DÉCIMO TERCEIRO TROVÁRIO
SER E AMOR, LEI, UTOPIA SE UNEM ALÉM
Escolha ao acaso um número entre 1341 e 1428, inclusive.
Leia o poema correspondente como uma mensagem particular para o seu dia de hoje.
1341 - Ser e amor, lei, utopia se unem além
Ser e amor, lei, utopia se unem além,
Em sonetos e trovários os capturo
Como devêm,
Ora a sós, ora juntos também,
E na palavra o que inauguram inauguro.
No metro e na rima configuro,
Consumados,
Os dinamismos que dentro de mim apuro
Que me tecem por dentro e por fora os meus lados.
Tudo unido, sou inteiro,
Poema em carne assumido,
E as palavras são do corpo meu viveiro.
O que vivo tem, portanto, este sentido
De como um todo viver rumo ao Todo prosseguido.
1342 - Bases
Aqueles que têm sorte
Não têm sorte nenhuma.
Sorte têm por recorte
Das bases que cada assuma:
Quaisquer oportunidades
Aproveitam expeditos,
Antecipam novidades,
De expectativas peritos
Positivas de vitória,
Cultivam uma atitude
De persistência notória
Que acaba tendo a virtude
De afastar, devindo forte,
Deles o que for má sorte.
1343 - Lindo
Cinzento ou chuvoso,
Frio ou ventoso,
Que lindo que é o dia de hoje!
Todo e qualquer dia
Surpreender-nos-ia
No entrançado que nos foge.
Terás de observar
Sol, vento ou luar,
Saborear a variação:
- Vislumbras que é belo então.
Mesmo a tempestade,
Mesmo o furacão
São uma beldade
A nos dar a mão.
1344 - Preferindo
Vamos preferindo imagens
Que mostrem a realidade
Que nos é própria, mensagens
Do que é nossa identidade.
Deviemos desconfiados
De vidas fantasiosas,
Sensatos e programados
Para saber que tais glosas
Nos dão uma realidade
Lipoaspirada, implantada,
Soerguida em qualquer grade,
Siliconada, apertada…
É um real muito irreal,
- Bem melhor é o nosso mal!
1345 - Contributo
Somos interdependentes:
Somente de estar aqui
Meu contributo é presente
À raça humana e, daí,
Ao porvir da humanidade.
Quem cuidar que é mesmo inútil
É que a praia o persuade
Que os seixos que a onda fútil
Banha e tornou a banhar
Em nada os faz diferir.
Deve daqui a um milhar
De anos à tal praia vir
Verificar quão de areia
Ela então andará cheia.
1346 - Esbanjar
Não têm fim as maneiras
De esbanjar quaisquer fortunas,
Para impressionar inteiras
Plateias ante que enfunas
As velas de interessado.
Dos negócios os gigantes
Crêem, porém, noutro fado,
Três mandamentos instantes:
Ao mínimo induzir custos,
Aplicar todos os ganhos
Na empresa aos preços mais justos
E nunca, em nenhuns amanhos,
Ostentar qualquer riqueza:
Isto o porvir tem que preza.
1347 - Querido
Quem nos é querido morre
Mas não nos deixa deveras.
Laboriosamente ocorre
Construirmos, pelas eras,
Altares aconchegados
Para eles, com as fotos
Na cómoda e noutros lados
Tanto ou mais que ela devotos:
Nas memórias dolorosas,
Pacíficas e saudosas.
É no incensar deste culto
Que o passado é desoculto
E que por nós eterniza
Os sonhos que realiza.
1348 - Ouvir
Para quando a aceitação
Dos outros com seus tormentos,
Toda a predisposição
De ouvir-lhes os argumentos?
E como não conceder
As migalhas só que restam
De nossa febre de ter,
Que nem aprestos se emprestam?
O termómetro anuncia,
Tal noutra febre qualquer,
Doença que cresceria:
Nosso vazio de ser
A invadir-nos fatalmente
Desde o coração à mente.
1349 - Itinerário
O itinerário do luto,
Via sacra dolorosa,
Que tarefa sem produto
E como é laboriosa!
Acolher real a perda,
Sofrer a dor que provoca,
Adaptar-se ao meio que herda
A vida doravante oca,
Guardar quem se foi em mente,
Seguir em frente o caminho
Com a saudade dolente,
Com a força do carinho
Que só a memória acarreta
Numa aurora a nascer preta.
1350 - Mereça
Vir ao mundo vale a pena
Apenas quando uma imagem
Deixa ali, mesmo pequena,
Que mereça, na triagem
De todo o tempo e lugar,
A celebração daqueles
Que ficam, erguendo o altar,
Mais a bênção a que apeles
Da natureza em redor.
Se a posteridade sente
Que de todas a maior
Grandeza entre nós presente,
A que leva às mais a palma,
É sempre a grandeza de alma.
1351 - Dádiva
A todos Deus nos dá força e fraqueza.
A dádiva por vezes da pessoa
É uma deficiência então que a lesa:
Consiste em ajudar alguém à toa
Compaixão a mostrar, em hora boa
De aceitação de tudo o que despreza.
Talvez a imperfeição que te destoa
Outrem possa ajudar em grata reza
E apreço por não ter deficiência:
Só não tombei ali graças a Deus.
