QUINTO  TROVÁRIO

 

 

  OS REGULARES LAÇOS DOU QUE ME ENLAÇAREM

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Escolha aleatoriamente um número entre 493 e 532 inclusive.

 

Descubra o poema correspondente como uma mensagem particular para o seu dia de hoje.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

                                                493 – Os regulares laços dou que me enlaçarem

 

                                                Os regulares laços dou que me enlaçarem

                                                Em bem medidos e rimados versos quentes,

                                                De afectos simples que nos atam e nos arem

                                                As relações e os sentimentos que enredarem

                                                Em cada dia nossas teias de presentes.

 

                                                O amor primeiro e as amizades predilectas,

                                                Nos rumos certos, nos desvios enoitantes,

                                                Depois famílias, povoados, são as metas

                                                Que o verso rima regular nestes instantes.

 

                                                E nas palavras solidário tento o espelho

                                                Do que me entrosa com os mais agora e dantes,

                                                Um novo alvor atando sempre ao alvor velho.

 

                                                De solidárias ataduras prendo afectos,

                                                Expectativa de melhor fruirmos tectos.

 

 

 

494 – Empenho

 

Não é uma paternidade

Um intelectual empenho,

Não emana da cabeça.

Se emanara de verdade,

É no mais esperto cenho

Que o melhor dos pais começa,

Porém tal não persuade.

 

É questão de ter raízes

Mergulhando em solo arável

De bom senso, que o que gizes

Bem germine e fique estável.

 

O coração e a vontade

Metro são que um bom pai meça,

Pouco importa a enormidade

Que lhe medir a cabeça.

 

 

495 – Escadas

 

Quem um amigo louvar

Nunca deve obliterar

Que ele uma desilusão

Pode acaso se tornar.

Jamais ponha sem pensar

O amigo num pedestal,

Também não o jogue ao chão.

Ponha-lhe escadas rolantes

Ao lado do passo igual.

Hoje e amanhã, como dantes,

Pode subir e descer

Facilmente vida fora.

A plataforma manter

Nova em folha não demora

E o tapete sob os pés

Nunca mais se gastará.

Um amigo tem marés:

Vem do melhor um revés,

Mesmo desiludirá.

 

Amigos abrem-me estradas

E têm algo de meu,

Vivem entre terra e céu

Algures lá nas escadas.

 

 

496 – Negócio

 

Negócio que funcione

Tem de dar para os dois lados.

Não há disputa que abone,

Ganha-perde, jogo aos dados,

 

Antes procura um acordo.

Não é uma eliminatória,

Constrói relações a bordo

Do navio da memória:

 

Aposta no longo prazo,

Quer ser deveras um caso.

 

 

497 – Solidão

 

Solidão não é boa companhia:

Grandes tristezas, grandes tentações,

Os grandes erros, tudo proviria

De as vidas irem sós nas multidões,

 

Sem o amigo prudente a quem pedir

O conselho, quando algo nos perturba

Mais que aquilo que é de uso em  nós bulir,

Dissolvidos que vamos entre a turba.

  

Solidão não é boa companhia:

Bate em nós, já que à porta não batia.

 

 

498 – Físico

 

Tem um físico defeito,

Excitante da beleza,

Com que a marca a corrupção.

Satanás é manco, atreito

À formosura que preza

A marcar sem prevenção.

 

De ter um aviso nela,

De homens para salvação,

A formosura precisa:

Não vá queimar-me na estrela

Que meu melhor sonho visa.

 

 

499 – Moderna

 

Ao pôr a enorme cozinha

Da casa moderna ao meio

À ideia pago tributo

De a comida ser gavinha

E o ritual, de permeio,

Das refeições é conduto

Que enrija o corpo do lar.

 

Tendo o templo construído,

Vamos um dia esperar

Ter tempo para ali dar

Graças como lhe é devido.

 

Cada vez mais raramente

Temos, porém, tal presente.

