CANTO  NOVE

 

 

DE  NOVO  COLHO  A  ROBUSTEZ  DOS  LAÇOS

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Escolha um número aleatório entre 953 e 1114 inclusive.

 

Descubra o poema correspondente como uma mensagem particular para o seu dia de hoje.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

                                                    953 – De novo colho a robustez dos laços

 

                                                    De novo colho a robustez dos laços

                                                    Em cada tombo à curva do caminho,

                                                    Como quem colhe o próprio pão e vinho

                                                    Das gavinhas que prendem os abraços.

 

                                                    Dum amor decifro os traços,

                                                    Criança a quem o carinho,

                                                    Como num tonel o vinho,

                                                    Cor apura aos gestos baços.

 

                                                    Com os mais me enlaço,

                                                    Ao mundo me prendo

                                                    E no nó me caço

 

                                                    E me surpreendo.

                                                    Eu não sou eu, serei bem mais

                                                    Duma rede de ternuras os ramais.

 

 

954 -  Afrodisíaco

 

Vinho não é dionisíaco,

Bem mais aqui tenho à mão:

- O melhor afrodisíaco

É o de abrir meu coração.

 

 

955 – Presença

 

A presença desejais

Na solidão doente,

- Até porque a presença é sempre mais

Que estar presente.

 

 

956 – Amigo

 

O amigo da gente

Não é nunca, não,

De sangue parente,

Mas de coração.

 

 

957 – Quieta

 

Quieta,

Mexe a mãe de muitos modos:

Quando a mãe fica de dieta,

De dieta andarão todos.

 

 

958 – Dadas

 

Amar não será somente

Ir de mãos dadas quenquer,

É dar as mãos indo em frente

Para o que der e vier.

 

 

959 – Sem

 

Sem ter amigos, você

É como um livro no qual

Ninguém a pegar se vê:

- Nada vale!

 

 

960 – Brota

 

De mim brota um arrebol

Se em miúdo ouvi, em prece:

"És o meu raio de sol,

Alegras-me, se escurece."

 

 

961 – Faltar

 

Não anda o mundo perdido,

Como quer o perdedor,

O mundo vive exaurido

Só por lhe faltar amor.

  

 

962 – Água

 

Qualquer que seja a mágoa,

O amor que tens defronte

É como a água:

Não deve ficar na fonte.

 

 

963 – Rir

 

Os que não sabem chorar

Com todo o coração,

Rir, a par,

Também nunca aprenderão.

 

 

964 – Netos

 

Se nós víramos que os netos

Seriam tão divertidos,

Primeiro, em nossos projectos,

Haveriam de ser tidos.

 

 

965 – Deu

 

Um homem deu sempre a vida

Por amor, duma assentada,

E julga, na despedida,

Afinal, que não deu nada.

 

 

966 – Nem

 

Nem o amor convence,

Bem menos a glória:

- Ninguém nos pertence

Senão na memória.

 

 

967 – Limpa

 

Nunca recordarão

A casa limpa nas memórias:

Os miúdos lembrarão

É que lhes liam histórias.

 

 

968 – Exclamar

 

De que serve a maravilha

Que leva a exclamar de espanto

Se não há por toda a ilha

Ninguém que partilhe o encanto?

 

 

969 – Importará

 

Que importará que os mais velhos

Sobrevivam mais e mais

Se, mais novos, aos conselhos

Menos e menos ligais?

 

 

970 – Suprema

 

Arte suprema da guerra

Não é vencer a disputa,

O inimigo é pôr por terra

Sem ter, porém, de haver luta.

 

 

971 – Fornalha

 

Não aqueças a fornalha

Tão quente para o inimigo

Que te chamusque a acendalha

De esconjurar-te o perigo.

 

 

972 – Fraternidade

 

O grande perigo

A uma estranha beleza conduz:

A fraternidade do inimigo

Traz à luz!

 

 

973 – Inverno

 

O inverno nuclear não

Nos diz mais do que este facto:

Quando mato o meu irmão

A mim mesmo é que me mato.

 

 

974 – Longevidade

 

A longevidade

Apesar de tudo mente:

Um amor não tem idade,

Nasce continuadamente.

 

 

975 – Expectativa

 

Expectativa à vulgar

Paixão sempre diminui

Como eleva sem parar

À grande de que alguém frui.

 

976 – Abrigo

 

O lar

É o abrigo:

Podem-nos pouco os homens importar,

Precisamos é dum amigo.