Quem com tal de manter tem convivência
Pode desempenhar de professor:
Paramos de julgar, entendo os céus,
Quenquer é meu vizinho e tudo é amor.
1352 - Consertamos
Nós consertamos o que for preciso
Para alcançarmos o que acreditamos
Ser nossa meta, com ou sem ter siso.
Se, mesmo assim, conserto não logramos,
Se na parede estamos a bater,
Provavelmente significa então
Que não estamos a tentar fazer
O que fundo mandar o coração.
Mais dia ou menos muda a profissão:
Estamos destinados a acolher,
Mudado o rumo noutra direcção,
Certamente outra profissão qualquer.
Ora, o que importa é o coração aí
Bater conforme o que é meu ser em si.
1353 - Evento
Uns são sempre mais felizes,
Outros menos o serão.
Os pessimistas matizes
De má nova aqui verão,
Que nunca irão melhorar.
Há, porém, uma esperança:
Ser feliz tem mais lugar
No modo como se alcança
Um evento interpretar
Que nos ocorre na vida,
Que no evento singular
Por si tomado à medida.
Provém de minha atitude
Ler desgraça ou ler virtude.
1354 - Religo
Quando me religo ao Todo
Donde vem ainda o medo?
Sempre o medo é o nosso modo,
Não o elide nenhum credo.
Quando aqui, porém, o tenho,
Aceito a fragilidade,
Não tento, como o rebanho,
Ser forte contra a verdade.
É que sempre aqui em baixo
Haverá medo bastante:
Na matéria onde me encaixo
É a vivência dominante
E, ao invés, lá em cima vale
O amor incondicional.
1355 - Fundamental
A harmonia, a experiência
Fundamental da matéria,
É estar denso da vivência
De emoções duma miséria
Que é sempre mal resolvida
Mas por igual conectado
Ao infindo pressentido
No abismo de nosso fado.
Uma metade no céu,
Outra metade na terra,
Raízes no macaréu,
Antenas além da serra,
Tudo simultaneamente,
É de mim minha semente.
1356 - Falo
Falo do poder de libertar
Um homem da própria dele sombra.
Falo do poder de reparar
Num homem atado numa alfombra
De energias de hera enredadas,
De antanho provindas por herança
De cultura ou genes, lá injectadas.
Falo em liberdade que descansa,
Plena e finalmente, o transviado.
Falo do poder de entreajudar
O irmão prisioneiro que é encontrado
Na jaula detido que acusar,
Mui postumamente, os erros de antes
Que o prendem nos braços de gigantes.
1357 - Lágrimas
Andar triste todo o dia,
Lágrimas contendo adiadas,
Quanta perda de energia!
Pronto sempre deixaria
Corrê-las inesperadas
Em toda a altura e lugar.
É que é mesmo bem melhor
Tudo duma vez chorar,
À tristeza a hora impor,
A fim de me ver liberto
Da corrente a mim prendida
Em meu tornozelo incerto,
Tomar-me em mãos à medida
E prosseguir com a vida.
1358 - Circunstâncias
Só quando me vir cativo
Das circunstâncias da vida
É que sinto quão esquivo
É o lampejo decisivo
Da liberdade hoje haurida.
Então é que mesmo um nada
Pode ser tão importante,
De ar um hausto, uma lufada
Numa boca agonizante
Por vezes é uma viagem
À rua, ao supermercado,
Que à morte despe a roupagem…
Bebo um copo deste suco
E já não findo maluco.
1359 - Castigo
A perda como a doença
Nem sempre são merecidas
Nem de castigo sentença
De Deus, a testar a imensa
Multidão de almas perdidas.
Doença e morte há porque sim,
A maior parte das vezes.
O teste correcto, assim,
É o da escolha ante os reveses.
Orar pode não curar
Mas de fé dar energia,
Meios de com tal lidar.
"Eu por quê?" - mau se anuncia;
"Eu por que não?" - é que é via.
1360 - Proclamo
Não proclamo que sei tudo,
Explico só que mudei,
E que não há, sobretudo,
Magia em nada que mudo.
Aos bocados avancei,
Bocadinho a bocadinho,
E muitos nadas resultam
Num positivo caminho
Que uns tempos mais desocultam.
A vida é demasiado
Preciosa para ser
Um trapo desperdiçado.
O trapo apreciar quenquer
Deve à vida que lho der.
1361 - Formado
É formado o coração
De tal modo que fazer
Algo que em recordação
Lhe fique em marca no chão
Vida além sempre requer
Que de vez lhe sobreviva.
Marca a superioridade
Sobre quanto a terra esquiva
Permite que sobrenade.
É o que lhe funda o poder
Com que os sonhos pontifica
Do que atinge e quiser ser.
E é o que em tudo verifica
Que no mundo o justifica.
1362 - Palavras
Quantas vezes te arrependes
Das palavras proferidas!
Jamais repeso te atendes
Daquelas que tu entendes
Não dizer, em ti retidas.
Às proferidas jamais
As poderás retomar
Dos furacões, vendavais
Que hajam de desencadear.
Porém, às não proferidas,
Se algum bem delas vier,
Jogá-las às avenidas,
Sempre e num lugar qualquer,
Podes, se tal te aprouver.
