QUINTO  VERSO

 

 

EM  PASSOS  DE  AMOR  POBRE  NO  DESERTO

 

 

 

Escolha um número aleatório entre 435 e 518 inclusive.

 

Descubra o poema correspondente como uma mensagem particular para o seu dia de hoje.

 

 

 

 

 

435 – Em passos de amor pobre no deserto

 

Em passos de amor pobre no deserto

Tentando acertar nossas pegadas

A ver se a força aumenta de mãos dadas,

Se o longe então devém de vez mais perto,

 

Exaltantes irão ser as estradas

Por onde ao sol nascente, enfim desperto

E encontro o mundo inteiro sempre aberto

Aos sonhos de fecundas caminhadas.

 

Qualquer sonho de amor é o nosso pão

Por onde em cada dia nos irão

As fomes de infinito rasgar céus.

 

Um amor será mais do que um bordão

Que o caminheiro arrancará do chão,

O amor é a minha margem de ser Deus.

 

 

436 – Namorados

 

Para a minha namorada

Que se fez minha mulher

Não há prenda, não há nada

Que nos valha o bem-querer.

 

No bem-querer o que fala,

Quando tudo se perdera,

É que o bem-querer iguala

O mais que o mundo tivera.

 

Iguala, não, que bem mais

Que tudo o mais quem se quer

Partilha com os sinais

Discretos de se querer.

 

Assim, pois, na minha agenda

Isto de querer-te bem

É que foi a melhor prenda

Que, em dia de namorados,

Ao tirar-me de cuidados,

Descobri que o mundo tem.

 

 

437 – Invés

 

Ao invés do que é o amor

A amizade pode ser

Revivida ao infinito.

Terra fértil e calor

Germinam-na, se aprouver

Tê-la eterna em nosso fito:

Há-de ser estimulada,

Cuidada, que é planta rara,

Na berma comum da estrada

Haure o que a fertilizara.

De longo tempo precisa,

De rega para crescer…

Árvore é a final divisa:

Nada a abate nem quenquer.

 

 

438 – Loja

 

O casamento é uma loja,

Loja de conveniência,

Noite e dia nos aloja

Sem variar a existência:

O que houver é aquilo que há…

- Mais que, às três da madrugada,

Quando já não tenho estrada,

A porta aberta está lá.

 

 

439 – Contorno

 

Quem dera que toda a gente

Encontrara sempre alguém

À espera ao fim da viagem!

Que sempre houvera igualmente

À despedida com quem

Do voo abraçar a aragem.

Se morrer for, sem retorno,

Correr rumo ao final norte

Toma então feliz contorno:

Nem terei medo da morte.

 

 

440 – Vigente

 

Queremos dar um presente

Cujo valor ultrapasse

O tempo em que for vigente

A vida que ele durasse.

 

Nosso maior desafio

É um presente para um filho

Que à vida lhe empreste o fio

Que evite a trama e o sarilho.

 

Um presente jamais é

Só uma coisa material,

Pois o que ele põe de pé

É o carinho quanto vale.

 

De escolha particular,

De cada qual sinal mais,

É bem mais que estimular

Os filhos por mão dos pais.

 

O que ele nos põe à mão

Como dimensão primeira

É a velada dimensão

Em que a vida é verdadeira.

 

 

 

 

441 – Favor

 

Se uma mulher só beleza

Retiver em seu favor,

Breve perde a singeleza.

Esquece o amante o esplendor,

A uma mais nova põe mesa.

 

Quando, porém, seu valor

Do que tem dentro se preza,

Ninguém lhe rouba o penhor,

Mesmo morta se lhe reza!

 

 

442 – Amor

 

Prato de alma e coração,

O amor é cabeça e corpo

Em doses com medição,

É a paz colhida no horto.

E quem o conhece sabe

Que, depois de ele nascer,

Tudo, tudo nele cabe,

É uma criança a aprender.

 

Aprende a falar e rir,

A respeitar, escrever,

Vai à escola, aprende a ouvir,

A calar e a crescer,

Vai aprender a pedir

E, por vezes, a não ter,

A lutar sem conseguir,

A chorar sem ninguém ver,

Ou a ver mas sem ouvir,

E aprende a não desistir

De a maior riqueza ser

Que alguém poderá colher.

 

Aprende mesmo a fingir

Que é o melhor que se há-de ter:

Então, quando tem porvir,

Será o ser de quem tem ser.

 

 

443 – Figura

 

É o amor uma figura

Por meio da qual dizemos

O que não sinto na altura,

Mas sentindo que o calemos.

 

Pílula por dentro amarga,

Vem adoçada por fora

E assim perderá tal carga

Ao paladar que a devora.

 

Escamoteia a verdade,

Bom prestidigitador,

Salto mortal que nos há-de

Da acrobata dar valor.

