DÉCIMO TROVÁRIO
EM VOZ DE POVO O SABER TRAÇO E O
QUE VISLUMBRO
Escolha um número aleatório entre 816 e 949 inclusive.
Descubra o poema correspondente como uma mensagem particular para o seu
dia de hoje.
816 – Em voz de povo o saber traço e o que vislumbro
Em voz de povo o saber traço e o que vislumbro,
Regularmente, em metro e rima concertados,
Os actos são com que, humanais, eu me deslumbro
Por sobre o rosto da paisagem que eu alumbro
Do que a razão vai decifrando em muitos lados.
São quadras simples que sintéticas dirão
Moral de gestos, atitudes, compromissos,
Métrica certa e rima clara apontam chão
Onde no chão os traços vi de meus enguiços.
Moral dum lado, saber fino do que é vida,
Doutro os perfis dum fundamento antes omisso,
Já sintetizam quadra a quadra o rumo à lida.
Rumos de agir que verso a verso fixarei,
Perfis da terra então retraçam, dela a lei.
817 – Fonte
Tornar o pequeno
evento
Uma fonte de
alegria
De habilidade
é um portento
Que urge
dominar um dia.
818 – Fardo
Não fales
contra ninguém
De cujo fardo
pesado
Não tenhas, a
vida além,
Ainda o peso
suportado.
819 – Sarilhos
Sarilhos,
invariável,
Arranja o incompetente
Aos outros,
inevitável,
Não a ele,
eterno ausente.
820 – Assentes
Mesmo que
assentes os pés,
Sabes lá qual
tua lei!
Diz-me tu quem
pensas que és,
Quem não és eu
to direi.
821 – Milagres
Por milagres
não esperes:
Com milagre só
deparam
Os que,
segundo conferes,
Pelo milagre
lutaram.
822 – Linguagem
A linguagem se
tempera
De mil e um
coloquialismos,
Como um
churrasco abebera
Contra
indigestos sadismos.
823 – Fogos
Alguns fogos
iluminam
A vida com tal
paixão
Que os que
deles se aproximam
Brilham com
igual clarão.
824 – Jus
Não me vou
deixar vencer,
Que deveras
sei sonhar
E ao sonho jus
só vai ter
O que resistir
ousar.
825 – Erro
Todos temos a
fraqueza
Que impede de
acreditar
Mesmo no que
mais se preza:
- O erro
vai-nos ajudar.
826 – Culpes
Não culpes,
mesmo se à beira
Te ficar quem
te desculpa.
É que acusar é
a maneira
De a ti te
livrar da culpa.
827 – Ignaro
Se ao poder o
ignaro colo,
O ceptro lhe
dou de rei.
Poder na mente
dum tolo
Vai logo banir
a lei.
828 – Bens
Entre os bens
materiais
Excelente é o
que mais dura.
Nos de honra o
de glória mais
É o que mais
memória apura.
829 – Empresa
A empresa vai
à falência,
Não de
produção não ter,
Antes
destoutra evidência:
É por deixar
de vender.
830 – Alegria
Como a vida se
escoa,
Não te escapes
à fila
Da alegria que
voa,
- Apressa-te a
fruí-la!
831 – Lei
Há uma lei da
vida humana
A todo o
momento a impor
Que cada
alegria ufana
Se pague
sempre com dor.
832 – Sentado
Estou sentado
na vida
À espera de que
o trem passe?
- Quando
passa, de seguida,
É o caixão de
meu trespasse.
833 – Cuides
Não cuides do
que for muito falar,
Que de actos é
que se alimenta o ser.
Não foi amando
que aprendi a amar
E vivendo que
aprendi o que é viver?
834 – Garantia
Que garantia é
que temos?
Mesmo o melhor
trará dano…
Quando a vida
certa cremos,
Cai logo a
nódoa no pano.
835 – Sacrificar-lhe
Ao
sacrificar-lhe em vão
Tudo, momento
a momento,
A pior
escravidão
É ao próprio
pensamento.
836 – Dever
O dever da inteligência
Não é conhecer
à resma,
Que sempre a
mais há ciência,
- É duvidar
dela mesma.
837 – Algo
Nenhum dia em
que aprendamos
Algo, mesmo o
mais banal,
Quando a sério
o avaliamos,
Jamais é perda
total.