1363 - Anúncio
Um anúncio de mulher
Tónica põe na aparência;
Dum homem é o que puser
Recursos em evidência.
Quão mais velha uma mulher,
Menos respostas recebe;
Com os homens ocorrer
O contrário se concebe.
Sempre é de incluir simpático
Num anúncio singular:
Quem o faz é feliz, prático,
Sociável, popular.
E tudo isto preconiza
A boa prole que visa.
1364 - Mar
Fico logo mais feliz
Quando alguém a si me uniu
E, nele, a toda a raiz
Dum povo que me teceu.
Já não sou mais solitário,
Já não vivo mais sozinho.
No mar grande originário
Apenas um sou, maninho,
Mas pertenço ao mar infindo.
Minha vida separada
Já não vive além do lindo
Pélago, todo em meu nada.
Quão mais nada sou em Tudo
Mais eu nele ao fim me mudo.
1365 - Longe
A vera sabedoria
Poderá ser encontrada
Dos homens longe da via,
Das habitações da estrada,
Nas vastidões solitárias,
Grandes a perder de vista,
E alcançada em temerárias
Dores que são dela a pista.
Sofrimentos, privações
São os únicos portais
Aptos a abrir os saguões
Da mente àqueles sinais,
Ocultos doutros aos olhos,
Que, reais, são vida aos molhos.
1366 - Menos
Um homem é tanto mais
Quanto menos ele for
E tanto menos, aliás,
Quanto mais for produtor.
Já nenhum produto exprime
O imo dele nem prolonga
O profundo que o redime,
Que o ser tempo além lhe alonga.
Mera força de trabalho,
Entre coisas coisa reles,
Mais não será sob o malho
Do mercado que interpeles:
Este é o tempo desgarrado
Dum homem coisificado.
1367 - Brincam
Brincam anjos com estrelas
Se brincamos com crianças,
Solta a brincadeira as velas,
Abre os portões para as danças
Pelos jardins infantis
Cósmicos dum Universo
Onde todos, juvenis,
Com um Criador diverso
Brincamos em jogo alegre,
Bailando a festa do amor
Que dar-receber integre
Num espontâneo fulgor.
Quando com crianças brinco,
O açude à vida destrinco.
1368 - Sendo
A si próprio rotular-se
Como sendo um incapaz
Maior mal vai revelar-se
Do que o que o sintoma traz.
Pode levar a negar
O domínio interior,
Capacidade a emperrar
Seja que vertente for.
Atenção, pois, e cuidado
Antes de alguém vir a ser
Por qualquer mal rotulado
E tratado por quenquer
Tal se houvera um dado tal,
Pois nunca em ninguém é real.
1369 - Ambiente
As crianças bem florescem
Em ambiente de estremas
Bem marcadas que o guarnecem,
Que do aceitável são lemas,
Onde também se encoraje
Uma exploração aberta
Até o limite da laje.
Temos de estar sempre alerta
A manter limites claros,
Flexíveis a os alterar,
A ajustar os anteparos
A par do que os filhos crescem.
Sendo firme e justo a par,
Nunca os bens comuns decrescem.
1370 - Confiança
Os miúdos desenvolvem
A confiança à medida
Que aprendem que se resolvem
As carências que há na vida
Por quem toma conta deles,
Os adultos lá presentes.
As mensagens aos imbeles
E os cuidados persistentes
Devem ser mais agradáveis
Do que dolorosos ser,
No amor com bases fiáveis
Mais que no temor que houver.
E a teia da intimidade
Ata idade com idade.
1371 - Afectarão
Vergonha e culpa infundadas
Afectarão negativas
A procura das estradas
Individuais mais vivas.
Emoções tão poderosas
Bloqueiam frequentemente,
Pelo que são dolorosas,
O que o curioso tente,
Matam tanto a brincadeira
Como a criatividade.
Do refechamento à beira,
Induz tu à novidade:
Encoraja-te a trilhar
As escolhas por que optar.
1372 - Reconstitui
Reconstitui, natural,
Desfrutar da natureza,
Literatura abismal,
Jogo e brincadeira acesa.
O jogo mais brincadeira,
Parceiros de crescimento,
Contexto são que aligeira
A interacção entre eventos.
Vão estabelecer laços
De alvos significativos:
Brincar juntos gera abraços
Que, não sendo mais esquivos,
Duma forma inesperada
Celebram a madrugada.
1373 - Porta
Visto serem criativas
E viverem sempre alerta,
Experimentam, furtivas,
Exploram a porta aberta.
Querem sentir segurança
E conhecer-lhe os limites,
Que experiência não alcança
Benefícios nos palpites.
Não digam, pois, às crianças
O que fazer ou que não,
Que à inventiva corta as franças,
Mata o poder de expressão,
Irá torná-las esquivas.
- Quem as não vai querer vivas?
1374 - Erros
Um dos erros mais vulgares
Em que incorrem pais modernos
É dobrarem, dando-se ares,
A espinha, em trejeitos ternos,
Para nunca magoarem,
Prejudicarem os filhos.
E os males que resultarem
Da rédea solta aos sarilhos
Num mundo grande demais
Para com ele lidar
Sem liderança dos pais?