Enfermidade comum

Mas que quer, em cada caso,

Não tratamento nenhum,

Mas antes que lhe dês azo.

 

Um manjar apetitoso

Mas fortemente indigesto,

Um dente bem doloroso

Sem, para arrancá-lo, apresto.

 

É a bota que só quem calça

É que sabe onde lhe aperta,

Corrida de pista falsa

A requerer carta aberta.

 

É uma eléctrica corrente

Por entre dois corações,

Drama ou tragédia que sente

Quanta comédia lhe opões.

 

O amor és tu, são os teus…

E no fim o amor é Deus.

 

 

444 – Amigos

 

Os amigos de primeira

São raros, p’ra toda a vida.

Criticam-nos em privado

A pequenez e a asneira,

Em público nos defendem

Da maledicência ouvida.

Vibram do êxito logrado;

Se os falhanços nos estendem,

Erguem-nos com mão segura.

São meigos, mas não piegas,

Confidentes sem secura,

Atentos sem vincar pregas.

 

Connnosco preocupados,

São quem por nós tem cuidados.

 

Poucos são amigos tais:

Quem tem poucos, muitos tem.

Quem tem muitos, tem demais,

Pois não tem nenhum também.

 

 

445 – Agenda

 

Como do pós-guerra os filhos,

Vivo a sobrecarregar

Família, carreira, amigos

Na agenda sempre a voar.

 

Ao passar com minha mãe

Algum tempo, aprendo então

Como é importante também

Neste meu ritmo ter mão.

 

- Aprendo a não fazer nada:

Este é o ponto de partida

Da vida que quis ser vida

E este é o ponto de chegada!

 

 

446 – Amigo

 

Juntos comer e beber,

Juntos rir e conversar,

Vida fruir devagar…

- Nem um amigo sequer

Desabrocha disto a par

Enquanto se não tiver

De juntos, juntos chorar!

 

 

447 – Beijo

 

- Posso-te, mãe, dar um beijo

Para bem melhor ficares?

- Teu beijo, com tal desejo,

Faz-me logo mudar de ares.

 

Às vezes a gente chora,

Não por ficar magoado,

Mas dum amor que em nós mora

Transbordar por todo o lado.

 

- Fazem, mãe, os corações

Essas lágrimas que citas?

- São, filho, nem tu supões,

De todas as mais benditas.

 

- Fico, mãe, muito contente

Que teus olhos de desditas

Façam lágrimas que sente

Um filho que são bonitas.

 

 

448 – Mora

 

Ainda não aprendeste

Que a beleza aonde mora

É nos olhos do que a veste

Duma visão sedutora.

 

Ao olhar observador

O que a beleza contém

É o que tem secreto o amor

Do que ele vê para além.

 

 

449 – Gémeos

 

Tanto o amor como a alegria

Juntos são gémeos nascidos

Ou um doutro, por magia,

Brotam como a luz do dia.

E são sonhos repartidos:

O peito é um pardal e pia

Pelos meus cinco sentidos.

 

 

450 – Êxtase

 

No momento em que tiveres

Em teu coração o amor,

Ao sentires-lhe os prazeres,

Profundidade e calor,

No êxtase descobrirás

Que para ti começou

Noutras guerras outra paz

- E o mundo se transformou!

 

 

451 – Vez

 

Apesar do desespero,

Da perda e da culpa, a vida,

Excitante, divertida,

Bela, astuta, cativante,

É o amor que dela gero:

Muitas vezes é um poema,

Uma aventura excitante,

Outras vezes é sublime,

Ao acaso alegre tema…

 

Seja o que for que lhe arrime

Durante, o que vem após

(Se é que não ficamos sós…)

- Ter esta vida outra vez

É o que nunca ninguém fez.

 

 

452 – Vera

 

A felicidade vera

De natureza é discreta,

Inimiga, por secreta,

Da pompa e tricas da feira.

 

Ela nascerá primeiro

Da satisfação consigo.

A seguir, por derradeiro,

Da amizade que consigo

 

E das conversas de alguns

Companheiros reduzidos

Que mais do que outros nehuns

De mim são os escolhidos.

 

 

453 – Pena

 

Viver, morrer vale a pena

P’ra tornar alguém feliz,

Não sofre nem se condena

Quem com os demais condiz.

 

Dar aos mais é um exercício

Que, por mais que se complique,

Ao fim não traz sacrifício,

Por muito que sacrifique.

 

 

454 – Avante

 

Joga o coração adiante

E, a apanhá-lo, corre avante!

 

 

455 – Melhor

 

O mundo melhor seria

Se umas para as outras menos

As pessoas, cada dia,

Olharam, se mais pequenos

Trocaram disto os sinais,

E uns pelos outros, serenos,

Em troca olharam bem mais.

