DÉCIMO  SEGUNDO  CANTO

 

 

 

ESTÁ  ESCRITO  MEU  FADO,  MAU  E  BOM

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Escolha aleatoriamente um número entre 1324 e 1389 inclusive.

 

Descubra o poema correspondente como uma mensagem particular para o seu dia de hoje.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

                                                1324 - Está escrito meu fado, mau e bom

 

                                                Está escrito meu fado, mau e bom,

                                                Nas malhas dum destino que não sei.

                                                Peixe esquivo dentre elas me esquivei

                                                Em busca do que deve ser meu tom.

 

                                                Sei lá bem o que tramei

                                                Nas redes tecidas com

                                                O rio que é o de meu som

                                                Mais as margens, minha lei!

 

                                                Apenas me vejo escrito

                                                Pela mão que em minha mão

                                                Escreve o que não medito

 

                                                Sem ligar ao que lhe dito.

                                                Só que então

                                                Reparo que me escreve no infinito.

 

1325 - Escrito

 

Estava escrito,

Estava escrito nas raízes.

 

Sentirás o que nunca houveras sentido antes.

E perceberás.

Aquela vontade inefável de ficar,

De morar numa única aldeia para sempre…

 

 

Para sempre com a menina dos cabelos negros,

Com os dias que jamais serão iguais…

Para sempre!

 

Estava escrito.

Estava escrito na raiz das raízes da raiz…

 

 

1326 – Importância

 

“Não tem importância” - dir-te-ás

E pressentirás, no fundo das profundezas,

Que afinal tem importância.

 

É que todos os pastores sempre encontrarão um pasto,

É que todos os marinheiros sempre encontrarão um porto,

É que todos os viajantes sempre encontrarão um lugarejo,

É que todos os caminheiros sempre encontrarão um poiso,

- É que sempre encontrarás o lugar de alguém!

 

Haverá sempre alguém, ali, capaz de te apagar

A alegria de viajar livre pelo mundo.

 

E trocarás alegre toda a viagem por fora pela viagem por dentro:

Por dentro de ti, por dentro de Vós:

- Por dentro do mundo feito casa e lar e família.

 

Quantos lugares no mesmo lugar, quantos mundos nos mundos do mundo!

 

Está escrito que a aventura é sempre outra, porque é sempre outrem:

Mesmo quando és tu que noutrem te estranhas, te perdes, te encontras…

 

Está escrito. E quão tarde, quão tarde sempre o irás decifrando!

 

 

1327 - Corre

 

Compre teu rabanho e corre os vales,

Compra teu automóvel e corre as terras,

Compra teu bilhete e voa continentes, voa mundos…

 

Corre, corre até aprenderes que nosso castelo é o mais importante,

Que nossa fruta é a mais saborosa e sumarenta,

Que nossos serões são os mais lendários,

Que nossas mulheres são as mais belas e amoráveis.

Corre, que te abençoo pelos séculos dos séculos..

 

Está escrito que só aprenderás a abraçar-te quando abraçares o mundo,

Que só voltarás à tua terra depois de dares a volta ao Universo.

Está escrito que teu espelho será sempre o outro,

Tanto mais total quanto mais totalmente Outro.

 

Por isso é que só te verás inteiro se algum dia puderes ver-te em Deus:

Aí serás tu, aí serás Deus!

Está escrito. Na indecifrável escrita da eternidade.

 

 

1328 – Aberta

 

Dirás: “nada interessa.”

Olhar-te-ás e dirás: “nada interessa.”

Olharás o mundo, olharás a vida e dirás: “nada interessa.”

Olharás teu dia-a-dia, esmiuçarás cada episódio: “nada interessa.”

 

De repente, um sonho. Um sonho e a possibilidade de lhe dar corpo.

Como inesperadamente a vida se tornou interessante!

Apenas uma porta aberta e um caminho a caminhares te dão sentido.

Está escrito neste olhar a olhar o céu, neste teu passo apressado.

Indelevelmente escrito no tutano de teus ossos invisíveis.

 

 

1329 – Risco

 

Resolveste arriscar, arriscarás.

Um pastor corre sempre o risco dos lobos,

Um camponês corre sempre o risco da seca,

Um homem corre sempre um risco de morte.

O risco é que torna a profissão de humano deveras excitante,

O risco é que lhe vai dar o peso de homem e a gratificação.

Doutro modo nem saberias que estavas vivo.

Está escrito, Tu, porém, jamais te lerias.

 

 

1330 - Primordial

 

Teu sonho é difícil porque é fácil.

As coisas simples são as mais extraordinárias: inefáveis, inatingíveis…

Apenas os sábios lograrão por vezes vislumbrá-las.

Sábio

Está escrito que o não és nem o serás.

Apenas o poderás ir sendo, ir sendo, ir sendo…

Por caminhos de pedras e de artes, de paciências e tropeços…

A simplicidade primordial: quão difícil o que é simples!

 

 

1331 - Parte

 

Gostarás de viajar, conhecerás tanta gente por toda a parte!