Que é que os filhos vão julgar
Ao partirem os narizes
Por falta de tais matrizes?
1375 - Mães
Há tantas mães esgotadas
Para agradarem a todos!
São nisto desrespeitadas:
Da família nos engodos
Não têm partilha alguma.
As crianças mais zangadas
Não têm quem lhes assuma
Limite a impor às pegadas.
Se levam os pais à fúria,
É para impor-lhes que a incúria
Supram de implantar limites.
De pai abdico do rol
Se ao filho largo o controle
Do dever de meus palpites.
1376 - Moral
Moral desenvolvimento
Brotará da compaixão:
Ética tem coração,
Não normas de entendimento.
Quem numa crise dirige
É coração, não cabeça.
A coragem, atravessa
Um sentimento que exige
Habitual altruísmo,
A vontade de arriscar
Por outrem, mesmo ante o abismo,
Não é um pensamento frio.
Quem nos vai determinar
É do coração o ousio.
1377 - Melhor
O melhor sobressair
De quem encontres farás.
Energia transmitir
Aos ignaros nunca vás
Que a imortalidade não
Conheçam a se encarnar
Em cada criança-irmão
Que à mão nos venha a ficar.
Reconhece-o tu, porém,
Relaciona-te com ele,
Fá-lo progredir além.
Ao vector de eternidade
Ajuda, no que o impele,
A devir de nossa idade.
1378 - Busca
Um filho quer estatuto,
Busca reconhecimento.
Se mal cozinho o conduto,
Da educação perco o evento.
Ele rápido um reizinho
Devém e vai pôr-me aos gritos
Com a atenção que sozinho
Concitar, um de seus fitos.
Na escola é posto na rua,
Eis a cruel recompensa!
Nenhum labor se insinua
Para brincar na licença
E a falta de desafogos
De computador são jogos.
1379 - Explica-lhes
Porque lhes dás instruções
Explica-lhes sempre então.
Ouve a tua explicação:
- Soa estúpido o que impões?
Se é o caso, reanalisa
As instruções que lhes deste
E muda-as no que, enfim, preste.
O filho respeita a brisa
Que o frescor faz esperar.
Quando és ditatorial,
Na berma é que irás parar,
Não te obedece por tal.
E terá boas razões
À recusa do que impões.
1380 - Ordens
Dar ordens não é eficaz.
Escola e família falham,
Que só normas nelas talham
Absolutas, o que faz
Que nunca admitam desvios:
"Não perguntes, não refiles!"
Mas crianças com que atiles
As margens saltam dos rios.
Aguardam que nos sentemos
E partilhemos com elas
Um tempo de qualidade,
Presentes, não às janelas:
Gratificação daremos,
Tangível idade a idade.
1381 - Rejeitados
Os adultos sentem, falam
E actuam de modo tal
Que os filhos sentem-se mal,
Rejeitados, e se calam.
O que é não acolhedor
Prejudica o crescimento,
De aprender é travamento,
O que transpira é temor.
Se eu for um menino mau
E que não é desejado,
Findo a afundar-me no vau.
Se um menino for bonito,
O mundo é de amor talhado,
Salto o vau e além me fito.
1382 - Farei
"Que farei com o meu filho?"
- Quem pergunta quer dizer:
"Quero que mude de trilho!"
O alvo então será fazer
O miúdo colaborar.
Ora, quando obrigo alguém,
Minha vontade forçar
Vai vontades que ele tem.
Cria lutas de poder
E a criança então detecta
Os medos que em mim houver.
Ele quer-me em paz, seguro.
Pressionando-o, o mal se injecta
E só temor nele apuro.
1383 - Experienciamos
Experienciamos aquilo
Que afirmamos ser verdade.
Se um filho crês que a maldade
Corroborará tranquilo,
Isto é o que experienciarás.
Se o modo de pensar mudas
E bom o vês, quando acudas,
Logo nele outro verás.
Ele então vai-se portar
Como o hajas visualizado,
Cada pormenor a par
Do sonho que for sonhado.
Pode instantânea ser cura
E a vida inteira perdura.
1384 - Requeiro
Requeiro um tempo sozinho,
Abro-me então totalmente,
Uma flor de rosmaninho
No jardim, longe da gente.
E, na mata natural,
Alheio à vida diária,
Revejo-a atrás do cendal,
À distância, solitária.
Sem ter este tempo a sós,
Só vejo o que me rodeia
Confuso e perdido após.
À distância, a vida é um todo,
De nitidez então cheia,
Vislumbro o caminho e o modo.
1385 - Crescer
A grande oportunidade
De crescer de que dispomos
São as relações que pomos
Fundas a ser de verdade.
Só quando nos reflectidos
Vemos noutrem é que temos
O espelho do que seremos
Falhados e conseguidos.
Se conseguir encarar
Questões que os filhos levantam
Como ocasiões de voar,
Os incómodos problemas
Deixam de o ser porque encantam,
Todos de festa são temas.
1386 - Básica
É regra básica a ter
Regras básicas ter menos
E mais linhas se tecer
De orientar os pequenos.
Quão mais princípios, valores,
Detiverem, mais irão
Descobrir acções melhores,
Próprias para a ocasião.
