Escolha um número aleatório entre
109 e 188 inclusive.
Descubra o poema correspondente
como uma mensagem particular para o seu dia de hoje.
109 – Ao
sabor do dia-a-dia |
|
Ao sabor do
dia-a-dia |
Alinho em métrica certa, |
A candeia ali desperta |
Quebrando a monotonia. |
|
O saber mede a
fasquia |
Da passada sempre alerta, |
De ritmo e rima
coberta |
Como o cotio a
media. |
|
Contando cada degrau |
Ando aqui
trepando a escada |
Por onde se
entra na nau |
|
Que navega a madrugada, |
Da bandeira iço
no pau |
O estandarte da alvorada. |
|
|
110 – Lubrificação |
|
Honrarias, cortesia, |
Dão a lubrificação |
Aos atritos que haveria, |
A não haver tal
função. |
|
E, quando um
jovem condena |
Por ridícula tal arte, |
Lança areia (e
é uma pena!) |
Na engrenagem,
o que a parte. |
|
|
111 – Disparatada |
|
A mais disparatada concepção, |
A de que Deus
requer adoração, |
|
Se move por
lisonjas e promessas, |
Senão cospe-nos
raios nas cabeças, |
|
Sem ter
qualquer vestígio de evidência, |
Paga, com
estipêndios de excelência, |
|
A maior, a mais
velha e improdutiva |
Da História
indústria que a promove altiva. |
|
|
112 – Estereótipos |
|
As frases “nós deveremos…” |
Ou “isto não
quer dizer…”, |
“É evidente que sabemos…” |
- São o alerta
para ver |
Pessoalmente o
que há de facto. |
Estereótipos tais, |
Quando as fitas
lhes desato, |
Desmascaro e me precato, |
Dão pistas com
bons sinais. |
Terei é de
estar atento |
A ver donde
sopra o vento… |
|
|
113 – Perícia |
|
A perícia em
campo dado |
Não se
transmite aos demais, |
O perito é que
é enganado, |
Pensa sempre coisas tais. |
E quão mais o
campo estreita |
Mais este erro
então o espreita. |
|
Ser perito não vacina |
Das asneiras
contra a sina. |
|
|
114 – Dominadas |
|
Divide-se a Humanidade |
Nos que dominadas querem |
Que as pessoas
todas sejam |
E nos que tal
não desejam. |
Aqueles da idealidade |
De altos
conceitos nos ferem, |
Das grandes
massas por bem. |
Estes são mal-humorados, |
Pessoalistas, desconfiados, |
Têm daqueles o desdém… |
- Agradáveis são bem mais |
Estes vizinhos, porém, |
Que aqueles serão jamais. |
|
|
115 – Atalhos |
|
Quem tem pedra
no sapato |
É que mete por
atalhos, |
É que faz o
desacato |
De ir alongando caminhos, |
De imitar choros mimalhos |
A ver se colhe
carinhos. |
|
Quem não tem,
talha a direito |
A via que mais
der jeito. |
|
|
116 – Conselhos |
|
Conselhos é fácil dar, |
Recebê-los é
que não. |
Se quem os der
se guiar |
Por eles, lá no
lugar |
Fica o mundo
todo chão, |
Todo chão de semear. |
|
Conselhos é fácil dar, |
Recebê-los é
que não… |
|
|
É que falta confirmar |
Se dali nos vem
o pão |
E porque não é
a primeira |
No arrotear da jeira |
A boca que os
vier dar. |
|
|
117 – Meças |
|
Até onde é que
teu sonho |
Te tolheu tua riqueza? |
Alegrar o que é
tristonho, |
Ao que é feio
dar beleza, |
|
A música, a poesia, |
A solidariedade… |
Pedir meças poderia |
Ao que atira a
identidade |
|
Gingando nos calcanhares |
Por sobre a
conta bancária, |
Tua bolsa de sonhares, |
Vazia, tão solitária? |
|
Poderias derribá-los, |
A todos estes pedantes, |
Mas não sentes
nem abalos |
De os ver ali
tão impantes. |
|
Tens o que
sempre quiseste, |
Não lamentas o caminho, |
Arrependimento agreste |
Nenhum te
encrava um espinho. |
|
Vitórias bem saborosas, |
Não as colhidas
a esmo, |
São as deveras custosas |
Obtidas sobre ti mesmo. |
|
|
118 – Ouropéis |
|
Muitas vezes só emigrando |
Seremos reconhecidos. |
Tudo o que é
novo negando, |
Os ouropéis adorando |
De feitos de
vez volvidos, |
Os pretensiosos vão |
Importar-nos mui festivos. |
|
É uma homenagem
do não |
Aos que
persistem ser vivos. |
|
|
119 – Nómadas |
|
Nómadas somo-lo todos |
Enquanto temos alguém |
Que ao colo nos
leve, leves, |
Rumo aos
destinos e bodos. |
|
Quando somos nós, porém, |
Que temos de
levar, breves, |
Ao colo outra geração, |
Tornamo-nos sedentários: |
Sermos meio de transporte |
Como enguiça o coração! |
|
E dentre os
sonhos mais vários, |
Quero é ter a
permissão |
Dum porvir de
melhor sorte: |
Direito a me escapulir |
E pôr-me a um
canto a dormir! |
|
|
120 – Casas |
|
A maior parte
das casas |
São heranças
que nos chegam. |
Os sonhos a que
se apegam |
De soprarem novas brasas |
Os novos em
casas velhas |
Valem em pouca medida: |
São do rebanho
as ovelhas |
No aprisco
alheio, à comida. |
|
Doutrem para as decisões |
Se transmudam sem querer, |
Modos de achar soluções |
Que não lembram
a quenquer, |
São roteiros, são andanças |
