DÉCIMO
SEGUNDO CANTO
ESTÁ ESCRITO
MEU FADO, MAU E BOM
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aleatoriamente um número entre 1324 e 1389 inclusive.
Descubra
o poema correspondente como uma mensagem particular para o seu dia de hoje.
1324 - Está escrito meu fado, mau e bom
Está escrito meu fado,
mau e bom,
Nas malhas dum destino que não sei.
Peixe esquivo dentre elas me esquivei
Em busca do que deve ser meu tom.
Sei lá bem o que tramei
Nas redes tecidas com
O rio que é o de meu som
Mais as margens, minha lei!
Apenas me vejo escrito
Pela mão que em minha mão
Escreve o que não medito
Sem ligar ao que lhe dito.
Só que então
Reparo que me escreve no infinito.
1325 - Escrito |
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Estava escrito, |
Estava escrito nas raízes. |
|
Sentirás o que
nunca houveras sentido antes. |
E perceberás. |
Aquela vontade
inefável de ficar, |
De morar numa
única aldeia para sempre… |
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|
Para sempre com
a menina dos cabelos negros, |
Com os dias que
jamais serão iguais… |
Para sempre! |
|
Estava escrito. |
Estava escrito
na raiz das raízes da raiz… |
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1326 – Importância |
|
“Não tem
importância” - dir-te-ás |
E pressentirás,
no fundo das profundezas, |
Que afinal tem importância. |
|
É que todos os
pastores sempre encontrarão um pasto, |
É que todos os
marinheiros sempre encontrarão um porto, |
É que todos os
viajantes sempre encontrarão um lugarejo, |
É que todos os
caminheiros sempre encontrarão um poiso, |
- É que sempre
encontrarás o lugar de alguém! |
|
Haverá sempre
alguém, ali, capaz de te apagar |
A alegria de
viajar livre pelo mundo. |
|
E trocarás
alegre toda a viagem por fora pela viagem por dentro: |
Por dentro de
ti, por dentro de Vós: |
- Por dentro do
mundo feito casa e lar e família. |
|
Quantos lugares
no mesmo lugar, quantos mundos nos mundos do mundo! |
|
Está escrito
que a aventura é sempre outra, porque é sempre outrem: |
Mesmo quando és
tu que noutrem te estranhas, te perdes, te encontras… |
|
Está escrito. E
quão tarde, quão tarde sempre o irás decifrando! |
|
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1327 - Corre |
|
Compre teu
rabanho e corre os vales, |
Compra teu
automóvel e corre as terras, |
Compra teu
bilhete e voa continentes, voa mundos… |
|
Corre, corre
até aprenderes que nosso castelo é o mais importante, |
Que nossa fruta
é a mais saborosa e sumarenta, |
Que nossos
serões são os mais lendários, |
Que nossas
mulheres são as mais belas e amoráveis. |
Corre, que te
abençoo pelos séculos dos séculos.. |
|
Está escrito
que só aprenderás a abraçar-te quando abraçares o mundo, |
Que só voltarás
à tua terra depois de dares a volta ao Universo. |
Está escrito
que teu espelho será sempre o outro, |
Tanto mais
total quanto mais totalmente Outro. |
|
Por isso é que
só te verás inteiro se algum dia puderes ver-te em Deus: |
Aí serás tu, aí
serás Deus! |
Está escrito.
Na indecifrável escrita da eternidade. |
|
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1328 – Aberta |
|
Dirás: “nada interessa.” |
Olhar-te-ás e
dirás: “nada interessa.” |
Olharás o
mundo, olharás a vida e dirás: “nada interessa.” |
Olharás teu
dia-a-dia, esmiuçarás cada episódio: “nada interessa.” |
|
De repente, um
sonho. Um sonho e a possibilidade de lhe dar corpo. |
Como
inesperadamente a vida se tornou interessante! |
Apenas uma
porta aberta e um caminho a caminhares te dão sentido. |
Está escrito
neste olhar a olhar o céu, neste teu passo apressado. |
Indelevelmente
escrito no tutano de teus ossos invisíveis. |
|
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1329 – Risco |
|
Resolveste arriscar, arriscarás. |
Um pastor corre
sempre o risco dos lobos, |
Um camponês
corre sempre o risco da seca, |
Um homem corre
sempre um risco de morte. |
O risco é que
torna a profissão de humano deveras excitante, |
O risco é que
lhe vai dar o peso de homem e a gratificação. |
Doutro modo nem
saberias que estavas vivo. |
Está escrito,
Tu, porém, jamais te lerias. |
|
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1330 - Primordial |
|
Teu sonho é
difícil porque é fácil. |
As coisas
simples são as mais extraordinárias: inefáveis, inatingíveis… |
Apenas os
sábios lograrão por vezes vislumbrá-las. |
Sábio |
Está escrito
que o não és nem o serás. |
Apenas o
poderás ir sendo, ir sendo, ir sendo… |