Código do coração,
Mesmo se eu não for presente,
Escolhas deles virão,
Tudo com o amor coerente.
Conselheiro em quem confia
Mais vale que a ordem fria.
1387 - Ensina
Ensina como pensar
E o que pensar muito menos.
Conhecimentos levar
Não é o fito, ante os pequenos,
Mas antes sabedoria,
Saber com arte aplicado.
Se esta lhes der lhes daria
A descoberta por fado.
Conhecer em certo grau
Da sabedoria é leira,
Mas só se dela é degrau.
Competências, não memórias
São da criança a cimeira
Meta a dar novas histórias.
1388 - Prender
Não digas para não se preocupar,
Mas é não se prender a um resultado
Particular qualquer que irá contar.
Tudo o que vida além for sendo dado
Difere do que quero e que hei sonhado,
Como que a tal postura a convidar.
Compreender, ficando distanciado,
Que existe a meta além a nos chamar,
Alvo maior que pode descoberto
Ser em qualquer evento ou resultado.
Encontrar poderei um trilho aberto,
Um bom significado, positivo,
Por pior que nos seja nosso fado,
Na base de partida por que vivo.
1389 - Anjos
Os anjos são sempre a luz
Que ilumina o entendimento
E que os passos nos conduz,
Guia, com comedimento.
Se um objecto se ilumina,
Um trilho vejo mais claro,
Se atraente me fascina,
Se um livro salta em descaro
À vista e chama a atenção,
São os anjos em acção.
Quer creia que é fantasia,
Quer da realidade a via,
Quer qualquer magia em vão,
É a raiz do próprio chão.
1390 - Tensão
O que com ambos ocorre,
Toda a tensão que vos pesa,
É a vida no corre-corre,
Sem reparar a quem lesa.
A vida tem propensão
A criar dificuldades
Onde há menos previsão:
Os casais adversidades
De altos e baixos enfrentam,
Zangam-se e se conciliam…
Se um casal ser vocês tentam,
Sem confiança não se aviam:
Em teu par tens de confiar
Tal como ele em ti, a par.
1391 - Anos
Vivi com algo ocupado
Durante anos, qualquer coisa,
Em cada instante acordado…
- E após nada me repoisa!
Não consigo estar parado
Mais do que uns poucos minutos,
Há sempre algo ali ao lado
A ler, a estudar, produtos…
Vou perdendo a pouco e pouco
Poder de descontrair.
Meses, anos, corro louco,
Nada vendo a os distinguir.
- Quando acordarei parado
A olhar o mundo, espantado?
1392 - Miúdo
Educam a reprimir
Qualquer espontaneidade,
Toda a verdade a punir.
Se um miúdo se persuade
A ser mesmo verdadeiro
Na cara dos outros mais,
Cruel o julgam inteiro,
Vão inverter-lhe os sinais.
Educam na falsidade,
Sempre para a hipocrisia
Como se fora verdade
Que domesticar é a via
Para o que dentro sentimos
Se quero atingir os cimos.
1393 - Rir
Rir é janela de sonho,
Forma de olhar com ternura
Ingenuidades que proponho,
Ou sátira que depura
Dos outros uma atitude
Ante a qual esclarecido
Me sinto e com mais virtude,
Ou rir conserta, entendido,
Uma mágoa ou um queixume…
Destes não brota azedume,
Tudo aproxima e cativa.
Só riso arrogante esquiva
E sempre os outros agasta,
Já que intimida e afasta.
1394 - Competentes
Tão competentes a dar,
Somos tão incompetentes
Para com outrem lidar!
No fundo achamos, dementes,
Que os outros uma importância
Não têm de grande peso
Para nós, com relevância,
Para o bem-estar que prezo
E menos para, com loas,
Crescermos como pessoas.
E apontamos às crianças
Que elas é que são cruéis!
E é sempre aos nós destas tranças
Que nos mantemos fiéis.
1395 - Dúvidas
Aqueles que nem toleram
Dúvidas de ser felizes
Não procuram, empeceram
De ser feliz as matrizes.
E por isso são bem mais
Infelizes do que dizem
De si próprios ser jamais.
Os que isto nunca enfatizem
São infelizes deveras,
Que não aceitam que falta
Um pouco mais às esperas,
A desejos tão em alta.
Nunca baste ao que deseje
Aquilo que lhe viceje!
1396 - Imigrarem
Os que imigrarem no sonho
Se orientam lendo nos astros.
Cada vez que o céu medonho
Enxergam nos débeis rastros
Dos olhos de quem olharem,
Descobrem ninhos de estrelas
Ao pé deles a morarem,
Ao infindo abrindo as celas.
Do íntimo para os tesoiros
O abre-te-sésamo ecoa,
De bruxedo sem desdoiros
E são felizes à toa.
E todos os dias são
Sonho em férias de Verão.
1397 - Incomoda
O que incomoda é que aquilo
Que buscamos nunca esteja
Sempre à mão aqui, tranquilo,
Ante os olhos que perfilo,
Mas à distância se veja
Que dista a imaginação.
E que a tal cume de olhar
Só cheguemos pela mão
De quem janelas rasgar,
Sem tréguas nos arejando
Todos os nossos pronomes.
Mal nos identificando,
Deixaram-nos muitas fomes:
Só o cume tem nossos nomes.