Acabarás sempre por fazer novos amigos, sem precisares de permanecer dia após dia na constância dum lugar.

Quando vires sempre as mesmas caras, acabarás convencendo-te de que são parte de ti.

Sendo parte de ti, quererão modificar-te. Se não lhes corresponderes, renegar-    -te-ão figadalmente.

Porque todas as caras saberão rigorosamente como deves viver tua vida

E nunca terão noção de como viver as delas próprias.

 

Está escrito que terás amigos, muitos amigos, e quantos mais forem menos o serão.

 

 

1332 - Mentira

 

A maior mentira do mundo está escrito que é esta:

Num momento determinado perderás o controlo da vida

E o destino te governará.

 

É que todo o rio, da nascente até à foz, é governado pelas margens em cujo berço se embala,

Em cujos acidentes se apoia, cujas pedras burila, cujo aluvião remove.

Mas jamais o rio são as margens nem os alcantis, nem a pedra onde borbulha, nem o areal onde se espraia.

 

Está escrito que o condicionamento é a tua condição:

Quer porque do nascimento à morte te condiciona,

Quer porque do nascimento à morte te dá todas as condições.

 

Não é num momento determinado, é o teu momento de sempre.

Por isso te cria rio com teu leito de manobra: o leito é-te dado, a manobra tu a darás, mas sempre dentro dele.

Está escrito que o destino é tua sombra e tua derradeira palavra:

Queira ou não queira, sempre o rio correu para a foz.

 

 

1333 - Demiurgo

 

Seja lá quem for, faça o que fizer,

Se com vontade alguma coisa quer,

Nele quer o Universo inteiro.

É a tua missão na Terra:

Viaja, casa, busca o teu tesoiro,

Que em tuas veias corre a seiva abscôndita do Cosmos,

Que em teu coração pulsam as estrelas, até à derradeira galáxia.

 

Cumprir teu itinerário é teu único dever, que nele se cumpre o destino do Infinito,

Já que tudo, todos, as inúmeras coisas, são uma realidade só na raiz donde tudo borbota permanentemente no ser.

 

Se tu queres, então a criação inteira quer através de ti

E toda conspira secretamente, ansiosamente, desesperadamente,

Até que se realize teu desejo.

 

Está escrito que tu és o demiurgo de teu sonho e que tu és o sonho inominável do Universo.

 

 

1334 - Cedo

 

Cedo demais aprenderás tua razão de viver,

Talvez por isso desistas tão cedo também.

É pena, mas assim é o mundo…

 

Paga com o que tens, não prometas o que ainda não tens:

Está escrito que senão perderás a vontade de consegui-lo.

E tornar-te-ás refém: doutrem, da vida, de ti.

E então já não haverá mais forma de te libertar.

Jamais!

 

 

1335 – Pegureiro

 

Terás de decidir-te entre aquilo a que te tinhas habituado e aquilo que gostarias de ter.

Serás o eterno pegureiro dividido

entre a segurança do rebanho e a incerteza da ovelha desgarrada,

Serás o eterno aventureiro dividido entre o porto seguro e a hipotética ilha dum tesoiro eventual.

 

Para quem fica todos os dias serão iguais.

Quando todos os dias ficam iguais é que deixaste de perceber quanto de bom perpassa na teia das horas de cada dia que te escorre entre os dedos.

Está escrito que o Sol cruzará teu céu e o não verás.

Céu nenhum será teu céu:

Só terás olhos para a terra moribunda.

 

Está escrito que terás de decidir-te.

 

 

1336 - Segredo

 

gostarás, pastor, de viajar, mas jamais esquecerás tuas ovelhas.

Gostarás, cigano, de medir trilhos, mas jamais abandonarás tua carroça e tua gente.

Gostarás, peregrino, de correr santuários, mas não esquecerás tua vieira testemunha para a terra-mãe.

Gostarás, pé viageiro, de calcorrear mundos e tempos, mas jamais perderás de vista a pegada de partida, tua estrela polar.

 

Está escrito aí o segredo da felicidade:

Admirarás as maravilhas do mundo sem perder pelo caminho tua almotolia de azeite.

Se, para as veres, a perderes, serás infeliz.

Se, para a conservares, as não vires, serás infeliz.

 

Só na tensão do que é já e do que ainda não, a paz se refaz e te constrói e reconstrói. E destrói, que é o preço de te construir.

Está inscrito em teu coração. Um pouco além de onde a razão te chega, sempre inelutavelmente um passo além.

 

 

1337 – Dinheiro

 

Vendes o teu leite, ficas com dinheiro.

Vendes tua lã, ficas com dinheiro.

Vendes tua ovelha, ficas com dinheiro…

 

Descobrirás que o dinheiro é mágico:

Quem o tem jamais ficará sozinho.

 

Está escrito, porém, que ninguém viverá tão só no meio de tanta multidão.

O dinheiro tem magia negra, de tudo o que toca faz noite.

 

 

1338 - Pequeno

 

Agora estarás infeliz e triste.