Por caminhos de
pedras e de artes, de paciências e tropeços… |
A simplicidade
primordial: quão difícil o que é simples! |
|
|
1331 - Parte |
|
Gostarás de
viajar, conhecerás tanta gente por toda a parte! |
Acabarás sempre
por fazer novos amigos, sem precisares de permanecer dia após dia na
constância dum lugar. |
Quando vires
sempre as mesmas caras, acabarás convencendo-te de que são parte de ti. |
Sendo parte de
ti, quererão modificar-te. Se não lhes corresponderes, renegar- -te-ão figadalmente. |
Porque todas as
caras saberão rigorosamente como deves viver tua vida |
E nunca terão
noção de como viver as delas próprias. |
|
Está escrito
que terás amigos, muitos amigos, e quantos mais forem menos o serão. |
|
|
1332 - Mentira |
|
A maior mentira
do mundo está escrito que é esta: |
Num momento
determinado perderás o controlo da vida |
E o destino te
governará. |
|
É que todo o
rio, da nascente até à foz, é governado pelas margens em cujo berço se
embala, |
Em cujos
acidentes se apoia, cujas pedras burila, cujo aluvião remove. |
Mas jamais o
rio são as margens nem os alcantis, nem a pedra onde borbulha, nem o areal
onde se espraia. |
|
Está escrito
que o condicionamento é a tua condição: |
Quer porque do
nascimento à morte te condiciona, |
Quer porque do
nascimento à morte te dá todas as condições. |
|
Não é num
momento determinado, é o teu momento de sempre. |
Por isso te
cria rio com teu leito de manobra: o leito é-te dado, a manobra tu a darás,
mas sempre dentro dele. |
Está escrito
que o destino é tua sombra e tua derradeira palavra: |
Queira ou não
queira, sempre o rio correu para a foz. |
|
|
1333 - Demiurgo |
|
Seja lá quem
for, faça o que fizer, |
Se com vontade
alguma coisa quer, |
Nele quer o
Universo inteiro. |
É a tua missão
na Terra: |
Viaja, casa,
busca o teu tesoiro, |
Que em tuas
veias corre a seiva abscôndita do Cosmos, |
Que em teu
coração pulsam as estrelas, até à derradeira galáxia. |
|
Cumprir teu
itinerário é teu único dever, que nele se cumpre o destino do Infinito, |
Já que tudo,
todos, as inúmeras coisas, são uma realidade só na raiz donde tudo borbota
permanentemente no ser. |
|
Se tu queres,
então a criação inteira quer através de ti |
E toda conspira
secretamente, ansiosamente, desesperadamente, |
Até que se
realize teu desejo. |
|
Está escrito
que tu és o demiurgo de teu sonho e que tu és o sonho inominável do Universo. |
|
|
1334 - Cedo |
|
Cedo demais
aprenderás tua razão de viver, |
Talvez por isso
desistas tão cedo também. |
É pena, mas
assim é o mundo… |
|
Paga com o que
tens, não prometas o que ainda não tens: |
Está escrito
que senão perderás a vontade de consegui-lo. |
E tornar-te-ás
refém: doutrem, da vida, de ti. |
E então já não
haverá mais forma de te libertar. |
Jamais! |
|
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1335 – Pegureiro |
|
Terás de
decidir-te entre aquilo a que te tinhas habituado e aquilo que gostarias de
ter. |
Serás o eterno
pegureiro dividido |
entre a
segurança do rebanho e a incerteza da ovelha desgarrada, |
Serás o eterno
aventureiro dividido entre o porto seguro e a hipotética ilha dum tesoiro
eventual. |
|
Para quem fica
todos os dias serão iguais. |
Quando todos os
dias ficam iguais é que deixaste de perceber quanto de bom perpassa na teia
das horas de cada dia que te escorre entre os dedos. |
Está escrito
que o Sol cruzará teu céu e o não verás. |
Céu nenhum será
teu céu: |
Só terás olhos
para a terra moribunda. |
|
Está escrito
que terás de decidir-te. |
|
|
1336 - Segredo |
|
gostarás,
pastor, de viajar, mas jamais esquecerás tuas ovelhas. |
Gostarás,
cigano, de medir trilhos, mas jamais abandonarás tua carroça e tua gente. |
Gostarás,
peregrino, de correr santuários, mas não esquecerás tua vieira testemunha
para a terra-mãe. |
Gostarás, pé
viageiro, de calcorrear mundos e tempos, mas jamais perderás de vista a
pegada de partida, tua estrela polar. |
|
Está escrito aí
o segredo da felicidade: |
Admirarás as
maravilhas do mundo sem perder pelo caminho tua almotolia de azeite. |
Se, para as
veres, a perderes, serás infeliz. |
Se, para a
conservares, as não vires, serás infeliz. |
|
Só na tensão do que é já e do que ainda não, a paz se refaz e te constrói e reconstrói. E destrói, que é o preço de te construir. |
Está inscrito
em teu coração. Um pouco além de onde a razão te chega, sempre
inelutavelmente um passo além. |
|
|
1337 – Dinheiro |