1398 - Desvenda
Um indivíduo conhece
As qualidades que tem
Só se lhas desvenda alguém,
Que, ao desvendar, o esclarece.
Só nele próprio confia
Quando antes alguém houver
Que confiado tiver
Acaso nele algum dia.
Havendo quem nos desvende
O melhor de nós, irá
Haver em nós auto-estima.
Se não há quem tal entende,
É postiça estima o que há
E não há quem nos redima.
1399 - Ambição
Precisa a ambição de alimentada ser
Pelas relações que do interior nos dêem
A força, a esperança, para ousar quenquer.
Se o melhor de si bem dado alguém tiver,
A nós próprios, nós, os seus desejos vêm
Mais uma janela abrir na meta nossa.
Só vivida assim a ambição é uma sede
E é tão natural como a que o corpo esboça
E do crescimento a vitamina excede.
Ser estimulada deverá, portanto.
Mas quando a ambição devenha surda e cega,
Ambição não é, mas antes gula e pranto.
É voracidade que a cobiça emprega,
Destrói qualquer laço em que maldita pega.
1400 - Pais
Do que parece ao contrário,
Nem só pais são pais deveras.
Também os filhos sumário
São deste destino vário
De penar a ensinar feras.
Para os pais meter nos eixos
Sofrem penas sem ter fim.
Há pais que embirram e os seixos
Que guardam do frenesim
Que por medo retiveram
Perante os pais que tiveram
Ao filho os jogam no fim.
Castigam, ralham aos brados,
E o filho: "estão desculpados!"
1401 - Crescer
Crescer é não esperar
Que a súbita fada traga,
De surpresa, ao meu lugar
O meu sonho por sonhar,
Sonhando no que ele afaga.
Crescer é, pegando a sós
Nos génios e nos vilões
Da evolução que te impões,
Só nós olharmos por nós.
Se alguém olha nosso olhar
Então mago é que prossigo:
Criança outra vez a andar,
Já doutrem não busco o abrigo
Para aos papões dar castigo.
1402 - Transformam
Muitos transformam a vida
Inteira num espantalho.
Ficam presos à medida
Que espantam medos na ermida
Onde deles queima o galho.
Por isso é que alguém que é grande
Se sente desamparado:
É que, quando o amor comande,
Tudo é pequenino ao lado.
E, ao mesmo tempo, o melhor
Que o mundo tem para dar
Do mundo ao colo é me pôr:
É quem me espante encontrar
Que o coração me abarcar.
1403 - Autoridade
Autoridade faz bem
À saúde, pois protege,
Ao bom exemplo convém,
Orienta o porvir que tem,
Vida em comum então rege.
Porém, o autoritarismo
Todos confunde e revolta.
Naquela a justeza crismo
Que faz o que quer de volta;
Este impõe o que não faz.
Autoridade supõe
Escutar, da escolha atrás;
Este não escuta, impõe:
Uma junta, outro indispõe.
1404 - Roubou
O tempo roubou a muitos
Poder de se comoverem
Com os outros e os intuitos
Que dentro destes, gratuitos,
São mil e um modos de serem.
Rouba a possibilidade
De para os mais se moverem
No que sentem e conferem
Em seu fundo de verdade.
Se doutro escuto a sentença,
Aumento sem me assustar,
Já me abri à diferença.
O melhor para guardar
Sem perda é compartilhar.
1405 - Estraga
A escola estraga as crianças
Se importância ao repetir
Mais que ao pensar dela alcanças,
No entrelaçado das tranças
Com que ela puxa o porvir.
Estraga se separar
Sofrimento no labor
Do prazer de se alcançar,
De aprender com o suor.
Se a perícia confundir
Que há no técnico saber
Com o plural gosto de ir.
Do lar quando o professor
Não faz parte, é um domador.
1406 - Pequeninos
Todos fazem de crescidos
Porque lhes falta alguém junto
Com quem possam, comedidos,
Pequeninos ser vividos
À vontade, único assunto.
Andam por fora a crescer,
Por dentro portam-se mal,
Amuam ante quenquer,
De meter medo sinal.
Capricham em birras tontas
A que até poupam os pais:
Outrem é que presta contas.
E a espantar infantis ais
Pequenos não vão ser mais.
1407 - Marinheiro
Um marinheiro não é senhor do vento
Nem dono das marés.
Usa perpétuo movimento
Para onde o sonho, a ousadia, o incitamento,
O engenho o guiam, por entre contrafés.
Por quê parar, mesmo a pensar,
Ou no lugar pôr a vida
Para podermos chegar
Aonde o coração convida?
Pôr a vida no lugar é morrer para ela:
Por vezes a vida cavalgamos
Como quem cavalga ondas no meio da procela.
É a vertigem de fortes sermos onde vamos
E de a vida ter tal ritmo que nela nos afogamos.
1408 - Compelidos
Somos tão compelidos a reprimir o desejo
Que, vida fora, o grande sofrimento
Vem da ilusão de que pensar é o ensejo
De controlar o corpo que vejo
Pelo invisível pensamento.
Por isso tanta pessoa
Só bem depois de crescida
Descobre quanto tem vivido à toa,
Da puberdade sem saída.
