10ª. Redondilha
Das
Serranias da História
Escolha
aleatoriamente um número entre 1453 e 1550.
Descubra o poema
correspondente como uma mensagem particular para o seu dia de hoje.
1453
10ª. Redondilha
Das serranias da
história
Canto quanto sou
produto
De quanto sonho
deu fruto
E de que sou a
memória.
Canto pequena
esta glória
Em que por todos
eu luto
Para manter-me
impoluto
Sinal da
ancestral vitória.
Sou chegada e
sou partida,
Transporto as
marcas da vida,
Lanço o passado
ao porvir.
Quando aos
quatro ventos canto,
Canto-me apenas
enquanto
Canto a vida
inteira a ir.
1454
Mas não me desembaraço
Deste jeito meu aflito
Viajantes
Com que ando trocando o passo
- E perco sempre meu fito!
Nós somos os viajantes
Do tempo no
oceano,
1456
A correr espaços fora.
Distância
As boleias são garantes
De que, livres, não há engano
Do uno infinito de Deus
Que traga maior
demora.
Ao uno múltiplo do Universo
Vai a distância dum verso
... Mas depois a eternidade
Que grita da terra aos céus
É sempre para uma outra
idade!
E em que nem os sons são meus.
1455
1457
Infinito
Universal
Neste infinito do
espaço,
É nesta aldeia global
Neste meu tempo
finito
Em que já não há fronteiras
Ando medindo a compasso
Que cidadão cada qual
O tamanho do meu
grito,
Do mundo em todas as jeiras
A ver quando me
desquito
Tem de devir, se afinal
Das marcas daquele
traço
Quiser ser universal
Dum infinito
infinito
Sem perder suas maneiras.
Que sempre me deixa
baço
P'ra a si próprio ser igual
Quanto dele aqui
repito.
Tem de saltar as barreiras.
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1458
1462
Reino
Saudades
Não queiras erguer aos céus
Saudades dos velhos tempos
O teu reino cá da
terra,
Só tem quem os esqueceu,
Antes leva os sonhos
teus
Quem ignora os contratempos
Dentro em ti a fazer guerra.
Com que a festa se teceu.
Bons tempos são os de agora
Das ilusões rompe os
véus:
E o melhor está p'ra vir:
Só germina o que se
enterra
O porvir é que melhora
Por ti dentro, em tua
vida
Toda a canção do porvir.
E esta é que é a bandeira erguida.
1463
1459
Escasseia
Lugar
Quando um produto escasseia
Todos lutamos por ter
Se nos aguça a inventiva,
O nosso lugar no
mundo:
São dez mil anos de ideia
É com medo de
perder
Comandando a iniciativa.
De nós o lugar mais fundo.
Não tenho lugar em
mim
A humanidade responde
Quando chego ao
desespero:
Com rasgos de inovações,
No mundo já tive
fim,
Abre novas fontes onde
É que me tornei num
zero.
Secaram as ilusões.
1460
Racionalmente utiliza
Os recursos degradados.
Mim
- E assim jamais finaliza
O seu tempo e os seus cuidados!
Aqui estou perante mim
Como de espelho
infiel:
Estrangeiro até ao fim,
Nunca moro em minha
pele.
Desconhecido a mim mesmo,
De minha alma até me olvido,
Pioro se me ensimesmo...
- Aqui d'el-rei! 'Stou perdido!
1461
Vento
O que vem depois de mim
Desde antes sempre existira.
Que é que serei eu assim?
Mero sonho que delira?
- Vou sendo eu, até ao fim,
Corda ao vento duma lira.
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1464
Amanhã, de quanto invistas
Colher, do cume ao sopé,
Sê!
Esses teus caules solistas,
De futuros lamiré.
Quando alguém não dá nas vistas,
Ninguém, nem mesmo ele
até
Para que amanhã existas,
Notará quão vivo ele é.