 

 

500 – Encontros

 

Os encontros de caminho

Todos vão agradecidos,

Embora tenham direito

Eles a agradecimentos.

Todos servis adivinho,

Pretendendo preferidos

Ser meus amigos do peito

Do que aproveitar os ventos.

 

Gostam é de obedecer,

Não de pensar. Que abastanças

Correm de tal proceder?

Como os homens são crianças!

 

 

501 – Mendigar

 

Podem mendigar amor,

Comprá-lo, tê-lo de oferta,

Topá-lo em rua deserta,

Fruí-lo para regalo

Ou, porventura, na dor,

- Mas nunca podem roubá-lo.

 

Se vais no caminho errado,

É uma pena: no limite,

Acabas sempre frustrado,

Não te salva o mau palpite.

 

 

502 – Hora

 

Em hora maravilhosa

Depois de excelente sono,

Do Infinito ante a assombrosa

Variedade sem dono,

 

Como posso não amar

Pessoa ou coisa qualquer?

Este é o poder de encantar

Que me vem  o Todo ao ver,

 

Este facto de amar tudo,

De ficar de amor pejado

Do maior ao mais miúdo,

Do próximo ao afastado.

 

Minha anterior doença

Foi não conseguir, porém,

Nem no que é minha pertença,

Amar nada nem ninguém.

 

 

503 – Importa

 

Cada qual deverá ser

Quem mais importa no mundo,

Não devemos esquecer

Que existimos, mar profundo.

 

Nunca nos tornam felizes

Os mais, se nós não quisermos,

Se não virmos os matizes

Do bom que houver em seus termos,

Se eu ali não tomo em conta

Que uma alegria me aponta.

 

Vai ser a partir de mim

Que ao fim digo a tudo sim.

 

 

504- Duas

 

Por quê cada criatura

Em duas se dividir?

Dois amores por que apura

Nosso coração fruir,

Duma só vez dois afectos,

Contraditórios projectos?

E quem diz dois, diz quinhentos:

Vivemos mil e um tormentos…

 

 

505 – Terrível

 

Gente que não é ninguém:

Terrível dado na vida

Aqueles que nada são!

Pedras soltas, pelo ar vêm

Em queda descomedida.

Fatalmente tombarão

 

E na queda arrastam tudo

O que em redor delas brote:

Logo, pois, e por miúdo

Tudo arrasará seu bote.

 

 

506 – Adolescência

 

As paixões da adolescência

Têm impagável préstimo:

Despem sempre da fachada

Os vestuários de empréstimo,

Duma faísca a esplendência

A limpar a madrugada

Das nuvens que o dia toldam.

 

E eis como as paixões nos moldam.

 

 

507 – Guarda

 

Cada qual guarda no fundo

Um pequeno cemitério

Onde jazem os que amou,

Que passearam no mundo

Sob dos sonhos o império

Até que o sono os levou.

 

Aí dormem durante anos

Sem que ninguém os desperte.

Um dia rasgam os panos,

Abre-se a tumba ao que a alerte.

 

E eis que os mortos se levantam

E sorriem ao amado,

Ao amante ainda que encantam,

Ao coração recordado,

Como criança que dorme

Ao ventre da mãe conforme.

 

 

508 – Puro

 

É tudo puro nos puros,

Nos que são fortes, sadios.

O amor que adorna, seguros,

Pássaros de belas cores

Traz apetite aos fastios,

O riso à falta de humores

E, ao coração que recobre,

O que tiver de mais nobre.

As ânsias de não mostrar

O que doutrem não é digno

Leva ao prazer de pensar

E de agir em harmonia

Com o que dele é condigno,

A imagem que o amor cria

É um banho de juventude,

Torna a alegria virtude.

 

E, com esta irradiação,

Maior fica o coração.

 

 

509 – Molda

 

Quem ama, inconscientemente,

Se molda pelo a quem quer,

De o não ferir, veemente,

Tanto desejo há-de ter,

 

De ser tudo o que outrem é,

Que, por mágica intuição

No mais fundo dele lê

A mais leve ebulição.

