Escolha um número aleatório entre
264 e 331 inclusive.
Descubra o poema correspondente
como uma mensagem particular para o seu dia de hoje.
264 – Ato irregular os traços |
|
Ato irregular os traços |
De união entre quenquer, |
A Humanidade que houver |
Ou do mundo os
embaraços. |
|
Quer |
Os laços |
Nos configurem os braços, |
Quer a
fronteira que o mundo impuser. |
|
No verso quebrado |
Dou-me conta do
traslado |
Da surpresa inatendida. |
|
Desencontrado, |
Encontro-me, afinal, configurado |
Por quantos
prós e contras são minha medida. |
|
|
265 – Ruínas |
|
A presença de ruínas |
Faz mais por
uma comunidade |
Do que muita novidade. |
Quando nelas te fascinas, |
És a criança |
Que adora por
lá brincar |
Mil sonhos, na
magia do lugar, |
És o turista |
Que ali alcança |
Lavar a vista, |
Trocar de pista |
De dança |
Diante do mundo
em que se alista, |
Em que invista, |
Mas que
porventura o cansa. |
|
As ruínas são o
vazio |
Da função e das
gentes de antanho |
Onde as águas
que te curam o fastio |
Se acumulam
para teu ganho: |
Preenche-lo de
espanto e fantasia, |
Evocando o passado |
Que por ti
revive neste dia |
Magicamente acordado. |
|
As ruínas são o
encanto de que pasmas. |
Quando as saboreias, |
Acreditas, sem peias, |
Nos fantasmas. |
|
Desces às matrizes: |
Em lugar de ter
ideias, |
Mergulhas nas raízes. |
|
Mais do que nas
que houver ali: |
- Nas que tens
dentro de ti. |
|
266 – Ciúme |
|
O indivíduo competente |
E autoconfiante |
Vive invariavelmente |
Do ciúme distante. |
|
Qualquer ciúme é sintoma, |
Como a postura despótica, |
Da insegurança neurótica |
De quem mora na
redoma. |
|
Quem é competente |
Primeiro confia nele |
E, depois, de
toda a gente |
Acaba fiando a pele. |
|
- Será quem, descontraído, |
Finda ao mundo
a dar sentido. |
|
|
267 – Rápido |
|
Há casamentos |
A falhar a toda
a hora |
E todos lhes
escapam aos tormentos |
Sem demora. |
|
Se tão rápido
os não ignoraram, |
Talvez |
Os casamentos não murcharam |
Tanta vez: |
|
A dor, |
Quando apunhala o coração, |
Desafia a
apurar o amor |
Com engenho e criação. |
|
Então, |
Para que um
amor reviva, |
A falha maior |
É a da imaginação |
Criativa: |
Ela é que tem
de renovar a fogueira |
Mal o frio se
abeira. |
|
|
268 – Chama |
|
A chama |
É despoletada
pela faísca inicial |
De quem ama. |
|
Cuidado, para que vingue: |
O principal |
É reparar que a
chama se extingue. |
|
A todo o momento |
O pacto |
Terá de ir,
para além do sentimento, |
Ao acto de que,
de facto, |
O alimento. |
|
Apenas deste modo, |
Por fim, |
Não perderei o denodo, |
- Não me
perderei de mim. |
|
|
269 – Ritmo |
|
Ignoras ainda o amor… |
Pouco depois |
Dele sofrerás a dor, |
Pois |
É o único modelo |
De aprenderes a
conhecê-lo. |
|
Então, |
A pouco e pouco |
Encontrarás do coração |
O ritmo louco. |
|
E terás mão |
Em ti |
Ou não: |
Desafiar-te-á
doravante o frenesi. |
|
Não escaparás: |
Ou te constróis, |
Ou te destróis, |
- Perdeste definitivamente a paz! |
|
|
270 – Libertino |
|
Libertino |
Que deseja uma virgindade |
Nem repara, cretino, |
Na eterna
homenagem que assim há-de |
Propor, |
Implícita na indecência: |
- O amor |
À inocência. |
|
|
271 – Hóspedes |
|
Os hóspedes divinos |
Que murmuram
nas águas, nas folhas e no vento |
Só visitam os
corações ladinos |
Que se foram
purificando, elemento a elemento. |
|
No íntimo solitários, |
Por dentro
deles mergulhados bem no fundo, |
São quem vive
consigo, afinal, solidários |
Os mistérios do mundo. |
|
|
272 – Namorada |
|
É a vida uma
namorada: |
Imaginamo-la e,
só de imaginá-la, |
Amamo-la, fada |
Vestida de gala |
Pela fantasia. |
|
Vivê-la? Nem é
preciso tentar! |
Como um garoto
atraído pela magia, |
Também |
À vida te
hás-de, impenitente, |
Lançar. |
|
Não, não é de
repente |
Que o sonho
irás degradando aqui, além, |
Paulatinamente… |
|
Dez anos depois, |