|
Vendes o teu
leite, ficas com dinheiro. |
Vendes tua lã,
ficas com dinheiro. |
Vendes tua
ovelha, ficas com dinheiro… |
|
Descobrirás que
o dinheiro é mágico: |
Quem o tem
jamais ficará sozinho. |
|
Está escrito,
porém, que ninguém viverá tão só no meio de tanta multidão. |
O dinheiro tem
magia negra, de tudo o que toca faz noite. |
|
|
1338 - Pequeno |
|
Agora estarás
infeliz e triste. |
Então serás
mais amargo e não irás confiar já nas pessoas, apenas porque uma te haverá
traído. |
Odiarás quem
encontrou um tesoiro escondido só porque tu não encontraste o teu. |
E agora estarás
ainda mais infeliz e triste, ainda mais… |
|
Está escrito
que, portanto, irás procurar para sempre manter o nada que tens, sempre cada
vez mais nada. |
Só porque és
pequeno demais para abraçar o mundo. |
E cada vez mais
pequeno e cada vez mais pequeno… |
|
Até que dês o
teu nada, até que te dês. |
Até que te
libertes de vez de ti, para poderes ser dono do mundo. |
|
|
1339 - Ilusão |
|
Serás como
todos os mais, |
Verás o mundo
do modo como desejarias que ele fora, |
Não do modo que
ele é. |
|
Está escrito
que serás fatalmente uma ilusão. |
Crescerás à
medida, todavia, da medida que ela tiver. |
Está escrito
que não serás, finalmente, uma ilusão. |
|
|
1340 - Linguagem |
|
Descobrirás a
linguagem que mora por trás das palavras, para além das palavras, |
A linguagem universal. |
Experimentaste-a
já com teu cão, com teu gato, com tuas ovelhas, com tuas vacas. |
Doravante
experimentá-la-ás com os homens: falarás português, ouvirás chinês e ambos
entendereis com o coração. |
|
Está escrito
que aprenderás coisas novas que sempre, entretanto, experimentaste. |
Novas as verás
porque por ti passaram sem que delas te aperceberas |
E não te
aperceberas porque a elas te houveras acostumado. |
De súbito
ver-te-ás em terra estranha a decifrar a linguagem que não tem palavras. |
Está escrito
que, quando a decifrares, decifrarás o mundo. |
|
|
1341 - Não-ser |
|
Temerás
realizar teu sonho, por depois não teres mais motivos para continuar vivo. |
Sonharás com a
volta ao mundo, imaginarás o Himalaia, as Pirâmides, o Taj Mahal, a
Antárctida… |
Darás sete
voltas ao sonho, darás sete voltas à vida e tudo ficará quotidianamente
igual. |
Serás diferente
dos mais, porque eles pretendem realizar os sonhos e tu, apenas sonhá-los. |
|
Ao temeres
tanto a decepção, fica escrito que preferirás apenas sonhar. |
Nesse dia
começaste apenas a não ser, a não ser cada vez mais, até que te tornarás
definitivamente não-ser. |
|
|
1342 – Mesquinhez |
|
Tua loja terá o
tamanho exacto que sempre quiseste que ela tivesse, |
Tua vida terá a
mesquinhez exacta que sempre quiseste que ela tivesse. |
Não queres
mudar porque não sabes já como mudar, de tão acostumado contigo próprio. |
|
Está escrito
que sou tua bênção. |
Perceberás que
a bênção inacatada devirá maldição. |
Nada mais
queres da vida e eu forçar-te-ei a ver riquezas e horizontes e lonjuras… |
Doravante que
os conheces, conhecerás tuas possibilidades de imensidão, teus
incomensuráveis infinitos. |
E sentir-te-ás
pior do que jamais. |
Saberás que
podes tudo. E saberás que o não queres! |
|
Está escrito
que meu azorrague te porá a alma em carne viva. |
|
|
1343 – Suspeitarás |
|
Suspeitarás que
outras coisas haverá que tuas ovelhas não saberão ensinar-te, pendentes que
estão de água apenas e comida. |
Suspeitarás que
além do muro de teu campo, teu campo não saberá mostrar-te nada. |
Suspeitarás que
além da sirene da fábrica outra música haverá de que ela nem terá notícia. |
|
Está escrito
que afinal nada te ensinam. |
Está escrito
que afinal ninguém te ensina. |
Tu, tu é que
aprendes! Quando te decides pelo além-muro. |
E contra tal
não há poder que subsista. |
Está escrito. |
|
|
1344 – Fronteiras |
|
Há uma linguagem
no mundo que todos compreendem. |
Utiliza-la a
todo o tempo quando fazes a vida progredir, no trabalho, no lar, no convívio… |
É a linguagem
do entusiasmo, do acto feito com amor e com vontade. |
É a linguagem
que usas quando a ignoras, porque buscas o que ardoroso desejas, aquilo em que
acreditas. |
|
Está escrito
que todos te entenderão para além das línguas, das raças e das fronteiras. |
Está escrito
que os entenderás a todos. |
Está escrito
que ninguém entenderá bem como se entendem tão bem todos. Nem estes o
entenderão. |
Porque se
entendem para além de todo o entendimento, porque discernem com o coração.
