DÉCIMO  TERCEIRO  ITINERÁRIO 

 

O  SABER  INCERTO

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Escolha um número aleatório entre 1138 e 1208 inclusive.

 

Descubra o poema correspondente como uma mensagem particular para o seu dia de hoje.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

1138 – O saber incerto

 

O saber incerto

Traslado

Na quadra de pé quebrado

Que me ponha o longe perto.

 

Desperto

O sentido desvelado

Que, escondido em todo o lado,

Aqui tem postigo aberto.

 

Ao tropeçar na palavra,

Ritmo e rima são a lavra

Da lavoira

 

Onde o saber que começa

Germina breve a cabeça

De ervagem que em trigo aloira.

 

 

1139 – Arquives

 

Vive e aprende, vive e aprende,

Ou muito tempo não vives.

A vida rende

O que arquives.

 

 

1140 – Gratuito

 

É gratuito do amor

Todo o afago,

Mas é tudo quanto livre for

Que seria deveras digno de ser pago.

 

 

1141 - Última

 

A última palavra jamais tentes ter:

Grandezas tamanhas

Não são para quenquer…

 

- Então pode ser que a tenhas!

 

 

1142 – Acerada

 

A vaguidade da estrada

Não quer dizer que a não fito:

Não há ponta mais acerada

Que a do infinito.

 

 

1143 – Madrasta

 

A terra é mãe

Quanto basta.

…Ano sim, ano não, porém,

É menos mãe e mais madrasta.

 

 

1144 – Ausência

 

Tão rápida a vida nos foge

Que a hesitação é malsã:

Meia presença de hoje

É ausência inteira de amanhã.

 

 

1145 – Primeira

 

Um amor

Quando deveras o for,

Por mais que repita o entremez,

É sempre a primeira vez!

 

 

1146 – Adia

 

Quem sempre adia

O que tiver de fazer

É quem se permite em cada dia

Menos tempo de lazer.

 

 

1147 – Loiça

 

Quando homens lavam a loiça,

Chamam-lhe ajuda em seguida.

Se é uma mulher, quem a oiça,

Chama-lhe vida…

 

 

1148 – Dado

 

O amor é gratuito,

O amor não pode ser ensinado,

Nem pouco nem muito:

- Deve ser dado!

 

 

1149 – Pé

 

Fama e fortuna não mudam

O homem que põem de pé:

Quando acudam,

Mostram-no tal como ele é.

 

 

1150 – Recordações

 

Recordações em viagem compradas

Perecíveis são.

As memórias dali logradas,

Felizmente, não.

 

 

1151 – Chaparro

 

Não vás tu dar de chapada

Nalgum chaparro,

Não conduzas como se dono da estrada

Mas tão só dono do carro!

 

 

1152 – Indefeso

 

Serás forte, viril, inteligente

Mas indefeso como um bebé

Sem um frágil corpo feminino à tua frente

A que te agarres para te pores de pé.

 

 

1153 – Pó

 

O maior mistério da solidão

É que ninguém fica tão só

Como no meio do pó

Levantado pela multidão.

 

 

1154 – Lua

 

Ir à Lua sempre foi mais

Que ir à Lua: soergue uma ponta do véu

A espreitar os sinais

Do Céu.

 

 

1155 – Almenara

 

Quando podes olhar, vê,

Quando podes ver, repara:

- Sê

Uma almenara!

 

 

1156 – Máscara

 

Máscara, se o tempo der,

A gosto ou a contragosto,

Acaba por vir a ser

O próprio rosto.

 

 

1157 – Pôr-de-sol

 

Confirma em teu rol:

- É inviável olhar

Um pôr-de-sol

E não sonhar.

 

 

1158 – Indecifrável

 

Todo o homem é um comboio interminável

Em que viajam sentados

Em postura indecifrável

Todos os antepassados.

 

 

1159 – Paz

 

A paz,

De todas as maneiras,

Quando for dela capaz,

Não tem fronteiras.

 

 

1160 – Ressentimento

 

Por mais que dum ressentimento

Vás cuidar,

Nunca, nem um momento,

Ele irá melhorar!

 

 

1161 – Heróis

 

Sempre os factos nos inclinam

A escapar de quanto é reles,

Os heróis germinam

Quando precisamos deles.

 

 

1162 – Artista

 

Embora, enquanto exista,

Nem lhe migalha sobre,

Um grande artista

Nunca é pobre.

 

 

1163 – Ruído

 

Dando sentido

A cada instante,

A música é um ruído

Pensante.

 

 

1164 – Jogador

 

Aprende a conter-te primeiro,

Com sobriedade, sobretudo:

Jogador que vai por mais dinheiro

Perde tudo.

 

 

1165 – Fugacidade

 

A ideia de eternidade

Consola, descomedida,

A fugacidade

Da vida.

 

 

1166 – Preito

 

Tanto preito

A quanto de acabado compro e vendo!

- Bom, bom, não é nascer feito,

É irmo-nos fazendo.

 

 

1167 – Viagem

 

Perenemente em viagem,

O pensamento

É um comboio em movimento.

O resto é paisagem.

 

 

1168 – Janela

 

Uma janela de oportunidade,

- Quem não o adivinha? –

Nunca se abre de verdade

Sozinha.

 

 

1169 – Prisão

 

A pior prisão

Não são paredes nem grades

Nem o fim das liberdades,

É fechar o coração.

 

 

1170 – Sobre

 

Pouco importa ou não que sobre

O que na vida se acama:

Ninguém é pobre

Quando ama.