Então serás mais amargo e não irás confiar já nas pessoas, apenas porque uma te haverá traído.

Odiarás quem encontrou um tesoiro escondido só porque tu não encontraste o teu.

E agora estarás ainda mais infeliz e triste, ainda mais…

 

Está escrito que, portanto, irás procurar para sempre manter o nada que tens, sempre cada vez mais nada.

Só porque és pequeno demais para abraçar o mundo.

E cada vez mais pequeno e cada vez mais pequeno…

 

Até que dês o teu nada, até que te dês.

Até que te libertes de vez de ti, para poderes ser dono do mundo.

 

 

1339 - Ilusão

 

Serás como todos os mais,

Verás o mundo do modo como desejarias que ele fora,

Não do modo que ele é.

 

Está escrito que serás fatalmente uma ilusão.

Crescerás à medida, todavia, da medida que ela tiver.

Está escrito que não serás, finalmente, uma ilusão.

 

 

1340 - Linguagem

 

Descobrirás a linguagem que mora por trás das palavras, para além das palavras,

A linguagem universal.

Experimentaste-a já com teu cão, com teu gato, com tuas ovelhas, com tuas vacas.

Doravante experimentá-la-ás com os homens: falarás português, ouvirás chinês e ambos entendereis com o coração.

 

Está escrito que aprenderás coisas novas que sempre, entretanto, experimentaste.

Novas as verás porque por ti passaram sem que delas te aperceberas

E não te aperceberas porque a elas te houveras acostumado.

De súbito ver-te-ás em terra estranha a decifrar a linguagem que não tem palavras.

Está escrito que, quando a decifrares, decifrarás o mundo.

 

 

1341 - Não-ser

 

Temerás realizar teu sonho, por depois não teres mais motivos para continuar vivo.

Sonharás com a volta ao mundo, imaginarás o Himalaia, as Pirâmides, o Taj Mahal, a Antárctida…

Darás sete voltas ao sonho, darás sete voltas à vida e tudo ficará quotidianamente igual.

Serás diferente dos mais, porque eles pretendem realizar os sonhos e tu, apenas sonhá-los.

 

Ao temeres tanto a decepção, fica escrito que preferirás apenas sonhar.

Nesse dia começaste apenas a não ser, a não ser cada vez mais, até que te tornarás definitivamente não-ser.

 

 

1342 – Mesquinhez

 

Tua loja terá o tamanho exacto que sempre quiseste que ela tivesse,

Tua vida terá a mesquinhez exacta que sempre quiseste que ela tivesse.

Não queres mudar porque não sabes já como mudar, de tão acostumado contigo próprio.

 

Está escrito que sou tua bênção.

Perceberás que a bênção inacatada devirá maldição.

Nada mais queres da vida e eu forçar-te-ei a ver riquezas e horizontes e lonjuras…

Doravante que os conheces, conhecerás tuas possibilidades de imensidão, teus incomensuráveis infinitos.

E sentir-te-ás pior do que jamais.

Saberás que podes tudo. E saberás que o não queres!

 

Está escrito que meu azorrague te porá a alma em carne viva.

 

 

1343 – Suspeitarás

 

Suspeitarás que outras coisas haverá que tuas ovelhas não saberão ensinar-te, pendentes que estão de água apenas e comida.

Suspeitarás que além do muro de teu campo, teu campo não saberá mostrar-te nada.

Suspeitarás que além da sirene da fábrica outra música haverá de que ela nem terá notícia.

 

Está escrito que afinal nada te ensinam.

Está escrito que afinal ninguém te ensina.

Tu, tu é que aprendes! Quando te decides pelo além-muro.

E contra tal não há poder que subsista.

Está escrito.

 

 

1344 – Fronteiras

 

Há uma linguagem no mundo que todos compreendem.

Utiliza-la a todo o tempo quando fazes a vida progredir, no trabalho, no lar, no convívio…

É a linguagem do entusiasmo, do acto feito com amor e com vontade.

É a linguagem que usas quando a ignoras, porque buscas o que ardoroso desejas, aquilo em que acreditas.

 

Está escrito que todos te entenderão para além das línguas, das raças e das fronteiras.

Está escrito que os entenderás a todos.

Está escrito que ninguém entenderá bem como se entendem tão bem todos. Nem estes o entenderão.

Porque se entendem para além de todo o entendimento, porque discernem com o coração. Além da fronteira onde a cabeça ficou de vez retida, onde já não há mais passaporte.

 

 

1345 – Decisão

 

Entenderás o importante: a decisão é apenas o começo de algo.

Saltarás o muro para o acto.

Descobrirás que mergulhas numa corrente poderosa que borbota por dentro e por fora de ti.

E que nos dois vectores te ultrapassa, te ultrapassa mesmo naquilo em que é parte de ti próprio.

 

Está escrito que te arrastará inelutavelmente para um lugar que jamais sonharas ao decidir.

Aí principia o outro mundo.

 

 

1346 - Sinais

 

Descortinarás que tudo na vida são sinais.