Além da fronteira onde a cabeça ficou de vez retida, onde já não há mais
passaporte. |
|
|
1345 – Decisão |
|
Entenderás o
importante: a decisão é apenas o começo de algo. |
Saltarás o muro
para o acto. |
Descobrirás que
mergulhas numa corrente poderosa que borbota por dentro e por fora de ti. |
E que nos dois
vectores te ultrapassa, te ultrapassa mesmo naquilo em que é parte de ti
próprio. |
|
Está escrito
que te arrastará inelutavelmente para um lugar que jamais sonharas ao
decidir. |
Aí principia o
outro mundo. |
|
|
1346 - Sinais |
|
Descortinarás
que tudo na vida são sinais. |
O Universo é
feito duma língua que todo o mundo entende |
mas já esqueceu. |
Buscarás esta
linguagem em todas as coisas. |
Por isso estás aqui. |
|
Está escrito
que descobrirás a sorte e a coincidência. |
E que é na
pauta de ambas que ecoam as notas da melodia universal. |
E aprenderás a
cantar os acordes do destino, já que ele é que te fará quando a ti te
fizeres. |
E descortinarás
que em tudo o mais te desfarás, pois fora do concerto universal não há nada e
em nada te tornarás. |
Está escrito,
desde o princípio dos tempos. |
|
|
1347 – Trilho |
|
Quanto mais
chegares perto do sonho, mais teu trilho calejado devirá tua vera razão de
viver. |
Nele inscrita
verás a prova, cada vez mais a prova, cada vez mais a visibilidade. |
|
Está escrito
que é possível, está escrito que és possível! |
|
|
1348 - Deserto |
|
Já cruzaste
muitas vezes estas areias. |
O deserto,
porém, é tão grande, o horizonte fica tão longe!… |
|
Está escrito
que te sentirás minúsculo, que a angústia te estrangulará a garganta perante
o bafo do infinito. |
|
E permanecerás
em silêncio. O inefável te fecundará de promessas. |
Nenhuma linguagem
poderá contá-lo. Mas tu compreenderás. Está escrito. |
|
|
1349 – Pressentimentos |
|
Entenderás que
os pressentimentos são rápidos mergulhos na corrente universal da vida que
perpassa em tudo, |
Instantâneos
quase inapreensíveis dos leitos submarinos que pulsam secretos. |
Aí, onde a
história de todos os homens se interliga e unifica, unindo-se à matriz única
do Cosmos inteiro, |
Aí descobrirás
que poderás saber tudo porque tudo mora em tudo, porque tudo é um em todas as
coisas inumeráveis. |
Poderás saber
tudo porque tudo, afinal, está escrito: aprenderás a decifrar. |
|
|
1350 - Medo |
|
Verás que
ninguém sente medo do desconhecido porque é capaz de conquistá- -lo se o
quiser ou dele precisar. |
Verás que todos
apenas sentem medo de perder o que têm, como tu o sentirás pela tua casa,
pela tua fortuna, pela tua vida… |
|
Está escrito
que perderás o medo quando pressentires que tua história e a história do
mundo são lavradas pelo mesmo dedo, |
Quando viveres
que são uma só e a mesma, apenas em capítulos diversos, multifacetados. |
Está escrito
que aí perderás o medo. Finalmente descobrirás a paz. |
|
|
1351 - Caravanas |
|
Descobrirás as
caravanas de todos os viandantes, lerás as múltiplas voltas que darão em
todos os desencontros. |
Descobrirás
quão estranhamente rumam todas para o mesmo lugar. |
E lerás todos
os livros sobre o mundo. |
Todos são
escritos como caravanas: todos iguais a elas, rumos para o mesmo lugar do
mistério. |
E eis como o
que te esconde te revela. |
|
|
1352 – Princípio |
|
Suspeitarás o
princípio que move todas as coisas: |
Quando desejas
algo de todo o coração, tocas a alma do mundo. |
Viverás a força
positiva que em ti mora e mora no Cosmos e no átomo e é sempre o mesmo fogo
em mil faúlhas. |
E como
positiva, fatalmente positiva, a descortinarás. |
|
Está escrito
que serás um lume entre os lumes do grande Lume. |
|
|
1353- Livros |
|
Lerás a
estranheza dos livros. |
A ideia
repetida em todos, mesmo e principalmente quando a ignoram: |
Todas as coisas
são manifestação duma só coisa, |
Tudo são as mil
caras do Uno, |
Tudo é Um. Por
trás, por dentro, no fundo dos inumeráveis. |
Verás que tudo tem a ver com tudo, que tudo está em cada ume que todos não somos afloramentos demais da Unidade radical que nos sustém, nos suporta, nos suscita. Que nos é. |
|
Lerás o que
está escrito por trás do escrito. Está escrito que o lerás. |
|
|
1354 – Alma |
|
Aprende que o
mundo tem uma alma, quem lhe entender a alma entenderá a linguagem das
coisas. |
Aprende que ela
é a tua, a dos outros e a de tudo e, no entanto, é diferente. |
Todas são os
ramos frondosos do tronco inatingível donde brotam e donde colhem a seiva
perene que as torna iguais. |
Todas se
revelam na diversidade múltipla das folhas, flores e frutos inumeráveis do
Universo. |
Verás que são
tais e tantos que por trás jamais lograrás vislumbrar o tronco unificador que
lhes dá vida. Que te dá vida. |
|
Está escrito que estas coisas são tão simples que nem poderão sequer ser escritas. Por isso escreveremos sobre elas interminavelmente. |
Para que ao termo descubras o inefável. O silêncio. |
|
|
1355 - Aprender |
|
Aprenderás que
cada qual é uma maneira de aprender. |
Tua maneira não
é a dele, a dele não é a vossa, os trilhos são inumeráveis, não haverá dois
iguais. |
Mas todos
descobrirás que andam em busca de sua própria história lendária, com os
poemas do sonho feito carne. |
|
Está escrito
que por isto respeitarás cada fio da teia, cada ponta de meada que se enrola
rumo ao centro. |
Respeitarás
cada aranha tecedeira como a ti mesmo, já que todas andam tecendo a
grande Trama, mesmo nos horizontes mais distantes e mais díspares. |
|
|
1356 - Vivo |
|
Estarás vivo, repara. |
Comerás quando
estiveres a comer e nada mais. |
Enquanto caminhares, apenas caminharás. |
Lutarás se
tiveres de lutar, já que um dia é tão bom como outro dia para morrer. |
|