 

 

456 – Parceiros

 

Os parceiros poderão

Recusar ouvir as queixas,

Ou dizem saber então

Do outro todas as deixas,

 

Ou vão vislumbrar no insulto

Um pedido de mudança…

- Um lar feliz tem o culto

De se ouvir, por isso alcança!

 

 

457 – Sol

 

 

Amarmos, sermos amados,

Sol bronzeando ambos os lados.

 

 

458 – Partida

 

Hoje, que volto a perder-te,

É que sinto que voltaste.

Que bom não ficar inerte:

Partindo, ao menos chegaste,

 

Ao menos agora é bom!

Deveria ser mais cedo…

Ouço da partida o som:

Tarde demais sinto medo!

 

 

459 – Revolta

 

A revolta que alguém sente

Ao descobrir-se impotente

Para conservar o que ama!

Que fizemos nós da vida?

 

Dará cada qual à dama

Com que em cada hora lida

O melhor a que ela exorta?

 

- Isto, afinal, é o que importa.

 

 

460 – Resposta

 

Ela amou-me ou fui apenas

De apoio o mero bordão

Para quanto apetecia?

Não há resposta e condenas.

Mas há mesmo precisão

De fazer luz algum dia?

 

Talvez não tenha importância.

- É que não há uma resposta,

Senão a que por tal ânsia

Por ti a ti for imposta.

 

 

461 – Enganar

 

Devemos desconfiar

De nosso primeiro impulso:

Quem não se vir enganar

À vida não toma o pulso.

 

Se me não der ao trabalho

De recompor a verdade

Como saberei se entalho

Delicado minha idade?

 

Uma verdade absoluta,

Para sempre e sem cambiantes

É um “amo-te!” sem mais luta,

Sem ter amanhã nem dantes.

 

Onde iríamos parar

Se a tal “amo-te!” convicto

Contrapuser, em lugar,

“Não te amo!” de vez invicto?

 

Era morrer ou matar,

Era viver numa arena:

E ninguém teria um lar

E ninguém teria pena…

 

 

462 – Propósito

 

Um amante, quando ele ama,

De propósito não faz.

Forçá-lo a voltar atrás

Do sentimento na gama,

 

É apontar para o nadir

Que não tem nenhum lugar,

É querer mesmo impedir

Toda a Terra de girar.

 

 

463 – Ciúme

 

Habituo-me a ter fome,

À dor de estômago e dentes,

A uma paixão que se some…

Muito embora com queixume,

Habituo-me, entrementes.

 

- Não, porém, não ao ciúme!

 

 

464 – Dor

 

De vez para ultrapassar

A total mediocridade,

A uma mulher persuade

A dor que infernize o lar,

A dor que chora, que grita,

Ou calada no tormento.

Resistência ao sofrimento

É, na mulher, infinita.

 

E logra assim, no final,

Píncaros de santidade,

Grandezas de heroicidade:

Chama tem de genial.

 

 

465 – Longa

 

Uma longa paciência,

Desgostos muito escondidos

Formam oculta a ciência,

Endureceram sentidos,

 

Afinaram a mulher

Que nos contam feita de aço.

Ninguém repara sequer

De quanta luta e cansaço

 

Se talha aquela dureza.

E a ternura que requer

Tamanha erguer a grandeza

Feita ao fim só de mulher.

 

 

466 – Desejo

 

O desejo quanto existe,

Semideus imperioso!

Fauno à solta sempre o viste,

Cabriola a cabriola,

À volta do amor gostoso

Quando a amor jamais se imola!

Obriga-me a recordar

Que estou só por todo o lado,

Por mais que em qualquer lugar

Inteiro ande acompanhado.

 

 

467 – Misericórdia

 

Deus do pecador diria

Já repeso do pecado:

“Jamais me procuraria

Se não me houver já encontrado.”

 

Mas nunca um amor, porém,

Tal misericórdia tem:

“Encontraste-me uma vez

E para sempre me perdes.”

Ao perdê-lo, o que tu crês

É ter sofrido o que houverdes

De sofrer do que perdestes.

Engano, não acabou:

Saboreias tua perda

Ressuscitando hoje nestes

O que além se te finou.

 

Exaures cada festim

De amor novo em tua vida

Com veneno até ao fim:

Neles ficará delida

A memória sem parceiro

Do que foi o amor primeiro.

 

Não é questão de valor:

- É que ele é o único amor.

 

 

468 – Casamento

 

No casamento, o pior

Não são a traição, as brigas

Que transmudam, por amor,

Pessoas em inimigas.

 

É a domesticidade,

É o que as esposas demuda

Em amas de toda a idade.