 

 

977 – Fundo

 

Não há lemas, de seguida,

Quando ao fundo tu desceres

Do abismo inteiro da vida:

- Ama e faz o que quiseres.

 

 

978 – Doce

 

Doce é aquilo que me dizes,

Mais doce é o beijo, porém,

Que te roubei aos matizes

De teus lábios de cecém.

 

 

979 – Instante

 

Nossas vidas um instante

Se encontraram…

- Foi o bastante:

As almas se incendiaram.

 

 

980 – Economiza

 

Um amor é o que me avisa

Do que é o infinito inteiro,

Um amor que economiza

Não é um amor verdadeiro.

 

 

981 – Ri

 

Ri, que então todos rirão

Contigo e dão-te carinho.

Ressona como um vilão

E então dormirás sozinho.

 

 

982 – Laço

 

A amizade é mais que algum

Traço que a um laço persuade:

Um inimigo comum

Não faz a vera amizade.

 

983 – Cidade

 

Muito a saber nós ficamos

Acerca duma cidade,

Como ela trata se olhamos

O visitante que a invade.

 

 

984 – Única

 

Amamos

Porque se apura

Que, após todos os reclamos,

Esta é a única aventura.

 

 

985 – Aproxime

 

Nunca deixe que ninguém

Se aproxime de si sem

Se ir embora mais feliz,

Melhor em qualquer matiz.

 

 

986 – Diferenças

 

Casais felizes enfrentam

Diferenças com humor,

As decepções condimentam

De si rindo até o sol-pôr.

 

 

987 – Morrer

 

Ao morrer ninguém lamenta

Não ter trabalhado mais.

Se horas mais a vida inventa

Vão ser de quem mais amais.

 

 

988 – Amar

 

Amar é depositar

A minha felicidade

Na felicidade a dar

A quem amo de verdade.

 

 

989 – Certo

 

Num amor quem entristece

Por certo que não arrisca

E quem arrisca apetece,

Não entristece, petisca.

 

990 – Topadas

 

Por mais que haja escolhos,

Topadas no chão,

Quem ama não vê dos olhos,

Vê sempre do coração.

 

 

991 – Puro

 

O amor traz sempre sinais,

Sinais de sentido:

Pelo amor puro jamais

Ninguém é traído.

 

 

992 – Corre

 

Para a vida poder ser

O ser de todo o regalo

Deixa o coração correr

E corre atrás a alcançá-lo.

 

 

993 – Incapaz

 

Incapaz de amar deveras,

Quenquer que jamais amou

Como afirma, sem quimeras,

Mundo além, um qualquer voo?

 

 

994 – Âmago

 

No âmago do coração

Há trevas numa tal teia

Oculta e fora de mão

Que o próprio nem faz ideia!

 

 

995 – Lágrimas

 

Lágrimas em teus olhos, não!

Que é que importam os assuntos?

- O tempo que nos resta é tão

Pouco para estarmos juntos!…

 

 

996 – Beijo

 

Um beijo pede outro beijo,

Quer seja a mim, quer a ti.

Nunca a vida perde o ensejo,

Tudo quer juntar a si.

 

 

997 – Desejar

 

Desejar ardentemente

Nunca alguém deseja, não,

Quando o desejar somente

Com a razão.

 

 

998 – Beijos

 

Tuas palavras são doces

Mas mais doce o que encontrei

Foram mil beijos precoces

Que de teus lábios roubei.

 

 

999 – Esteio

 

Um esteio de oiro

Sempre leva a palma

E é o bordão de agoiro

De aleijados de alma.

 

 

1000 – Sábios

 

Os mais felizes dos reinos

De sábias mentes não são,

Combinam sábios e leinos:

São os da mais sábia mão.

 

 

1001 – Leves

 

Quando à dúzia é mais barato,

Que direi do quarteirão?

- Quando aos teus meus anos ato,

Quão mais, menos custarão.

 

 

1002 – Infância

 

Por sons, imagens e cheiros

A infância nos é medida,

Do escuro ante os atoleiros

Da razão, mal é nascida.

 

 

1003 – Bate

 

O que jamais bate certo

É haver gente de eleição

Que não é eleita decerto

Em nenhum cargo ou função.

 

1004 – Amigo

 

Um amigo é aquele alguém

De que gostas ou não gostas

Que de ti, nas tuas costas,

Sempre andar a dizer bem.