Doutrem para as esperanças. |
|
É sempre outrem
que se apura |
Na casa que se
acolheu, |
Nunca lá me
encontro eu, |
Serei sempre uma mistura. |
|
|
121 – História |
|
Qual é a coisa,
qual é ela: |
Perde-se, não ofertada; |
Renova-se, quando usada; |
É só nossa na
sequela |
De nós a compartilharmos? |
- É uma
história que contarmos! |
|
|
122 – Desertos |
|
Abutres e colibris |
Sobrevoam os desertos. |
O abutre, de
gostos vis, |
Só procura a
carne podre, |
Tem os instintos despertos |
Para comida de pobre. |
|
O colibri busca
a flor |
Do deserto colorida |
Que brota com esplendor |
De espinheiros
como a vida. |
|
Vive aquele do passado, |
Este o presente requer. |
Cada qual tem encontrado |
Dele o correcto comer. |
|
Em redor procura bem: |
Seja abutre ou colibri, |
Dás com o que
te convém, |
Que em sorte
couber a ti. |
|
|
123 – Odeias |
|
Odeias a sociedade |
Porque te
odeias a ti? |
Tua revolta não
há-de |
Ir contra o que
houver ali: |
Contra ti te persuade! |
|
Portanto, não te revoltas |
Contra este mundo danado. |
Por revolta
andas às voltas, |
És somente um revoltado! |
|
|
124 – Mesa |
|
À mesa do comandante |
Se convidado a jantar, |
Não é a glória
que, distante, |
Acabas de conquistar. |
|
Lembra-te que continuas, |
Para aprender a lição, |
A jantar, mas
de mãos nuas, |
Só com a tripulação. |
|
|
125 – Minoria |
|
Ajudar quem não merece, |
Só porque é da
minoria |
Liberal não me parece |
Nem democrática via. |
|
Premiar parasitismos, |
Estimular a preguiça |
Criam mais fundos abismos |
Na margem que
tudo enguiça. |
|
|
126 – Recta |
|
Por vezes a
linha recta |
Não é o mais
curto caminho |
Para se atingir
a meta, |
Mas a curva a
que me alinho. |
|
Chego ao ponto
onde quiser |
Na vida mais velozmente |
Aquela curva ao fazer |
Do que se
cortar em frente. |
|
Um qualquer
plano de acção |
Requer dados realistas, |
Não uma mera intenção |
Correndo utópicas pistas. |
|
|
127 – Ambição |
|
Qualquer homem de ambição |
Fica desencorajado |
Por vezes, de
tão cansado: |
Crê que tudo
erros serão |
E qualquer esforço, vão. |
|
O que vale é
que depois |
Tudo lhe volta
a sorrir |
E os triunfos
hão-de vir |
Apos a noite, arrebóis |
De já inesperados sóis. |
|
A ambição mais
que aconselha: |
É da fogueira a
centelha. |
|
|
128 – Pacto |
|
Muito mais
fácil de facto |
É ter fé noutra
pessoa |
Que consigo ter
tal pacto. |
|
Quando alguém
escolhe à toa |
Alguém em quem
pode crer |
Logo a fonte
devém boa, |
|
Não complica o
que entender. |
- Porém, a limitação, |
A falha que
nela houver, |
|
Como abandonar no chão |
Para apostar num poder |
Que sabe não
ter à mão? |
|
129 – Matiz |
|
Aprende a devir feliz, |
Aprende a ver
todo o bem |
Que traça ao
mundo um matiz |
Entre os demais
que ele tem. |
|
Abraça os pequenos nadas |
Que se perdem
nos horários |
Das freimas assoberbadas, |
Dos passos atrabiliários. |
|
Tua vida é de
momentos, |
Pequenas pepitas de oiro |
No cascalho dos eventos. |
- Que fazes ao
teu tesoiro? |
|
|
130 – Esgota |
|
Esgota cada momento: |
Em breve terá passado… |
E, seja embora doirado |
Ou dorido de tormento, |
|
Nunca mais te
volta, solto, |
(Para se pôr ao
dispor |
De teu frio ou
teu calor) |
Do actual véu
de tempo envolto. |
|
|
131 – Ressentimento |
|
Há muito ressentimento |
Contra um
vector da ciência |
Que deveio num tormento, |
Em arma, a todo
o momento, |
Apontada à consciência. |
|
A ciência, idealizá-la |
Quando me atira
à cabeça, |
Sem contribuir
com a bala |
Para a festa,
para a gala, |
Quem é que em
tal não tropeça? |
|
São da ciência
os pecados |
Cometidos em segredo, |
Nas costas dos vitimados… |
- Geremos eleitorados |
Com saber e não
com medo: |
|
Científica cultura |
E bem generalizada |
É o que mais
nos assegura |
Contra qualquer ditadura |
Que use a fada
malfadada. |
|
132 – Democracia |
|
Se quero a democracia |
E o pouco de
liberdade |
Que em mim
sempre principia, |
De que disponho
hoje em dia, |
Então hei-de
ser a grade |
|
Que alise
fraudes e embustes |
Por todo o
campo da vida. |
Se a reis e
ricos te ajustes |
Pagas as custas
que custes, |
Nada te fica em
seguida. |
|
Urge desmistificar |
Por tua mão,
pela minha, |
Quanto abuso
houver pelo ar, |
Quem por sol
nos dá luar, |
Senão
roubam-nos a vinha. |
|
|
133 – Vimes |
|
A ciência pelos crimes |
Há-de responder também, |
Dado que as
obras sublimes |
Sempre no feixe
de vimes |
Uma vara podre têm. |
|
É imperfeita,
mas que instância |
Melhor pode controlar |
Nosso pendor de ganância |
Que nos mata e