Não viverás no
teu passado nem no teu futuro: enjeitarás servidões. |
Apenas presente
terás, apenas ele te importará. |
Viverás teu
presente até às bordas, nele permanecerás inteiro e então serás feliz. |
Tornarás a vida
uma festa quando ela for apenas e sempre o eterno presente que estás vivendo
gratuito, desprendido. |
|
Está escrito
que poderás ser eternamente vivo. |
|
|
1357 - Tamareiras |
|
Alegrar-te-ás
com as tamareiras. |
Cuidarás que
Deus criou o deserto para que puderas fruir tal alegria. |
Por quê
murmurá-lo? Deus grita pela boca de todas as coisas ao ouvido de toda a
gente. |
Descobrirás que
a vida pura não há palavras que a contem, pintura que a retrate, música que a
cante… |
|
Está escrito
que todos cederiam aos encantos da cor, do termo, do som… |
E acabariam por
ignorar a linguagem do mundo que murmura solitária por dentro das linguagens. |
|
|
1358 - Escondidas |
|
Não te
apresses. Não fiques impaciente. |
Doutro modo não
verás os sinais que te espreitam à margem do caminho, disfarçados no jogo das
escondidas. |
Doutro modo
ficarás cego como o mundo, cego como a civilização em que definhas embarcado. |
|
Na pressa, não
te verás. |
Está escrito
que perderás o caminho: serás despejado no esgoto da História. |
|
|
1359 – Amor |
|
Quando olhaste
os olhos negros dela, os lábios indecisos entre o sorriso e o silêncio,
compreendeste o mais importante e sábio: |
A linguagem que
o mundo fala e que o coração entende - o Amor. |
Mais antigo que
os homens, mais antigo que o mundo e, no entanto, sempre novo onde quer que
desabroche no cruzamento de dois olhares, à borda dum poço - abismo e água
viva. |
Abrirás a
corola dos lábios à pura linguagem do Universo que não precisa de
explicações, |
Porque
continua, invulnerável, a caminhar no espaço sem fim. |
Compreenderás
que estás perante a mulher de tua vida e ela compreenderá. |
A palavra é
inútil diante da Palavra do infinito. |
|
Está escrito
que emudecerás e, contudo, jamais falarás tanto como então. |
|
|
1360 - Aguarda |
|
Mergulharás na
linguagem universal anterior à palavra, entenderás que alguém aguarda sempre
alguém, |
No pico da
montanha, na agrura do deserto, no torvelinho da cidade, nas lentidões duma
aldeia… |
Quando vos
cruzardes, quando os olhares se encontrarem, todo o passado e todo o futuro
se imolam a um presente avassalador e único. |
Explodirá em ti
a luz de que tudo, sob o manto do Sol, foi entretecido pela mesma mão, ali
quase entrevista, quase surpreendida no coração do maravi-lhamento. |
Pressentirás a
Mão que ateia o amor e germina uma alma gémea atrás de cada sonho a caminho. |
Está escrito
que há sentido e que a esperança o interpreta nas fontes do sabor de viver.
Aqui principia a sabedoria. |
|
|
1361 - Segundo |
|
Ao segundo dia
falar-lhe-ás de teu amor. |
Ensinar-lhe-ás
as belezas, a linguagem que fala sem palavras, a alma do mundo na qual
sobrenadam vossos corações. Pouco a pouco torná-la-ás parte de ti,
tornar-te-ás parte dela. |
E os dois
sereis lentamente cada vez mais um só, duas páginas da mesma folha. |
|
Então vereis o
que está escrito: tudo está escrito à vossa imagem e semelhança. |
Todo o dois é igual a um, todo o múltiplo é uno - porque tudo é Amor. Amor a caminho, a caminho do Amor. |
Está escrito,
indelevelmente escrito na raiz de todo o afecto. |
Está escrito na
raiz. |
1362 – Permanece |
|
Mudam as dunas
com o vento, mas o deserto permanece. |
Quebram as
árvores com o furacão, mas a floresta permanece. |
As marés vivas
engolem a praia, mas mantém-se a terra firme. |
Assim será com
teu amor. |
Está escrito
que tudo mude para que tudo permaneça. E cresça. E robusteça. |
|
Até que a fonte
das profundezas marulhe nas águas agitadas de todas as superfícies. |
|
|
1363 – Deserto |
|
Ensinar-lhe-ás
que o deserto leva os homens e nem sempre os restitui. |
Acostumá-la-ás
com isto, até que logre descortinar-te nas nuvens e na chuva, no animal
fugidio, nos ventos e na calmaria. |
Até que passes
a fazer parte de tudo, até que incarnes a alma do mundo em que o coração dela
te leia. |
E quando algum
retornar, então ela será feliz como as mais porque tu poderás também
despontar um dia no horizonte. |
Então ela terá
alguém por quem esperar, como um fruto maduro que tombará uma hora qualquer
das franças do mundo. |
Que ela te
deseje livre como o vento que talha as dunas da paisagem e da vida. |
Está escrito
que então ela te descortinará em todos os trilhos por onde rumarem vidas. |
|
|
1364 - Areia |
|
Tudo na terra
faz sentido, Até o grão de areia que o vento jogou na tua pálpebra dolorosa. |
Agradecerás por
estares cheio de amor por uma mulher. |
Está escrito
que, quando amas, as coisas serão muito mais coisas |
E o sentido que
fazem faz então muito mais sentido. |
Está escrito
que então verás. E verás que vês. Muito para além do que teus olhos algum dia
irão descortinar. |
|
|
|
|
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1365 – História |
|
Saberás que à
face da terra cada coisa poderá contar a história de todas as coisas. |
Se abrires um
livro em qualquer página, olhares as mão de alguém, as cartas aleatórias dum
baralho, o voo fortuito dos pardais, seja lá o que for, |
Irás encontrar
uma ponte para o que fores vivendo. |
Aliás, jamais
as coisas te revelarão nada por elas próprias, |
Tu é que,
olhando-as, descortinarás nelas maneira de penetrar na abscôndita alma do
mundo, |
Tu é que
adivinharás o cordão umbilical e o perseguirás até à grande matriz: |
Olharás à
janela o lado de lá! |
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Está escrito
que poderás soerguer o véu e espreitar. |
Está escrito.