 

É o amigo transparente

Para o amigo que tiver,

Trocam permanentemente

O ser dum pelo outro ser.

 

Os traços imitam traças,

As almas imitam almas…

 

- Até que o diabo das raças

Acorde nas tardes calmas

E venha matar de vez

Tudo quanto o amor lhes fez.

 

 

510 – Fruta

 

A fruta podre não faz

A fruteira apodrecer.

Cai apenas: gente assaz

Oca para um povo a ver.

 

Pesam pouco na nação,

Tanto se nos dá que vivam

Como morram, tão em vão

Que nem memórias se arquivam.

 

 

511 – Derrota

 

A derrota retempera,

De almas faz a selecção,

Separa o que é puro e forte,

Mais puro e mais forte o gera.

Precipita em trambulhão

A queda dos que recorte,

Quebra-lhes o impulso vão.

Desta maneira separa

Massa que baqueia e escol

Que em frente leva a almenara

E a pegada aumenta ao rol.

 

O escol sabe e sofre tal.

Mesmo nos mais animosos

Há uma tristeza letal:

De impotência os tormentosos

Isolamentos no vale.

 

Somos ilhéus isolados

Com mar por todos os lados.

 

 

512 – Contra

 

Aquele de quem gostamos

Tem contra nós o direito

De até de nós não gostar.

Nem podemos ter despeito

Se o mérito que tenhamos

Não no-lo leva a afeiçoar:

Ignora-nos, afinal.

Por mais que nos fira o peito,

Seja um desgosto mortal,

É o custo de quem amar.

Só temos, de qualquer jeito,

O dever de o respeitar.

 

 

513 – Vida

 

Vida são separações,

Um rumor de mãos nervosas

Em adeuses aos milhões:

Abandonamos gostosas

 

Cidades, corpos e casas,

Pessoas que ainda amamos,

Os que apagaram as brasas,

Solidões que enregelamos,

Companheirismos que prezas,

Convicções e fraquezas…

 

- Mais do que perder os meus

Todos os dias a esmo,

Viver é dizer adeus

Constantemente a mim mesmo.

 

 

514 – Casamento

 

O casamento não tem

Com o casar muito a ver,

Mas com o facto de ser

Melhor começar alguém

 

Na vida as viagens duras

Na companhia de amigos,

Fazendo boas figuras

E com mapa dos abrigos.

 

 

515 – Ciúmes

 

Ciúmes que vêm do medo

Ou da falta de auto-estima…

- De vez elimina o credo  

De que só te vale a pena

Trepar pela vida acima

Com a única pessoa

Que a amá-la, enfim, te condena.

Para prosseguir viagem

Juntos, sim, mas não à toa,

Primeiro tem a coragem

De amarras soltar: alcança

O que exige a confiança!

 

 

516 – Fora

 

Ter os filhos é ter mais corações

Fora do corpo, à vida aos encontrões.

 

 

517 – Vista

 

À vista do ente amado

Quebra o deus nossa coragem,

Fica o orgulho recalcado,

Perdida ali minha imagem…

 

- À vista do ente amado

Perco de mim um bocado.

 

 

518 – Arde

 

São mais fáceis os arrumos,

Fica o mundo mais feliz,

Arde a lâmpada melhor,

Apuramos os aprumos,

Tomamos outro cariz,

Quando trocamos amor.

 

Na energia outra energia

Outra acende a luz do dia.

 

  

519 – Vergonha

 

De nós, homens, esta vida

É vergonha parecida

 

De macacos com o bando

Uns com os outros lutando,

 

Pondo a vida por um fio

Por qualquer coco vazio.

 

É que sempre nossas lutas

São de vazio disputas.

 

 

520 – Juntas

 

Juntas para mim dinheiro,

Mas de que me servirá

Se não puder por inteiro

Ser feliz na vida cá?

 

O dinheiro e o que ele adquire

Não trazem felicidade,

Só o amor que me revire.