838 – Vida
A vida não é o
momento
A momento, de
seguida:
Vida sem
conhecimento
Não merece ser
vivida.
839 – Cota
Todo o mundo é
uma fornalha.
Qual de
espírito é o estado
Que veste a
cota de malha
Que me evite
ser queimado?
840 – Facilmente
Facilmente
acontece
A quem tudo
perdeu
Que dele ao
fim se esquece,
Perde-se num
não-eu.
841 – Bem
Se alguém bem
se quer sentir,
Há-de pagar,
de começo,
De sentir-se
mal o preço,
Bem antes de
prosseguir.
842 – Civilização
Da civilização
humana o mais das flores
Das estrumeiras
brotam da pior miséria.
Da cidade
opulenta jamais os humores
Encheram a
barriga à inspiração sidérea.
843 – Livremente
Praticar
livremente a crença, a ideologia,
Não é problema
apenas de ser permitido,
Mas de
obrigado a tal não sê-lo em nenhum dia:
Ninguém um
deus ou sonho pode amar coagido.
844 – Trepa
Quem aqui
trepa no plinto
É a turbamulta
da estrada:
Hoje um homem
que é distinto
Já não se
distingue em nada.
845 – Quadros
Os quadros
avaliar
Pelo êxito que
tiverem…
- Mas por que não
os comprar
Pelo prazer
que me derem?
846 – Mercantil
Das gentes de
bom gosto o parecer
A qualquer
obra de arte permanente
O valor
mercantil torna presente:
- Dum quadro
uma obra de arte faz nascer.
847 – Compra
Há tão pouca
relação
Entre a palavra
e um evento
Como entre a
moeda e o pão
Que compra
como instrumento.
848 – Momento
Que momento
solitário
É sempre esta
nossa vida:
Nem de mim sou
dono vário
Nem dela terei
a brida.
849 – Enquanto
Enquanto há
vida, há esperança,
É verdade consabida.
Vê, porém,
quão mais alcança,
Que enquanto
há esperança, há vida.
850 – Saber
Muito saber é
preciso
Só para nos
constatar
A quanto nos
monta o viso
Da ignorância
tida a par.
851 – Sucesso
Sucesso é bom
de medir:
É a lonjura
que ficou
Entre a origem
de alguém vir
E o que ao fim
ela alcançou.
852 – Enfara
Não há solidão
Onde houver
saber
E onde há
livros não
Se enfara
quenquer.
853 – Sorrir
Sorrir é a
melhor maneira
De
arreganharmos o dente
Ao destino que
se abeira
E de tê-lo à
mão e tente.
854 – Prova
Ser-se posto à
prova é bom:
A vida que
desafia,
Para quem não
está são,
Sempre é
melhor terapia.
855 – Panaceia
O mero fazer
que invento
Não é
panaceia, não:
Não confundas
movimento
Com a
verdadeira acção.
856 – Sorte
Duma vida que
me agrade
Se acaso a
sorte tiver,
Deverei ter,
de verdade,
Coragem para a
viver.
857 – Comete
Lá porque teu
inimigo
Comete um erro
encoberto
Não quer dizer
que contigo
Tudo esteja,
afinal, certo.
858 – Mundialmente
Ser mundialmente
famoso
É ser na sala
ofuscado
Por luz
demais: só dá gozo
Se a tudo
andar aprestado.
859 – Elementar
É de elementar
prudência
Preparar para
o pior
Tendo em mira
a conveniência
De esperar
sempre o melhor.
860 – Inútil
“Se ao menos…”
é o pesadelo
Do que não fiz
e devia
E sempre o
inútil apelo
Da compreensão
tardia.
861 – Comprar
Entregamos
juventude
Ao comprar
sabedoria.
Enganam-nos em
virtude
Da taxa que
isto cambia.
862 – Escola
A escola,
medida,
V^só quantas
lérias!
Na escola da
vida
É que nunca há
férias.
863 – Escalpelo
Descobrir um
homem some
Mesmo o
escalpelo que o lê:
Se um homem é
o que ele come,
Bem mais é
aquilo que vê.
864 – Pureza
A pureza é a
camuflagem
Maior da
variedade
Mais profunda
na qual agem
Os da criminalidade.