Só que tu, porém, poderás querer continuar analfabeto. |
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1366 – Futuro |
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Perguntarás
porque vives tão interessado em descortinar o futuro. |
Crerás que é
para poder operar, mudando o que não gostarias que ocorrera. |
Mas então
deixará de ser o teu futuro. |
Crerás
porventura que queres adivinhá-lo para te preparares para o que vier. |
Se for bom,
todavia, perderás uma surpresa boa. Se for mau, sofrerás por antecipação, bem
antes de haver ocorrido. |
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Acordarás que
pretendes descortinar o futuro apenas porque és homem e o homem vive em
função do vindoiro. |
Para no seio
dele gerares um porvir, um porvir à tua medida. |
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Está escrito
que terás o poder de escavar o leito, dentro das margens que te forem
impostas. Nem só leito, nem só margens: ambos. E é tudo o que te é dado. |
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1367 – Segredo |
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Desvendarás o
futuro pelos sinais do presente, pois neste mora o segredo: se neste
atentares poderás melhorá-lo. |
Melhorarás o
presente e o que advier depois melhorará também. |
Ignorarás o
futuro que não dominas e abandonas à benevolência do Criador, |
A fim de
poderes mergulhar inteiro neste presente que é o cruzamento de todos os
tempos. |
Cada dia então
trará nele a eternidade. |
Deus só te
mostrará o futuro quando o escreveu para ele ser mudado. |
Está escrito
que é muito raro. Quando ocorrer, porém, muda-o: |
Começa a
enxertar em ti o gesto de ser Deus. |
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1368 - Ignoto |
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Irás perguntar
porque é que o deserto te iria desvendar o ignoto, a ti que és nele um
estranho. |
Irás perguntar
porque continuarão cegos e surdos os que há tantas gerações ali se
enraizaram. |
Está escrito
que teus olhos que ainda não se habituaram ao deserto poderão ver o que os
habituados demais já não conseguem. |
Está escrito
que só verás quando vires com o olhar do primeiro dia da criação. |
Só no espanto haverá revelação. Então serás deslumbramento. |
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1369 – Proibido |
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Verás que o
vinho é proibido pela lei, |
Verás que o
porco é proibido pela lei, |
Verás que a
vaca é proibida pela lei… |
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Concordarás que
o mal não é o que entra pela boca do homem, o mal é o que dela sai. |
Não esquecerás
que teu coração bate onde estiver o teu tesoiro. |
Precisarás de o
encontrar para que todas as maravi-lhas do caminho façam, por fim, sentido. |
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Está escrito
que tuas riquezas só nas metas se consumam. |
Está escrito
que as riquezas dos roteiros só por aquelas se justifiquem e finalmente se
avaliem. |
Está escrito
que os passos proibidos, os passos permitidos e os passos obrigatórios apenas
o serão em função do acerto ou desacerto do rumo das pegadas. |
Está escrito
que és sonho a caminho e, em cada patamar, realizas um capítulo da saga
derradeira que um dia ainda acabarás por finalizar. |
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Está escrito que és a busca do tesoiro. A eterna busca. |
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1370 - Desertos |
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Pouco a pouco
descobrirás que a vida é feita de desertos, mais ou menos áridos. |
Encontra, pois,
a vida dos desertos: só quem neles logra encontrar vida, poderá um dia
encontrar tesoiros escondidos. |
Está escrito
que o segredo é que a vida atrai a vida. |
Vida é o fado a
que não fugirás. Toda a pujança, porém, só de ti dependerá. |
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1371 – Amada |
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Tua amada
aprenderá o deserto. |
Saberá que o
homem deverá partir para um dia poder voltar. |
Já encontrou
seu tesoiro - tu. |
Aguardará de ti
que encontres o teu nos confins da lonjura: da lonjura dos horizontes, da
lonjura dos afectos dela, da lonjura dos sonhos inefáveis que haja em ti. |
Está escrito
que só vos encontrareis no termo sem fim das distâncias grávidas. |
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1372 – Odisseia |
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Compreenderás
que o amor nunca impede um homem de cumprir os episódios e aventuras de sua
própria odisseia. |
Um amor que o
entrave verás que não é deveras amor. |
Está escrito
que o amor fala a linguagem do mundo na linguagem da alma, |
Porque o amor
deveras entende que ambas são uma e a mesma, como tu e tua amada já ireis
sendo dois num só. |
E é para o
serdes mais e mais que partireis à aventura, até que mergulhareis na fonte
única da imensidão. |
Está escrito
que o amor semeia lentamente o infinito. |
Até que todos
sejam um. |
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1373 – Razão |
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Irás partir,
dir-lhe-ás, e prometes que vais voltar. Ama-la porque a amas, não há qualquer
razão para amar. |
Ama-la porque
criaste um porco e afagaste uma vitela, porque sonhaste com um mapa secreto,
porque atravessaste uma guerra, um continente e um mar, porque vieste parar à
esquina desta rua, em frente daquela janela quando vinhas apenas comprar um
jornal… |
Está escrito
que a amas porque o Universo inteiro conspirou para que chegasses até junto
dela e as escamas te caíssem dos olhos. |
Está escrito
que vieste na onda e que ela veio na onda que infinitamente vos ultrapassa.