 

 

1005 – Espírito

 

Casa do espírito é a biblioteca

E, mais que da lareira a brasa

Na lenha seca,

É o espírito da casa.

 

 

1006 – Vizinho

 

Bom vizinho é quem

Nos sorri de lá da vedação.

Jamais, porém,

A salta para o nosso chão.

 

 

1007 – Frases

 

Estas frases que trocamos

São inúteis por completo,

O mais belo que evocamos

É sempre mudo e discreto.

 

 

1008 – Decerto

 

Se um homem, frequentemente,

Diz que a ama, veemente,

Então é que nalgum lado

Algo decerto anda errado.

 

 

1009 – Pior

 

A pior das solidões

Pelo coração se acama

De quem vigia, aos serões,

Muito longe de quem ama.

 

 

1010- Prazer

 

O prazer da companhia

Com teu filho saboreia

E a confiança te cria

De ser pai que tal ateia.

 

1011 – Delicado

 

Verdadeira intimidade

Será não ser delicado?

Só quem queira, em realidade,

Ser de vez abandonado.

 

 

1012 – Condições

 

Todo aquele que for bom

Vê condições para dar.

E por dar sem condições

Sempre acaba quem amar.

 

 

1013 – Emigrante

 

É o emigrante um herói

A viver uma aventura

Em nome de quem não foi

Nunca na vida à ventura.

 

 

1014 – Amável

 

Amável, um termo pode,

Terno,

Aquecer a quem acode

Três meses de Inverno.

 

 

1015 – Família

 

Que família divertida,

Humor por todos os lados.

- E quando tal for a vida

Somos mesmo abençoados.

 

 

1016 – Sinal

 

Que em sinal, no Ano Novo, de amizade

Se estenda sempre tua mão direita

E nunca então, desta feita,

Por necessidade.

 

 

1017 – Saudade

 

Saudade não quer dizer

Estar longe, num deserto,

Mas que um dia, ou nem sequer,

Estivemos mesmo perto.

 

1018 – Limpar

 

Limpar a casa na altura

Dos filhos ainda a crescer

É um jardim com água pura

Regar, de céu a chover.

 

 

1019 – Humor

 

Um toque de humor vivido

E logo outro ser humano

Por trás dum desconhecido

Vibra sem lugar a engano.

 

 

1020 – Sozinho

 

Tenta em boa companhia

Ficar,

Mesmo quando o dia-a-dia

Sozinho te obrigue a andar…

 

 

1021 – Ar

 

O amor é uma brisa

Benta e sem juízo

Dum ar que desliza

Pelo paraíso.

 

 

1022 – Restaurante

 

Não continues namoro

Com quem é mal-educado

No restaurante e o decoro

Perca com um empregado.

 

 

1023 – Saudável

 

As palavras cruciais

Da saudável relação:

"Desculpa!" e as triviais

Pouco ouvidas "tens razão".

 

 

1024 – Abranda

 

Abranda e deixa passar

Os idiotas com pressa

Mesmo que já vás a andar

Por ti bastante depressa.

 

1025 – Fundo

 

Apareça,

Preste muita atenção,

Fale do fundo do coração…

- E não se preocupe com o que aconteça!

 

 

1026 – Nunca

 

Porque os sonhos se consomem

Por tudo e nada também,

Nunca cases com um homem

Que detesta a própria mãe.

 

 

1027 – Cuidado

 

Cuidado, vê como medras,

Não sejamos nós a dar

Aos outros aquelas pedras

Com que nos vão atirar.

 

 

1028 – Acredita

 

Se ele te contar que és boa

Para ele em demasia,

Não, não creias que é uma loa,

Acredita e fica fria.

 

 

1029 – Fibra

 

Dos homens o coração,

Seja embora a fibra dura,

Há-de ter sempre um desvão

Por onde lhe entra a ternura.

 

 

1030 – Mente

 

A mente é a base da acção:

Se creio que meu caminho

É o único, a morte então

Aos milhões é o que adivinho.

 

 

1031 – Conta

 

Tomar bem conta de nós

E de toda a natureza

É o modo que mais retesa

Do amor a Deus quaisquer nós.

 

 

1032 – Ilha

 

Como ilha sê para ti,

Em ti, pois, te refugia

E em mais nada: então, daí,

Contempla o nascer do dia.

 

 

1033 – Atrai

 

Atrai os homens pelo que tenham de melhor,

Mandes ou não mandes.