Carne da imensa ralé
Que hoje te bateu o pé,
A vida quer que
resistas,
Não desistas,
Estende-te bem ao
pé
Sê!
Mortes e mortes previstas:
É o sangue do dia, a
fé
Amanhã darás nas vistas,
A gemer em quanto
existas.
Amanhã serás quem é.
Quando alguém não dá nas vistas
Embora ignores que existas,
Por percorrer o que
é,
Embora morto, não crê
Todo aquele que o não
vê
Cada qual que não subsistas
É que lhe tapou as
vistas,
No sonho com que entrevê
Da soleira à
chaminé,
As recepções finalistas
O tamanho que
revistas.
Da vida. P'ra que resistas
Para além da morte, sê!
A grandeza não a lê
Quem da fama anda à
conquista
Hoje não dás tu nas vistas?
E assina o nome na
lista
Amanhã serás quem é!
Da recepção, do café...
Nem quem posa nas
revistas
Fora com os publicistas!
Que o míope só
treslê.
Tu, condenado às galés
Da vida, tens outras pistas:
Quando alguém não dá nas
vistas,
- O amanhã será quem és!
Se calhar é porque ele é
E os demais, ilusionistas
1465
A burlar a boa-fé.
Mas quem vai ao rapapé
Quem Sois
São estes truões, coristas,
Rabo ao léu, a armar
banzé,
Sábios, santos, meus heróis,
Do silêncio
terroristas
Levastes a vida inteira
Em que nasce aquilo que
é.
Sem jamais saber quem sois.
A unir-vos aos arrebóis
Do linguajar dos
sofistas
Nunca a vida foi certeira.
Sofres sempre. Não desistas,
Sê!
1466
Mesmo que não dês nas vistas,
Homem
O que importa é que resistas,
Só permanece o que
é.
Homem é animal político,
Os que adornam as
revistas
Homem é animal que pensa:
Serão o pó do teu
pé.
Aqui diverge por crítico;
Dos que tu lês pelas
listas
O gregário, lá, condensa.
Ninguém deles dará
fé
Ser único falta ali:
Quando das tuas
conquistas
Homem é animal que ri!
O mundo que te não vê,
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1467
António José, judeu,
Requeimado em fogo lento,
A Guerra
Antes que aos astros apeles,
Retoma o grito que é teu
Minha
gente,
Porque nosso é o teu intento,
Se vingar de
persistente,
Porque és tu melhor do que
eles!
Há-de vergar esta
guerra
De gerar a nova
Terra
Egas Moniz sem Nobel,
Com um homem
diferente.
Espinosa em Amsterdão,
Cavaleiro sem corcel,
Calejaremos a
vida
Sou meu povo em danação,
Até que a vida
decida
Provado em quanto atropeles.
Derrubar o muro em frente,
Abrir-nos, enfim, o
espaço
Sou a tua negação
Em que amanhã, passo a
passo,
Porque eu sou melhor do que eles!
Já nada mais nos aterra,
1469
Matar o tempo de vez
Que nos 'strangula a
garganta:
Comedoria
- Neste espaço que nos fez
Libertar nossa voz que muda canta.
"Que grande comedoria
Vai lá dentro do palácio!"
1468
Mas quem disto se enfuria
Porque
Quer ficar lá dentro um dia?
- Não vá jogar nele, passe-o!
Porque eu sou melhor do que eles
Não falo à
televisão,
Daquilo se vangloria?
Nem espalho a voz na
rádio,
- Não mais se sirva, antes cace-o!
Nem pelos jornais me impeles,
Nem discos me
cantarão.
Mas se o rumor principia
Meu valor o porvir há-de
o
No meio da romaria,
Gritar do pico dos
montes
Junte o fermento e amasse-o!
Alvorotando as
manhãs,
E ao que com isto sofria
Reverdecendo nos
vales.
E tombou na tropelia,
Antes que tu me
descontes
Não o chore, é hipocrisia,
Minhas sendas de
amanhãs,
Siga-o só e assim abrace-o.