Desejo é curiosidade.
Ora, a maioria anda por demais distraída
Dos próprios desejos, idade a idade.
Escutar o que sinto saúde é de que disponho,
Pois o desejo é o portal do sonho.
1409 - Seguro
Só quem é seguro da estima que merece
Vive com auto-estima.
Só ri quem se entrega ao que o aquece
E aos outros, no mesmo baile da quermesse,
Sem se descontrolar com o que sente neste clima.
Rir não é palhaçada,
Nem estéril macaquice,
Nem a maior asneira acumulada
No mínimo de superfície.
Só tem riso rasgado quem logra ser verdadeiro,
Daí que a estima estimule o humor:
Rir é o lado errante do coração viageiro.
Ora, só é capaz de tal pendor
Que sabe qu se não perde, seja lá por onde for.
1410 - Deixa
Quem não tem quem por si olhe
Deixa de ser arquitecto
Do sonho que em si recolhe,
Como engenheiro em projecto
Do desejo e não o acolhe.
Vai vivendo o dia-a-dia
Em vida de pré-reforma,
Sugando morte, seu guia,
A conta-gotas em norma.
Muda por que nada deixe
De ser tal como é, constante.
Não transforma à lida o feixe,
Já que outrem teme, hesitante,
- E o temor não é confiante.
1411 - Gesto
O grande gesto com que um pai protege
Questiona-nos sobre o pequeno e breve:
Protege o grande o que rege;
O pequeno liga, ampara o que elege
E acalenta de leve.
O grande gesto assegura,
O pequeno repousa e torna vivo,
Torna-nos divertidos e nos apura
Ou mais sensatos, quando ao furor me esquivo.
Mas pode levar à imaginação
De que quem de nós goste
Nos adivinha e leva pela mão.
Ora, quem nos ame é quem aposte
Em adubar o pequeno até que grande à vida acoste.
1412 - Inocente
Ser inocente é um olhar
Longo e aberto, é ser pequeno.
Ombro a ombro se escorar
Com o Cosmos uno e pleno
E ser grande, enorme, imenso.
É ter brilho e voz e vida
Só porque se é precioso, intenso,
Para alguém, de nós medida.
Ser inocente é deixar
Que o que é belo um ror de vezes
A razão a atropelar
Venha com modos corteses.
E é escutar o que se sente:
- Se me abrir, sou inocente.
1413 - Longo
O meu saber acumulei
Do tempo ao longo e descobri
Que é da derrota o mais que sei,
Não das vitórias que mal vi.
Derrotas, pois, nunca receio
Nem avalio o desempenho
Cortando os dias pelo meio
Das miopias donde venho.
Tal como as árvores que levam
Muitos decénios a ser fortes,
É a pouco e pouco que me devam
Fortalecer-se-me meus nortes.
O que me ajuda a ser feliz
É o que um segredo aqui me diz.
1414 - Tu próprio
Quando tu próprio ser não sentes,
Não é que ignores quem tu és,
Experienciá-lo é que, entrementes,
O não farás, então, talvez.
Tens de enxertar tua experiência
Ao que tu sabes, produzindo
O sentimento, tua essência.
O sentimento é que, luzindo,
De qualquer alma é linguagem.
De ti consciência ei-la alcançada
Do sentimento na triagem
Do Eu a ser, duma assentada,
Quem é deveras nas alturas
Do mais sublime em que fulguras.
1415 - Ondas
Não há um único momento
Em que não haja ondas no oceano.
Apesar de cada onda ser um evento
Diverso do mesmo elemento,
Nenhuma do mar vive separada por engano.
Diferença não é divisão:
És diferente de Deus
Mas não foste dividido dele na união
Dos profundos saguões teus.
Por teu cordão umbilical
Continua a correr
O sangue germinal.
E é por dividido de Deus não ser quenquer
Que nunca poderá morrer.
1416 - Derradeiro
Na derradeira Realidade
Tudo está lá bem antes que o vejas,
Toda e qualquer possibilidade
Sempre existiu, toda a efectividade
De resultados que almejas
De todas as conjunturas concebíveis
Existe aqui-agora,
Aqui-agora está ocorrendo, sem desníveis
Nem demora.
Veres apenas uma possibilidade
Não significa literalmente
Que a ponhas, de verdade,
Em ti presente,
Ela é que se põe na tua mente.
1417 - Pretendes
Qual é teu destino,
Como pretendes viver a vida?
Como verás doutrem o trilho fino,
O lugar discreto e clandestino,
Os eventos a que o dia te convida?
E como há-de acabar
Tudo isto,
Em que lugar
Imprevisto?
Tudo depende
Do que registas nas loisas,
Do que te surpreende,
Tudo depende de como em tudo poisas,
Tudo depende de como olhas para as coisas.
1418 - Místicos
Os místicos são quem vê
O que não vemos,
Quem não olha para o sítio onde não lê
O truque feito com fé,
Antes para onde o desvendemos.
Não há no Cosmos nada misterioso
Quando olho deveras para ele,
Quando na multidimensionalidade repouso
O olhar que o desvele.
Contudo, nem todos
Logram fazê-lo, fixada
A vista noutros bodos.
Não o logram, das coisas dada
A perspectiva que têm limitada.