Nem o reconhecerás. |
Renega-lo,
vives em paz, |
Como os bois |
Que as ervas
pastam do presente |
Donde todo o
amanhã murchou ausente. |
|
Quando te
casares com a morte |
Como é que a
imortalidade |
Há-de vir-te da
bondade |
Da consorte? |
|
|
273 – Sozinha |
|
Viverás sozinha, viverás. |
A mulher vive
sempre só, |
Por mais capaz |
Que seja o
homem que ela erguer do pó. |
|
Por mais que
vivas com ele, |
- É a tua dita
e desdita – |
Ficarás sozinha |
Por dentro de
tua pele. |
E ninguém (acredita) |
Fora de ti o
adivinha. |
|
|
274 – Demora |
|
Se não entender agora |
Vai compreender amanhã: |
A criança demora |
Mas não é nunca
terra vã. |
|
Quanto ouve ou vê |
Será semente: |
Logo cresce, cresce até |
Que dá fruto
mais à frente. |
|
É da casta |
De mais que tu
aprender, |
Mais que quenquer: |
- Apreende tudo e basta! |
|
|
275 – Adormece |
|
Quando uma criança adormece |
Em teus braços, |
Logo o mundo te
parece |
Um recanto de paz |
E de abraços. |
|
O que um sono
faz! |
Dele nos rastros |
Pendura de
certeza os astros. |
|
|
276 – Atarefado |
|
Serás pai atarefado demais |
À espera dum filho |
Que aporte em
teu cais, |
A prender-te ao
atilho |
Que te salve,
dia a dia, |
Da sovinice |
Da melancolia |
E da velhice. |
Um filho que te
perca de vez |
Da maldita
grandeza em que crês. |
Que te liberte
para a infância |
Da infinita distância! |
|
|
277 – Torrente |
|
O melhor da
raça humana |
É a criança, |
Torrente inesgotável donde mana |
Amor, alegria de viver, |
Deslumbramento, confiança… |
Contemplam o
mundo no espanto de ser, |
Cheias de frescura. |
Do adulto
experiente sem o preconceito, |
A tacanhez, a usura, |
A
insensibilidade nem o despeito. |
|
Já todos o fomos, |
Todos
gostaríamos de o voltar a ser… |
- Que é que no
meio entrepomos |
Para a redenção
da Humanidade se perder? |
|
|
278 – Discípulos |
|
Um mestre aos
discípulos prejudica |
Se permanente
deles ao lado ficar. |
Homens preparar implica |
Que ele os
há-de abandonar, |
Ou, dele apenas
as pegadas |
Limitados a seguir, |
Próprio não terão devir, |
Doutrem sempre em caminhadas |
Andarão a progredir. |
E deles nunca
mais terão estradas. |
|
Um jardim não
crescerá deveras |
Duma grande
árvore se debaixo o dispuseras. |
|
|
279 – Incurável |
|
O tempo cura e
supera |
O incurável que
nos desespera. |
|
Ou porque a
vítima sobrevive |
Ou porque pelo
mundo fora |
A aventura de
novo cative |
Quem por ele
além ainda se demora. |
|
Como estar, porém, presente |
A quem precisar
de nós? |
Às vezes é sem
palavras |
Que atamos
laços e nós: |
Num abraço pertinente |
A quem teu
regaço abras, |
Num toque gentil, |
Naquele ombro onde chorar, |
Num coração entre mil |
Que se mantém solidário, |
Fiel, a par, |
Num ouvido atento… |
|
- Embora solitário, |
De algum destes
nadas por fim vai soprar o vento. |
|
|
280 – Trocando |
|
Outrora podias
buscar a solidão |
Na selva, no
mato, no bosque, na pradaria… |
Perseguido, o senão |
É que terias de
mudar de fantasia, |
Trocando teu chão. |
Hoje, não. |
Hoje tens de
jogar com os mais. |
Depois |
Pode ser que de
ti já nem haja sinais, |
Dividido como
estás sempre por dois. |
|
|
281 – Duro |
|
Em vez do
trabalho duro |
Para vencer, tens trabalho |
Duro para te casares |
Com a filha do
patrão. |
Teu apuro |
Ata o negalho: |
Vences para te vingares |
Do custo da decisão. |
|
O melhor ficou
lá fora, |
Coisa de menos valor |
(Ai como a vida
demora!): |
- Que é que vós
fazeis do amor? |
|
|
282 – Represada |
|
Sexo, amor… |
Como água
represada os sentirás, |
A pressão cada
vez maior, |
A obrigar a
lançar-te atrás |
Dos pequenos
canais que encontra, |
Da ridícula abertura, |
Duma refechada
e bela montra, |
Tudo arrastando contra |
A tortura, |
E apagarás
terras, sóis, estrelas… |
|
- Para no fim acabar |
Num magro gotejar |
Incapaz de quaisquer sequelas, |
Nem um seixo
há-de mover. |
|