destrói de ânsia |
Sem as jóias
nos salvar? |
|
|
134 – Relativa |
|
A vantagem relativa |
Devir pode, no imediato, |
Bem mais útil a
que viva |
Que a absoluta,
sempre esquiva |
E a fugir, mal
me precato. |
|
Dois viandantes perseguidos |
Por um lobo pertinaz |
Fogem logo, espavoridos, |
Daquela boca voraz. |
Até que um
deles comenta: |
“Lá fugir, bem
que se tenta. |
|
Toda a gente,
porém, sabe |
Que ninguém corre jamais |
Mais que um
lobo, até que acabe |
Nos colmilhos canibais.” |
O outro retruca, veloz, |
A perder fôlego
e voz: |
|
“Não me importa
correr mais |
Do que ele pode
correr. |
Já que tão
depressa vais, |
Mais que tu
basta-me ver |
Que consigo
sempre eu ir |
Para lhe lograr fugir.” |
|
|
135 – Arma |
|
Se de arma na
mão abordo |
Na rua alguém exigindo |
“A bolsa ou a
vida!”, acordo |
Um dia à prisão
caindo. |
|
Se eu a abordar
desarmado: |
“Dê-me a bolsa
ou meu irmão |
Matá-lo-á baleado!”, |
Preso sou por extorsão. |
|
Se for à televisão |
Exigir da tropa
os contos, |
Não vá de
Espanha o vilão, |
Que terá os
gatilhos prontos, |
|
Vir e matar-nos
a todos, |
Serei grande patriota |
Promovido em muitos modos… |
- Será que o
mundo é idiota?! |
|
|
136 – Erudito |
|
O sábio mais erudito |
Pode ser bem limitado |
Nos saberes do distrito |
Que lhe fica
mesmo ao lado. |
|
O maior especialista, |
Por muito que impressionante |
Seja em
credenciais a lista, |
É, no resto, um
ignorante. |
|
Fica sempre maltratado |
Quem não tiver
isto em conta |
E seguir aconselhado |
Por um ignaro
ao que aponta. |
|
|
137 – Destrutivo |
|
O cientista destrutivo |
Pode ser quando balança |
Para além do só
motivo |
Onde afina o pé
de dança. |
|
Quando o pé lhe
pisa a raia |
Do que jamais estudou |
É bem raro que
não caia |
Pisando aquilo que sou. |
138 – Marginais |
|
Os marginais em aumento |
E nada, nada os
acalma! |
A falta de sentimento |
É tuberculose de alma. |
|
A do corpo
ainda se cura. |
Alguém à de
alma, porém, |
Uma mezinha depura |
Que o mal vença
que ela tem? |
|
|
139 – Ridículo |
|
Toda a moda masculina |
Não é de te pôr
à moda: |
O ridículo declina |
Inteiro a evitando toda. |
|
Modelo sofisticado |
Se te expõe,
cava-te o abismo. |
Convém-te o de
encapuçado |
Que te esconda
em cinzentismo. |
|
A moda o que te
ensinou |
É que era um
jogo de enganos: |
Hoje o que é
moda acabou, |
De ridículo, em
cinco anos. |
|
|
140 – Mudar |
|
Importante no desporto, |
Quando se
perde, é mudar: |
Se o jogo
resultar morto, |
Urge logo o transformar. |
|
Mudar tácticas de jogo |
Quando este nos
faz perder |
É na vida o
desafogo |
Que nela busca quenquer. |
|
Se vivemos a perder, |
O que nos
destrói obramos, |
Por mal dormir,
mal comer |
Ou se demais laboramos… |
|
Ao gerir o
tempo mal |
Logo aqui nos derrotamos: |
Adio, só dou sinal |
Nos derradeiros reclamos |
|
Ou perco tempo demais |
Em tarefas de somenos… |
Sobrecargas laborais |
E sentir o
tempo a menos |
|
São as queixas principais, |
São males nada pequenos. |
Estranho é que,
sendo reais, |
De nós derivarão plenos. |
|
Vão desde os perfeccionistas, |
Tão meticulosamente, |
Aos fura-vidas
nas pistas |
Obrando afanosamente: |
|
Vivem para trabalhar, |
Depois perguntam, erguidas |
As mãos perante
um altar, |
Que lhes
acontece às vidas! |
|
E quem muda o
carro em arma, |
Sempre tão competitivo, |
Com tanta
pressa, que o karma |
O agredirá, de agressivo… |
|
E o zeloso por
excesso, |
Perenemente ocupado |
Doutrem a cuidar expresso |
E sem ter de si
cuidado… |
|
E os ansiosos
de agradar |
Que não sabem
dizer não, |
Que assumem vender luar |
Sem ver que
nunca o terão… |
|
Estabelece limites, |
Aprende a dizer
que não! |
Vê se ao labor
não permites |
Que te invada o
teu serão. |
|
Faz pausas: a
maior parte |
Julga poder trabalhar |
Todo o dia e
não reparte |
Labor e lazer a
par, |
|
Crê que assim
trabalha bem |
E vai gostar do
que faz. |
Um intervalo convém |
A agir bem e
pôr-te em paz. |
|
Um cochilo ou
um passeio, |
Sonhar um pouco acordado, |
Trocar tarefas a meio |
Que não requeiram cuidado, |
|
Música ouvir, conversar |
Sobre até coisa nenhuma, |
- São pausas de modelar |
O que recompõe,
em suma. |
|
E dá lugar ao
lazer! |
Muitos julgam-se culpados |
Se nada estão a
fazer, |
Que de egoísmo
são traslados. |
|
Ora, um lazer é
uma escolha, |
Um acto de liberdade, |
Do dever oposto
à folha |
Que à obrigação persuade. |
|
Que é que te
governa a vida? |
Se tens tão
pouco lazer |
É que a vida
tens perdida, |
De to proibir
de o ter. |
|
O dinheiro não