Não é um pormenor:

É a dádiva dos grandes.

 

 

1034 – Listas

 

Cuidado com tua alfombra,

Vê quem listas em teu rol:

O falso amigo é uma sombra,

Só acompanha enquanto há sol.

 

 

1035 – Firmeza

 

Firmeza tens de imprimir,

Senão teus filhos arriscas,

Firmeza não tem de vir

Da cela com fato às riscas.

 

 

1036 – Convite

 

Um amor não fica à espera

De convite para vir,

Vem sempre por sorte mera

E instala em nós o porvir.

 

 

1037 – Todos

 

Todos nós, com ou sem credo,

Livres embora ou reféns,

Todos, mais tarde ou mais cedo,

Citamos as nossas mães.

 

 

1038 – Pegada

 

Mantenha-se atento, à escuta,

Olhe a pegada em que vou,

Pense, quando comer fruta,

Em quem fruteiras plantou.

 

 

1039 – Conflito

 

Não poderemos dizer

Que conhecemos alguém

Se com ele não se tem

Um conflito sequer.

 

 

1040 – Tempo

 

A pontualidade

É arte de não fazer

Contra vontade

Mais tempo aos outros perder.

 

 

1041 – Mãe

 

Uma mãe é um coração

Que tem olhos, mais uns olhos

Que têm lábios logo à mão,

Tudo a operar sem escolhos.

 

 

1042 – Amante

 

Um amante o que apresenta

É sempre alma da beleza

E a beleza que ele ostenta

É a de alma que alguém lhe preza.

 

 

1043 – Brilho

 

Do rosto o brilho tanto importa ao sexo

Que da ternura nos apogeus

O que vislumbro no amplexo

É Deus.

 

 

1044 – Centelha

 

O verdadeiro ritual ensina

Que o horizonte do sexo é a apoteose

Em que duma centelha divina

Finalmente goze.

 

 

1045 – Tipos

 

Dois tipos, a vida além,

A vida falham presente:

Os que não ouvem ninguém

Mais os que ouvem toda a gente.

 

 

1046 – Preocupar

 

De nada vale dizer:

- Não te preocupes, porém!

Melhor modo nem sequer

Há de preocupar alguém.

 

 

1047 – Esconde

 

Quem a generosidade

Dele esconde prazeroso

Então é que de verdade

Duplamente é generoso.

 

 

1048 – Cuida

 

O amor com fervor

Cuida em ti que o sagres,

Onde há muito amor

Há sempre milagres.

 

 

1049 – Honrar

 

Honrar dum filho a memória

É sorrir e ser feliz

Para lhe darmos a glória

De sermos o que ele quis.

 

 

1050 – Vidro

 

Os que em casa vão viver

Com paredes de vidro, por sinal,

Nunca logram ter

Grande vida sexual.

 

 

1051 – Conta

 

A sexualidade só é completa

Quando leva em conta todos os terrenos:

A vida erótica dos objectos grandes ou pequenos

Que enchem o mundo e a vida nos entregam repleta.

 

 

1052 – Melhor

 

Nem regime dietético

Nem fortuna persuade:

O melhor cosmético

É a felicidade.

 

1053 – Vida

 

Ao jovem jamais acode

A vida que ao velho cabe.

Jovem não sabe o que pode,

Velho não pode o que sabe.

 

 

1054 – Questões

 

Em questões de sentimento

Quão mais a palavra é grada

Menor nos vem de tal vento

A verdade procurada.

 

 

1055 – Íntimo

 

Se o eu não fora imperceptível,

Apenas em meu íntimo vivido,

Há muito, por outrem atingível,

Teria sido destruído.

 

 

1056 – Nunca

 

Nunca saberemos o que o homem mais mesquinho

Poderá fazer por nós um dia.

Ninguém chega, sabemos, todavia,

A lado nenhum sozinho.

 

 

1057 – Aperfeiçoar

 

Aperfeiçoar a mente, não,

Não é viável aperfeiçoá-la:

- Olhem para o coração,

Nele é que a mente faz sala.

 

 

1058 – Acontecimentos

 

É primeiro antropológica

Dos acontecimentos a verdade:

Não falo lógica,

Falo generosidade.

 

 

1059 – Oiro

 

Cheia de oiro refulgente

Anda a rua onde viver,

Mas nem toda a gente

Tem olhos para o ver.