O Universo é feito duma língua que todo o mundo entende

mas já esqueceu.

Buscarás esta linguagem em todas as coisas.

Por isso estás aqui.

 

Está escrito que descobrirás a sorte e a coincidência.

E que é na pauta de ambas que ecoam as notas da melodia universal.

E aprenderás a cantar os acordes do destino, já que ele é que te fará quando a ti te fizeres.

E descortinarás que em tudo o mais te desfarás, pois fora do concerto universal não há nada e em nada te tornarás.

Está escrito, desde o princípio dos tempos.

 

 

1347 – Trilho

 

Quanto mais chegares perto do sonho, mais teu trilho calejado devirá tua vera razão de viver.

Nele inscrita verás a prova, cada vez mais a prova, cada vez mais a visibilidade.

 

Está escrito que é possível, está escrito que és possível!

 

 

1348 - Deserto

 

Já cruzaste muitas vezes estas areias.

O deserto, porém, é tão grande, o horizonte fica tão longe!…

 

Está escrito que te sentirás minúsculo, que a angústia te estrangulará a garganta perante o bafo do infinito.

 

E permanecerás em silêncio. O inefável te fecundará de promessas.

Nenhuma linguagem poderá contá-lo. Mas tu compreenderás. Está escrito.

 

 

1349 – Pressentimentos

 

Entenderás que os pressentimentos são rápidos mergulhos na corrente universal da vida que perpassa em tudo,

Instantâneos quase inapreensíveis dos leitos submarinos que pulsam secretos.

Aí, onde a história de todos os homens se interliga e unifica, unindo-se à matriz única do Cosmos inteiro,

Aí descobrirás que poderás saber tudo porque tudo mora em tudo, porque tudo é um em todas as coisas inumeráveis.

Poderás saber tudo porque tudo, afinal, está escrito: aprenderás a decifrar.

 

 

1350 - Medo

 

Verás que ninguém sente medo do desconhecido porque é capaz de conquistá- -lo se o quiser ou dele precisar.

Verás que todos apenas sentem medo de perder o que têm, como tu o sentirás pela tua casa, pela tua fortuna, pela tua vida…

 

Está escrito que perderás o medo quando pressentires que tua história e a história do mundo são lavradas pelo mesmo dedo,

Quando viveres que são uma só e a mesma, apenas em capítulos diversos, multifacetados.

Está escrito que aí perderás o medo. Finalmente descobrirás a paz.

 

 

1351 - Caravanas

 

Descobrirás as caravanas de todos os viandantes, lerás as múltiplas voltas que darão em todos os desencontros.

Descobrirás quão estranhamente rumam todas para o mesmo lugar.

E lerás todos os livros sobre o mundo.

Todos são escritos como caravanas: todos iguais a elas, rumos para o mesmo lugar do mistério.

E eis como o que te esconde te revela.

 

 

1352 – Princípio

 

Suspeitarás o princípio que move todas as coisas:

Quando desejas algo de todo o coração, tocas a alma do mundo.

Viverás a força positiva que em ti mora e mora no Cosmos e no átomo e é sempre o mesmo fogo em mil faúlhas.

E como positiva, fatalmente positiva, a descortinarás.

 

Está escrito que serás um lume entre os lumes do grande Lume.

 

 

1353- Livros

 

Lerás a estranheza dos livros.

A ideia repetida em todos, mesmo e principalmente quando a ignoram:

Todas as coisas são manifestação duma só coisa,

Tudo são as mil caras do Uno,

Tudo é Um. Por trás, por dentro, no fundo dos inumeráveis.

Verás que tudo tem a ver com tudo, que tudo está em cada ume que todos não somos afloramentos demais da Unidade radical que nos sustém, nos suporta, nos suscita. Que nos é.

 

Lerás o que está escrito por trás do escrito. Está escrito que o lerás.

 

 

1354 – Alma

 

Aprende que o mundo tem uma alma, quem lhe entender a alma entenderá a linguagem das coisas.

Aprende que ela é a tua, a dos outros e a de tudo e, no entanto, é diferente.

Todas são os ramos frondosos do tronco inatingível donde brotam e donde colhem a seiva perene que as torna iguais.

Todas se revelam na diversidade múltipla das folhas, flores e frutos inumeráveis do Universo.

Verás que são tais e tantos que por trás jamais lograrás vislumbrar o tronco unificador que lhes dá vida. Que te dá vida.

 

Está escrito que estas coisas são tão simples que nem poderão sequer ser escritas. Por isso escreveremos sobre elas interminavelmente.

Para que ao termo descubras o inefável. O silêncio.

 

 

1355 - Aprender

 

Aprenderás que cada qual é uma maneira de aprender.

Tua maneira não é a dele, a dele não é a vossa, os trilhos são inumeráveis, não haverá dois iguais.

Mas todos descobrirás que andam em busca de sua própria história lendária, com os poemas do sonho feito carne.

 

Está escrito que por isto respeitarás cada fio da teia, cada ponta de meada que se enrola rumo ao centro.