865 – Concita
Não concita a
qualidade
O respeito dos
vadios
Que a
cercarão, é verdade,
Mas a lhe
romper os fios.
866 – Batuques
Os batuques
batucando
Dentro de
nossas cabeças
São grandes
ideias quando
Enlouquecem
com as pressas.
867 – Grado
O grado
dinheiro dá
A
oportunidade-mor
De se ofender
a si lá
Quem dele for
detentor.
868 – Busco
Não há nada
mais fantástico,
Quando busco
de verdade
Da ilusão além
do plástico,
Do que a
própria realidade.
869 – Brotam
Da felicidade
é guia
Não mudar os
contratempos
Que brotam no
dia-a-dia
Do dia-a-dia
em tormentos.
870 – Maior
Quanto maior
for a nossa
Ilha do
conhecimento,
Mais linha de
costa engrossa
À dúvida seu
fermento.
871 – Ruído
Da vida o
ruído vence-o
O mutismo em
meu recorte:
Antes de
nascer, silêncio,
Silêncio
depois da morte.
872 – Lição
Foi logo na
verde idade
Que aprendi o
mais premente:
Não há nunca
liberdfade
Sem dinheiro
independente.
873 – Livro
Um livro nunca
termina:
Um autor é
que, exaurido,
Resignado o rosto
inclina,
E ao fim se dá
por vencido.
874 – Lento
Deus é lento,
por respeito
Que te deve a
ti e a mim.
É lento mas
leva a peito:
Deus tarda mas
cumpre enfim.
875 – Problema
O problema da
ficção
É que tem de
ser credível
Quando a
realidade, não,
Ou raramente é
possível.
876 – Rio
Nós somos,
nós, como o mar,
Vem água de
toda a parte
E a todo o rio
e lugar
Novamente ele
a reparte.
877 – Tinge
Raramente o
grande autor
De voz
credível e arguta
Dele não tinge
da cor
A mente de
quem o escuta.
878 – Justiça
A justiça,
algumas vezes,
Se não chega
logo, chega
Mais cedo ou
mais tarde, prezes
Embora o mundo
que a nega.
879 – Patrão
Rígido patrão
é o crime,
Contra quem só
devém forte
Quem contra
inteiro se arrime,
Que só então
pode ter sorte.
880 - Golpes
Soterra-me,
quando a encaixo,
A vida que me
lesar:
Sempre o golpe
é para baixo,
Restam
farrapos pelo ar.
881 – Desgraça
Desgraça não é
sofrer,
Desgraça não é
ser pobre.
A desgraça é
só fazer
O mal, o mal
que nos sobre.
882 – Iniquidade
Pode a
iniquidade ter
Mil golpes a
desfechar,
Ameaças a
fazer,
- Mas não tem
ordens a dar.
883 – Promete
Um
homempromete mais
Do que o que
pode fazer
E faz ameaças
tais
Que as nem
ousa cometer.
884 – Palavras
Pesa as
palavras, diz poucas
E só se a
carência dana.
Palavras, o
mais são loucas,
Calado ninguém
se engana.
885 – Sublimadas
Na longa
perturbação
Há sublimadas
virtudes
Mas crescem em
proporção
Perversões com
que te iludes.
886 – Agir
Como agir é
limitado,
O que é demais
no mandar
No executar é
cortado,
Manga em perna
vai faltar.
887 – Anos
Tratantes
podem morrer,
Pode-se curar
a peste,
Para os anos é
que haver
Não há remédio
que preste.
888 – Antes
Dão as
palavras efeito,
É um da boca,
outro é do ouvido.
No imo escuta-lhes
o jeito
Antes de as
ter proferido.
889 – Escrever
Escrever é
danação
Em que, entre
pecados meus,
Às vezes, como
lição,
Vou tendo
encontros com Deus.
890 – Provar
Pedem
oportunidade?
Para quê?
Provar, primeiro,
Que não pode,
de verdade,
Tornar feliz o
dinheiro?
891 – Relevante
Relevante é
recordar
De oiro a
regra do valor:
O que importa
é melhorar,
Não é, pois,
ser o melhor.
892 – Derrota
Ter sucesso
não é norma,
Se olho o todo
social:
A derrota mais
conforma
Quem lida com
o real.
893 – Corre
Sempre
cuidamos que a vida
Corre em
frente em linha recta,
Até vermos que
ela lida
Em círculo ao
fim na meta.