Dás contigo a matutar |
Como é que um
fio de gotas |
Sem vigor, a esmorecer, |
Pôde a força
ter que anotas… |
|
Princípio primeiro e eterno, |
Em meio a teu
tormento |
Não aniquilas o firmamento, |
- Sofreste-lhe o governo. |
|
|
283 – Apreensão |
|
A apreensão,
eis a chave do domínio. |
Avalias qual o
grau dela num homem, |
Predizes, infalível, incline-o |
Ela mais ou
menos, onde somem |
As fronteiras
de nele confiar. |
|
Induze-la após artificialmente: |
Ela existe a
partir dum limiar, |
Basta o
estímulo, ei-la presente! |
|
Depois é só
dobar o rolo: |
Maior a
apreensão, maior o controlo. |
|
Humana condição |
De organizar, |
Quão mais
perfeita a organização, |
Mais nos acaba
a desumanizar. |
|
Ligar de mão na
mão |
Não seria melhor alternativa |
Para que no
Homem o coração |
Viva? |
|
No percurso |
Então aquela ficaria |
|
De recurso |
|
Teime em ficar
do Homem ausente. |
|
A questão |
É se é regra ou
excepção… |
|
|
284 – Espacial |
|
De fibra no teu
fato espacial, |
Com a mais
avançada técnica industrial |
De vácuo quase absoluto, |
Tecnologia de
ponta no produto |
Que te envolve
de raiz, |
Tu, teu dia
inteiro, tua vida, |
Tudo imerso na
magia envolvida, |
- E tu nem
sequer és feliz! |
|
Porque não podes sair |
Da espacial
fibra do fato |
Fabricado, |
Esterilizado, |
Para qualquer
uso do porvir |
Em acto, |
Porque não és conhecido, |
Porque não conheces |
- Porque não
podes tocar, como é devido, |
Qualquer outro ser humano. |
|
E arrefeces,
cada vez mais arrefeces, |
De desengano em desengano… |
|
|
285 – Catre |
|
É curioso como
só descobres |
Até que ponto
estás apaixonado |
Quando no catre
da prisão |
Te cobres |
De solidão, |
Após as grades
se haverem fechado |
Sobre ti! |
|
Depois, |
Não terás alibi |
|
Quando, à luz
dos sóis, |
A Primavera em
ti cantar. |
|
Terás de
recordar, terás de recordar! |
Ou arriscas-te
a que outros arrebóis |
Por tuas mãos
se irão de vez apagar. |
|
|
286 – Más |
|
As coisas más |
Nunca são tão
más assim, |
Verás, |
Basta poderes
convidar, ao fim, |
Alguém que
conheces, de quem gostes, |
A partilhá-las contigo. |
Em regra, por
melhor que apostes, |
Não lograrás colher abrigo, |
Que ocupados os
mais andarão demasiado |
A sofrer por
seu lado |
E a tentar
tocar-te às janelas |
Para com eles
ires sofrê-las, |
Às dores que os
consomem. |
|
Quando viável, é consolador |
Ver o mundo
inteiro desfilar perante um homem |
|
Sem mesmo sequer supor |
Aquela retirada clandestina. |
|
Resta que é
duro para um amigo qualquer, |
Quando me embosco: |
- É detestável
vê-lo sofrer, |
Mesmo connosco. |
|
|
287 – Sociedade |
|
A sociedade |
Busca evitar românticos amores. |
Quando o não
pode, persuade |
A destruí-los. |
|
Nos maridos,
tantos são os terrores |
A persegui-los, |
Não vá uma
esposa traí-los, |
Ainda mais por amor |
Que não serve
para comprar nada, |
- Que o fervor |
É de cruzada! |
|
Nas mulheres |
Financeiramente bem casadas, |
Que por troca
dos haveres |
Foram elegantemente compradas, |
Enganadas, |
É o ódio supremo: |
Deram a confiança |
A sacrificá-lo, |
Ao amor, para
em troca terem segurança. |
O seu demo |
É o abalo |
De tanto se detestarem |
Que não
suportam os que ao invés se amarem. |
|
Se um amor pode
ser feliz |
Elas e os
maridos viveram em vão. |
Aventuras de adolescente cariz, |
Nos anos da ilusão, |
Talvez. |
Após a idade da
tolice |
Mataram
qualquer sonho que surdisse |
De vez. |
|
Então |
Odeiam |
Do fundo do coração |
O fogo sagrado
que os demais ateiam. |
|
|
288 – Admitiste |
|
Todo o mal principiou |
Quando
admitiste que a amavas. |
Quando na trela pegou, |
Segura do que
lhe davas, |
Pôde vir a
forjar tudo |
O que de ti
pretender: |
Serás sempre
rei do entrudo |
Que ela quiser. |
|
Homem livre já
não és |
E toda a força
bravia, |
Poder e orgulho
que havia, |
Tombou de vez a
teus pés. |
|
Todo o mal principiou |