Porvir que, alarve, repeles,
Melhor é que me não
cales:
Sente hoje as culpas? Amasse-o,
É que eu sou melhor do que
eles!
Que no amor se principia
A forjar o que uniria
Sou Camões do escravo
Jau,
A nossa aventura espácio-
Pessoa sem
editar.
-Temporal no dia a dia.
Tento em vão transpor a vau
Os macaréus do teu
mar.
- E assim somos a utopia!
Membro a membro rasgo as peles,
Tens-me aqui em carne viva:
Enquanto a dor se me aviva,
Vê que eu sou melhor do que eles!
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1470
1472
Ventos
Desconcerto do Mundo
Os ventos frios do
norte
No desconcerto do mundo
Morderam a minha
face.
Nada, afinal, bate certo,
Este foi o meu
transporte
Decerto porque, no fundo,
Para enfrentar vida e
morte,
O mundo não tem conserto.
Quanto no mundo se
passe.
Co'a dureza dum
biface
E é porque não tem conserto,
Em mim talharam o
corte.
Demos-lhe a volta que demos,
Por isso é que a minha
sorte
Que o mundo, afinal, 'stá certo,
É a de não pagar o
porte
Pois certo é o mundo que temos.
Resistindo até o trespasse,
Sem jamais fazer a
corte
É tão certo na incerteza,
Nem nunca comprar o
passe.
Concertado em desconcertos,
Que, a acertar-lhe, de certeza
Não, não quero
passaporte,
Desconcerto-lhe os acertos.
Que os ventos frios do norte
Saltam fronteiras de
impasse
E é se eu for desconcertante
E deles tenho o
recorte
Que poderei acertar
Em tudo quanto me
enlace.
Na incerteza que adiante
Se nos venha a deparar.
Não há raia que eu
suporte
Nem guarda-mor que me
cace!
O desconcerto do mundo
Por tal meio é consertável.
Livre sou e desta
sorte
A incerteza é o profundo
Que ninguém limites
trace
Concerto do que é saudável.
Nem as podridões amasse
Nas ameias do meu
forte,
É certo que tudo é certo
- Que lhe estoiro com a
face!
E esta certeza final
É a de que não tem conserto
1471
O concerto do real.
Param
1473
Param os barcos no
cais,
Terra Prometida
Ficam os braços caídos,
Ficam vidas sem
arrais
Nunca a Terra Prometida
Nos olhos
desiludidos.
Foi outra além desta aqui
Na dimensão escondida,
Mas à cidade não
doi,
Presente e jamais vivida
Que ignora os heróis de
antanho,
Que vivo e nunca aprendi.
De País que um dia foi
Do Mundo o maior tamanho.
E as pessoas que vão lendo
Como o País se definha
Crêem só no dividendo
De qualquer conta mesquinha.
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1474
Nosso abraço ata o destino,
Prolongamos nossos braços
Eterno Retorno
Porque quero acontecer.
Façamos o que
fizermos,
A sorrir geras a aurora
Fica tudo tal e
qual.
Em meu peito no horizonte,
Demos ao tempo o que
dermos,
Jamais há noite sequer.
Com o tempo todo o tempo é tempo igual.
Por mim dentro é que aqui fora
Entre as eras faz que aponte
Igual é na morte
tudo,
O que em arco ergue uma ponte
Tudo na vida é
diverso.
Que o longe faz encolher,
Quando falo estou já
mudo
Tempo-espaço, dentro agora,
Porque mudo, quando mudo, prò
inverso. Que me fez sempre ir embora
Porque quero acontecer.
O inverso de mim, porém,
É o que sou quando estou
sendo
No traço desse teu rosto
E é vivendo o que
convém
Está o princípio do fim
Que o que vivo é assim tão vivo que o
desvendo. E
foi ele que em mim posto
O fim colocou em mim.