 

1060 – Dois

 

Tu e eu somos dois lados

Unidos da mesma folha.

Não podem ser separados:

Quem te olha a ti, a mim olha.

 

 

1061 – Conjunto

 

Em vez de tentar converter,

De reduzir o outro a mim,

Aprender a crescer

Em conjunto até ao fim.

 

 

1062 – Radicam

 

Linhas Maginot, dissuasões nucleares, mísseis novos,

Radicam no postulado reles

De que se podem defender os povos sem os povos

Ou até, eventualmente, contra eles.

 

 

1063 – Resolve

 

Resolve cada problema ao nível dele,

Com a participação de todo aquele

A quem tal decisão

Comprometa o destino na função.

 

 

1064 – Altura

 

Há uma altura em que à paixão

Dos primeiros dias ardo.

É dos dias a erosão

Que acaso a transmuda em fardo.

 

 

1065 – Dentro

 

Há quem dentro de si guarde segredos

Que apenas problemas e problemas acamam

Sobre os que, apesar dos medos,

Injustiçados os amam.

 

 

1066 – Crianças

 

As crianças têm uma vantagem

Perante os adultos, permanente:

- A coragem

De perdoar rapidamente.

 

1067 – Tragédia

 

Aqueles com quem pensamos

Em quem pensamos nunca são.

A tragédia humana que gritamos

Toda radica neste senão.

 

 

1068 – Sofre

 

Quem sofre muito, deveras

Não forma plebe ou conjunto:

Quem sofre, através das eras,

Sofre sozinho, não junto.

 

 

1069 – Sentido

 

São coisas bem pequenas

Que dão sentido ao ser.

Amámos apenas?

- Podemos morrer!

 

 

1070 – Outros

 

Os outros precisar de dominar

É dos outros precisar,

Obviamente:

- O chefe é um dependente.

 

 

1071 – Roubar

 

Roubar-me busca meu bem

De meu tempo um bocadinho.

Roubar não deixo, porém,

Dou-lho todo: é o que é o carinho.

 

 

1072 – Opressão

 

Se tua própria liberdade

Queres mesmo preservar,

A opressão hás-de poupar

Do inimigo que te invade.

 

 

1073 – Chocolate

 

Chocolate com recheio,

Que gostosura de vida:

Sabe a coração no meio,

Do amor é o resto a medida!

 

1074 – Coração

 

Ao coração quem se apega,

Não tarda, bate no fundo.

Coração não se navega

Como os mais mares do mundo.

 

 

1075 – Amigos

 

Os bons amigos ficar

Longe uns doutros deverão,

Senão, como ondas do mar,

Vão bater no paredão.

 

 

1076 – Valores

 

Valores não se equivalem

Numa balança pendente,

As pessoas valem

O que vale a afeição da gente.

 

 

1077 – Meio

 

Em meio à grande alegria

Não prometas a ninguém

E em meio ao que te enfuria

Nada respondas também.

 

 

1078 – Enquanto

 

Enquanto pais, o que é claro

É que ter filhos implica

Termos surpresas, não raro:

- É o que viver significa.

 

 

1079 – Calor

 

O calor, roupa invisível,

Dá vontade de o tirar,

Como se fora despível

Um coração a pulsar.

 

 

1080 – Rede

 

Dá-te a mão para a viagem

Toda a teia parental

E a paixão, não a linhagem,

É que vence no final.

 

1081 – Trilho

 

Quando o trilho do coração bate certo,

É a paz de espírito, a alegria.

Quando desemboca no deserto,

Angustia.

 

 

1082 – Verdadeiros

 

Os verdadeiros amigos

Como as estrelas são.

Não os vemos aos postigos?

- Mas sempre lá estão!

 

 

1083 – Qualidade

 

A qualidade do coração

De alguém não é uma sorte,

É a decisão

De escolher a vida em lugar da morte.

 

 

1084 – Amor

 

Já que tudo o mais é fantasia

Em tudo o que é vivido,

Que encontres o amor um dia

Para tua vida ter sentido.

 

 

1085 – Entrego

 

Quando tenho mais ideias do que os mais,

Aos mais entrego tais ideias.

Se as acolhem, se as tomam como ideais

- É o que é comandar, por muito que o não creias.

 

 

1086 – Próprios

 

Nunca pode haver amor

Se não formos cada qual

Nós próprios, com o fervor

De ao divergir ser igual.