 

A mulher à lida gruda:

Receia que a costeleta

Do senhor fique passada,

Que água fresca vire preta

Da gola mal engomada,

Que o colarinho postiço,

De mole, ponha a ferver

A banheira que sem isso

Era o duche que ele quer…

 

Ser a barreira esgotante

Do mau humor do senhor,

O rol inventariante

Da avareza do senhor,

A colher da gula hiante

De quanto come o senhor,

O prazer do corpo, instante

Das preguiças do senhor…

 

O que mata o casamento

Não são hábitos de vida

Nem é uma banalidade:

- É tão banal o tormento

Devir na via seguida

Que nem se vê de verdade!

 

 

469 – Prendas

 

Diz amor, não casamento,

Só o amor alegre torna

A servidão do tormento,

Fácil o suor da jorna.

 

Agora que ele morreu

Vomitas tudo e renegas.

Porém, quando aconteceu,

A ti toda a dor agregas,

É sacramento do céu

E reverente a consagras.

 

Porque amar é obedecer,

Todas as prendas são magras

Para um deus a quem se quer.

 

 

470 – Enlaçadas

 

Duas damas enlaçadas

Serão par licencioso

Ou fraquezas de mãos dadas

Que se nem lembram do gozo?

 

Uma da outra nos braços

Refugiadas talvez

Para escaparem dos laços,

Dormir e fugir de vez…

 

Saborear, não prazer,

A felicidade amarga

De semelhantes se ver,

Ínfimas burras de carga.

 

O voluptruoso amante

Que só compreende o amor

Mora do amor tão distante

Que nunca viu esta dor.

 

 

471 – Voluptuosidade

 

A voluptuosidade,

No ilimitado deserto

Do amor, ocupa um lugar

Ardente em vivacidade,

Tão ofuscante e tão perto

Que a princípio o cintilar

Dela é o que apenas veremos.

 

Não sou, porém, inocente

De me cegar do fulgor:

Deste fogo nos extremos

Treme, inconstante, o presente,

O desconhecido, o horror,

Mora o perigo, o perigo…

 

- Meu amor, meu inimigo!

 

 

472 – Pés

 

Os pés de meus olhos

Seguem-na discretos

Pela rua abaixo.

Dentes dela, escolhos

No lago secretos

Da boca em que encaixo…

 

Os pés em redor

Do lago vermelho,

Dos olhos as mãos

A tocar de amor

Alheio a conselho

Da pele os desvãos.

 

As mãos e os pés

De meus pobres olhos:

Humildes refolhos

Do que sou e és…

 

- Dali, porém, eis

Que nascem vergéis!

 

 

473 – Durar

 

Se temer te fazes, faz-te logo amar:

Temor sem amor não aquece lugar.

 

 

474 – Outro

 

O outro jamais é um meio

De prazer ou de serviço,

Não é muro de receio.

É a abertura que cobiço,

 

Uma ponte de passagem

Do indivíduo à pessoa,

O princípio da viagem,

O rumo num mundo à toa.

 

 

É chegar à relação,

Saltar da insularidade

Da terra à fecundação

No espaço da liberdade.

 

Sair de si: qual o nome

Que ao voo poderei pôr?

O outro é quem me mata a fome

De lonjura: isto é o amor.

 

 

475 – Romancistas

 

Em geral os romancistas

Dão por finda uma aventura

Quando os dois protagonistas

Casam, dão progenitura.

 

Porém, contra a convenção,

Aí começa a verdade,

A mais dura provação

Que os personagens invade.

 

O choque dos corpos nus

Prova, no amor verdadeiro,

Contra as fábulas, tabus,

Que o sonho é bem traiçoeiro.

 

Gira por vezes em falso,

Motor em banco de ensaio.

Tem de embraiar-se descalço,

Só incarnando-o de mim saio.

 

- Só chego ao ponto final

Quando for homem total.

 

 

476 – Montanhas

 

As montanhas escabrosas

Nos elevam céu adentro

Desde as vertentes frondosas

Aos fojos onde nem entro.

 

Porém, só se uma paixão

Se intromete em nossa vida:

Sem ela a montanha não

É jamais quem nos convida.

 

A montanha desmedida,

Sem o amor presente perto

Já não é postal de vida,

Parece mesmo um deserto.

 

 

 

 

 

 

 

477 – Dedo

 

Se o marido não é a ponte

Mas a ilha solitária,

A mãe é o dedo que aponte,

Na rosa-dos-ventos vária,

Por onde o norte desponte.

 

É o pontão por onde corre

A trilha do continente,

Que os pés perdidos socorre

De quem ir ao mundo tente

E nas quedas sempre acorre.

 

A mãe traz procuração

Para falar com a vida:

Mesmo se o marido não

Acerta com a medida,

Pelos dois vive a função.

 

 

478 - Incandescência

 

O amor quando renascido,

Desperto da sonolência,

Quase morto, é revivido,

Fulgura de incandescência.

 

Enche-nos de tanto brilho,

Transborda em tal arrebol

Que enflora campos de milho,

Cria a luz nova do sol.