Mas o olhar foi todo vosso e o fogo que ateastes também. |
Está escrito
que tendes ordem para amar. Então partis e não voltais. |
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E neste pulsar
respira o Universo inteiro. |
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1374 – Despedida |
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A partir do dia
da despedida, o deserto irá ser sempre mais importante que o oásis, |
A cadeia vazia,
mais importante que o recheio terno do lar. |
Irás olhar para
o deserto tentando adivinhar qual a estrela que ele andará seguindo na
intérmina busca secreta. |
Enviar-lhe-ás
teus beijos pelo vento, esperando que este lhe afague o rosto e segrede que
continuas vivendo, aguardando o regresso. |
Esperarás como
quem espera a coragem que perseguiu sonhos e tesoiros. |
|
Está escrito
que o deserto será apenas a esperança dum regresso. |
E duma ultrapassagem. |
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1375 - Volta |
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Sonharás mais
com a volta do que com a partida. |
Se o que
encontraste for alimentado pelas águas originárias, jamais se corromperá. |
E poderás
voltar um dia. |
Se foi apenas a
esporádica explosão de luz numa noite passageira, é uma estrela cadente de
cujo rasto nada fica. |
Nada irás
encontrar quando voltares. |
Terás, porém,
vislumbrado uma aurora e só isto já valeu a pena. |
Está escrito
que mesmo só o trilho já compensa. |
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1376 - Viagem |
|
Só terás uma
forma de aprender: agindo. |
Tudo o que
precisaste de saber a viagem to ensinou. |
Tudo o que
precisares de saber a viagem to ensinará. |
Não te
esqueças, porém: não queiras só o tesoiro, mas antes viver a odisseia que a
ele te conduzirá. |
Está escrito que sem caminho não há metas: ficarias em gérmen irremediavelmente. Até a semente apodrecer. |
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1377 – Imagem |
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Dir-te-ão os
sábios que este mundo é mera imagem, cópia do verdadeiro que lhe mora no
íntimo, fora de alcance. |
A mera
existência deste garante o outro, o perfeito de que ele é o reflexo. |
Aí o tens para
que através das coisas visíveis possas compreender as maravilhas
inatingíveis. |
Ora, é a isto
que chamarás acção: pores-te a caminho do outro mundo, mergulhando pelas
raízes deste a-lém. |
Vives no
deserto onde quer que vivas. Mergulha, pois, no teu deserto. |
Serve tanto
para penetrar no mistério como qualquer outra coisa à face da terra. |
Basta
contemplares um grão de areia: escuta o teu coração até que ele bata por
dentro do cristal. |
Ali verás todas
as maravilhas da criação porque tocarás na alma do mundo. |
Teu coração está escrito que dela veio e a ela retornará. E que mais serás tu senão isto? O mais são ilusões. |
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1378 - Escutar |
|
Terás de
escutar teu coração porque onde ele estiver aí estará o teu tesoiro. |
Está escrito
que a dificuldade é toda de ouvi-lo e de não confundi-lo. |
Está escrito
que a tua tragédia é segui-lo em lugar de utilizá-lo obedecendo-lhe. |
Está escrito
que só te realizas quando aceitares não te realizar. Para que apenas ele,
afinal, tenha lugar. Em ti, em tudo. |
Ele é o Todo a
mexer inapreensível do fundo de ti próprio. |
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1379 - Traiçoeiro |
|
Queixar-te-ás
de teu coração traiçoeiro quando ele não quer que continues. |
Repara, porém,
como isso é bom, como revela quanto ele está vivo. |
O que tens é
medo de arriscar por um sonho tudo quanto esforçadamente angariaste até
agora. |
Deverás escutar
teu coração porque jamais lograrás mantê-lo calado. |
Mesmo que
finjas ignorá-lo, ele permanecerá aí, a repetir incansável o que sente da
vida e do mundo. |
Não o creias
traiçoeiro, que a traição é apenas o golpe que não aguardas. |
Está escrito
que quanto melhor o conheceres, menos ele te abordará desprevenido. |
Conhecerás teus
sonhos, teus desejos, saberás lidar com eles. |
|
Está escrito
que ninguém logrará fugir ao próprio coração. Portanto, escuta-o atento para
jamais te surpreender de inesperado. |
|
|
1380 – Sofrimento |
|
Descobrirás que
o medo de sofrer é bem pior que o sofrimento. |
Verás que
nenhum coração doeu quando em busca do sonho, porque cada momento é um
momento de eternidade. |
|
Está escrito