Respeitarás cada aranha tecedeira  como a ti mesmo, já que todas andam tecendo a grande Trama, mesmo nos horizontes mais distantes e mais díspares.

 

 

1356 - Vivo

 

Estarás vivo, repara.

Comerás quando estiveres a comer e nada mais.

Enquanto caminhares, apenas caminharás.

Lutarás se tiveres de lutar, já que um dia é tão bom como outro dia para morrer.

 

Não viverás no teu passado nem no teu futuro: enjeitarás servidões.

Apenas presente terás, apenas ele te importará.

Viverás teu presente até às bordas, nele permanecerás inteiro e então serás feliz.

Tornarás a vida uma festa quando ela for apenas e sempre o eterno presente que estás vivendo gratuito, desprendido.

 

Está escrito que poderás ser eternamente vivo.

 

 

1357 - Tamareiras

 

Alegrar-te-ás com as tamareiras.

Cuidarás que Deus criou o deserto para que puderas fruir tal alegria.

Por quê murmurá-lo? Deus grita pela boca de todas as coisas ao ouvido de toda a gente.

Descobrirás que a vida pura não há palavras que a contem, pintura que a retrate, música que a cante…

 

Está escrito que todos cederiam aos encantos da cor, do termo, do som…

E acabariam por ignorar a linguagem do mundo que murmura solitária por dentro das linguagens.

 

 

1358 - Escondidas

 

Não te apresses. Não fiques impaciente.

Doutro modo não verás os sinais que te espreitam à margem do caminho, disfarçados no jogo das escondidas.

Doutro modo ficarás cego como o mundo, cego como a civilização em que definhas embarcado.

 

Na pressa, não te verás.

Está escrito que perderás o caminho: serás despejado no esgoto da História.

 

 

1359 – Amor

 

Quando olhaste os olhos negros dela, os lábios indecisos entre o sorriso e o silêncio, compreendeste o mais importante e sábio:

A linguagem que o mundo fala e que o coração entende - o Amor.

Mais antigo que os homens, mais antigo que o mundo e, no entanto, sempre novo onde quer que desabroche no cruzamento de dois olhares, à borda dum poço - abismo e água viva.

Abrirás a corola dos lábios à pura linguagem do Universo que não precisa de explicações,

Porque continua, invulnerável, a caminhar no espaço sem fim.

Compreenderás que estás perante a mulher de tua vida e ela compreenderá.

A palavra é inútil diante da Palavra do infinito.

 

Está escrito que emudecerás e, contudo, jamais falarás tanto como então.

 

 

1360 - Aguarda

 

Mergulharás na linguagem universal anterior à palavra, entenderás que alguém aguarda sempre alguém,

No pico da montanha, na agrura do deserto, no torvelinho da cidade, nas lentidões duma aldeia…

Quando vos cruzardes, quando os olhares se encontrarem, todo o passado e todo o futuro se imolam a um presente avassalador e único.

Explodirá em ti a luz de que tudo, sob o manto do Sol, foi entretecido pela mesma mão, ali quase entrevista, quase surpreendida no coração do maravi-lhamento.

Pressentirás a Mão que ateia o amor e germina uma alma gémea atrás de cada sonho a caminho.

Está escrito que há sentido e que a esperança o interpreta nas fontes do sabor de viver. Aqui principia a sabedoria.

 

 

1361 - Segundo

 

Ao segundo dia falar-lhe-ás de teu amor.

Ensinar-lhe-ás as belezas, a linguagem que fala sem palavras, a alma do mundo na qual sobrenadam vossos corações. Pouco a pouco torná-la-ás parte de ti, tornar-te-ás parte dela.

E os dois sereis lentamente cada vez mais um só, duas páginas da mesma folha.

 

Então vereis o que está escrito: tudo está escrito à vossa imagem e semelhança.

Todo o dois é igual a um, todo o múltiplo é uno - porque tudo é Amor. Amor a caminho, a caminho do Amor.

Está escrito, indelevelmente escrito na raiz de todo o afecto.

Está escrito na raiz.

 

 

1362 – Permanece

 

Mudam as dunas com o vento, mas o deserto permanece.

Quebram as árvores com o furacão, mas a floresta permanece.

As marés vivas engolem a praia, mas mantém-se a terra firme.

Assim será com teu amor.

Está escrito que tudo mude para que tudo permaneça. E cresça. E robusteça.

 

Até que a fonte das profundezas marulhe nas águas agitadas de todas as superfícies.

 

 

1363 – Deserto

 

Ensinar-lhe-ás que o deserto leva os homens e nem sempre os restitui.

Acostumá-la-ás com isto, até que logre descortinar-te nas nuvens e na chuva, no animal fugidio, nos ventos e na calmaria.

Até que passes a fazer parte de tudo, até que incarnes a alma do mundo em que o coração dela te leia.

E quando algum retornar, então ela será feliz como as mais porque tu poderás também despontar um dia no horizonte.

Então ela terá alguém por quem esperar, como um fruto maduro que tombará uma hora qualquer das franças do mundo.