 

 

1087 – Ergueres

 

Se ergueres um muro

Agora,

Pensa nos que ficam no escuro

Do lado de fora.

 

 

1088 – Palavras

 

Sendo embora sempre iguais,

As palavras do amor

Dos lábios donde saem, literais,

Tomam o privado e secreto sabor.

 

 

1089 – Adeus

 

Quão mais forte for o laço

Que com teu filho manténs

Mais do adeus te dói o abraço,

Mais um doutro sois reféns.

 

 

1090 – Juntos

 

Netos e avós, com amor,

Juntos a dormir os pus:

Os velhos querem calor

Como nós deles, a luz.

 

 

1091 – Pior

 

O pior da solidão

É de andarmos convencidos

De únicos sermos que vão

Dela sofrendo os gemidos.

 

 

1092 – Diferença

 

Entre um amor e a amizade

A lonjura que eu acoite

Não é uma vulgaridade,

É como o dia da noite.

 

 

1093 – Conselho

 

O conselho é perigoso,

Mesmo de sábio a sábio:

No roseiral mais frondoso

O espinho te rasga o lábio.

 

 

1094 – Cuidado

 

Cuidado com a traição:

Qualquer arma traiçoeira

Um perigo contra a mão

Que a pegar logo emparceira.

 

 

1095 – Fiel

 

O fiel sempre confia,

Em pedra firme assentado.

O traidor desliza, enguia:

Traidor é desconfiado.

 

 

1096 – Termos

 

Diz os termos agradáveis

Mesmo a quem neles não pensa.

É que o louvor dos louváveis

É o melhor da recompensa.

 

 

1097 – Servo

 

Mesmo se dos serviços o tramo

São temores que o medo empesta,

O servo tem direitos sobre o amo

Pelos serviços que presta.

 

 

1098 – Rebelde

 

Não confundas, como ao mel,

Uma insipidez com míngua:

Coração fiel

Pode ter rebelde língua.

 

 

1099 – Orgulho

 

Era o orgulho desatino

Se desdenhara da ajuda

Ou do conselho mais fino,

Se o que urge é que alguém acuda.

 

 

1100 – Horas

 

Nas horas desesperadas,

Toda a bondade e brandura

Podem pagas e apagadas

Ser com morte prematura.

 

 

1101 – Traidor

 

Um traidor é bem capaz

De a si próprio se trair

E deste modo no traz

Um bem de que há que fruir.

 

 

1102 – Sofrimento

 

De sofrimento e desgraças

Anda o mundo sempre cheio,

Dispensa as guerras que faças

A aumentá-los de permeio.

 

 

1103 – Leis

 

Tanto o amor como o carinho

São as leis do coração,

Nem bruxo nem adivinho

Delas nunca escaparão.

 

 

1104 – Fatia

 

Fatia do mesmo bolo

É o amor em qualquer lábio:

Sabedoria do tolo

Como tolice do sábio.

 

 

1105 – Olhos

 

Que me importa se convém

Neste ou naquele lugar:

- Os olhos que amam não têm

Vergonha de olhar.

 

 

1106 – Pagar

 

Pretendemos construir

Pagando o preço que houver,

- Do amor iremos fruir,

Sem ele não há viver.

 

 

1107 – Beijo

 

Da vida me desencontro,

Chispa nela uma luz brusca:

O teu beijo é o doce encontro

Após uma longa busca.

 

 

1108 – Laço

 

Se um laço perde fervor

Da lonjura com as ânsias,

O verdadeiro amor

Não conhece distâncias.

 

 

1109 – Julgamento

 

Se um julgamento condena,

Ao julgar nós condenamos.

Em amor era uma pena,

Não se julga a quem amamos.

 

 

1110 – Milagre

 

Do amor o que recolheres

Não cai do céu de mansinho,

No milagre não esperes,

Antes lhe aplana o caminho.

 

 

1111 – Lareira

 

À lareira, instantes

Sopramos calor:

As rixas de amantes

Renovam o amor.

 

 

1112 – Linguagem

 

A linguagem mais conversa

Que a conversa a que convida:

- É uma linguagem diversa

Diversa visão da vida.

 

 

1113 – Fascínio

 

Ao amar, a vida é breve

No fascínio de viver.

Alonga-a quem tal não teve:

Não amar, longo morrer.

 

 

1114 – Grande

 

Entre nascimento e morte

Há ser amado e há o amar.

O grande vinho é mais forte

Com o tempo que passar.