que cantarás de angústia, alegrar-te-ás de tanta dor. Porque pagarás o preço,
pagarás o preço e compensa. |
|
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1381 – Piedade |
|
Cada qual tem
um tesoiro que o espera - segredar-te-á teu coração. |
Falamos pouco
dele porque os homens já o não querem encontrar. |
Doravante, cada
vez mais, só o murmuramos às crianças. |
Aguardamos que
a vida encaminhe cada um rumo ao destino, embora bem poucos sigam o rumo
predestinado à plenitude. |
A maioria verás
que acha o mundo ameaçador e é por isto que ele se torna ameaçador. |
|
Está escrito
que então o coração falará mais baixo, cada vez mais baixo, até quase
extinguir-se. |
Jamais, porém,
se calará. Só que já não quer ser muito ouvido porque tem pena do sofrimento
de cada homem por não segui-lo. |
Porque tem uma infinita
piedade com a tua estupidez. |
|
|
1382 – Itinerário |
|
Antes de o
sonho se fazer carne, terás de suar o caminho, é a condição que te impõe a
alma do mundo em todas as coisas. |
Não desistirás
como a maioria. |
Aprenderás
todas as paisagens do itinerário rumo à terra prometida. |
Não te deixarás
morrer de sede quando avistas já no horizonte as tamareiras. |
Está escrito
que a hora mais escura é exactamente a que precede a alvorada. |
Está escrito
que podes dar à luz o sol. |
|
|
1383 - Nunca |
|
Saberás que
quando tens os grandes tesoiros diante de ti nunca te aperceberás. |
Só porque és
como os homens e os homens nunca acreditam em tesoiros. |
|
Está escrito,
porém, que notarás a ausência por causa do vazio. |
Quando o teu
coração soar a oco, aí sim, descobrirás um tesoiro que perdeste. |
E terás de dar
a volta ao mundo para o recuperares. |
E terás de dar
a volta à vida para te recuperares. |
|
|
1384 - Evoluirás |
|
Evoluirás nos
gestos, nas atitudes, nos valores, nos relacionamentos, nas escolhas… |
Compreenderás
que quando algo evolui, evolui tudo em redor. |
|
Está escrito que és a alavanca ignorada do Universo. Usa-te! |
|
|
1385 – Episódios |
|
Incarna teu
sonho nos episódios da aventura, que saberás quanto precisas de saber. |
Descobrirás que
apenas uma coisa torna teu sonho impossível: teu medo de fracassar. |
|
Está escrito:
os muros serás sempre tu que os levantas. |
Teu caminho,
por ele, prolonga-se ao infinito. |
|
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|
1386 - Visível |
|
Não te
preocupes com a morte. |
Verás que a
morte torna cada qual mais sensível à vida. |
Depois, o mundo
é apenas o lado visível de Deus. |
A tua via é
trazer ao plano material as profundezas inefáveis do lado de lá. |
Está escrito
que tu inteiro és uma palavra de outrem. Mesmo quando tu próprio a não
entendes. |
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1387 - Vento |
|
ama, que ao
amares é que és deveras membro da Criação. |
Já o eras antes, porém apesar de ti. Doravante será contigo. |
Quando amares
não precisarás de entender o que ocorre, já que tudo ocorre dentro de ti
desde então. |
|
Está escrito que podes tornar-te vento de toda a parte e de nenhuma. Se ajudares a aragem que em ti sopra. |
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1388 - Subterrâneos |
|
Não conheces o
amor, não. |
Amar não é
ficar imóvel como a montanha ou o deserto. |
Amar não é
correr o mundo feito vento ou nuvem. |
Amar não é
olhar de longe, separado. |
Amarás quando
fores força que transforma, de acordo com os rios subterrâneos de teu íntimo. |
Crerás que eles
são perfeitos, até perceberes que são o que lhes permitirem ser as criaturas, |
Reflectirão
fiéis todas as guerras, mesquinhezes e paixões. |
Está escrito
que tu é que alimentarás a alma do mundo e só quanto amares é que quererás
ser melhor. |
Está escrito
que apenas então quererás mais alma: mais carne de alma devirás então. |
E o imo de teu
íntimo se faz carne. |
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1389 - Gesta |
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Faças o que
fizeres, actues ou pares, sempre estarás representando o papel principal na
História do mundo. |
Está escrito
que és a ponta da flecha. |
E como os
demais também tu nunca sabes disto. |
Está escrito
que o deveras importante normalmente te desliza sorrateiramente ao lado. |
Sê vigilante!
Sê vigilante! Doutro modo nunca entenderás nada. |
E perder-te-ás
irremediavelmente em mil e uma ninharias. Com a gesta heróica ali mesmo ao
alcance da mão… |
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