 

 

479 – Assassinos

 

Somos todos assassinos,

Os da eléctrica cadeira,

Os da igreja a cantar hinos,

Só mudamos na maneira.

 

O nosso modo de vida

É o do mútuo extermínio.

A segurança devida,

Tão ávida de domínio,

Para nós nos protegermos

Inventa a destruição

E esta, em variados termos,

Nos acaba tudo à mão.

 

Ninguém mostra acreditar

No poder que tem o amor,

Único com que contar,

Se confiar é o valor.

 

Ninguém nele próprio crê,

Ninguém crê no seu vizinho,

Em Deus já ninguém tem fé,

A suspeita é o pão e o vinho.

 

Quando o medo, quando a inveja

Prosperam por toda a parte,

Qual o rumo que se almeja,

De ser livre quem tem arte?

 

 

480 – Prendas

 

Impressionado por um filho teres,

Que lhe vais entregar de teus haveres?

 

Casa, alimentação, muitos brinquedos,

Abrigo, roupas, canto dos segredos…

 

Esqueceste o principal,

Além de seja o que for:

A prenda das prendas vale

O que valer teu amor.

 

 

481 – Alumia

 

Ele não fala, alumia,

Rasga de noite um clarão

Nos olhos de quem não via…

Enquanto isto acontecia

Terminou a solidão:

Pois cada qual, de estrangeiro

Que sempre era, de primeiro,

Se descobre, ao fim, irmão.

 

 

482 – Palhas

 

Um homem apaixonado,

Vencedor de mil batalhas,

Da mulher amada ao lado

É uma mancheia de palhas.

 

É mais fácil enfrentar

O inimigo no combate

Do que pedir um lugar

No coração por que bate.

 

Pedir-lhe que corresponda

Ao amor que lhe dedique

É do mar uma tal onda

Que nela se afunda a pique.

 

 

483 – Razão

 

Eras antes de à razão

A ciência se entregar

.

Entregou-se ao coração

Quem gerou quem a gerar.

 

Assim, pois, a humanidade,

Entre ambos a baloiçar,

Vai perdendo a identidade,

Que há uma só prioridade:

O coração a criar.

 

Assim foi antes de a mente

Devir sequer existente

Para o ser representar.

 

Bem antes de poder sê-lo

Tivera de haver lugar

Da existência ao longo apelo.

 

Milhares de milhões de anos a amar

Antes de que a razão tivesse um lar.

 

Quando esta prioridade

Se inverter, a mente invade

O lugar do coração.

É pior que a confusão:

Quando tudo for assim,

É sempre o início do fim.

 

 

484 – Egoísmo

 

O egoísmo de possuir

É que me impede o devir,

Pois só cresço em relação:

Não terei qualquer porvir

Se me finda a comunhão.

 

Por isso a propriedade

Não pode prevalecer

Contra os fins que houver de ter

A humana comunidade.

 

É que ter não é um direito

Absoluto e pessoal,

É missão que tomo a peito:

É operação social.

 

Do mesmo modo ninguém

Direito a pensar por todos,

De aos mais o impor, não retém,

Por mais que invista em engodos.

 

Nenhum dogmatismo ateu

Ou crente vai pretender

Que acabado constituiu

Um sistema para o ser.

 

Nem propor pode ou impor

Como um absoluto aquilo

Que o não é, cujo teor

Entesoirado é num silo.

 

Jamais é aquilo o real,

A verdade não é isso,

O absoluto, por igual…

Tudo não passa de esquisso

Onde aflora, pelo chão,

O apelo a darmos a mão.

 

Tudo quanto os homens dizem

Não o diz, pois, deus nenhum,

É cultura onde enraízem

Fronteiras de qualquer um.

 

Eis a razão porque os místicos

Serão sempre mal amados

Com os vergonhosos dísticos

Na cruz de crucificados.

 

Nas igrejas, nos partidos,

Revoluções instaladas,

Jerusalém tem ouvidos

Alerta pelas estradas.

 

E não há Jerusalém

De todas quantas cometas

Que não verta, terra além,

O sangue de seus profetas.

 

 

485 – Gerar

 

O valor do casamento,

Do adulto a gerar crianças,

Não vale o inverso elemento,

Sempre ali demais oculto:

De gerarem, quando avanças,

- As crianças o adulto.

 

 

486 – Necessário

 

Ao sentir-me necessário

Precisamente naquilo

Mais perto do coração,

Da vida salto o calvário:

Sorvo, sublime e tranquilo,

Ser do mundo inteiro irmão.

 

 

487 – Lugar

 

O meu lugar fica ao pé

Do homem, dentro da vida,

No mundo o meu lugar é

Da mão sempre oferecida,

Onde alguém sofre, alguém morre.

Meu lugar é o que cative,

Que do coração decorre

Que bate a meio do mundo:

É o lugar onde alguém vive.

 

- E só por isso é fecundo.