E ao desvendá-lo
inauguro
Dentro-fora, é uno o ser
Um remo contra a
maré.
No pedregal que eu aposto
Em cada remada, um
muro.
Percorrer até ao fim
Nele auguro que o futuro já não
é.
Porque quero acontecer!
Jamais será o que
fora
1476
Se o meu gesto o não marcara.
Doravante estou de
fora,
Se
Que de fora, sendo a sério,sou-lhe a fonte
Ali
defronte
Ah! Se viesses o que não te contaria!
Que o mundo
dessedentara.
A ternura da nossa estrada,
Além-vida e morte, o fervor da romaria.
De fora traço-lhe a
fronte:
Ah! Se viesses, afinal que te diria?...
- Sendo a sério, sou-lhe a
cara!
Se viesses seria tal a euforia
Que não te diria nada
1475
E, no silêncio, então eu acontecia.
Acontecer
1477
Vida
Porque quero acontecer
A bailarina se
eleva
Se a vida é só mesmo a vida
E já não volta a
descer.
E nos não basta a memória
Teu sorriso rasga a
treva
Quando a vida for perdida,
E a verdade
inatingida
Porque a perdem sempre em lida
É teu corpo de
mulher
Tantos que nascem prà história?
Rasgando estradas na vida
Porque quero acontecer.
Em teu salto bailarino
Já voamos nos espaços,
Reis duma estrela qualquer.
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1478
1481
Comboio
Matéria
No comboio
acelerado
A matéria não é dada,
Cá vamos correndo a
vida
É um perene acontecer,
Tudo mui bem
arrumado
Um rio lento a correr
Neste espaço
acomodado
Do ser para o nada,
Entre a chegada e a
partida.
Do nada para o ser.
Mas tão rápida é a
corrida
1482
Que a paisagem se mistura,
Não pode ser
distinguida,
Clandestinidade
Fica-lhe a tinta delida
Esborratando a
pintura.
A vida é assim:
Os velhos morrem,
Quando tudo é tão
veloz
As crianças nascem,
Parece até que nos
vemos
Os jovens vão para a guerra...
Mas o que vemos de nós
É o grito da nossa
voz
Princípio e fim
A gritar que nos
perdemos.
Suaves decorrem,
O corpo nos pascem,
1479
- Mas esta clandestinidade aterra!
Voltar
1483
Para quê voltar à aldeia?
Lenha
Não é escola a velha escola
Nem resta a minha
carteira
No fim dum inverno frio,
Com traços em
alcateia
Findando a pilha da lenha,
Onde escondi a
sacola
A fogueira em que confio
Durante uma vida
inteira.
Torna o toro e o graveto
Muito sofri e
morri!
Tão importantes que aceito
O calor deste meu tecto
E é tão 'stranho meu
arquivo
Antes que a morte me venha
Que só agora a sério
vivo
Findar o inverno a preceito.
Tudo quanto lá
vivi.
E assim colho a vida a eito,
A arder como me convenha,
1480
Tão forte que ali retenha
Todo o tempo já vivido:
Assassino
Neste fogo fujo ao olvido!
Na esteira do
assassino
Jogo a derradeira pinha
Me passeio pelas horas
Nesta insólita adivinha
Sempre em busca duma
pista.
Da vida, cujo sentido
E se a vida tem
destino
Ninguém descobre se tinha.
É o do tempo que
demoras,
Mas eu ardo até ao fim,
Há milénios, sem dar
tino,
Com fúria, a dizer que sim!
P'ra em cima lhe pôr a vista.
... E a morrer continuamos
Sabendo que o não pegamos!
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1484
1487
Tempestade Herança
A bruma envolvia a
terra,
Quando falo sou meu pai,
Nuvens revoltas pairavam:
Aponto e sou minha mãe,
É a tempestade que
aterra
Não sou eu quem por mim vai,
As neves que nos
gelavam.
É o Homem que por mim vem.