Tudo o mais é necedade.

 

 

521 – Sentado

 

Com teus filhos brinca, brinca,

Bem sentado aí no chão.

Olha que a vida se finca

Nas horas que a tal se dão.

 

Fechar a televisão

Não é norma tutelar,

Pois basta, na ocasião,

Ser viável conversar.

 

Lê uma história cada dia

Ou então leiam a meias:

Pais e filhos ata a via

Da fantasia que ateias.

 

Resiste à birra, ao pedido,

Diz não, se pede demais

Ou se pede sem sentido,

- Ou paz não tens nunca mais.   

 

Explica o errado, o correcto,

Mostra que há regras, limites,

Direito e dever no tecto

Que recobre quanto dites.

 

Impõe tua autoridade,

Não temas dar a palmada

Se ele pisar de maldade

A raia delimitada.

 

Mas regras fixas, repara,

Não há de bem educar:

- Ter bom senso é que bastara

Mais à intuição dar lugar.

 

 

522 – Ideal

 

O ideal é trabalhar

O que se tem, o que se é,

No sentido de aceitar

Que é o chão onde tomo pé,

 

Gozar a vida possível,

De modo a viver feliz

O dia que for vivível,

Antes que altere o cariz.

 

Muda o modo de pensar,

Vive, vive o dia-a-dia

Como um último lugar

Que o mundo te ofertaria.

 

Repara no modo como

Gostavas de ser lembrado,

Da vida qual é o assomo

Aos netos a ser narrado:

 

Será que é mesmo importante

Que os lençóis sejam mudados

Cada dia e mais adiante

Ter teus cobres espelhados?

 

E nunca te martirizes

Com miudezas sem valor,

Sorri teus brandos matizes

Ao incivil condutor,

 

Mal educado, agressivo:

Problema é dele, não teu.

Cantarola tu ao vivo

Ou solta o teu assobio.

 

Faz o que tens a fazer,

Por mais difícil que seja.

Mais vale uma vez sofrer

Que sofrer dor que goteja.

 

Muda de rotina, acaso

Monótono fique o dia,

Passeia sem pôr-te um prazo

Ou corre na pradaria.

 

Não andes a competir

Com piscina, aparelhagem,

Carro novo, num devir

De quem morre da viagem.

 

Repara melhor, vê bem,

Quem tal faz tudo atrapalha,

Nem fim-de-semana tem

E amigos, nem quando calha…

 

Prefiro laços, amor:

Tomada bem a medida,

Quem afinal tem melhor,

Tem melhor nível de vida?

 

Faz a limpeza geral,

Livra-te da tralha velha,

Dá tudo a quem passar mal,

É o que a alegria aconselha,

 

Já que tens a recompensa:

Dás-lhes uma nova vida

E ficas com a despensa

Com ar de desimpedida.

 

Jamais tens de fazer tudo:

Já levas vida ocupada,

Sempre a correr, façanhudo,

Sem tempo teu para nada.

 

Outrem ama por quem é,

Que ninguém muda assim tanto,

Mantém a paixão de pé,

Afina o amor, por enquanto.

 

Nunca a familiaridade

Deixes tombar em desprezo,

Faz ao íntimo que agrade

O que no amigo mais prezo.

 

A teu cônjuge confessa,

Família, amigos, que os amas,

Elogia-os sem pressa,

Que bênçãos em volta acamas.

 

Ombro amigo sê dos mais,

Mas, se em apuros te afectam,

Vê lá bem por onde vais,

Que em mal nunca te intrometam.

 

Escreve aos velhos amigos,

Telefona, dá recados.

São a messe de teus trigos

E que alegria nos prados!

 

Apanha a flor do jardim,

Merca fruta, vegetais…

Enche o lar com vida, assim,

De energia com sinais.

 

Vai à praia, espaço aberto,

Ventos, ondas, pés descalços,

O sol nas costas desperto:

- Teu imo escapa aos percalços.   

