Escolha
um número aleatório entre 1138 e 1208 inclusive.
Descubra
o poema correspondente como uma mensagem particular para o seu dia de hoje.
1138 – O saber incerto |
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O saber incerto |
Traslado |
Na quadra de pé quebrado |
Que me ponha o longe perto. |
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Desperto |
O sentido desvelado |
Que, escondido em todo o lado, |
Aqui tem postigo aberto. |
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Ao tropeçar na palavra, |
Ritmo e rima são a lavra |
Da lavoira |
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Onde o saber que começa |
Germina breve a cabeça |
De ervagem que em trigo aloira. |
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1139 – Arquives |
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Vive e aprende, vive e aprende, |
Ou muito tempo não vives. |
A vida rende |
O que arquives. |
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1140 – Gratuito |
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É gratuito do amor |
Todo o afago, |
Mas é tudo quanto livre for |
Que seria deveras digno de ser pago. |
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1141 - Última |
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A última palavra jamais tentes ter: |
Grandezas tamanhas |
Não são para quenquer… |
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- Então pode ser que a tenhas! |
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1142 – Acerada |
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A vaguidade da estrada |
Não quer dizer que a não fito: |
Não há ponta mais acerada |
Que a do infinito. |
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1143 – Madrasta |
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A terra é mãe |
Quanto basta. |
…Ano sim, ano não, porém, |
É menos mãe e mais madrasta. |
1144 – Ausência |
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Tão rápida a vida nos foge |
Que a hesitação é malsã: |
Meia presença de hoje |
É ausência inteira de amanhã. |
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1145 – Primeira |
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Um amor |
Quando deveras o for, |
Por mais que repita o entremez, |
É sempre a primeira vez! |
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1146 – Adia |
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Quem sempre adia |
O que tiver de fazer |
É quem se permite em cada dia |
Menos tempo de lazer. |
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1147 – Loiça |
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Quando homens lavam a loiça, |
Chamam-lhe ajuda em seguida. |
Se é uma mulher, quem a oiça, |
Chama-lhe vida… |
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1148 – Dado |
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O amor é gratuito, |
O amor não pode ser ensinado, |
Nem pouco nem muito: |
- Deve ser dado! |
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1149 – Pé |
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Fama e fortuna não mudam |
O homem que põem de pé: |
Quando acudam, |
Mostram-no tal como ele é. |
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1150 – Recordações |
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Recordações em viagem compradas |
Perecíveis são. |
As memórias dali logradas, |
Felizmente, não. |
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1151 – Chaparro |
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Não vás tu dar de chapada |
Nalgum chaparro, |
Não conduzas como se dono da estrada |
Mas tão só dono do carro! |
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1152 – Indefeso |
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Serás forte, viril, inteligente |
Mas indefeso como um bebé |
Sem um frágil corpo feminino à tua frente |
A que te agarres para te pores de pé. |
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1153 – Pó |
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O maior mistério da solidão |
É que ninguém fica tão só |
Como no meio do pó |
Levantado pela multidão. |
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1154 – Lua |
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Ir à Lua sempre foi mais |
Que ir à Lua: soergue uma ponta do véu |
A espreitar os sinais |
Do Céu. |
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1155 – Almenara |
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Quando podes olhar, vê, |
Quando podes ver, repara: |
- Sê |
Uma almenara! |
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1156 – Máscara |
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Máscara, se o tempo der, |
A gosto ou a contragosto, |
Acaba por vir a ser |
O próprio rosto. |
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1157 – Pôr-de-sol |
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Confirma em teu rol: |
- É inviável olhar |
Um pôr-de-sol |
E não sonhar. |
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1158 – Indecifrável |
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Todo o homem é um comboio interminável |
Em que viajam sentados |
Em postura indecifrável |
Todos os antepassados. |
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1159 – Paz |
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A paz, |
De todas as maneiras, |
Quando for dela capaz, |
Não tem fronteiras. |
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1160 – Ressentimento |
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Por mais que dum ressentimento |
Vás cuidar, |
Nunca, nem um momento, |
Ele irá melhorar! |
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1161 – Heróis |
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Sempre os factos nos inclinam |
A escapar de quanto é reles, |
Os heróis germinam |
Quando precisamos deles. |
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1162 – Artista |
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Embora, enquanto exista, |
Nem lhe migalha sobre, |
Um grande artista |
Nunca é pobre. |
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1163 – Ruído |
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Dando sentido |
A cada instante, |
A música é um ruído |
Pensante. |
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1164 – Jogador |
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Aprende a conter-te primeiro, |
Com sobriedade, sobretudo: |
Jogador que vai por mais dinheiro |
Perde tudo. |
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1165 – Fugacidade |
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A ideia de eternidade |
Consola, descomedida, |
A fugacidade |
Da vida. |
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1166 – Preito |
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Tanto preito |
A quanto de acabado compro e vendo! |
- Bom, bom, não é nascer feito, |
É irmo-nos fazendo. |
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1167 – Viagem |
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Perenemente em viagem, |
O pensamento |
É um comboio em movimento. |
O resto é paisagem. |
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1168 – Janela |
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Uma janela de oportunidade, |
- Quem não o adivinha? – |
Nunca se abre de verdade |
Sozinha. |
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1169 – Prisão |
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A pior prisão |
Não são paredes nem grades |
Nem o fim das liberdades, |
É fechar o coração. |
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1170 – Sobre |
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Pouco importa ou não que sobre |
O que na vida se acama: |
Ninguém é pobre |
Quando ama. |
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1171 – Vazia |
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À vida, o que a elevaria |
Não é um vácuo que nos lesa: |
A vida, quão mais vazia, |
Mais pesa! |
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1172 – Música |