é tudo, |
Nem sequer o principal. |
Endividar-se a miúdo |
É jogar no que
não vale. |
|
Muda a forma de
encarar |
O dinheiro, que
te ajuda. |
A fome após saciar |
E o conforto,
fica muda |
|
A alegria de gastar: |
Morre o prazer
à medida |
Que mais tu
compras a par, |
Que precisas, de seguida, |
|
Para então viver deveras? |
Não são fortunas, repara, |
É ver bem o que
é que esperas, |
O que quer
coisa tão rara. |
|
A ti te conhece
a fundo. |
Teu emprego é identidade? |
Vê lá, não
percas o mundo |
Se a trocá-lo
te persuade… |
|
De igual modo,
a tua imagem |
Se for tão profissional, |
É para o
inferno a viagem |
Um dia que
corra mal. |
|
O teu trabalho
é o que fazes, |
Não é nunca o
que tu és. |
Quando teus filhos abrases |
Driblando a
bola a teus pés, |
|
Não és médico, empregado, |
És a pessoa que
queres: |
Se o labor
tombar de lado, |
És tu sempre,
não diferes. |
|
O estresse é
uma realidade |
Da vida descomedida: |
Não precisa, na verdade, |
De ser um modo
de vida. |
|
Pois se a maior
parte dele |
Seremos nós que
o criamos, |
A chave é
arrancar-lhe a pele |
E descobrir quando estamos |
|
A jogar para perder, |
Para termos vida viva |
O que importa é
conceber |
A adequada alternativa. |
|
|
141 – Prazer |
|
O prazer só um
atractivo |
Mantém se, de
longe em longe, |
O experimento e cultivo, |
Com contenção, feito monge. |
|
Qualquer homem é criança: |
Nunca aprecia contente |
O bem sereno
que alcança, |
Que desfruta diariamente. |
|
É só quando lhe
falece, |
Seja o dos bens
de fortuna, |
Seja o do amor
que o esquece, |
Vê quanto a
falha importuna. |
|
|
142 – Atmosférico |
|
Toda a vida verdadeira, |
Como o atmosférico dia, |
Menos é brisa leveira |
Que nevoeiro que embacia, |
|
Momento baço e cinzento |
Que me embruma
a natureza |
Mais que sol
brilhando atento |
Que o campo
alegre embeleza. |
|
É depois por
minha mão, |
Ao ligá-la à
mão dos mais, |
Que me conjuro
um Verão |
E me furto aos
vendavais. |
|
|
143 – Apostas |
|
É melhor ser conhecido |
Por dez pessoas naquilo |
Em que revês
teu sentido |
Do que
manter-te em sigilo |
Ante dez milhões talvez |
Que apoiem o
que não crês. |
|
Aquilo de que
não gostas |
Não serve tuas apostas. |
|
|
144 – Prioridades |
|
Mais que três prioridades |
Ninguém logrará manter. |
Tens labor de
que te agrades? |
É a primeira a
te reter. |
|
Se uma família tiveres, |
Tens a segunda ocupada. |
Resta a
terceira, se queres |
Em tempo livre empreitada: |
|
Pode ser manutenção, |
Voluntariado, ler, |
De amigos conversação, |
Ir o mundo conhecer… |
|
Não compliques
o que invades, |
Em ti tem mão e
no apresto, |
Descobre as prioridades |
E diz não o
tudo o resto. |
|
|
145 – Barranco |
|
Quando eu era
uma criança, |
Brincávamos num barranco |
Cheio de
árvores, de arbustos… |
Na Primavera
era a dança |
Das margaridas de encanto, |
Colhidas a cada canto, |
A marralharmos os custos. |
|
Num ribeiro ao
fundo havia |
Um fundão para nadar |
E a pedra donde
os rapazes |
Mostravam a artilharia |
Pronta sempre a bombardear |
As moças que,
se calhar, |
Os não julgavam capazes. |
|
Apanhávamos girinos |
Que arrumávamos em casa |
Em frascos desalinhados. |
Dentre nós os
mais ladinos |
Duma frança armavam asa |
Dum choupo que
ao sol em brasa |
Refrescava os afogueados. |
|
E, por detrás
do salgueiro, |
Havia aquela caverna |
A abrigar-nos repentina. |
Um carvalho ali cimeiro |
Era uma casinha terna |
Ao lado tendo a
caserna |
Onde um clarim desafina. |
|
Alguém tinha abandonado |
Um sofá velho e
cadeiras |
Lá no barranco esquecido. |
Tínhamo-los arrastado |
Para as festas
mais fagueiras |
De imaginações parceiras |
Que alguma vez
se há vivido. |
|
Um dia uma vedação |
De rede foi
presa em volta |
De meu antigo barranco. |
Escavadoras o chão |
Esventram em terra solta, |
Cresce a aldeia desenvolta |
Vestida de
ponto em branco. |
|
Num resquício de relvado |
Instalaram um baloiço, |
O escorrega, um carrossel… |
Quando foi inaugurado, |
Parece que
ainda o oiço, |
Ao da Câmara,
em retoiço: |
- Da criança
visto a pele, |
|
Pois dantes, neste lugar, |
Não havia onde brincar! |
|
|
146 – Ambição |
|
A ambição mais facilmente |
Toma conta dos pequenos |
Que dos
grandes: de repente |
O fogo ateia os
terrenos |
Onde enxameiam choupanas, |
Mas não do
palácio os drenos |
Onde mal chegam praganas. |
|
É que este
ergue-se na altura |
E aqueles se
afundam lassos |
Nos barrancos mais escassos |
Onde morrem de secura. |
Que admira se
pegam fogo |
Ao primeiro raio logo? |
|