1419 - Reino
Não há maneira de entrar
No Reino de Deus,
Não é lugar
Onde se entre ou donde se saia, ao calhar,
É onde moro sempre com os meus.
É o único lugar
Onde algum dia
Poderás, sem fantasia,
Estar.
Custa acreditar porque não te recordas
De quem és, de quem os outros são.
Se o fizeras, o acorde em todas as cordas
Do Céu na Terra vivenciarias:
Em toda a parte e sempre em Casa com Deus vivias.
1420 - Vítimas
Os que vítimas se sentem
Que alterem a perspectiva,
Como perfeito tudo reinventem,
Mesmo quando humanamente atentem
Que assim não é que se viva.
Terá tal consciência paz
No meio do torvelinho,
Repouso, quando a fadiga nos desfaz,
Perdão onde a raiva tece o ninho.
Procura a perfeição de cada momento,
Com persistência, diligente,
Não duvides de que lá está, de tudo fermento,
E acabarás por descobri-la presente
Se a buscares com profundidade suficiente.
1421 - Devolvem
Todas as mortes são redentoras,
Que devolvem as almas delas mesmas à verdade,
À verdade da vida, à verdade de Deus, e os emboras
Dos tocados pela morte abrem-lhes as horas
A vivenciá-la em toda a profundidade.
Nenhuma morte é desperdiçada
E cada morte leva uma mensagem
Aos que deixam a Terra abandonada
E aos que nela permanecem em viagem.
És tu
Que tens de procurar e encontrar
Tal mensagem, para além de qualquer tabu,
És tu que tens de ouvi-la, singular,
Atenção e não fuga ao lhe prestar.
1422 - Pintura
Vais pintando à tua frente,
Com teus pensamentos, palavras e actos,
A pintura de quem pensas que és presentemente
E de como a vida é, no que quer que assente.
Tudo o que fazes exprime, nos impactos,
Algo acerca de ti:
Estás a pôr as imagens
De todas as possibilidades ali,
No mural de tuas paisagens.
Todos os sonhos e pesadelos,
Tudo o que te cruza, afinal,
E toca o chão por quaisquer elos,
Tudo, pictural,
Está de tua vida no mural.
1423 - Núcleo
Nascer e morrer o mesmo são
No núcleo de teu ser,
Para qualquer alma serão mera atenuação
De energia, a facilitar a transição
Dum mundo para o outro que vier.
Morte e nascimento
Poderiam, como palavras, ser eliminadas
Das línguas humanas, a qualquer momento,
Que criação as substituiria em ambas as jornadas.
Nascimento e morte
São momentos germinais
De criação doutra sorte.
São, enquanto tais,
Sementes de ti Primordiais.
1124 - Mudar
Apenas como é que tudo ocorreu
Quando souberes,
Podes mudar o que aconteceu.
Não podes trocar da vivência o véu,
Nesta vida ou na próxima que viveres,
Até que entendas quanto baste
Que tu é que foste
Que o criaste,
Goste-se dele agora ou não se goste.
Se sabes que o inferno que vivencias
É criado por ti conscientemente
Apenas na tua mente,
Tens a fórmula com que o terminarias:
Põe-te fora de ti em todas as vias!
1125 - Instante
No momento de tua morte
Sentirás num instante que a vida se foi
E para todos é igual tal sorte.
Pode haver algum desnorte
Quando percebes que teu corpo ora não dói,
Que não estás nele,
Mas dele separado.
Breve entenderás que a vida te impele:
Morto embora, a vida não há findado.
Viverás plenamente a certeza que viceja
De que um corpo algo é que se pode ter,
Jamais algo que se seja.
Então, liberto, cada qual irá viver
Tudo aquilo em que, no fundo, crer.
1126 - Além
Na vida para além da morte
Deus encherá o momento com glória absoluta,
Já que não há mais glorioso transporte
Que o acto de pura criação, teu norte,
E Deus instiga o que em ti o executa.
Depois, uma mais ampla verdade
Acerca de ti próprio desvelarás
E, nesta altura, como criá-la na realidade
A recordar-te voltarás.
Porque tu de Deus a parte és
De que estás falando.
Contudo, se o não crês,
Poderás continuar livre criando
Quaisquer vivências outras que fores desejando.
1127 - Positivos
Positivos pensamentos, palavras e acções
Produzem as mais benéficas frequências
Das supercordas nas vibrações
Ou de energia da vida nos padrões
E tendências.
Meditação e oração
Maneiras são de produzir
Nas energias a alteração
Que se pretender induzir.
Visualizar aquilo que desejas
É uma forma elevada de manipulação
Da energia que almejas.
Tudo altera das supercordas a vibração
Que a ti como a tudo em redor origem dão.
1128 - Fusão
A fusão com o uno muitos vivenciam
De espontânea maneira,
Entre actividades vulgares que exerceriam,
Na louça que lavam, no cliente que aviam,
Ao conduzir, quando o lar se abeira…
De repente,
Sem aviso prévio nem causa,
Sinto a separação do corte ausente
E a vivência da união com o Todo é minha pausa.
É uma fracção de segundo
E logo em redor os dados arrefecem
Por todo o mundo.
Os que o vivenciam, porém, não esquecem
E então obedecem.