento à beira,

 

Induz tu à novidade:

Encoraja-te a trilhar

As escolhas por que optar.

 

 

1372 - Reconstitui

 

Reconstitui, natural,

Desfrutar da natureza,

Literatura abismal,

Jogo e brincadeira acesa.

 

O jogo mais brincadeira,

Parceiros de crescimento,

Contexto são que aligeira

A interacção entre eventos.

 

Vão estabelecer laços

De alvos significativos:

Brincar juntos gera abraços

 

Que, não sendo mais esquivos,

Duma forma inesperada

Celebram a madrugada.

 

 

1373 - Porta

 

Visto serem criativas

E viverem sempre alerta,

Experimentam, furtivas,

Exploram a porta aberta.

 

Querem sentir segurança

E conhecer-lhe os limites,

Que experiência não alcança

Benefícios nos palpites.

 

Não digam, pois, às crianças

O que fazer ou que não,

Que à inventiva corta as franças,

 

Mata o poder de expressão,

Irá torná-las esquivas.

- Quem as não vai querer vivas?

 

 

1374 - Erros

 

Um dos erros mais vulgares

Em que incorrem pais modernos

É dobrarem, dando-se ares,

A espinha, em trejeitos ternos,

 

Para nunca magoarem,

Prejudicarem os filhos.

E os males que resultarem

Da rédea solta aos sarilhos

 

Num mundo grande demais

Para com ele lidar

Sem liderança dos pais?

 

Que é que os filhos vão julgar

Ao partirem os narizes

Por falta de tais matrizes?

 

 

1375 - Mães

 

Há tantas mães esgotadas

Para agradarem a todos!

São nisto desrespeitadas:

Da família nos engodos

 

Não têm partilha alguma.

As crianças mais zangadas

Não têm quem lhes assuma

Limite a impor às pegadas.

 

Se levam os pais à fúria,

É para impor-lhes que a incúria

Supram de implantar limites.

 

De pai abdico do rol

Se ao filho largo o controle

Do dever de meus palpites.

 

 

1376 - Moral

 

Moral desenvolvimento

Brotará da compaixão:

Ética tem coração,

Não normas de entendimento.

 

Quem numa crise dirige

É coração, não cabeça.

A coragem, atravessa

Um sentimento que exige

 

Habitual altruísmo,

A vontade de arriscar

Por outrem, mesmo ante o abismo,

 

Não é um pensamento frio.

Quem nos vai determinar

É do coração o ousio.

 

 

1377 - Melhor

 

O melhor sobressair

De quem encontres farás.

Energia transmitir

Aos ignaros nunca vás

 

Que a imortalidade não

Conheçam a se encarnar

Em cada criança-irmão

Que à mão nos venha a ficar.

 

Reconhece-o tu, porém,

Relaciona-te com ele,

Fá-lo progredir além.

 

Ao vector de eternidade

Ajuda, no que o impele,

A devir de nossa idade.

 

 

1378 - Busca

 

Um filho quer estatuto,

Busca reconhecimento.

Se mal cozinho o conduto,

Da educação perco o evento.

 

Ele rápido um reizinho

Devém e vai pôr-me aos gritos

Com a atenção que sozinho

Concitar, um de seus fitos.

 

Na escola é posto na rua,

Eis a cruel recompensa!

Nenhum labor se insinua

 

Para brincar na licença

E a falta de desafogos

De computador são jogos.

 

 

1379 - Explica-lhes

 

Porque lhes dás instruções

Explica-lhes sempre então.

Ouve a tua explicação:

- Soa estúpido o que impões?

 

Se é o caso, reanalisa

As instruções que lhes deste

E muda-as no que, enfim, preste.

O filho respeita a brisa

 

Que o frescor faz esperar.

Quando és ditatorial,

Na berma é que irás parar,

 

Não te obedece por tal.

E terá boas razões

À recusa do que impões.

 

 

1380 - Ordens

 

Dar ordens não é eficaz.

Escola e família falham,

Que só normas nelas talham

Absolutas, o que faz

 

Que nunca admitam desvios:

"Não perguntes, não refiles!"

Mas crianças com que atiles

As margens saltam dos rios.