 

 

-

488 – Nós

 

A tarde, em redor de nós

Tecendo fios da vida,

Nos aperta lenta os nós

Com que um ao outro nos liga.

 

Teceu fios para unir.

Se avessas vão as candeias,

Uma vida sem porvir

Os laços muda em cadeias.

 

 

489 – Língua

 

A mesma língua falamos

E tantas tão diferentes

Afinal comunicamos

No que nos passa entre dentes!

 

Por exemplo, digo amor,

Tudo é paz e plenitude.

Outro o diz e lá vai pôr

O ódio com que me ilude.

 

Mais além é só ganância,

Bem calculada cobiça.

Cama e sexo é a maior ânsia

Deste que ao amor se enliça.

 

Naqueloutro é coração,

Auréola de santidade,

Ama a mortificação,

Vislumbra ao fim a verdade.

 

Tudo são meras palavras,

Todas só num mesmo termo.

Por isto é que saio às lavras

E o que encontro é um mundo enfermo.

 

Se num ombro a mão poisar

Do primeiro viandante,

Disser “Amo-te!”, em lugar

De ficar esfusiante,

 

Recuará um passo atrás

Prestes a se defender…

- Prontos ao que o ódio traz,

Quem o amor há-de acolher?

 

 

490 – Distância

 

Teu amor, mesmo o maior,

Dele ao fim qual a importãncia?

Só o apelo da distância…

Importante, só o Amor,

Nem meu, nem teu, de ninguém,

 

Só uma porta para além!

491 – Criança

 

A criança olha e sorri.

Nós sorrimos um adeus.

E tu, mulher, és aqui

A criança que sorri,

A criança que morri

Nos tempos que foram meus.

 

É que nasceste há tão pouco!

E por mais tempo que passe

O relógio fica louco,

Dos anos te perde o enlace,

És a criança que abrace

Os gestos de que me touco

Com a ternura que os trace.

 

Nasceste há tão poucos anos,

Por mais anos que hão passado,

Que de velho meus enganos

Ficam jovens a teu lado!

 

 

492 – Socorro

 

Eu sei, eu sei que não morro.

Mas sou aquele menino

Que viaja pelo espaço

Montando um planeta louco.

Socorro! Meu Deus, socorro!

Já basta de desatino

Não ver de sentido um traço!

E ver-me assim não é pouco!

 

Ai um regaço, um regaço,

Onde me encolher ao colo!

Nas fronteiras do destino

Não ser menino é ser tolo.

 

 

493 – Goste

 

Vamos lá, tenha juízo,

De si não se ocupe tanto,

Ponha a fé no meu aviso:

Se quer um pouco de encanto

Espalhado aqui, ali,

Dos outros enxugue o pranto,

Goste deles outro tanto,

- Todos gostarão de si!

 

 

494 – Esmo

 

Mais valera amar a esmo

Com a avidez de encontrar

O desconhecido olhar

Do caminho de mim mesmo,

 

 

Do paraíso perdido

Nalgum esconso lugar,

Do que ser morto fingido,

Que ser incapaz de amar.

 

Embora, tudo pesado,

Ainda aqui haja uma perca:

Um amor que seja amado

Marca a terra e põe-lhe cerca.

 

 

495 - Ânsia

 

Ânsia de amor infinita,

Instinto religioso:

As duas pontas da fita

Na qual a vida desposo.

 

Ambas no extremo distintas

Mas num tecido comum,

São da liberdade as tintas

Sem peias no céu que pintas,

Se vislumbras céu algum.

 

É que todo o pensamento

É aprendizagem da morte,

Não por ser ela tormento

Mas por nos dar, num momento,

- Do infindo os frutos da sorte.

 

Isto porque, no limite,

O amor é um acto de fé

E a fé, mais do que um desquite,

É para o amor o convite

- E a vida então toma pé!

 

 

496 – Viver

 

O que é importante é viver

(Mesmo quando a gente morre)

Além da morte, em quenquer,

Noutrem onde a vida corre.

 

Importa é que eu seja todos

E lhes transmita tal ser

Nas várias formas e modos,

Como razão de viver.

 

A morte não é completa,

Um indivíduo ao morrer

Prolonga um sonho, uma meta,

O impulso de amar e ser.

 

De vez noutrem transfundido,

Se encontra, ao fim, plenitude:

É o mundo em si que, sendido,

Jamais doravante ilude.

 

 

Ínfima sou a partícula

Que ajuda a rolar o imenso

Universo a que, ridícula,

Humildemente pertenço.

 

 

497 – Medida

 

Submisso nunca sou vivo.

Com o todo e com o nada

Se me encontro, sobrevivo,

Eu que sou nada e sou tudo,

E, ao rasgar a minha estrada,

Meus pares então transmudo

Pela medida encontrada:

A cada coisa isolada

Com toda a cadeia acudo,

Juntos vamos para a entrada

Em que se acaba este entrudo,

Que a Festa, enfim, é chegada.