|
147 – Filme |
|
Por acaso até prefiro |
Filme que é uma
porcaria: |
Descubro que não deliro, |
Que a vida que
ali tropeça |
Não anda assim
tão vazia |
Nem a correr
tão depressa! |
|
- E escapei do
dia-a-dia |
Só por uma mão
travessa, |
Já respiro fantasia |
E arejei minha cabeça. |
|
148 – Medo |
|
O medo do comunismo, |
Agora o medo do
Islão… |
- No mental esquema cismo |
Duma demonização |
Dos outros onde
o mal crismo. |
|
É o sinal da
decadência. |
Não são forças generosas |
Nem de dom com
apetência |
As sociais que tenebrosas |
Dos medos colhem premência. |
|
O xenófobo, o racista, |
Preso na concha
é uma aldeia |
Medrosa misoneísta, |
Não é cidade
que alteia |
Aos horizontes a vista. |
|
Quando muito é
um arrabalde |
Mas que aldeia
se pretende. |
Civilização debalde |
Rica de força compreende, |
Que o borralho
a não escalde. |
|
A política do medo |
Não há nada que
alicerce, |
É tribal como
um degredo. |
Quando sobre
alguém se exerce |
Logo o prende
no segredo. |
|
|
149 – Medicina |
|
Progressos da medicina… |
O mais extraordinário |
É que a cura
não atina |
Com do velho o
aniversário: |
|
Se com tal data
parasse |
Não havia mais trespasse… |
|
- O sonho da juventude |
Como eterno nos ilude! |
|
E como, se um
dia fora, |
A desilusão ferira |
O sonhador, sem demora, |
No chão raso em
que se vira! |
|
|
150 – Lerda |
|
Quem teu braço
põe madraço, |
Lerda a perna
em pura perda? |
Em demasia é o
cansaço |
Ou, de jovem,
outro espaço |
Ainda o coração
não te herda. |
|
151 – Culpam |
|
Quando todos culpam todos, |
Desde os pais
até o Governo, |
Pelos falhanços
e os modos |
Próprios de perder engodos, |
Quem trepa ao
cume superno |
|
De vítima não aceita |
Sequer a mentalidade: |
Se há um
culpado, esta desfeita |
Encontra a vontade afeita |
À responsabilidade. |
|
Dirá sempre: a
culpa é minha! |
Verá que culpar alguém |
Pela falha que adivinha |
É aquilo que
não convinha: |
Doutrem ter vida refém. |
|
Era como se afirmara: |
Eu sou aquela pessoa |
Que a mim sou
tão pouco cara |
Que nem sequer controlara |
Esta minha vida
à toa. |
|
Aquele que
trepa ao cimo |
Não o remete a
ninguém, |
Nele próprio toma arrimo, |
A força lhe vem
dum imo |
Que em si lavra
o que convém. |
|
|
152 – Ninharias |
|
“Não ligues a ninharias”, |
- Se é regra
mal aplicada |
Justifica as fantasias |
Duma vida desregrada. |
|
Pode ser um bom
conselho |
Quando se aconselha alguém |
A defender seu cortelho, |
Ou a não ir
raiva além… |
|
Empregue levianamente |
Deixa de ser directriz |
Para uma vida decente, |
Que perco minha raiz. |
|
|
153 – Fábrica |
|
A fábrica na
qual todos |
A todo o tempo
laboram |
Falhará de muitos modos, |
- Porém todos
no-lo ignoram! |
|
|
A escola em que
os professores |
A tempo inteiro labutam |
Quebra em todos
os vectores. |
- Quantos cidadãos o escutam? |
|
É que importa respirar, |
Espreguiçar o lazer, |
Senão vão asfixiar |
Os sonhos todos
que houver. |
|
|
154 – Estúpida |
|
Por estúpida que fora, |
Não há ideia
para a qual |
Um professor, sem demora, |
Se não encontrara tal |
Que nela creia
na hora. |
|
Homem vulgar de
hoje em dia |
É um crédulo
medievo: |
Aquele em
ciência que cevo. |
Ambos andam por igual |
Longe do que é
racional. |
|
|
155 – Sirva |
|
A informação é
um perigo |
Quando não tem
aonde ir, |
Uma teoria de abrigo, |
Um padrão a confluir, |
Nem um projecto elevado |
A que sirva por
seu fado. |
|
Mais que informação inerte, |
Quando à solta
e sem fanal, |
Nada em nós há
que desperte, |
Pode à vida ser
fatal. |
|
|
156 – Medida |
|
A tecnologia aumenta |
A informação disponível |
E, à medida que
a acrescenta, |
Todo o controlo
é risível. |
|
Sem defesa, já ninguém |
Terá como descobrir |
Que significado tem |
Qualquer rumo que seguir |
|
E perde a capacidade |
De recordar o passado |
E aumenta a dificuldade |
Dum porvir imaginado. |
|
No caos informativo |
Não há semente
que valha, |
Não restam
húmus no arquivo |
E amanhã germina palha. |
|
|
157 – Ignorante |
|
O técnico tende
a ser |
Ignorante das questões |
Que não tenham
nada a ver |
Com suas intervenções. |
|
Contudo, ele reivindica |
Estender-se por
mais ramos, |
Morais, sociais… Implica |
Novos peritos, mais amos. |
|
Hoje em dia,
tem cuidado, |
Que dar um
passo na vida |
Requer um
técnico ao lado, |
Mesmo espirrar quer medida! |
|
|
158 – Crescendo |
|
Crescendo, a burocracia |
Produziu logo adiante |
O perito que seria |
Perito-enquanto-ignorante. |
|
Em queda o tradicional |
Laço em cada instituição, |