 

Faz pinturas, escultura,

Faz bolos, faz jardinagem,

Seja o que for, faz costura…

- Porém cria à tua imagem.   

 

Dá passeios, que mais jovem

Retornarás a teu canto,

Físico e psíquico movem

O mundo com teu encanto.

 

Muda os móveis de lugar,

Altera quartos, paredes:

Podes não acreditar

Mas são férias que te medes.

 

Dá-te o que te dá prazer,

Um fim-de-semana fora,

Uma massagem qualquer,

Uma noite de ir embora…

 

E depois sorri contente,

Sorrir é contagioso,

Quenquer que seja que o tente

No fim multiplica o gozo.

 

E torna o dia de alguém

Mesmo um pouco mais feliz,

Que mais feliz será quem

Com tudo isto ao fim condiz.

 

 

523 – Primado

 

Entre espera e desespero

Dá teu primado ao amor,

Por mais que ele seja esquivo.

Fama de juiz severo

Não é deveras melhor

Que a de juiz compassivo.

 

 

524 – Felicidade

 

Felicidade, eis a essência

Do que, ao perfumar os mais,

Descubro em mim: a evidência

Das gotas, por inerência,

Que em mim caem bem reais.

 

 

525 – Constante

 

É o amor aquela planta

Que constante quer carinho

Para às tensões que ele implanta

Escapar-me maneirinho,

 

Para do tempo à erosão

Sobreviver preso ao chão,

 

Para gerar das raízes

Sempre outros novos matizes.

 

Estranha planta é o amor

Que só de estufa dá flor!

 

 

526 – Acalmar

 

Fazer amor não é amor,

Quem o faz, na sovinice,

É a tentar domar a dor,

Fá-lo tal se ele existisse,

Sem lhe atear o fulgor.

O pior é que a mentira,

Em vez de acalmar, delira.

 

 

527 – Diabo

 

Os ódios, as opressões

São o diabo incarnado.

Antes de temer pecado,

Teme à virtude os senões,

Quando ela for de tristeza

E dum homem fizer presa.

 

Deus quer o Homem livre e ledo,

O diabo, medroso e quedo.

 

O diabo é guerra e fome,

Deus é o amor que te tome.

 

 

528 – Sedução

 

A sedução é intuitiva,

Pequenas coisas de nada,

E, de repente, que viva,

Que relação instintiva

Nos enlaça apaixonada!

 

A sedução é intuitiva,

Pequenas coisas de nada.

 

 

529 – Casados

 

Há dia de namorados,

De casados não há dia.

Têm razão, que enamorados,

Tantos anos já passados,

Só nós é que alguém veria.

 

É dia de namorados:

Coitados, só têm um dia!

Nós, os medos e os cuidados

Desde há muito ultrapassados,

Mudámos tudo em magia.

 

Crêem que isto é uma aldrabice,

Ternura que tanto dura.

E é por esta palermice

Que olhar não têm que visse

Todo o amor que em nós apura.

 

 

530 – Deveras

 

Quando deveras alguém

De alguém gosta, outrem não quer.

Qualquer outro amor também

O amor quer só que tiver.

Qualquer único é comum,

Cegue embora qualquer um.

 

 

531 – Conflito

 

Do conflito uma das formas

Para que eu fui atirado

É a guerra por cujas normas

Todo o mundo é governado.

 

Porque um mais os outros somos,

Também cada qual por si,

Porque eu sou eu, como os gomos

Da laranja onde outros vi,

 

Mas sempre, para os demais,

Sou outro como outros tais.

 

Desde aí sempre o conflito

Me acompanha o passo e o grito.

 

 

532 – Esperança

 

A esperança é coerciva.

Haja a probabilidade

De que quem amo reviva

E é quase fatalidade:

 

Quero então que sobreviva,

Embora a mortalidade

Seja da dor tão cativa

Que seria caridade,

Em vez de querer que viva,

Partir vê-lo em liberdade

Morte além, sem mais esquiva.

 

A esperança é coerciva

Mesmo se o amor a invade.