 

 

498 – Alicerces

 

Nos alicerces, o lar

É para a sociedade

A vera pedra angular

Até que a raiz a invade,

Se espalha de canto a canto,

A esboroa lentamente.

Então, como por encanto,

Se esbarronda, de repente,

Toda a civilização.

Não é uma guerra o pior:

- O punhal no coração

É quando apodrece o amor.

 

 

499 – Silêncio

 

Somos do silêncio filhos

De que nasce a madrugada,

Que a noite ata nos cadilhos

Que o sol prendem na jornada.

 

A chave, mãe, no-la deste

Neste dia em que nasceste.

 

Porque tu és a mulher

Que os males trocas em bens,

O que de nós diz qualquer,

Mãe, é apenas: “parabéns!”

 

Damos-te à vida perfume?

Tu, porém, tu dás-nos lume!

 

 

500 – Balão

 

É o amor-próprio um balão

Cheio de vento onde brotam

Tempestade e furacão

Se uma picada os que o notam

Porventura lhe darão.

 

E, no fim, toda a desgraça

Recai no balão que a traça.

 

 

501 – Mulher

 

A mulher é curiosa,

O abismo é o que mais a atrai:

Quem a mais bela desposa

É que a espertou e ela vai.

 

Depois, amará os extremos:

São os heróis ou os nulos

Atrás de quem nós a vemos

A fabricar os casulos.

 

Põe-te a querê-la a valer,

Coração e mente nua,

E não duvides sequer,

Não duvides, será tua!

 

 

502 – Sonho

 

Viver para o sonho,

Quando não se alcança,

Quando em barro o ponho

De que ri qualquer criança,

 

Vau onde não pesco,

É viver sandice,

É devir grotesco,

Ter mãos secas de velhice.

 

Viver é sonhar

Se a meio do lago,

Mais do que pescar,

Dum lar ergo o eterno afago.

 

 

503 – Lentamente

 

Tudo morre lentamente,

O que não morre é uma dor,

Tenho-a sempre aqui presente

Tão antiga como o amor.

 

Tão antiga como o Homem,

São a eterna companhia:

Amor e dor nos consomem,

Nos caminham cada dia.

 

 

 

 

Dor com que a vida nos calca

Com ânsia que nos devora,

Aspiração que desfalca,

Pólen que as asas decora

 

Aprontadas a voar

E que logo o sol crestou.

- Nunca a dor se há-de estancar

Nesta luz por onde vou.

 

Amor que gerou a luz,

Dor que a luz nos leva à morte,

Qual mais fundo nos traduz,

Mais nos demarca na sorte?

 

Amor e dor, qual será

Que um dia de vez se extingue?

Pois nem um nem outra, já

Que ambos fazem com que eu vingue.

 

 

504 – Pronto

 

Estar pronto para amar

É julgar que quem amamos

Participa, tem lugar

Na vida desconhecida.

Por entre corças e gamos,

Na planura hoje perdida

Do paraíso que herdámos,

O amor leva a penetrar

Na porta de vez cerrada:

Por isto fatal se prende

À chave que abrir a entrada

Que promete a caminhada.

E, enquanto isto é o que defende,

O resto desdenha, ignora.

E, mesmo que a toda a hora,

A farda a mulher conquiste,

Aquilo a que não resiste

É a sonhar que dentro dela

Um homem por fim não mora

Mas, de homem só disfarçado,

Afinal será o traslado

Duma cintilante estrela.

 

 

505 – Amar

 

Para amar uma mulher

Pode bastar que me fite

Com o desprezo que houver

Num olhar de que me agite.

 

Basta pensar que jamais

Meus serão dela os sinais.

 

 

 

 

Mas também basta, ao invés,

Que me olhe com tal bondade

Que eu lhe caia morto aos pés

Vivendo então de verdade.

 

É que ali pensarei já

Que ela me pertencerá.

 

Para amar, afinal, basta

Que se recuse, perversa,

Ou que se entregue, de casta…

- Tudo o amor, ao termo, versa.

 

 

506 – Cigarreira

 

Esqueceste a cigarreira

Em casa de tua amante.

Por que não prender-lhe à beira

Teu amor naquele instante?

 

Se a cigarreira te entrega,

Já te não entregaria

Teu coração sem refrega,

Que lhe trouxe a luz do dia.

 

 

507 – Indiferente

 

Entre os mais, habitualmente,

Tudo é tão indiferente

 

Que, quando dum deles vem

Dor ou alegria além

 

Da que é comum de cotio,

Então é que desconfio

 

Que ele é dum outro universo,

É poesia dum verso

 

Que me torna minha vida

Uma extensão comovida

 

Da dele. E assim, logo após,

Eu e ele somos Nós,

 

Não mais dois, apenas um

Como em mais lugar nenhum.