Por apenas tu voares |
E por nunca reparares |
Se ela também
soltava o voo. |
|
Se apenas tu
pela altura |
Planas, |
Ufano, |
E ela no chão
pela espia te segura, |
É fatal que um
dia te danas |
E caro pagarás
por teu engano. |
|
|
289 – Pomo |
|
Perdoar a quem amamos, |
|
Se, por mais
que sejamos servos destes amos, |
Adoramos |
O veneno do pomo |
Com que nos vitima? |
E tem sempre razão, |
Ainda por cima! |
|
Não, |
Não temos de perdoar |
A quem amamos. |
Perdoamos |
A quem se não
amar. |
|
Se a própria ferida |
Com que o amor
nos visita |
É bendita, |
Como é que a
absolvição é requerida? |
|
|
290 – Fim |
|
Dizes que o
amor é o fim. |
Mas o amor não
é o fim. |
|
Ninguém diz
para onde ir depois. |
Ainda se pudesses parar, |
Pararem os dois, |
Se pudessem
deixar de criar |
Depois… |
|
Uma criatura humana, porém, |
Onde há capaz
de parar? |
De deixar de criar |
Também?… |
Onde, sem
deixar de ser alguém? |
|
O amor não é o
fim, |
É bom que te
avises! |
Contigo condizes |
Assim. |
|
|
291 – Ilusão |
|
Se fores capaz
de conservar uma ilusão |
Ainda serás
capaz de amar. |
De seres
honesto o senão |
É que toda a
ilusão te irá matar. |
|
Pelo seguro, |
Repara além do muro |
Com o olhar do
coração. |
|
- E solta as
asas para voar! |
|
|
292 – Realidade |
|
Com realidade
ou sem realidade, |
Se podes manter
uma ilusão, |
Podes amar. |
Se manténs uma verdade, |
Então |
Amas, amas com
o coração |
A pesquisar… |
|
Do vento |
As vozes |
Afirmam que o casamento |
É o quebra-nozes |
Da ilusão. |
|
Será ou não,
será ou não… |
|
A magia |
Que entrevi |
É que o real
por trás da fantasia |
É o amor de si: |
Tão estranho
que, para ser fecundo, |
Dá a volta ao
outro, dá a volta ao Mundo |
Até chegar a ti! |
|
O amor é um
sideral abraço |
Do tamanho do
cósmico espaço |
E sois isto, depois, |
Apenas vós os dois! |
|
|
293 – Ou |
|
O amor ou morre
de fome |
E numa sombra devém |
Que lenta se consome |
Pelo tempo além |
|
Ou jovem morre
e permanece |
|
Onde no jardim
nunca esquece |
A semente que disponho. |
|
Amor que se não
consuma |
Fica para a eternidade, |
Intacta pluma |
Feita de imponderabilidade. |
|
No imaginário |
É que atino |
Com o Santo Sudário |
Divino. |
|
|
294 – Trivial |
|
Tristeza fundamental |
Da vida |
É a de ser tão
trivial |
Que inteira
leva a mudar |
A exacta medida |
De às coisas me
afeiçoar: |
Dá o tempo
apenas bastante |
De se apaixonar quenquer |
Pelo que logo adiante |
Tem de perder. |
|
|
295 – Condição |
|
A felicidade |
Do espírito é
uma condição |
E não |
Das circunstâncias produto: |
- É da intimidade |
Um fruto. |
|
|
296 – Lar |
|
Um lar, |
Árvore que somos nós |
De raízes na
pátria a mergulhar, |
Com o tronco
emalhado de cipós |
A crescerem o
mais que formos capazes, |
Um lar, |
No que faço, no
que fazes, |
Serão
vergônteas de afazeres e alegrias |
Nas copas onde
chilreiam os dias. |
|
As frutas são
as contas que prestamos |
De benesses ou castigos |
Após quanto cultivamos |
Pelos ramos |
Onde penduramos os abrigos. |
|
|
297 – Descuida |
|
Como o homem
descuida os amigos |
Enquanto vivem na terra! |
Como a
consciência o aguilhoa nos abrigos |
Entre os perigos |
De quanto o aterra! |
|
Os amigos
apenas não lhe esquecem |
Quando desaparecem.. |
|
Então, |
No vazio, |
É tarde demais |
|
O desafio |
Dos sinais |
E a solidariedade, |
Timbre distintivo da amizade. |
|
Dos amigos a ausência |
Marca a
fronteira final entre a razão |
E a frígida imensidão |
Da demência |
Que nos acua, |
Fingida, |
À esquina de
cada rua |
Da vida. |
|
|
298 – Atilhos |
|
Os sinais |
Por onde vais |
Ora são |
Continuidade |
Ora são contradição |
Dos atilhos: |
A avareza dos pais |
Prepara a prodigalidade |
Dos filhos. |
Vão-se manter |
Avaros |
Apenas os que
não terão reparos |
A fazer. |
|
|
299 – Mãe |
|
Há quem diga
que uma mãe |
É apenas uma operária |
Não especializada… |