Que ela te deseje livre como o vento que talha as dunas da paisagem e da vida.

Está escrito que então ela te descortinará em todos os trilhos por onde rumarem vidas.

 

 

1364  - Areia

 

Tudo na terra faz sentido, Até o grão de areia que o vento jogou na tua pálpebra dolorosa.

Agradecerás por estares cheio de amor por uma mulher.

Está escrito que, quando amas, as coisas serão muito mais coisas

E o sentido que fazem faz então muito mais sentido.

Está escrito que então verás. E verás que vês. Muito para além do que teus olhos algum dia irão descortinar.

 

 

 

 

 

1365 – História

 

Saberás que à face da terra cada coisa poderá contar a história de todas as coisas.

Se abrires um livro em qualquer página, olhares as mão de alguém, as cartas aleatórias dum baralho, o voo fortuito dos pardais, seja lá o que for,

Irás encontrar uma ponte para o que fores vivendo.

Aliás, jamais as coisas te revelarão nada por elas próprias,

Tu é que, olhando-as, descortinarás nelas maneira de penetrar na abscôndita alma do mundo,

Tu é que adivinharás o cordão umbilical e o perseguirás até à grande matriz:

Olharás à janela o lado de lá!

 

Está escrito que poderás soerguer o véu e espreitar.

Está escrito. Só que tu, porém, poderás querer continuar analfabeto.

 

 

1366 – Futuro

 

Perguntarás porque vives tão interessado em descortinar o futuro.

Crerás que é para poder operar, mudando o que não gostarias que ocorrera.

Mas então deixará de ser o teu futuro.

Crerás porventura que queres adivinhá-lo para te preparares para o que vier.

Se for bom, todavia, perderás uma surpresa boa. Se for mau, sofrerás por antecipação, bem antes de haver ocorrido.

 

Acordarás que pretendes descortinar o futuro apenas porque és homem e o homem vive em função do vindoiro.

Para no seio dele gerares um porvir, um porvir à tua medida.

 

Está escrito que terás o poder de escavar o leito, dentro das margens que te forem impostas. Nem só leito, nem só margens: ambos. E é tudo o que te é dado.

 

 

1367 – Segredo

 

Desvendarás o futuro pelos sinais do presente, pois neste mora o segredo: se neste atentares poderás melhorá-lo.

Melhorarás o presente e o que advier depois melhorará também.

Ignorarás o futuro que não dominas e abandonas à benevolência do Criador,

A fim de poderes mergulhar inteiro neste presente que é o cruzamento de todos os tempos.

Cada dia então trará nele a eternidade.

Deus só te mostrará o futuro quando o escreveu para ele ser mudado.

Está escrito que é muito raro. Quando ocorrer, porém, muda-o:

Começa a enxertar em ti o gesto de ser Deus.

 

 

1368 - Ignoto

 

Irás perguntar porque é que o deserto te iria desvendar o ignoto, a ti que és nele um estranho.

Irás perguntar porque continuarão cegos e surdos os que há tantas gerações ali se enraizaram.

Está escrito que teus olhos que ainda não se habituaram ao deserto poderão ver o que os habituados demais já não conseguem.

Está escrito que só verás quando vires com o olhar do primeiro dia da criação.

Só no espanto haverá revelação. Então serás deslumbramento.

 

 

1369 – Proibido

 

Verás que o vinho é proibido pela lei,

Verás que o porco é proibido pela lei,

Verás que a vaca é proibida pela lei…

 

Concordarás que o mal não é o que entra pela boca do homem, o mal é o que dela sai.

Não esquecerás que teu coração bate onde estiver o teu tesoiro.

Precisarás de o encontrar para que todas as maravi-lhas do caminho façam, por fim, sentido.

 

Está escrito que tuas riquezas só nas metas se consumam.

Está escrito que as riquezas dos roteiros só por aquelas se justifiquem e finalmente se avaliem.

Está escrito que os passos proibidos, os passos permitidos e os passos obrigatórios apenas o serão em função do acerto ou desacerto do rumo das pegadas.

Está escrito que és sonho a caminho e, em cada patamar, realizas um capítulo da saga derradeira que um dia ainda acabarás por finalizar.

 

Está escrito que és a busca do tesoiro. A eterna busca.

 

 

 

1370 - Desertos

 

Pouco a pouco descobrirás que a vida é feita de desertos, mais ou menos áridos.

Encontra, pois, a vida dos desertos: só quem neles logra encontrar vida, poderá um dia encontrar tesoiros escondidos.

Está escrito que o segredo é que a vida atrai a vida.

Vida é o fado a que não fugirás. Toda a pujança, porém, só de ti dependerá.

 

 

1371 – Amada

 

Tua amada aprenderá o deserto.

Saberá que o homem deverá partir para um dia poder voltar.

Já encontrou seu tesoiro - tu.

Aguardará de ti que encontres o teu nos confins da lonjura: da lonjura dos horizontes, da lonjura dos afectos dela, da lonjura dos sonhos inefáveis que haja em ti.