 

Aguardam que nos sentemos

E partilhemos com elas

Um tempo de qualidade,

 

Presentes, não às janelas:

Gratificação daremos,

Tangível idade a idade.

 

 

1381 - Rejeitados

 

Os adultos sentem, falam

E actuam de modo tal

Que os filhos sentem-se mal,

Rejeitados, e se calam.

 

O que é não acolhedor

Prejudica o crescimento,

De aprender é travamento,

O que transpira é temor.

 

Se eu for um menino mau

E que não é desejado,

Findo a afundar-me no vau.

 

Se um menino for bonito,

O mundo é de amor talhado,

Salto o vau e além me fito.

 

 

1382 - Farei

 

"Que farei com o meu filho?"

- Quem pergunta quer dizer:

"Quero que mude de trilho!"

O alvo então será fazer

 

O miúdo colaborar.

Ora, quando obrigo alguém,

Minha vontade forçar

Vai vontades que ele tem.

 

Cria lutas de poder

E a criança então detecta

Os medos que em mim houver.

 

Ele quer-me em paz, seguro.

Pressionando-o, o mal se injecta

E só temor nele apuro.

 

 

1383 - Experienciamos

 

Experienciamos aquilo

Que afirmamos ser verdade.

Se um filho crês que a maldade

Corroborará tranquilo,

 

Isto é o que experienciarás.

Se o modo de pensar mudas

E bom o vês, quando acudas,

Logo nele outro verás.

 

Ele então vai-se portar

Como o hajas visualizado,

Cada pormenor a par

 

Do sonho que for sonhado.

Pode instantânea ser cura

E a vida inteira perdura.

 

 

1384 - Requeiro

 

Requeiro um tempo sozinho,

Abro-me então totalmente,

Uma flor de rosmaninho

No jardim, longe da gente.

 

E, na mata natural,

Alheio à vida diária,

Revejo-a atrás do cendal,

À distância, solitária.

 

Sem ter este tempo a sós,

Só vejo o que me rodeia

Confuso e perdido após.

 

À distância, a vida é um todo,

De nitidez então cheia,

Vislumbro o caminho e o modo.

 

 

1385 - Crescer

 

A grande oportunidade

De crescer de que dispomos

São as relações que pomos

Fundas a ser de verdade.

 

Só quando nos reflectidos

Vemos noutrem é que temos

O espelho do que seremos

Falhados e conseguidos.

 

Se conseguir encarar

Questões que os filhos levantam

Como ocasiões de voar,

 

Os incómodos problemas

Deixam de o ser porque encantam,

Todos de festa são temas.

 

 

1386 - Básica

 

É regra básica a ter

Regras básicas ter menos

E mais linhas se tecer

De orientar os pequenos.

 

Quão mais princípios, valores,

Detiverem, mais irão

Descobrir acções melhores,

Próprias para a ocasião.

 

Código do coração,

Mesmo se eu não for presente,

Escolhas deles virão,

 

Tudo com o amor coerente.

Conselheiro em quem confia

Mais vale que a ordem fria.

 

 

1387 - Ensina

 

Ensina como pensar

E o que pensar muito menos.

Conhecimentos levar

Não é o fito, ante os pequenos,

 

Mas antes sabedoria,

Saber com arte aplicado.

Se esta lhes der lhes daria

A descoberta por fado.

 

Conhecer em certo grau

Da sabedoria é leira,

Mas só se dela é degrau.

 

Competências, não memórias

São da criança a cimeira

Meta a dar novas histórias.

 

 

1388 - Prender

 

Não digas para não se preocupar,

Mas é não se prender a um resultado

Particular qualquer que irá contar.

Tudo o que vida além for sendo dado

 

Difere do que quero e que hei sonhado,

Como que a tal postura a convidar.

Compreender, ficando distanciado,

Que existe a meta além a nos chamar,

 

Alvo maior que pode descoberto

Ser em qualquer evento ou resultado.

Encontrar poderei um trilho aberto,

 

Um bom significado, positivo,

Por pior que nos seja nosso fado,

Na base de partida por que vivo.

 

 

1389 - Anjos

 

Os anjos são sempre a luz

Que ilumina o entendimento

E que os passos nos conduz,

Guia, com comedimento.