- Há quem |
Na lida diária, |
Não veja como
não custa nada |
Dar banho a uma
criança |
Contorcionista que dança! |
|
Há quem diga
que se sabe |
Como ser mãe
por instinto… |
- Não lhe cabe |
Aguentar o cinto |
Duma criança de
três anos |
Levada às
compras: aos enganos! |
|
Há quem diga
que mãe boa |
Jamais grita
com os filhos… |
- Nunca viu um
filho, à toa, |
Atirar a bola
dos sarilhos |
À janela de adivinho |
Dum vizinho. |
|
Há quem diga
que a mãe pode |
Nos livros sempre encontrar |
Resposta que
não lhe acode, |
Qualquer filho ao educar… |
- Nunca viu um
filho, por um triz, |
Enfiar feijões no nariz. |
|
Há quem diga
que uma mãe |
Dela sempre
adora os filhos… |
- É de quem |
Uma cólica
nunca teve de acalmar |
Do alvor antes
dos brilhos, |
O bebé pondo a
mamar. |
|
Há quem diga
que uma mãe |
Logra fazer o trabalho |
De olhos
fechados tão bem |
|
- Há muito quem
não tentou |
Bolinhos de chocolate |
Distribuir, de
fada em voo, |
À brigada que
se abate |
De monstros vociferantes |
A arrasar tudo
em instantes. |
O difícil há
quem liga |
De ser mãe à
dor de parto… |
- Não se obriga |
Ao dia tenso, farto |
De ânsia: |
O primeiro do
jardim de infância. |
|
Há quem diga:
tua mãe |
Vê só que a
adoras, não convém |
Aborrecê-la afirmando-o… |
- Desde quando?! |
Há tanto quem |
Não seja mãe! |
|
|
300 – Adolescente |
|
Adolescente |
É querer-se independente, |
A gerir a vida
dele |
Por dentro da
própria pele. |
|
Porém, requer |
Alguém de quem
dependa afectivamente |
E que o oriente. |
E uma autoridade qualquer |
Que sobre ele impenda, |
|
E o defenda. |
|
Uma autoridade assim, |
Tal que o
assegure e o desperte |
Até ao fim. |
|
Adolescente é a ilusão |
De viver no
meio termo |
Entre a multidão |
E o ermo. |
|
|
301 – Calcanhar |
|
O amigo que te
levar |
Ao que é prejudicial |
Não é amigo, é
um calcanhar |
A pisar, a pisar |
O que em ti é
inicial. |
|
Nem te demonstra amizade |
O amigo quando
ele for |
Cúmplice
daquilo que há-de |
Em ti se te
contrapor |
Ao que é tua
identidade. |
|
Não abras a tua
porta |
Ao amigo disfarçado |
Quando somente lhe importa |
Pôr seu pé na
tua horta, |
Que apenas é um
mascarado. |
|
Põe-te ao abrigo |
Deste que então
mais não é, |
Ao explorar-te
a boa-fé, |
Que, afinal, teu inimigo. |
|
|
302 – Demais |
|
Proteger demais os filhos |
É seguir por
maus caminhos. |
Há que ir
soltando os cadilhos |
Da liberdade adivinhos |
Vigiada |
Cada vez mais à
distância.. |
Ou nunca mais
há largada |
Do cais seguro
da infância. |
|
Os jovens
hão-de aprender |
À própria custa
se os riscos |
Forem sendo controlados. |
Breve se irão defender |
Dos viscos |
Que à pele
teimam colados. |
|
É, porém, tão negativo |
O pai superprotector |
|
Em demitir-se
do amor |
Jogando, por veleidades, |
As responsabilidades. |
|
Este quer jogar
à sorte |
O que outro
quer ter à mão. |
Aos dois os
aguarda a morte |
No desvão. |
|
|
303 – Controlar |
|
Descobrimos uma
e outra solução |
|
O coração. |
|
No fim nada presta. |
E, dele perante
o império, |
Só nos resta |
Honrar- |
-Lhe o mistério. |
|
|
304 – Coração |
|
O coração |
É a via: |
Relação, |
Emoção, |
Paixão |
Nos húmus da fantasia. |
|
E um grito. |
E um delito |
Bendito. |
|
E tudo é religião |
A arrotear infinito |
No chão |
Da alegria. |
|
E tudo é poesia, |
Do cantochão à magia |
Da incarnação: |
Deus se plantaria |
Torrão a torrão, |
Dia a dia… |
|
- O coração |
É a via! |
|
|
305 – Arena |
|
A educação é
uma arena |
Em que diariamente |
Se encena |
Fuga de preservação, |
Recusa por honestidade, |
Enquanto a mente |
Pressente |
Da virtual lição |
A luminosidade. |
|
Jogo do gato e
do rato, |
Cada dia mais
me enredo |
No medo |
Quanto mais o
meu dia desempato. |
|
Aluno, Professor, |
Qual é o gatuno, |
Quem mais morre
de temor? |
|
- Entre a
entrega e a fuga |
É o Homem que
lento madruga, |
Enquanto, por