894 – Tarde
Se tarde
demais se aprende,
Em lugar de
experiência,
Mais na vida
isto nos rende
Desilusão da
vivência.
895 – Dor
Pouco é saber
da tristeza
Mandar que o
triste se alegre.
À dor profunda
mais lesa
Consolo que a
não integre.
896 – Verdade
Vive a verdade
sem nada
Do conto,
embora fecundo,
Em que pode
ser narrada
Às escâncaras
no mundo.
897 – Moderação
A moderação no
encalço
Vai dum trilho
racional
Entre o
puritano falso
E a luxúria
obsessional.
898 – Custa
Viver num
mundo caído
Implica então
que o melhor
Não vem do
prazer haurido,
Custa
abnegação e dor.
899 – Lendas
Lendas, mitos
são verdade,
Que da verdade
os aspectos
Nos mostram na
identidade
Em que eles só
são correctos.
900 – Danado
Fora a vitória
que exista
Além da guerra
que houver,
Não existe
moralista
Mais danado
que o prazer.
901 – Ruptura
O que chamo
coisas más
São as boas
corrompidas.
Quem se quer
mais que a Deus traz
Ruptura às
próprias medidas.
902 – Corrupção
O mal,
corrupção do bem,
É um poder que
é parasita
E a fraqueza
que contém
É que contra
si se agita.
903 – Dádiva
Há uma dádiva
da morte,
Não é de extinção
da vida,
É a plenitude
da sorte
De viver com
desmedida.
904 – Mortais
Aos mortais
felicidade
De nenhumas
vinhas empo
A não ser na
eternidade,
Que as não
encontro no tempo.
905 – Beleza
Deveras a
realidade
Deve antes
andar a par
Da beleza que
a invade
E não do
molecular.
906 – Exterior
O mundo
exterior é estranho:
Vê tudo quanto
o rodeia
Excepto, em
todo o tamanho,
O essencial
quando lhe ameia.
907 – Insólito
Tudo o que for
trivial
Devém insólito
quisto
Se, sem dar
disto sinal,
De ângulo novo
for visto.
908 – Palavra
A palavra
viola tudo,
A palavra e a
frase feita
Que sugam
seiva a canudo,
De quanto é
vivo maleita.
909 – Visos
A juventude
oferece
Visos de
felicidade,
Só que as
dores não esquece
Duma vida a
realidade.
910 – Tempo
Se eu soubera
ter durado
Tanto tempo a
meu abrigo,
Tinha tido
mais cuidade,
Bem mais
cuidado comigo.
911 – Indulgente
O indulgente
não enguiça
Por ter falta
de equidade,
É que
indulgência é justiça
Caldeada com
bondade.
912 – Mudanças
Mudanças
profissionais
Não vão correr
suavemente.
Assuma que
serão tais,
Não olhe
atrás, consequente.
913 – Fevereiro
Fevereiro é
para o Inverno
O que for a
quarta-feira
Para a semana
de inferno
Do trabalho
que aligeira.
914 – Tempestade
Que é que há
de mais cativante
Que qualquer
documentário
Duma
tempestade hiante?
- Ela ao vivo
e sem sumário!
915 – Ansioso
O ansioso é
como alguém
Numa fixa
bicicleta:
Suará como
ninguém,
Não alcança
nunca a meta.
916 – Juventude
Na maior parte
dos casos
Nunca a
juventude existe,
Só existiu em
idos prazos,
- A alegria é
o que persiste.
917 – Mudar
Há quem queira
a liberdade
Mas mudar
nunca lhe calha,
Quer um bronze
que lhe agrade
Mas não aceita
a fornalha.
918 – Lebre
É uma lebre
fugidia
Toda e
qualquer realidade:
Meditamos nela
um dia,
É logo outra a
identidade.
919 – Sofrimento
Mais que com
dor, é com ânsia
Que como
adulto me ofusco.
O sofrimento
na infância
É fruto que
murcha brusco.
920 – Desapontarão
Àqueles a quem
os deuses
Desapontarão
de horrores
Moldam, antes
dos adeuses,
Como muito
encantadores.
921 – Partido
Nenhum partido
vencer
Vai poder, que
a condição
Duma vitória
qualquer
É o homem em
si ter mão.