 

Se um objecto se ilumina,

Um trilho vejo mais claro,

Se atraente me fascina,

Se um livro salta em descaro

 

À vista e chama a atenção,

São os anjos em acção.

Quer creia que é fantasia,

 

Quer da realidade a via,

Quer qualquer magia em vão,

É a raiz do próprio chão.

 

 

1390 - Tensão

 

O que com ambos ocorre,

Toda a tensão que vos pesa,

É a vida no corre-corre,

Sem reparar a quem lesa.

 

A vida tem propensão

A criar dificuldades

Onde há menos previsão:

Os casais adversidades

 

De altos e baixos enfrentam,

Zangam-se e se conciliam…

Se um casal ser vocês tentam,

 

Sem confiança não se aviam:

Em teu par tens de confiar

Tal como ele em ti, a par.

 

 

1391 - Anos

 

Vivi com algo ocupado

Durante anos, qualquer coisa,

Em cada instante acordado…

- E após nada me repoisa!

 

Não consigo estar parado

Mais do que uns poucos minutos,

Há sempre algo ali ao lado

A ler, a estudar, produtos…

 

Vou perdendo a pouco e pouco

Poder de descontrair.

Meses, anos, corro louco,

 

Nada vendo a os distinguir.

- Quando acordarei parado

A olhar o mundo, espantado?

 

 

1392 - Miúdo

 

Educam a reprimir

Qualquer espontaneidade,

Toda a verdade a punir.

Se um miúdo se persuade

 

A ser mesmo verdadeiro

Na cara dos outros mais,

Cruel o julgam inteiro,

Vão inverter-lhe os sinais.

 

Educam na falsidade,

Sempre para a hipocrisia

Como se fora verdade

 

Que domesticar é a via

Para o que dentro sentimos

Se quero atingir os cimos.

 

 

1393 - Rir

 

Rir é janela de sonho,

Forma de olhar com ternura

Ingenuidades que proponho,

Ou sátira que depura

 

Dos outros uma atitude

Ante a qual esclarecido

Me sinto e com mais virtude,

Ou rir conserta, entendido,

 

Uma mágoa ou um queixume…

Destes não brota azedume,

Tudo aproxima e cativa.

 

Só riso arrogante esquiva

E sempre os outros agasta,

Já que intimida e afasta.

 

 

1394 - Competentes

 

Tão competentes a dar,

Somos tão incompetentes

Para com outrem lidar!

No fundo achamos, dementes,

 

Que os outros uma importância

Não têm de grande peso

Para nós, com relevância,

Para o bem-estar que prezo

 

E menos para, com loas,

Crescermos como pessoas.

E apontamos às crianças

 

Que elas é que são cruéis!

E é sempre aos nós destas tranças

Que nos mantemos fiéis.

 

 

1395 - Dúvidas

 

Aqueles que nem toleram

Dúvidas de ser felizes

Não procuram, empeceram

De ser feliz as matrizes.

 

E por isso são bem mais

Infelizes do que dizem

De si próprios ser jamais.

Os que isto nunca enfatizem

 

São infelizes deveras,

Que não aceitam que falta

Um pouco mais às esperas,

 

A desejos tão em alta.

Nunca baste ao que deseje

Aquilo que lhe viceje!

 

 

1396 - Imigrarem

 

Os que imigrarem no sonho

Se orientam lendo nos astros.

Cada vez que o céu medonho

Enxergam nos débeis rastros

 

Dos olhos de quem olharem,

Descobrem ninhos de estrelas

Ao pé deles a morarem,

Ao infindo abrindo as celas.

 

Do íntimo para os tesoiros

O abre-te-sésamo ecoa,

De bruxedo sem desdoiros

 

E são felizes à toa.

E todos os dias são

Sonho em férias de Verão.

 

 

1397 - Incomoda

 

O que incomoda é que aquilo

Que buscamos nunca esteja

Sempre à mão aqui, tranquilo,

Ante os olhos que perfilo,

Mas à distância se veja

 

Que dista a imaginação.

E que a tal cume de olhar

Só cheguemos pela mão

De quem janelas rasgar,

 

Sem tréguas nos arejando

Todos os nossos pronomes.