entre as malhas da contradição, |
Hesitantes
vamos dando a mão. |
|
|
306 – Atar-lhes |
|
O prazer da intimidade, |
O prazer da solidão… |
- A felicidade |
Vem de
atar-lhes a união. |
|
Um mais que
outro pese embora, |
É questão de ponderar |
Que espessura
em cada hora |
Cada guita deve atar |
No nó com que
entrelaçar |
O equilíbrio que elabora. |
|
Da tensão brota
em geral |
A resposta original: |
Fico unido e separado |
Em instável equilíbrio, |
Em tudo e por
todo o lado. |
- E nisto não
há ludíbrio. |
|
A melhor ponderação |
É cada qual proteger |
Dentro do outro
a solidão |
Quão mais íntimo viver. |
|
|
307 – Conflitos |
|
Em questões do coração |
Resta apenas permitir, |
|
Que venham a surgir |
Mágicas energias e factores |
Que resolvam os conflitos, |
A incongruência, a contradição, |
Enquanto aos renovados amores |
Traremos, aflitos, |
A esperança e o
desejo, |
Porventura dos
limites já contritos |
Do que nunca
vês nem nunca vejo. |
|
Em questões do coração |
É sempre doutro
mundo a lição. |
|
A razão, envergonhada, |
Fica humilde na
berma da estrada. |
|
|
308 – Discute |
|
Um casal feliz |
Discute hora a hora, |
Por um triz |
Não se devora! |
|
Casal que não
discuta, aflito, |
É um |
|
As divergências
não são problema: |
O casal aguenta
ou não aguenta |
Conforme o modo
como as enfrenta |
Por sistema. |
|
Se for para magoar, |
Adeus então, lar! |
|
Se for para
encontrar o trilho |
Comum, |
Cada vez mais a
broa de milho |
Serão dois somados num. |
|
|
309 – Conflito |
|
Qualquer conflito |
Matrimonial |
Requer este quesito |
Fundamental: |
- Cada qual |
Reconhecer a própria responsabilidade |
No problema. |
|
Ninguém progredir há-de |
Sem esta porta
da verdade |
Tomar por lema. |
|
|
310 – Primeiro |
|
Primeiro cultivavam |
E comiam, |
Cosiam |
O que envergavam, |
Partilhavam |
Aquilo de que
em comum viviam… |
|
Ainda não viera
o privilégio |
E a classe, |
A santificar o
tédio régio, |
A inércia, face |
À cor do
sangue, ao laço de família. |
|
Que pasmoso capricho |
Rebaixa do
trabalhador a vigília |
Alteando os
ociosos do altar ao nicho, |
Mercê que lhes alcança |
Meramente uma herança! |
|
|
311 – Dias |
|
Não me faltam
dias lentos e compridos. |
Saudades |
Tenho é do
tempo de Verão, |
Da ilusão |
De que o Sol
parou em tempos idos |
E o futuro, no
Hades. |
|
Nas tardes de Verão, |
Por magia, |
Então |
Ninguém envelhecia. |
|
Nem as crianças
cuidavam em ser |
Adultas, |
Nem os adultos
se perdiam em estultas |
Preocupações de envelhecer. |
|
Precisas de
longas férias escolares |
Para à terra os
filhos atares, |
A evitar que
escapem com ânsia |
Depressa demais da infância. |
Com tempo bastante, |
Pode ser que talvez |
Perdurem entre
os felizes que por diante |
Transportam
Verão até à adultez. |
|
|
312 – Solidão |
|
Que será uma solidão? |
Ausência de companhia, |
Abandono partilhado? |
Negar a mão |
Que se erguia |
Ao lado? |
Ver o chão |
Negado |
Onde, dia a dia, |
Cada sonho, após murchado, |
Renascia? |
|
- Chaga do flanco |
Donde a semente |
Arranco |
De ir em frente, |
Sentado neste meu banco |
Nem sequer
serei mais gente! |
|
|
313 – Grangeia |
|
Ensina-os a
evitar sarilhos, |
Sobretudo, |
A atar solidários cadilhos |
Quando embora fiques mudo, |
Grangeia teus milhos |
Do miúdo ao
mais graúdo: |
|
- Educar os filhos |
Não é nunca
dar-lhes tudo. |
|
|
314 – Má |
|
Quando a criança fizer |
Uma coisa má, |
Jamais que ela
é má lhe vá dizer, |
Distinga desde já |
Entre ela e o
que faz: |
Diga-lhe que
mau é um acto qualquer. |
A ela deixe-a
em paz |
Com a certeza
de ser amada |
Seja lá qual
for o desvio da estrada. |
|
|
315 – Críticas |
|
As críticas de
hoje à cultura: |
A família a
desmoronar-se, |
O casamento que
não apura |
Nem dura, |
A amizade entre
vizinhos que é um disfarce |
E vem sendo postergada, |
A natureza que
vem sendo devastada… |
|
Não logramos