E a escuridão se nos ferra
Nos membros que
arrepiavam.
Sou meu ponto de partida
Lá fora o ciclone
berra
Neste ponto de chegada
Ou cá dentro é que se
cavam
E, se chego a ser a vida,
Os trovões de íntima guerra,
À partida não sou nada.
Desamor dos que se amavam?
1488
1485
Escola
Fogueira
Escola, garante de tradição
Corre frígida a
inverneira,
Num mundo em movimento
A nortada de asas
fuscas
Uniformemente acelerado,
Crepita chuva à
janela.
Eco de pensamento
Das serras na
cabeceira
Velozmente fossilizado,
Rasgam matagais
farruscas
- Não vês quanto a tradição
Nuvens grossas de
procela.
É traição?
Negrejam pelas quebradas
E gargantas
carcavadas
1489
Abismos, despenhadeiros.
Alvacentos nevoeiros
Praia
Traçam bulcões, tropelias
Nas garras das
ventanias.
Ontem de areias a arder,
E nós, aqui à
lareira
Com as rochas a apontar
Recolhemos
energias
Dedos firmes entre as ondas.
Dos raios desta
fogueira.
Hoje de penhascos a entreter
De meandros o pomar
1486
Dos sonhos que por aqui mondas.
Saúde
Amanhã como vai ser
Quando te morrer o mar
Nos campos
distendidos
Que por dentro de ti rondas?
Espinoteiam borregos
A jogarem à
apanhada.
Com brandos balidos
Namorando
aconchegos,
É a saúde espreguiçada.
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1490
1492
Crise
Prepotência
Mundial crise em que me
afundo...
"Não se faz! Não mexa aí!"
Se me não
engano
- Já foi voz da prepotência.
Dura todo o ano
Do princípio ao fim do
mundo.
Quando abolida, então vi
Esta geral impotência:
É apenas questão de
tónica.
Desde a infância à adolescência,
Todo o mundo
atina
Do lar à escola, intuí
Se cai na
rotina
Foi agressão, indolência
E com ela a vida é
harmónica.
Vividas como excelência
Em vez do p'ra que nasci;
Mas, se a crise é a
primeira,
Troca do amor por demência,
Explode em
vulcão
De mãos dadas com a ausência
E os náufragos
são
Que existe entre mim e ti.
Nossa sorte derradeira:
- Náufragos de tempo e
espaços,
Vem agora a violência,
Presos aos
destroços,
Outra vez com a premência
Vogamos nos
nossos
Do grito de: "Já p'ra aqui!"
Vestígios dos próprios passos.
Buscamos a pertinência
1491
- Ser de alguém em vez de si -
Quando a disciplina é a ciência
Males
Em que a Nós nos descobri!
Se há males que vêm por bem,
1493
Então há bens que, afinal,
Só mostram o que
contêm
Antigamente
Cobrando o preço do mal.
Antigamente, o meu riso
Deste mal em carne
viva
Era ver comediantes
Só poderei
libertar-me
Levar a perder o siso
Se a persistência me
aviva
Aos então desgovernantes
A vontade com que me
arme.
E escapar, hilariantes,
Ao látego do juízo
Só do mal que me
persegue
Dos velhos hierofantes.
Algo de bom vai surgir
Que riso que era preciso
Se com tempo já
consegue
P'ra rir contra o que ali viso:
Dar algum fruto o
porvir.
- Que trombada aos elefantes!
Neste rasgam-se os portais
Prà coroação das colheitas
E é dos suores estivais
Que as grinaldas serão feitas.
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1494
Por lá haver quanto querias
Tudo te fica sem jeito.
Máscaras
É raiva que se traduz
Nesses teus olhos inquietos:
Quando a ditadura
cai
Quanto mais África luz
Caem máscaras
rapaces
Mais os homens ficam pretos!
E o que então todos atrai
São as verdadeiras
faces.