O vulgo perde, fatal, |
Toda a fé na
tradição. |
|
A torrente das notícias |
Impossibilita a alguém |
Escapar-lhe das sevícias, |
É um nada o que
ao fim retém. |
|
E lá vamos na
levada, |
Folhas de acaso
em torrente, |
Sem aonde ir na
jornada |
Mas sempre a
correr em frente. |
|
Menos vejo, se
mais cismo, |
Como escapar ao abismo… |
|
|
159 – Magia |
|
A magia nos dirige |
A atenção ao
lado errado, |
O espanto é o
que nela vige |
E compreender é gorado. |
|
Dos feitos maravilhosos |
Das máquinas rodeados, |
Tanto retiramos gozos |
Que, deles encorajados, |
|
Ignoramos as ideias |
Nas técnicas embutidas, |
Cegos ficamos às veias |
Que nos abrem iludidas, |
|
E depois a hemorragia |
Quem há-de
estancá-la um dia? |
|
|
160 – Máquinas |
|
A tecnocracia pende |
De nós máquinas
nos crermos |
E de confiado havermos |
Que qualquer máquina entende, |
Como nosso substituto, |
Muito melhor o produto. |
|
Desconfiamos da ideia |
E da subjectividade, |
Em tudo, verdade meia. |
Sem emoções nem
a teia |
Duma arbitrariedade, |
|
Não há mais
valor nem fé: |
Fica a técnica
de pé. |
…Sai à porta,
entra à janela, |
A fé que hoje
ponho nela! |
|
|
161 – Problemas |
|
Nossos problemas mais sérios |
Não são técnica, informática. |
Nem nenhuma questão prática, |
Seja a dos voos
sidéreos, |
Catástrofe nuclear, |
A fome a roer o
mundo, |
Desintegração do lar, |
Infantil mau trato imundo, |
O crime que aterroriza, |
A educação impotente… |
- Nada disto se enfatiza |
Por ser insuficiente |
A informação disponível. |
|
É que a ninguém
é credível |
Que as equações matemáticas, |
As moles de informação, |
Veloz comunicação, |
Resolvam as questões práticas: |
Só livres opções morais |
Destinam enquanto tais. |
|
O computador é inútil |
Ao tentar resolver isto, |
Sucata de todo fútil |
Do mundo ante
qualquer quisto. |
|
|
162 – Foros |
|
A estrutura da pergunta |
É tão sem neutralidade |
Como o tema que
lhe junta |
Foros de seriedade. |
|
Uma forma ou facilita |
Ou nos levanta barreiras: |
Um nada muda e
suscita |
Antitéticas maneiras. |
|
- Posso fumar quando rezo? |
- Não! - dirá
qualquer dos crentes, |
Que era votar
ao desprezo |
Coisas santas, entrementes. |
|
- Ao fumar, posso rezar? |
- Claro! – logo acudirão, |
Já que a oração
tem lugar |
Em qualquer ocasião. |
|
A forma duma questão |
Pode mesmo bloquear |
De encontrar a solução |
Óbvia noutro questionar. |
|
|
163 – Meio |
|
Se pergunto à multidão |
Se quer que no
meio ambiente |
Continue a poluição |
- Uma resposta é evidente. |
|
Se lhe pergunto, porém, |
Se é mesmo primordial |
Preservar como convém |
- Logo é
diverso o sinal. |
|
E bem mais
diverge ainda |
Se inquirir se
importa mais |
Que a segurança
na vinda |
Para o lar
doutros locais. |
|
Eis como ao
mesmo problema |
Diversifica a opinião |
O modo bem como
o esquema |
No qual é posta
a questão. |
|
|
164 – Ignoram |
|
As sondagens em geral |
Ignoram o que é
que sabem |
(Do problema
sobre o qual |
Interrogam) os que cabem |
No seu rol de
interrogados. |
|
Medir e classificar |
Saltam montes e valados |
Mas dá muito
que pensar. |
Setenta por cento crê |
Que devemos retirar |
A nossa ajuda à
Guiné? |
|
Contudo, se a maioria |
Disser que é um
país da América, |
No centro de
Ásia estaria, |
Ou que é terra
periférica |
Da Antárctida à
zona fria, |
E, depois, “que australianos |
Paguem pelos próprios danos”… |
|
Se, além disto,
acrescer que eles |
Nem sabiam que ajudamos |
E os mais
ignaros, imbeles, |
Ficaram de boca muda |
Quando nós lhes perguntámos |
O que é
económica ajuda… |
|
- Depois disto que será |
Do prestígio, do poder |
De quanta sondagem há |
Marcando quanto vier? |
Ante a maciça ignorância, |
Não será de ter
mais fé |
No pouco em que
tomo pé, |
Em vez de em
números crer |
Deles só pela elegância? |
|
|
165 – Gestão |
|
A gestão, tecnologia |
Subversiva e poderosa, |
Cria dela o
novo guia |
A que uma
empresa se entrosa. |
|
Aquela é que
assim o quer, |
Não foi desta a
precisão: |
É a lógica a se
inverter, |
A cauda a
abanar o cão! |
|
|
166 – Submissa |
|
A técnica compreender |
Donde vem, para
que serve, |
Torna-a
visível: vai ser, |
Sem nada que se
reserve, |
Submissa, como devia, |
À nossa soberania. |
|
|
167 – Instância |
|
Economia global |
Quer instância a decidir |
No planeta por igual. |
|
Um Estado, não,
que ouvir |
Uma só voz, afinal, |
Aquilo será trair. |
|
Interesses colectivos |
Que ultrapassam as fronteiras |
Requerem mãos e ouvidos |
À medida das asneiras: |