manter-nos unidos: |
Problema de amor, |
De vínculos perdidos… |
Se deliberáramos propor |
Um mundo encantado, |
Para a
intimidade em união |
Andaria cada
qual mais motivado. |
|
Recuperaríamos da criança |
A ilusão |
Que neste frio descampado |
Nunca mais ninguém alcança. |
|
|
316 – Trocámos |
|
Trocámos de
corpos, de vida, |
De cabeça e de
alma: |
Tornámo-nos um
só e sem medida. |
Se, porém, tudo
isto nos acalma, |
É o delito |
Que mais tarde
ou mais cedo nos separa: |
Ninguém repara |
Que para além
há o infinito. |
|
Cada qual dele
era a janela aberta |
Para o outro: e
afinal ficou deserta! |
|
|
317 – Bengala |
|
A bengala dá um
apoio |
E a melhor que
sempre temos |
Foi aquela que elegemos, |
Separando trigo e joio, |
Exclusiva de tal fim. |
|
Não assim |
Com as pessoas
que amámos, |
Com quem nos relacionámos, |
E um dia
atingiram o confim |
Em que as
linhas cortámos. |
|
Como é que não
gela de fria |
A casa vazia |
Onde, na relação |
Que perdeu a fantasia, |
O coração |
Esfria? |
|
E, quando a
bengala se dispensou, |
|
Que ficou |
De quem definitivamente partiu? |
|
Como é que a
solidão |
Se enche de pão? |
|
|
318 – Casal |
|
O casal humano |
Eram duas árvores, primeiro. |
Veio a cobra e,
por engano, |
Roeu-lhes as raízes. |
|
Então, pioneiro, |
O par |
Adquiriu novos matizes: |
- Desatou a andar! |
|
|
319 – Muro |
|
Quando é que
uma comunidade se avalia |
Pela felicidade das crianças |
E não pelo muro
que não contraporia |
Ao fluir de
mecânicos inventos |
Aos centos |
Com que a
alegria nunca entranças? |
|
|
320 – Brota |
|
O encantamento
brota de penetrar |
Tão fundo no
que estamos a operar |
|
Que a
interioridade abismal nos comove o coração |
E, fecunda,
desperta a imaginação. |
|
Nos abrigos da
vida, o afecto |
Constrói-nos
então o tecto. |
|
|
321 – Ecológica |
|
Vida ecológica é tratar |
Casa,
comunidade e natureza como lar. |
|
É a intimidaded
e cada relacionamento |
Que gera o
bem-estar dum evento. |
|
Ecologia é uma
atitude erótica: |
Dá proximidade, |
União e cuidado
na realidade |
Caótica. |
|
Transformando-a
em projecto racional-activista |
O cerne dela
perdemo-lo de vista. |
|
Ecologia |
É comungar com fantasia: |
Sem comunhão |
Perde a razão, |
Sem fantasia |
Perde qualquer
alma no que a animaria. |
|
|
322 – Fomenta |
|
Conhecer fomenta o amor, |
O amor, o
desejo de saber. |
Um bom cientista, |
O amor da
natireza há-de conhecer |
|
Um bom ambientalista |
Tem fome de aprender, |
|
Do calor |
Da união dele à
natureza. |
No estreito inter-relacionamento, |
Não há lugar
para a frieza |
Da análise
distante e da exploração. |
|
No fundo desta intimidade |
Mora a noção |
De que não há
ser nem lugar |
Na criação |
Que não seja
parte do cósmico lar |
Onde nos bate o
coração |
E a criatividade. |
|
O chão |
Donde brota a liberdade, |
Matriz primeva
de nossa identidade. |
|
|
323 – Válido |
|
Por que não ver
o mundo da criança |
|
Como o que o
adulto já não alcança, |
Do lar
abandonado o tecto, |
Esquecida a
festa, a magia, a dança? |
|
Ele não é o que
deixámos para trás |
Rumo ao crescimento, |
Já que o desenvolvimento |
Aquela ingénua, primitiva paz |
Não no-la preservou |
Nem jamais depois recuperou. |
|
- Deveras quem alcança |
Devir eternamente criança? |
|
|
324 – Apenas |
|
A criança vê magia |
Sem dificuldade |
Onde o adulto
encontra apenas funcionalidade, |
Sentido prático
no dia-a-dia. |
|
Faz sentido, |
Para devolver o
encantamento à vida, |
Reavaliar a
atitude de olvido |
Mantida |
Relativamente à infância, |
À criança em geral, |
Aos meninos do
mundo inteiro. |
|
Talvez murche a ganância |
Perante o principal: |
Nosso coração tornar leveiro. |
|
|
325 – Evitar |
|
Para evitar ir
contra a magia |
Em nome da aprendizagem, |
Dever-se-ia, |
Numa primeira abordagem, |
|
Confrontar o preconceito |
Contra uma vida encantada: |
Seriedade exagerada, |