922 – Demorada
Qualquer
uniformidade
Demorada a
vida enjeita,
Que esta é
vária identidade,
Volúvel paixão
a enfeita.
923 – Polícia
Polícia quem
policia?
Quando o
próprio mestre errar,
Quem é que se
atreveria
Ao aluno a ir
ralhar?
924 – Olhar
No mundo
jamais há dois
Que vejam a
mesma coisa
Com o mesmo
olhar, depois,
Quando a
memória lá poisa.
925 – Contém
Todo o mal
contém um bem,
Contém-no de
modo tal
Que nunca sabe
ninguém
Onde o bem
ande e onde o mal.
926 – Morrem
Quando nos
morrem os olhos,
Das órbitas
bem no fundo
Se escondem,
são dois abrolhos
Nas vãs
cavernas do mundo.
927 – Momentos
Nos momentos
de perigo,
Nas
conjunturas mais graves
As faltas já
não persigo
Dos gestos que
não são chaves.
928 – Radica
O mal é da
instituição
Mais dos actos
de quenquer:
Radica no
coração
Mais fundo do
que o fizer.
929 – Público
Público não
requerer
Que bom é para
o poema!
Como uma pedra
qualquer
Toma pé no
próprio lema.
930 – Único
Único imaginas
ser
Como quanto te
acontece.
Não imaginas
sequer
Que em tal
tudo se parece!
931 – Ninguém
Ninguém mais
meu rosto tem,
Não sou duplo
camafeu:
A ser eu não
há ninguém,
Não há ninguém
senão eu.
932 – Eu
Eu, eis-me,
alguém que diz eu!
- Mas um dia
tal presença
Ninguém mais a
aconteceu,
Ninguém mais
cobra tal tença.
933 – Verdade
A verdade é
crítica,
Mesmo se
arrepela:
- Não fazer
política
É ainda
fazê-la!
934 – Excepto
Excepto o
próprio, ninguém
Pode fazer
coincidir
Que para ele
também
Seja
importante existir.
935 – Morto
Tombas morto
na poeira,
Do passado
findo o idílio:
Não é mais a
terra inteira
Que, sem
retorno, um exílio.
936 – Escrita
A mentira
escrita a tinta
Urge apagar a
quem mangue
A mudar tónica
e pinta
À verdade
escrita a sangue.
937 – Ganhar
Para ganhar
algo a sério
Tens mesmo de
te esforçar.
Quem, sem tal,
gozar de império
Não deve algum
ter lugar.
938 – Política
Quem política
não quer
Na areia
enterra a cabeça:
Tranque-lhe a
porta quenquer,
À janela entra
na peça.
939-Justiça
A justiça
importa mais
Que
esclarecimento. E humor
Mais sagrado é
que jamais
Da ambição será
o fulgor.
940 – Dinheiro
O dinheiro não
é mau.
Enlouqueço,
todavia,
Ao
transmudá-lo em degrau
De ídolo que
adoraria.
941 – Erros
Muitos erros
cometi,
Insensatezes a
fio,
Mas quando
olho quem vivi,
Sinto afeição
e me rio.
942 – Prisão
Santo que for
verdadeiro
Vai remar
contra a corrente,
Contra a regra
e o tinteiro
Da igreja
prisão de gente.
943 – Difícil
Uma
espiritualidade
Difícil
empreendimento
Mais é que a
facilidade
Das revelações
que invento.
944 – Sair
Qualquer ética
é maneira
De sair do
isolamento
A personagem à
beira
Do puro
ensimesmamento.
945 – Esperado
Professor
deveras bom,
Muitas vezes
quem o espreita
Não colhe o
esperado tom:
É uma pessoa
imperfeita.
946 – Autoridade
Autoridade é
quem pode
Ajudar-me a
ser quem sou.
Negativa é
quando acode
E à imagem
dela ser vou.
947 – Viva
Viva o
espírito primeiro,
Só depois a
instituição,
Mero apoio por
inteiro
Da espiritual
vida então!
948 – Bom
Quem é bom
sabe lá bem!
É por isso que
ele é bom…
Quem não for
tenta-o também:
Mas não é,
falta-lhe o tom.
949 – Total
O total de
quanto houver
É o efeito em
turbilhão
Da infinda
conjugação
Feita do verbo fazer.