Mal nos identificando,

 

Deixaram-nos muitas fomes:

Só o cume tem nossos nomes.

 

 

1398 - Desvenda

 

Um indivíduo conhece

As qualidades que tem

Só se lhas desvenda alguém,

Que, ao desvendar, o esclarece.

 

Só nele próprio confia

Quando antes alguém houver

Que confiado tiver

Acaso nele algum dia.

 

Havendo quem nos desvende

O melhor de nós, irá

Haver em nós auto-estima.

 

Se não há quem tal entende,

É postiça estima o que há

E não há quem nos redima.

 

 

1399 - Ambição

 

Precisa a ambição de alimentada ser

Pelas relações que do interior nos dêem

A força, a esperança, para ousar quenquer.

Se o melhor de si bem dado alguém tiver,

A nós próprios, nós, os seus desejos vêm

 

Mais uma janela abrir na meta nossa.

Só vivida assim a ambição é uma sede

E é tão natural como a que o corpo esboça

E do crescimento a vitamina excede.

 

Ser estimulada deverá, portanto.

Mas quando a ambição devenha surda e cega,

Ambição não é, mas antes gula e pranto.

 

É voracidade que a cobiça emprega,

Destrói qualquer laço em que maldita pega.

 

 

1400 - Pais

 

Do que parece ao contrário,

Nem só pais são pais deveras.

Também os filhos sumário

São deste destino vário

De penar a ensinar feras.

 

Para os pais meter nos eixos

Sofrem penas sem ter fim.

Há pais que embirram e os seixos

Que guardam do frenesim

 

Que por medo retiveram

Perante os pais que tiveram

Ao filho os jogam no fim.

 

Castigam, ralham aos brados,

E o filho: "estão desculpados!"

 

 

1401 - Crescer

 

Crescer é não esperar

Que a súbita fada traga,

De surpresa, ao meu lugar

O meu sonho por sonhar,

Sonhando no que ele afaga.

 

Crescer é, pegando a sós

Nos génios e nos vilões

Da evolução que te impões,

Só nós olharmos por nós.

 

Se alguém olha nosso olhar

Então mago é que prossigo:

Criança outra vez a andar,

 

Já doutrem não busco o abrigo

Para aos papões dar castigo.

 

 

1402 - Transformam

 

Muitos transformam a vida

Inteira num espantalho.

Ficam presos à medida

Que espantam medos na ermida

Onde deles queima o galho.

 

Por isso é que alguém que é grande

Se sente desamparado:

É que, quando o amor comande,

Tudo é pequenino ao lado.

 

E, ao mesmo tempo, o melhor

Que o mundo tem para dar

Do mundo ao colo é me pôr:

 

É quem me espante encontrar

Que o coração me abarcar.

 

 

1403 - Autoridade

 

Autoridade faz bem

À saúde, pois protege,

Ao bom exemplo convém,

Orienta o porvir que tem,

Vida em comum então rege.

 

Porém, o autoritarismo

Todos confunde e revolta.

Naquela a justeza crismo

Que faz o que quer de volta;

 

Este impõe o que não faz.

Autoridade supõe

Escutar, da escolha atrás;

 

Este não escuta, impõe:

Uma junta, outro indispõe.

 

 

1404 - Roubou

 

O tempo roubou a muitos

Poder de se comoverem

Com os outros e os intuitos

Que dentro destes, gratuitos,

São mil e um modos de serem.

 

Rouba a possibilidade

De para os mais se moverem

No que sentem e conferem

Em seu fundo de verdade.

 

Se doutro escuto a sentença,

Aumento sem me assustar,

Já me abri à diferença.

 

O melhor para guardar

Sem perda é compartilhar.

 

 

1405 - Estraga

 

A escola estraga as crianças

Se importância ao repetir

Mais que ao pensar dela alcanças,

No entrelaçado das tranças

Com que ela puxa o porvir.

 

Estraga se separar

Sofrimento no labor

Do prazer de se alcançar,

De aprender com o suor.

 

Se a perícia confundir

Que há no técnico saber

Com o plural gosto de ir.

 

Do lar quando o professor

Não faz parte, é um domador.