Pragmatismo, literalismo sem jeito, |
Quem sabe lá se
despeito |
Da varinha de
condão da fada |
A que toda a
criança anda grudada. |
|
Qualquer alma é epicurista, |
Busca primeiro o prazer. |
|
Não perguntes,
o dia em revista: |
“Hoje que
andaste a aprender?” |
Quem do
encantamento não desiste |
Ao preconceito
o não imola, |
Insiste: |
“Hoje, na escola, |
A sério que te
divertiste?” |
|
|
326 – Redescobre |
|
Levar a criança
em consideração |
Redescobre a vida encantada, |
Não a funcional, ordenada, |
Tranquila e com legislação, |
Mas a prenhe de
magia |
De que um
adulto já nem suspeitaria. |
|
Se pudéramos
imaginar o conflito |
Entre a ordem
adulta e o caos infantil |
Do bem contra o
mal não com o perfil, |
Nem do certo
contra o errado como um quesito, |
Antes como dois
estilos diferentes |
De viver complementares vertentes, |
|
Talvez capazes
fôramos de encontrar formas |
De incluir
crianças em todos os recantos, |
Sem sacrificar
do adulto os véus e os mantos. |
Com crianças a
cada esquina da vida, as normas |
Inúteis devêm
para o encantamento: |
É só vê-lo
fluir momento a momento. |
327 – Serve |
|
Serve as almas
de múltiplas maneiras |
O preparo da comida: |
Ocasião de
meditar calmo nas canseiras, |
Enquanto
descasco e corto legumes, |
Mexo panelas, a
quantidade certa é medida, |
Vigio a fervura
e o assado, |
Controlo os lumes… |
Contemplo
cores, texturas e sabores |
Enquanto,
alquimista, por mim tudo é misturado |
E mexido nos
exactos teores. |
|
Os aromas |
Arrancam-nos ao
tempo real insensibilizante, |
Levam-nos ao
lugar doutras eras, |
Das árvores do
mito são as comas. |
A cozinha, a
divisão mais vibrante |
Dum lar |
Em afectos e em
esperas, |
É um coração a
palpitar |
De quimeras |
Na vida familiar. |
|
|
328 – Apelo |
|
O lar |
É um estado emotivo, |
Um lugar |
No imaginário
onde mora vivo |
O apelo da
segurança, família, |
Protecção, história, |
Memória |
E a brincalhona quezília |
Que por entre
os laços reparte |
Quem do grupo
fizer parte. |
|
O sonho e a
fantasia |
Do lar |
Podem indicar caminhos |
E acalmar |
A ansiedade e a
alegria |
Enquanto continuamos, adivinhos, |
A procurar maneiras |
De satisfazer o anseio |
E as canseiras |
Dum lar |
Que jamais do
céu nos veio |
- Mas que
eterno por ali anda a aflorar. |
|
|
329 – Maioria |
|
De nós a maioria |
Constrói a casa
de sonho |
Dia a dia |
Num imaginário risonho, |
|
Enquanto dum
lado para o outro corremos, |
Cuidando do lar
onde moramos |
Ou enquanto nos encantamos |
Com o doutrem
que visitemos. |
|
Escolher uma tinta, |
Reparar uma porta, |
A relva aparar, |
Adquirir uma mobília distinta, |
Limpar o trilho
da horta, |
Uma lâmpada trocar, |
Tudo tem dois
níveis de significado: |
A necessidade
literal daquele cuidado, |
E a mais
profunda incursão |
No mistério de fabricar, |
Demão a demão, |
A ideia mágica
dum lar. |
|
|
330 – Tranquilidade |
|
A tranquilidade vivida quando |
Encontramos o lar |
Com o anseio da
morte, estranho e brando, |
Convive sem se apartar. |
|
Raramente |
Da maioria de nós |
Fica explícito na mente |
E recusamos-lhe voz. |
|
Mas há um vago
tom de saudade |
Quando o descanso final |
É o voto que
nos invade |
Principal. |
|
Ninguém repara, desta sorte, |
Que o lar donde
quer repouso |
É, pacífico, o
da morte |
Que, em tal
contexto, é de gozo! |
|
|
331 – Íntimo |
|
Mais íntimo do
que o lar |
Nada existe |
E as almas vão
devagar |
Germinar dentro
o que assiste |
Ao coração a pulsar. |
|
Sempre é tempo
de podar, |
Envernizar a janela, |
Limpar um
tapete ao ar, |
Um poema burilar, |
Falar com a parentela |
Dos tempos de antigamente, |
Lembrar alegria e dor |
Que o peso têm
de gente, |
Que os laços
prendem do amor… |
|
Às almas criamos lar, |
Trabalho diário |
Que tece lento
o calendário |
Pronto a nos agasalhar. |
O enfoque íntimo cimeiro |
É do lar o dom
primeiro. |