Está escrito que só vos encontrareis no termo sem fim das distâncias grávidas.

 

 

1372 – Odisseia

 

Compreenderás que o amor nunca impede um homem de cumprir os episódios e aventuras de sua própria odisseia.

Um amor que o entrave verás que não é deveras amor.

Está escrito que o amor fala a linguagem do mundo na linguagem da alma,

Porque o amor deveras entende que ambas são uma e a mesma, como tu e tua amada já ireis sendo dois num só.

E é para o serdes mais e mais que partireis à aventura, até que mergulhareis na fonte única da imensidão.

Está escrito que o amor semeia lentamente o infinito.

Até que todos sejam um.

 

 

1373 – Razão

 

Irás partir, dir-lhe-ás, e prometes que vais voltar. Ama-la porque a amas, não há qualquer razão para amar.

Ama-la porque criaste um porco e afagaste uma vitela, porque sonhaste com um mapa secreto, porque atravessaste uma guerra, um continente e um mar, porque vieste parar à esquina desta rua, em frente daquela janela quando vinhas apenas comprar um jornal…

Está escrito que a amas porque o Universo inteiro conspirou para que chegasses até junto dela e as escamas te caíssem dos olhos.

Está escrito que vieste na onda e que ela veio na onda que infinitamente vos ultrapassa. Mas o olhar foi todo vosso e o fogo que ateastes também.

Está escrito que tendes ordem para amar. Então partis e não voltais.

 

E neste pulsar respira o Universo inteiro.

 

 

1374 – Despedida

 

A partir do dia da despedida, o deserto irá ser sempre mais importante que o oásis,

A cadeia vazia, mais importante que o recheio terno do lar.

Irás olhar para o deserto tentando adivinhar qual a estrela que ele andará seguindo na intérmina busca secreta.

Enviar-lhe-ás teus beijos pelo vento, esperando que este lhe afague o rosto e segrede que continuas vivendo, aguardando o regresso.

Esperarás como quem espera a coragem que perseguiu sonhos e tesoiros.

 

Está escrito que o deserto será apenas a esperança dum regresso.

E duma ultrapassagem.

 

 

1375 - Volta

 

Sonharás mais com a volta do que com a partida.

Se o que encontraste for alimentado pelas águas originárias, jamais se corromperá.

E poderás voltar um dia.

Se foi apenas a esporádica explosão de luz numa noite passageira, é uma estrela cadente de cujo rasto nada fica.

Nada irás encontrar quando voltares.

Terás, porém, vislumbrado uma aurora e só isto já valeu a pena.

Está escrito que mesmo só o trilho já compensa.

 

 

1376 - Viagem

 

Só terás uma forma de aprender: agindo.

Tudo o que precisaste de saber a viagem to ensinou.

Tudo o que precisares de saber a viagem to ensinará.

Não te esqueças, porém: não queiras só o tesoiro, mas antes viver a odisseia que a ele te conduzirá.

Está escrito que sem caminho não há metas: ficarias em gérmen irremediavelmente. Até a semente apodrecer.

 

 

1377 – Imagem

 

Dir-te-ão os sábios que este mundo é mera imagem, cópia do verdadeiro que lhe mora no íntimo, fora de alcance.

A mera existência deste garante o outro, o perfeito de que ele é o reflexo.

Aí o tens para que através das coisas visíveis possas compreender as maravilhas inatingíveis.

Ora, é a isto que chamarás acção: pores-te a caminho do outro mundo, mergulhando pelas raízes deste a-lém.

Vives no deserto onde quer que vivas. Mergulha, pois, no teu deserto.

Serve tanto para penetrar no mistério como qualquer outra coisa à face da terra.

Basta contemplares um grão de areia: escuta o teu coração até que ele bata por dentro do cristal.

Ali verás todas as maravilhas da criação porque tocarás na alma do mundo.

Teu coração está escrito que dela veio e a ela retornará. E que mais serás tu senão isto? O mais são ilusões.

 

 

1378 - Escutar

 

Terás de escutar teu coração porque onde ele estiver aí estará o teu tesoiro.

Está escrito que a dificuldade é toda de ouvi-lo e de não confundi-lo.

Está escrito que a tua tragédia é segui-lo em lugar de utilizá-lo obedecendo-lhe.

Está escrito que só te realizas quando aceitares não te realizar. Para que apenas ele, afinal, tenha lugar. Em ti, em tudo.

Ele é o Todo a mexer inapreensível do fundo de ti próprio.

 

 

1379 - Traiçoeiro

 

Queixar-te-ás de teu coração traiçoeiro quando ele não quer que continues.

Repara, porém, como isso é bom, como revela quanto ele está vivo.

O que tens é medo de arriscar por um sonho tudo quanto esforçadamente angariaste até agora.

Deverás escutar teu coração porque jamais lograrás mantê-lo calado.

Mesmo que finjas ignorá-lo, ele permanecerá aí, a repetir incansável o que sente da vida e do mundo.