Direito internacional, |
Instituições com recursos |
Cuja teia o
mundo iguale, |
Soberania sujeita |
Por adequados percursos |
Às malhas que
isto lhe ajeita… |
|
Só com este contrapolo |
Nas aranhas não
me enrolo. |
|
|
168 – Acaso |
|
Acaso fora perfeito |
Este meu conhecimento, |
A interacção
que a preceito |
Tiver com qualquer evento |
|
Bem a pudera ignorar: |
Ao pensar,
pensava o facto, |
Meu agir é
pô-lo em acto, |
Meu porvir é o
que ansiar. |
|
Toda a indeterminação, |
A inexacta expectativa, |
O acaso que lhe
deriva, |
Nunca ali tivera chão. |
|
- Como inverso
é que me pinto, |
Sempre inseguro me sinto. |
|
|
169 – Contudo |
|
A realidade existe. |
Contudo, porque incorpora |
O pensar que em
mim subsiste, |
Imperfeito a
toda a hora, |
|
Devém sempre inexplicável |
E, portanto, imprevisível. |
- Não é grato
ou agradável, |
É, porém, o que
é vivível. |
|
|
170 – Derivados |
|
Toda a construção mental |
Como os actos derivados, |
De efeitos inesperados, |
Vão fazer que,
tal e qual, |
Estes sejam imprevistos |
Na altura em
que são criados. |
Sendo embora malfadados, |
Sempre antes foram benquistos. |
E ninguém prevê
tais fados. |
|
|
171 – Benefícios |
|
Nas ciências naturais |
Meus benefícios aumento |
Se primeiro for
que os mais |
A lograr conhecimento: |
Ninguém me alcança jamais. |
|
Nas ciências sociais |
Tenho a reflexividade: |
É um atalho em
que erros reais |
Afectarão de verdade |
Comportamentos vitais. |
|
Seja falsa ou verdadeira, |
Aqui qualquer teoria |
Afecta uma vida inteira: |
- É só
mesmo crer na asneira |
Nem que seja
por um dia! |
|
|
172 – Extremista |
|
O extremista de mercado |
Diz que interesse comum |
É muito mais
bem guardado |
Quando o que
for procurado |
For o próprio,
mais nenhum. |
|
A busca desenfreada |
Dum interesse egoísta |
Não prejudicava nada |
Se aquele ponto
de vista |
Nos confirmara a conquista |
Do comum, na deprecada. |
|
Ora, a individual premência |
É que, afinal, prevalece, |
A colectiva é
uma ausência |
Que em tal
contexto fenece. |
- E assim de
vez arrefece |
A pretendida evidência. |
|
|
173 – Económica |
|
A actividade económica |
É apenas uma faceta |
Da vida humana concreta, |
Da mais ínfima
à astronómica. |
|
Além dela outros aspectos |
Não podem ser ignorados: |
Da política os legados, |
Familiares afectos, |
|
Todo o individual carinho, |
Como o sagrado
e o profano… |
- Quando a tudo
isto me irmano |
Nenhum preço lhe adivinho. |
|
Quando apenas o dinheiro |
É o valor de
toda a vida |
O que irei ser
de seguida |
É moeda de
troca inteiro. |
|
|
174 – Sós |
|
Económicos valores |
Por si sós não
são pilar |
Que nos possa sustentar |
À sociedade os pendores. |
|
Eles exprimem apenas |
Que um qualquer participante |
Por livre troca garante |
Pagas de algo e
bem pequenas. |
|
Tudo o mais que
não tem preço |
É aquilo que
nos sustenta, |
O que humano a
mim me inventa |
E com que por
fim me meço. |
|
|
175 – Ângulo |
|
Dum ângulo individual |
Pouco importa ser honesto |
Para a vitória final, |
Pode até ser um
apresto. |
|
E quanto mais
se adoptar |
O sucesso por critério |
Doutrem para avaliar, |
Menos há moral
a sério. |
Com a moral ir
de acordo |
Importava colocar |
As metas comuns
que mordo |
Sempre em primeiro lugar. |
|
Bem à frente do
interesse |
Próprio, por
nobre que seja. |
Quando a liberdade aquece, |
A norma já não
viceja, |
|
Devém menos compulsiva. |
Se então a conveniência |
Se tornar a
norma viva, |
Da sociedade é
a falência. |
|
Entre público e privado, |
Sem que haja
qualquer ludíbrio, |
Por igual um e
outro lado |
Devem manter o equilíbrio. |
|
|
176 – Sucesso |
|
Se além do
próprio interesse |
Não há princípios quaisquer, |
O sucesso que acontece, |
Admirado, não esquece, |
Sem conta em
mais nada ter. |
|
O político é estimado |
Por conseguir ser eleito, |
Não pelo ideal clamado, |
Pelo princípio trilhado |
Que bem ao povo
haja feito. |
|
Os homens da economia |
Serão tidos em apreço |
Pela riqueza vazia. |
Da probidade a magia |
Aqui não encontra acesso. |
|
O que está
certo é sujeito |
A quanto for eficaz, |
O êxito,
portanto, é atreito |
A não lidar
mais de jeito |
Com o correcto
e veraz. |
|
Mora aqui grave perigo |
Em qualquer comunidade: |
Fica sem nenhum abrigo |
Contra o fim do
que persigo, |
- É o fim da
estabilidade. |
|
|
177 – Benefício |
|
O benefício inerente |
Ao dinheiro é
do dispêndio: |
Apenas meio eficiente |
De o fim lograr
do estipêndio. |
Só num aspecto
o dinheiro |
É meta fundamental: |