 

 

1406 - Pequeninos

 

Todos fazem de crescidos

Porque lhes falta alguém junto

Com quem possam, comedidos,

Pequeninos ser vividos

À vontade, único assunto.

 

Andam por fora a crescer,

Por dentro portam-se mal,

Amuam ante quenquer,

De meter medo sinal.

 

Capricham em birras tontas

A que até poupam os pais:

Outrem é que presta contas.

 

E a espantar infantis ais

Pequenos não vão ser mais.

 

 

1407 - Marinheiro

 

Um marinheiro não é senhor do vento

Nem dono das marés.

Usa perpétuo movimento

Para onde o sonho, a ousadia, o incitamento,

O engenho o guiam, por entre contrafés.

 

Por quê parar, mesmo a pensar,

Ou no lugar pôr a vida

Para podermos chegar

Aonde o coração convida?

 

Pôr a vida no lugar é morrer para ela:

Por vezes a vida cavalgamos

Como quem cavalga ondas no meio da procela.

 

É a vertigem de fortes sermos onde vamos

E de a vida ter tal ritmo que nela nos afogamos.

 

 

1408 - Compelidos

 

Somos tão compelidos a reprimir o desejo

Que, vida fora, o grande sofrimento

Vem da ilusão de que pensar é o ensejo

De controlar o corpo que vejo

Pelo invisível pensamento.

 

Por isso tanta pessoa

Só bem depois de crescida

Descobre quanto tem vivido à toa,

Da puberdade sem saída.

 

Desejo é curiosidade.

Ora, a maioria anda por demais distraída

Dos próprios desejos, idade a idade.

 

Escutar o que sinto saúde é de que disponho,

Pois o desejo é o portal do sonho.

 

 

1409 - Seguro

 

Só quem é seguro da estima que merece

Vive com auto-estima.

Só ri quem se entrega ao que o aquece

E aos outros, no mesmo baile da quermesse,

Sem se descontrolar com o que sente neste clima.

 

Rir não é palhaçada,

Nem estéril macaquice,

Nem a maior asneira acumulada

No mínimo de superfície.

 

Só tem riso rasgado quem logra ser verdadeiro,

Daí que a estima estimule o humor:

Rir é o lado errante do coração viageiro.

 

Ora, só é capaz de tal pendor

Que sabe qu se não perde, seja lá por onde for.

 

 

1410 - Deixa

 

Quem não tem quem por si olhe

Deixa de ser arquitecto

Do sonho que em si recolhe,

Como engenheiro em projecto

Do desejo e não o acolhe.

 

Vai vivendo o dia-a-dia

Em vida de pré-reforma,

Sugando morte, seu guia,

A conta-gotas em norma.

 

Muda por que nada deixe

De ser tal como é, constante.

Não transforma à lida o feixe,

 

Já que outrem teme, hesitante,

- E o temor não é confiante.

 

 

1411 - Gesto

 

O grande gesto com que um pai protege

Questiona-nos sobre o pequeno e breve:

Protege o grande o que rege;

O pequeno liga, ampara o que elege

E acalenta de leve.

 

O grande gesto assegura,

O pequeno repousa e torna vivo,

Torna-nos divertidos e nos apura

Ou mais sensatos, quando ao furor me esquivo.

 

Mas pode levar à imaginação

De que quem de nós goste

Nos adivinha e leva pela mão.

 

Ora, quem nos ame é quem aposte

Em adubar o pequeno até que grande à vida acoste.

 

 

1412 - Inocente

 

Ser inocente é um olhar

Longo e aberto, é ser pequeno.

Ombro a ombro se escorar

Com o Cosmos uno e pleno

 

E ser grande, enorme, imenso.

É ter brilho e voz e vida

Só porque se é precioso, intenso,

Para alguém, de nós medida.

 

Ser inocente é deixar

Que o que é belo um ror de vezes

A razão a atropelar

 

Venha com modos corteses.

E é escutar o que se sente:

- Se me abrir, sou inocente.

 

 

1413 - Longo

 

O meu saber acumulei

Do tempo ao longo e descobri

Que é da derrota o mais que sei,

Não das vitórias que mal vi.

 

Derrotas, pois, nunca receio

Nem avalio o desempenho

Cortando os dias pelo meio

Das miopias donde venho.