Não o creias traiçoeiro, que a traição é apenas o golpe que não aguardas.

Está escrito que quanto melhor o conheceres, menos ele te abordará desprevenido.

Conhecerás teus sonhos, teus desejos, saberás lidar com eles.

 

Está escrito que ninguém logrará fugir ao próprio coração. Portanto, escuta-o atento para jamais te surpreender de inesperado.

 

 

1380 – Sofrimento

 

Descobrirás que o medo de sofrer é bem pior que o sofrimento.

Verás que nenhum coração doeu quando em busca do sonho, porque cada momento é um momento de eternidade.

 

Está escrito que cantarás de angústia, alegrar-te-ás de tanta dor. Porque pagarás o preço, pagarás o preço e compensa.

 

 

1381 – Piedade

 

Cada qual tem um tesoiro que o espera - segredar-te-á teu coração.

Falamos pouco dele porque os homens já o não querem encontrar.

Doravante, cada vez mais, só o murmuramos às crianças.

Aguardamos que a vida encaminhe cada um rumo ao destino, embora bem poucos sigam o rumo predestinado à plenitude.

A maioria verás que acha o mundo ameaçador e é por isto que ele se torna ameaçador.

 

Está escrito que então o coração falará mais baixo, cada vez mais baixo, até quase extinguir-se.

Jamais, porém, se calará. Só que já não quer ser muito ouvido porque tem pena do sofrimento de cada homem por não segui-lo.

Porque tem uma infinita piedade com a tua estupidez.

 

 

1382 – Itinerário

 

Antes de o sonho se fazer carne, terás de suar o caminho, é a condição que te impõe a alma do mundo em todas as coisas.

Não desistirás como a maioria.

Aprenderás todas as paisagens do itinerário rumo à terra prometida.

Não te deixarás morrer de sede quando avistas já no horizonte as tamareiras.

Está escrito que a hora mais escura é exactamente a que precede a alvorada.

Está escrito que podes dar à luz o sol.

 

 

1383 - Nunca

 

Saberás que quando tens os grandes tesoiros diante de ti nunca te aperceberás.

Só porque és como os homens e os homens nunca acreditam em tesoiros.

 

Está escrito, porém, que notarás a ausência por causa do vazio.

Quando o teu coração soar a oco, aí sim, descobrirás um tesoiro que perdeste.

E terás de dar a volta ao mundo para o recuperares.

E terás de dar a volta à vida para te recuperares.

 

 

1384 - Evoluirás

 

Evoluirás nos gestos, nas atitudes, nos valores, nos relacionamentos, nas escolhas…

Compreenderás que quando algo evolui, evolui tudo em redor.

 

Está escrito que és a alavanca ignorada do Universo. Usa-te!

 

 

1385 – Episódios

 

Incarna teu sonho nos episódios da aventura, que saberás quanto precisas de saber.

Descobrirás que apenas uma coisa torna teu sonho impossível: teu medo de fracassar.

 

Está escrito: os muros serás sempre tu que os levantas.

Teu caminho, por ele, prolonga-se ao infinito.

 

 

 

1386 - Visível

 

Não te preocupes com a morte.

Verás que a morte torna cada qual mais sensível à vida.

Depois, o mundo é apenas o lado visível de Deus.

A tua via é trazer ao plano material as profundezas inefáveis do lado de lá.

Está escrito que tu inteiro és uma palavra de outrem. Mesmo quando tu próprio a não entendes.

 

 

1387 - Vento

 

ama, que ao amares é que és deveras membro da Criação.

Já o eras antes, porém apesar de ti. Doravante será contigo.

Quando amares não precisarás de entender o que ocorre, já que tudo ocorre dentro de ti desde então.

 

Está escrito que podes tornar-te vento de toda a parte e de nenhuma. Se ajudares a aragem que em ti sopra.

 

 

1388 - Subterrâneos

 

Não conheces o amor, não.

Amar não é ficar imóvel como a montanha ou o deserto.

Amar não é correr o mundo feito vento ou nuvem.

Amar não é olhar de longe, separado.

Amarás quando fores força que transforma, de acordo com os rios subterrâneos de teu íntimo.

Crerás que eles são perfeitos, até perceberes que são o que lhes permitirem ser as criaturas,

Reflectirão fiéis todas as guerras, mesquinhezes e paixões.

Está escrito que tu é que alimentarás a alma do mundo e só quanto amares é que quererás ser melhor.

Está escrito que apenas então quererás mais alma: mais carne de alma devirás então.

E o imo de teu íntimo se faz carne.

 

 

1389 - Gesta

 

Faças o que fizeres, actues ou pares, sempre estarás representando o papel principal na História do mundo.

Está escrito que és a ponta da flecha.

E como os demais também tu nunca sabes disto.

Está escrito que o deveras importante normalmente te desliza sorrateiramente ao lado.

Sê vigilante! Sê vigilante! Doutro modo nunca entenderás nada.

E perder-te-ás irremediavelmente em mil e uma ninharias. Com a gesta heróica ali mesmo ao alcance da mão…