Quando o que
visar primeiro |
For acumular riqueza. |
|
Mas de que
serve afinal |
Se ela me não
serve à mesa? |
|
|
178 – Serviço |
|
Se um serviço é
de servir |
Por que é que
tão raramente |
O faz, e se
adrega de ir, |
Irá relutantemente? |
|
O empregado do sistema, |
Imune ao inconveniente |
Que parece ter
por lema, |
Nenhum escrúpulo sente. |
|
A forma então
de sacar |
Serviço em
casos que tais |
É da força que
empregar |
A arredar tais animais! |
|
|
179 – Viabilizam |
|
As leis e os
regulamentos |
Viabilizam viver, |
Mas são em
muitos momentos |
Pretexto de não fazer. |
Chega então
deles o fito |
A ser corpo de
delito. |
|
- Que forte a burocracia |
Que faz noite
todo o dia! |
|
|
180 – Criatividade |
|
Mato a criatividade |
Um aluno ao induzir |
À resposta que
ele vir |
Que ao professor persuade. |
|
A verdade não agrada |
Mas tem força coerciva: |
- Uma resposta esperada |
Não pode ser criativa! |
|
|
181 – Parte |
|
Duma parte dum sistema, |
Sem lhe ver a
interacção, |
Compreender um problema, |
É querer que
minha mão, |
Do resto do
corpo aparte, |
Cumpra igual
com sua parte. |
|
E, quando isto
é educação, |
O diplomado tem arte |
Para qualquer solução? |
|
Um estudante não sabe, |
O diplomado, também! |
Saber que não
sabe, bem, |
A este, porém,
não cabe, |
Antes tão inchado vem |
Que naturalmente advém |
Que a cegueira
não lhe acabe! |
|
Avança com a parcela |
Que toma em
lugar do todo |
E, quando
estala a procela |
Que sempre, de
qualquer modo, |
Lhe há-de
entrar pela janela, |
Aqui d’el-rei!
Que é de mim?! |
O mundo chegou
ao fim! |
|
|
182 – Bastante |
|
Aprendo bastante mais |
Com minha própria experiência |
Do que aprenderei jamais |
Com o saber e a
ciência, |
Embora muito eminentes, |
De pessoas experientes. |
|
|
183 – Julgados |
|
Todos devem ser julgados |
Pelo seu próprio valor, |
Não dos modos
por traslados, |
Pela aparência
ao se expor, |
Por quenquer
que se conhece, |
Com quem se dá
ou se esquece… |
|
Mas estes são
os critérios |
Com que em
comum nos julgamos. |
Findamos com os mistérios |
E ao fim só nos
enganamos. |
|
|
184 – Magia |
|
Eu levo a magia
a sério |
Como fonte eficiente |
Num mundo que é
mais mistério |
Do que a
ciência consente. |
|
Palavra, gesto ou imagem |
Podem ser mais poderosos |
Que do
argumento a engrenagem |
A medir freimas
e gozos. |
|
Cerimónia ou ritual |
À comunidade humana |
Mais benefício real |
Podem trazer
que o que emana |
|
Duma máquina qualquer, |
Dum técnico inovamento… |
Um imaginário ter |
Rico e fundo é
o elemento |
|
Que devém mais desejável |
Do que ser bem
informado, |
Até do que ser
saudável |
Ou político versado. |
|
É que só com
fantasia |
A vida que vale
a pena |
Se encherá de poesia. |
- E só então
não é pequena! |
|
|
185 – Oceanos |
|
Os oceanos mais
às almas |
Do que aos
corpos oferecem, |
Neles o espírito acalmas, |
Desde então já
não te esquecem: |
Por aqui a ecologia |
Talvez os salve
algum dia. |
|
|
186 – Árvores |
|
Árvores rudimentar |
Lição sobre o encantamento |
Podem-nos sempre ofertar. |
Que importa nos agarrar, |
De ansiedade e enervamento, |
|
A nós próprios,
ao desejo, |
À vontade que decide? |
Árvores dão-me
um ensejo |
De confiar no
que vejo |
E que em redor
me convide. |
|
Contam-me o que
dá prazer, |
Dão-me tantos benefícios |
Que não há
razão qualquer |
Para ali me não
render |
Delas sempre
aos bons auspícios. |
|
Podemos sentar no galho, |
Recostar no tronco forte, |
Dos frutos
comer o orvalho, |
À sombra talhar
meu soalho, |
Dançar com o
vento à sorte… |
|
Qualquer árvore lições |
Poderá dar-me infinitas |
E alegrias, emoções, |
Inefáveis borbotões |
De bênçãos as
mais benditas. |
|
|
187 – Plantarei |
|
“Plantarei árvores novas” |
- Dirão eles em defesa. |
Como se matar crianças |
As retirasse das covas |
Quando de gerar
se preza |
Outras, a
trocar de tranças |
Nas famílias enlutadas, |
O das selvas arrancadas. |
|
Quando a planta
não é filha, |
O predador nada sente, |
Esbate-se a maravilha, |
Morre-lhe à mão
toda a gente. |
|
|
188 – Significativo |
|
Labor significativo |
Quer dizer muito dinheiro. |
Se me quiser
manter vivo |
Hei-de ir por
outro carreiro. |
|
Vou satisfazer minha alma, |
Não pelos
canais da mente, |
Mas daquilo que
me acalma: |
Usar minha mão
que sente. |
|
Se minha mão abolir, |
Serei o trabalhador |
De engrenagem
dente, a ir |
Duma máquina ao sabor. |
|
Serei a peça jogada, |
O jogo jamais
quem joga. |
De alma então amaldiçoada, |
Quem a besta
prende à soga? |