 

Tal como as árvores que levam

Muitos decénios a ser fortes,

É a pouco e pouco que me devam

 

Fortalecer-se-me meus nortes.

O que me ajuda a ser feliz

É o que um segredo aqui me diz.

 

 

1414 - Tu próprio

 

Quando tu próprio ser não sentes,

Não é que ignores quem tu és,

Experienciá-lo é que, entrementes,

O não farás, então, talvez.

 

Tens de enxertar tua experiência

Ao que tu sabes, produzindo

O sentimento, tua essência.

O sentimento é que, luzindo,

 

De qualquer alma é linguagem.

De ti consciência ei-la alcançada

Do sentimento na triagem

 

Do Eu a ser, duma assentada,

Quem é deveras nas alturas

Do mais sublime em que fulguras.

 

 

1415 - Ondas

 

Não há um único momento

Em que não haja ondas no oceano.

Apesar de cada onda ser um evento

Diverso do mesmo elemento,

Nenhuma do mar vive separada por engano.

 

Diferença não é divisão:

És diferente de Deus

Mas não foste dividido dele na união

Dos profundos saguões teus.

 

Por teu cordão umbilical

Continua a correr

O sangue germinal.

 

E é por dividido de Deus não ser quenquer

Que nunca poderá morrer.

 

 

1416 - Derradeiro

 

Na derradeira Realidade

Tudo está lá bem antes que o vejas,

Toda e qualquer possibilidade

Sempre existiu, toda a efectividade

De resultados que almejas

 

De todas as conjunturas concebíveis

Existe aqui-agora,

Aqui-agora está ocorrendo, sem desníveis

Nem demora.

 

Veres apenas uma possibilidade

Não significa literalmente

Que a ponhas, de verdade,

 

Em ti presente,

Ela é que se põe na tua mente.

 

 

1417 - Pretendes

 

Qual é teu destino,

Como pretendes viver a vida?

Como verás doutrem o trilho fino,

O lugar discreto e clandestino,

Os eventos a que o dia te convida?

 

E como há-de acabar

Tudo isto,

Em que lugar

Imprevisto?

 

Tudo depende

Do que registas nas loisas,

Do que te surpreende,

 

Tudo depende de como em tudo poisas,

Tudo depende de como olhas para as coisas.

 

 

1418 - Místicos

 

Os místicos são quem vê

O que não vemos,

Quem não olha para o sítio onde não lê

O truque feito com fé,

Antes para onde o desvendemos.

 

Não há no Cosmos nada misterioso

Quando olho deveras para ele,

Quando na multidimensionalidade repouso

O olhar que o desvele.

 

Contudo, nem todos

Logram fazê-lo, fixada

A vista noutros bodos.

 

Não o logram, das coisas dada

A perspectiva que têm limitada.

 

 

1419 - Reino

 

Não há maneira de entrar

No Reino de Deus,

Não é lugar

Onde se entre ou donde se saia, ao calhar,

É onde moro sempre com os meus.

 

É o único lugar

Onde algum dia

Poderás, sem fantasia,

Estar.

 

Custa acreditar porque não te recordas

De quem és, de quem os outros são.

Se o fizeras, o acorde em todas as cordas

 

Do Céu na Terra vivenciarias:

Em toda a parte e sempre em Casa com Deus vivias.

 

 

1420 - Vítimas

 

Os que vítimas se sentem

Que alterem a perspectiva,

Como perfeito tudo reinventem,

Mesmo quando humanamente atentem

Que assim não é que se viva.

 

Terá tal consciência paz

No meio do torvelinho,

Repouso, quando a fadiga nos desfaz,

Perdão onde a raiva tece o ninho.

 

Procura a perfeição de cada momento,

Com persistência, diligente,

Não duvides de que lá está, de tudo fermento,

 

E acabarás por descobri-la presente

Se a buscares com profundidade suficiente.

 

 

1421 - Devolvem

 

Todas as mortes são redentoras,

Que devolvem as almas delas mesmas à verdade,

À verdade da vida, à verdade de Deus, e os emboras

Dos tocados pela morte abrem-lhes as horas

A vivenciá-la em toda a profundidade.