 

 

1171 – Vazia

 

À vida, o que a elevaria

Não é um vácuo que nos lesa:

A vida, quão mais vazia,

Mais pesa!

 

 

1172 – Música

 

A música de hora a hora

Ouvida

É a banda sonora

Da vida.

 

 

1173 – Aldeia

 

A aldeia

Em companhia que se nos doa,

De feia

Muda logo em terra boa.

 

 

1174 - Pretexto

 

Sempre os soberanos,

A pretexto dos renovos,

Se conluiaram nos danos

Contra os povos.

 

 

1175 – Máscara

 

O prazer sexual

Procurado aos turbilhões

É a máscara atrás da qual

Se oculta o vazio dos corações.

 

 

1176 – Alegria

 

Que a alegria te sustente!

Estende as mãos, olha aí,

Agarra-a quando, inocente,

Passar por ti!

 

 

1177 – Outros

 

Enquanto alguns dão notícia

Para memória,

Outros, sem malícia,

Fazem História.

 

 

1178 – Ignorância

 

Ignorância mais vulnerável

Não é credível

Do que crer que o inexplicável

É impossível.

 

 

1179 – Destino

 

Pobre destino o de havermos nascido

Tão inermes, tão infantes:

- Como gostaríamos de ter sabido

Tudo antes!

 

 

1180 – Viagem

 

A viagem mais importante

Na vida que percorro tão sozinho

É encontrar todo o outro caminhante

Pelo caminho.

 

 

1181 – Fundamental

 

Para nos engrandecer

Importa a rota do porvir:

- Se importante é vencer,

Fundamental é competir.

 

 

1182 – Errado

 

Erro são as palavras prolixas

Que enublam a estrada.

Errado não é ter ideias fixas,

É não ter mais nada.

 

 

1183 – Lixo

 

Sugestão que me veio

E não foi requerida

É o lixo do correio

Da vida.

 

 

1184 – Adiante

 

A liberdade convida

A ir adiante:

Só é divertida

Até se tornar entediante.

 

 

1185 – Juntos

 

Tanto apresto

Para me juntar a ti…

- E eis-nos juntos: o resto

Já esqueci!

 

 

1186 – Ferramenta

 

Repara bem no que inventas,

Que cada qual, em todo o lado,

Vejo mais e mais inclinado

A ser ferramenta das ferramentas.

 

 

1187 – Imagem

 

Uma imagem vale mil palavras.

Mil imagens de enfiada,

Se igual objecto lhes gravas,

Não valem nada!

 

 

1188 – Eras

 

Ignorar

Quanto ocorreu eras antes de nascer

É criança ficar

Ou nem sequer.

 

 

1189 – Frustração

 

Para o burocrata, à regra uma excepção

Devém, na hora,

Uma esmagadora

Frustração.

 

 

1190 – Pior

 

Quando houver erros de burocracia,

O pior a fazer,

Sabia,

Pode ser não o fazer.

 

 

1191 – Dilema

 

Se não podes derrotar um sistema

Que te atropele,

Quebra o dilema,

- Junta-te a ele!

 

 

1192 – Montar

 

Os que não podem montar juntos

Logram-no em muito lado

Quando, ponderados os assuntos,

Um deles um pouco anda apeado.

 

 

1193 – Realidades

 

Há tantas realidades

Quantas as cabeças

Com que lhes meças

As verdades.

 

 

1194 – Bem

 

Tudo estará bem

Quando acaba bem

E não quando bem começa,

Que tem muito onde tropeça.

 

 

1195 – Cor

 

No olho do observador,

Não na pele do observado,

Mora a cor

Com que ele é discriminado.

 

 

1196 – Laço

 

Laço de sangue é ilusão:

Um amigo nos sofrimentos

Pode não ser um irmão

Nos documentos.

 

 

1197 – Confiança

 

A confiança, muitos dirão,

Conquista-a quem for eloquente.

Ora, a confiança vem do coração,

Não da mente.

 

 

1198 – Distinção

 

Quando uma distinção

Que nem existe faz a diferença,

Pior que distorcida visão,

É de mentalidade uma doença.

 

 

1199 – Adivinho

 

Ouve, que de adivinho

Breve o apelido se te junta.

Perguntar nem sempre é o melhor caminho

Para obter a resposta a uma pergunta.

 

 

1200 – Peixe

 

A um homem o peixe vais dar,

Amanhã morre de fome.

Ensina-o a pescar

E para sempre come.

 

 

1201 – Sobremaneira

 

De resolver conflitos não há maneira

Entre os que concordam em discordar

E, sobremaneira,

Quando mais o desacordo se valorizar.

 

 

1202 – Algo

 

Quando já nada piora

A situação,

Faz algo: isso apenas a melhora

Então.

 

 

1203 – Maior

 

Acolhe-te ao abrigo

De maior impacto:

- Da opinião o mortal inimigo

É o facto.

 

 

1204 – Finalmente

 

Quando, finalmente, encontrámos o inimigo

E o encarámos a sós,

Descobrimos, no recolhimento do abrigo,

Que o inimigo somos nós.

 

 

1205 – Chave

 

Recordo

A chave para abrir o coração:

Não o acordo,

A preocupação.

 

 

1206 – Irracionalidade

 

A irracionalidade é maior,

Atendendo ao dado,

Na mente do observador

Que na do observado.

 

 

1207 – Esconder

 

As palavras vão esconder,

Por um lado,

E por outro vão poder

Revelar significado.

 

 

1208 – Ingrediente

 

Não se deixar para trás

É o ingrediente

Que pode levar em paz

A andar o mundo para a frente.