 

Um amor é uma ilusão

De que haja aqui outro chão,

 

Portanto ele principia

Sempre novo um novo dia.

 

 

 

 

 

508 – Fada

 

A fada se desvanece

Ante a pessoa real,

No próprio nome se esquece

Da poesia que tece

Dum outro mundo o sinal.

 

Quando o nome reflectir

A pessoa tal qual for,

De fada nunca há-de vir

Nada que possa sentir

Quem a vir sem tal fulgor.

 

Pode a fada renascer

Se me afastar da pessoa.

Se junto dela viver,

Definitiva morrer

Irei ver a fada boa.

 

Precisa de respirar

A Imaginação à solta.

À distância toma o ar

Que as asas lhe vai soltar

- E traz a fada de volta.

 

É tal a respiração

Que uma paixão ressuscita:

Esparso, o amor cai ao chão

Se de vez perder de mão

O além-sonho onde gravita.

 

 

509 – Marca

 

Como o artista, em vez do nome,

Coloca ao fundo da tela

Qualquer marca que for bela,

Borboleta ou flor, que tome

Por ele o voto de estrela,

 

Um rosto delicioso,

Um corpo de forma pura,

Mostram que a beleza augura

Na mulher que o mais gozoso

De ser bela é a assinatura.

 

Que lhe importa mais o nome

Se a beleza que a recobre

É a assinatura mais nobre

Por onde inteira se some

E de que inteira mais sobre?

 

 

510 – Deleite

 

Para quem amar,

Mais do que deleite,

Ela a passear,

Delicado enfeite,

Poema de elegância,

É a mais bela flor

Que marca a distância

No tempo do amor.

 

Na manhã germina

Luz que me enoitece,

Luz que me ilumina,

Conforme, divina,

Me vê ou me esquece.

 

 

511 – Ouvidos

 

Primeiro, ainda pensamos

Que é por meio de palavras

Que a verdade partilhamos.

 

Quando a conversa escalavras

Verás então que a verdade

Cresce às vezes noutras lavras.

 

Colhes com mais sanidade,

Sem palavras aguardar

Nem tomar à puridade,

 

A verdade no teu lar

Em mil sinais distraídos,

Em vivências devagar

 

Em que discernes sentidos.

Se a palavra te enganar

Ouves com outros ouvidos.

 

 

512 – Fora

 

Quando o amigo a outrem conta

A imagem que de mim tem,

Tal de fora a ver-me monta,

Como quem seu nome aponta

Numa revista onde vem

Ou ao espelho vê bem,

De si fora, a imagem pronta.

 

Só então deixo de ser verme

Pois que (enfim!) lograrei ver-me.

 

 

513 – Passa

 

Quando ela passa por mim,

Me faz uma saudação

Mais o que é um sorriso afim,

É como pintar assim

Um quadro de colecção

Para dedicar-mo, ao fim,

Com a assinatura em cima

Duma acabada obra-prima.

 

514 – Imaginação

 

A imaginação humana

Por trás dum palmo de cara

De mulher como que emana

Luz do alvor límpida e clara.

 

Ao invés, se trivial

For dela o conhecimento,

Nauseabundo pantanal

Pode então ser-lhe o elemento.

 

O que vale vinte escudos

Valerá mais dum milhão

Se aos olhos ponho os canudos

Que sonha a imaginação.

 

É de facto o mesmo rosto

Que dos dois lados veremos

Mas foi por caminho oposto

Que ao texto dele acedemos.

 

Jamais comunicarão

Da colina os dois pendores:

A luz não permutarão,

Contraste eterno de cores.

 

 

515 – Ídolo

 

A loucura de fazer

Ídolo da rapariga

Leva a que um favor qualquer,

Um beijo depois da briga,

Não tenha lugar sequer.

E a quem tanto valor liga

Dela àquilo que obtiver

Nem a pedi-lo se atriga,

Chega mesmo a se conter,

Não vá ocorrer que o consiga:

Um desmentido, quenquer

Que as garantias persiga

Do amor platónico, quer

Que jamais a vida o diga.

Da vida então se desliga

Sem o beijo da mulher

Que amou mais do que viver.

 

 

516 – Nem

 

Que penso do amor

E de seus reveses?

Faço-o tantas vezes

Que o que é de supor

Para que o revele

- É nem falar dele!

 

 

 

517 – Venenoso

 

Nas atitudes entroso,

Se negativas demais,

Um deserto de secura:

Um dito mais venenoso

Pode apagar mesmo mais

De vinte anos de ternura.

 

E quem envenena o prado

Pasta nele envenenado.

 

 

518 – Coração

 

Tens um coração de prata

Pendente sobre teu peito.

É um coração que me mata,

Que nunca achei bem o jeito

De ser o meu que aí bata.