 

Nenhuma morte é desperdiçada

E cada morte leva uma mensagem

Aos que deixam a Terra abandonada

E aos que nela permanecem em viagem.

 

És tu

Que tens de procurar e encontrar

Tal mensagem, para além de qualquer tabu,

 

És tu que tens de ouvi-la, singular,

Atenção e não fuga ao lhe prestar.

 

 

1422 - Pintura

 

Vais pintando à tua frente,

Com teus pensamentos, palavras e actos,

A pintura de quem pensas que és presentemente

E de como a vida é, no que quer que assente.

Tudo o que fazes exprime, nos impactos,

 

Algo acerca de ti:

Estás a pôr as imagens

De todas as possibilidades ali,

No mural de tuas paisagens.

 

Todos os sonhos e pesadelos,

Tudo o que te cruza, afinal,

E toca o chão por quaisquer elos,

 

Tudo, pictural,

Está de tua vida no mural.

 

 

1423 - Núcleo

 

Nascer e morrer o mesmo são

No núcleo de teu ser,

Para qualquer alma serão mera atenuação

De energia, a facilitar a transição

Dum mundo para o outro que vier.

 

Morte e nascimento

Poderiam, como palavras, ser eliminadas

Das línguas humanas, a qualquer momento,

Que criação as substituiria em ambas as jornadas.

 

Nascimento e morte

São momentos germinais

De criação doutra sorte.

 

São, enquanto tais,

Sementes de ti Primordiais.

 

 

1124 - Mudar

 

Apenas como é que tudo ocorreu

Quando souberes,

Podes mudar o que aconteceu.

Não podes trocar da vivência o véu,

Nesta vida ou na próxima que viveres,

 

 

Até que entendas quanto baste

Que tu é que foste

Que o criaste,

Goste-se dele agora ou não se goste.

 

Se sabes que o inferno que vivencias

É criado por ti conscientemente

Apenas na tua mente,

 

Tens a fórmula com que o terminarias:

Põe-te fora de ti em todas as vias!

 

 

1125 - Instante

 

No momento de tua morte

Sentirás num instante que a vida se foi

E para todos é igual tal sorte.

Pode haver algum desnorte

Quando percebes que teu corpo ora não dói,

 

Que não estás nele,

Mas dele separado.

Breve entenderás que a vida te impele:

Morto embora, a vida não há findado.

 

Viverás plenamente a certeza que viceja

De que um corpo algo é que se pode ter,

Jamais algo que se seja.

 

Então, liberto, cada qual irá viver

Tudo aquilo em que, no fundo, crer.

 

 

1126 - Além

 

Na vida para além da morte

Deus encherá o momento com glória absoluta,

Já que não há mais glorioso transporte

Que o acto de pura criação, teu norte,

E Deus instiga o que em ti o executa.

 

Depois, uma mais ampla verdade

Acerca de ti próprio desvelarás

E, nesta altura, como criá-la na realidade

A recordar-te voltarás.

 

Porque tu de Deus a parte és

De que estás falando.

Contudo, se o não crês,

 

Poderás continuar livre criando

Quaisquer vivências outras que fores desejando.

 

 

1127 - Positivos

 

Positivos pensamentos, palavras e acções

Produzem as mais benéficas frequências

Das supercordas nas vibrações

Ou de energia da vida nos padrões

E tendências.

 

Meditação e oração

Maneiras são de produzir

Nas energias a alteração

Que se pretender induzir.

 

Visualizar aquilo que desejas

É uma forma elevada de manipulação

Da energia que almejas.

 

Tudo altera das supercordas a vibração

Que a ti como a tudo em redor origem dão.

 

 

1128 - Fusão

 

A fusão com o uno muitos vivenciam

De espontânea maneira,

Entre actividades vulgares que exerceriam,

Na louça que lavam, no cliente que aviam,

Ao conduzir, quando o lar se abeira…

 

De repente,

Sem aviso prévio nem causa,

Sinto a separação do corte ausente

E a vivência da união com o Todo é minha pausa.

 

É uma fracção de segundo

E logo em redor os dados arrefecem

Por todo o mundo.

 

Os que o vivenciam, porém, não esquecem

E então obedecem.