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A música de hora a hora |
Ouvida |
É a banda sonora |
Da vida. |
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1173 – Aldeia |
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A aldeia |
Em companhia que se nos doa, |
De feia |
Muda logo em terra boa. |
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1174 - Pretexto |
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Sempre os soberanos, |
A pretexto dos renovos, |
Se conluiaram nos danos |
Contra os povos. |
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1175 – Máscara |
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O prazer sexual |
Procurado aos turbilhões |
É a máscara atrás da qual |
Se oculta o vazio dos corações. |
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1176 – Alegria |
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Que a alegria te sustente! |
Estende as mãos, olha aí, |
Agarra-a quando, inocente, |
Passar por ti! |
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1177 – Outros |
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Enquanto alguns dão notícia |
Para memória, |
Outros, sem malícia, |
Fazem História. |
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1178 – Ignorância |
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Ignorância mais vulnerável |
Não é credível |
Do que crer que o inexplicável |
É impossível. |
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1179 – Destino |
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Pobre destino o de havermos nascido |
Tão inermes, tão infantes: |
- Como gostaríamos de ter sabido |
Tudo antes! |
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1180 – Viagem |
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A viagem mais importante |
Na vida que percorro tão sozinho |
É encontrar todo o outro caminhante |
Pelo caminho. |
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1181 – Fundamental |
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Para nos engrandecer |
Importa a rota do porvir: |
- Se importante é vencer, |
Fundamental é competir. |
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1182 – Errado |
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Erro são as palavras prolixas |
Que enublam a estrada. |
Errado não é ter ideias fixas, |
É não ter mais nada. |
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1183 – Lixo |
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Sugestão que me veio |
E não foi requerida |
É o lixo do correio |
Da vida. |
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1184 – Adiante |
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A liberdade convida |
A ir adiante: |
Só é divertida |
Até se tornar entediante. |
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1185 – Juntos |
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Tanto apresto |
Para me juntar a ti… |
- E eis-nos juntos: o resto |
Já esqueci! |
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1186 – Ferramenta |
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Repara bem no que inventas, |
Que cada qual, em todo o lado, |
Vejo mais e mais inclinado |
A ser ferramenta das ferramentas. |
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1187 – Imagem |
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Uma imagem vale mil palavras. |
Mil imagens de enfiada, |
Se igual objecto lhes gravas, |
Não valem nada! |
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1188 – Eras |
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Ignorar |
Quanto ocorreu eras antes de nascer |
É criança ficar |
Ou nem sequer. |
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1189 – Frustração |
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Para o burocrata, à regra uma excepção |
Devém, na hora, |
Uma esmagadora |
Frustração. |
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1190 – Pior |
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Quando houver erros de burocracia, |
O pior a fazer, |
Sabia, |
Pode ser não o fazer. |
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1191 – Dilema |
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Se não podes derrotar um sistema |
Que te atropele, |
Quebra o dilema, |
- Junta-te a ele! |
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1192 – Montar |
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Os que não podem montar juntos |
Logram-no em muito lado |
Quando, ponderados os assuntos, |
Um deles um pouco anda apeado. |
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1193 – Realidades |
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Há tantas realidades |
Quantas as cabeças |
Com que lhes meças |
As verdades. |
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1194 – Bem |
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Tudo estará bem |
Quando acaba bem |
E não quando bem começa, |
Que tem muito onde tropeça. |
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1195 – Cor |
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No olho do observador, |
Não na pele do observado, |
Mora a cor |
Com que ele é discriminado. |
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1196 – Laço |
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Laço de sangue é ilusão: |
Um amigo nos sofrimentos |
Pode não ser um irmão |
Nos documentos. |
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1197 – Confiança |
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A confiança, muitos dirão, |
Conquista-a quem for eloquente. |
Ora, a confiança vem do coração, |
Não da mente. |
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1198 – Distinção |
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Quando uma distinção |
Que nem existe faz a diferença, |
Pior que distorcida visão, |
É de mentalidade uma doença. |
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1199 – Adivinho |
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Ouve, que de adivinho |
Breve o apelido se te junta. |
Perguntar nem sempre é o melhor caminho |
Para obter a resposta a uma pergunta. |
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1200 – Peixe |
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A um homem o peixe vais dar, |
Amanhã morre de fome. |
Ensina-o a pescar |
E para sempre come. |
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1201 – Sobremaneira |
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De resolver conflitos não há maneira |
Entre os que concordam em discordar |
E, sobremaneira, |
Quando mais o desacordo se valorizar. |
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1202 – Algo |
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Quando já nada piora |
A situação, |
Faz algo: isso apenas a melhora |
Então. |
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1203 – Maior |
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Acolhe-te ao abrigo |
De maior impacto: |
- Da opinião o mortal inimigo |
É o facto. |
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1204 – Finalmente |
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Quando, finalmente, encontrámos o inimigo |
E o encarámos a sós, |
Descobrimos, no recolhimento do abrigo, |
Que o inimigo somos nós. |
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1205 – Chave |
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Recordo |
A chave para abrir o coração: |
Não o acordo, |
A preocupação. |
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1206 – Irracionalidade |
|
A irracionalidade é maior, |
Atendendo ao dado, |
Na mente do observador |
Que na do observado. |
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1207 – Esconder |
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As palavras vão esconder, |
Por um lado, |
E por outro vão poder |
Revelar significado. |
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1208 – Ingrediente |
|
Não se deixar para trás |
É o ingrediente |
Que pode levar em paz |
A andar o mundo para a frente. |