1497
Aos poucos, uma
nação
Glória
A ver-se a si mesma aprende,
Uma vez que desde
então
Como pode o grande rio
Cada rosto a luz
acende.
Cantar a glória do Império
Se nem o grande Dario
1495 Ficou na
memória a sério?
Se depois dum tempo breve
Predador Duma
imensurável glória
Lhe morreu tudo o que teve
Para Angola, com
amor,
Numa sombra de memória?
Fomos num vago de
sonho.
É tal a grandeza humana
Que só morte dela emana.
Logo atrás, o predador
Nos seguiu, firme e
medonho.
1498
Caçou marfim e café,
Caçou escravos e negras...
Bestas
- Resta o mulato de
pé,
Trata o rei de Espanha
Sombra do Império sem
regras.
Súbditos de bestas
A ver se os apanha
1496
De chifres nas testas.
Força-os a lembrar
África
O que é que é ser homem:
... Até que mudem de ar,
Qualquer África, por
dentro
Que nem já reis os domem!
Feita de pedras preciosas,
É o gozo de que não
gozas
1499
Em cujo segredo entro,
Com mistério, em dada
hora,
Cavalgar
Por um buraco enviesado
Que revela o que lá
mora,
Se um tirano cavalgar
Lá no fundo
iluminado:
Sobre os lombos dum país,
São jóias e
pedrarias,
Direito e poder vão 'star
O oiro cintila a
preceito.
Com ele e seus aguazis
E o cavalo vai ficar
Co'a turba dos imbecis.
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1500
De noite, na escuridão,
Maria segura em braços,
À Sombra
Não o filho do homem, não,
A nova luz dos espaços.
Vivo à sombra toda a vida,
Sempre pronto a
obedecer.
Um dirá que Ele morreu,
Quanta flor fica
perdida
Outro no amor diz que O viste:
Nesta sombra emurchecida,
Ou Jesus nunca existiu
Sem que possa
florescer!
Ou então ainda existe!
1501
Dizeis ser religiosos,
Tendes compêndios e leis,
Princípio
Mas a fé, p'ra dar-vos gozos,
Vivendo-a é que a achareis.
Sempre um princípio maior,
Contra que o poder
referve,
1504
Desafia até ao fim:
Só acatarei por
senhor Natal de Azul
Não a quem de mim se serve
Mas a quem morrer por
mim!
De azul mal vestido,
Bebendo no leite a cruz,
1502
Assim maltrapido
Que outrem é senão Jesus?
Qualquer
É um sonho perdido
Fernão Peres entrava no
País,
Que do berço me transluz,
Fernão Peres entrava em
Beatriz:
Ou é o meu sentido
Fernão Peres entrava a
raiz.
Nunca encontrado onde o pus?
- Fernão Peres, trava!
Da mulher nascido,
Fernão Peres, de clava no
nariz,
A vida se me reduz,
Fernão Peres
encrava.
Sonho em diferido,
Fernão Peres de
Trava
Ao que quis e não produz:
Ou outro de igual
cariz...
- Ao nascer ferido
Todo o menino é um Jesus!
Ser
homem assim traduz
Natal Quem
jamais se satisfaz.
É no pó da arqueologia
Que muitos buscam Jesus,
- Mas o Natal da alegria
Só pelo amor nos seduz.
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1505
É de amor a caminhada?
Há quem a julgue perdida,
Nasce
Que o tempo prega a cilada.
- Insistimos com mais vida,
É Natal,
Nasceu
Jesus
Mais vida e vida maior,
De Maria sua
mãe.
Vida mais sempre a crescer.
É assim como
supus
Ora, se isto não é amor,
Ou dele,
afinal,
Como é que amor há-de ser?
Nasce Maria também?
1508
1506
Demasiada
Cristo
A atenção demasiada,
Olha a sorte que
tiveste!
Como a falta de atenção,
O teu plano não
falhou.
Ambas são vida estragada
Como devias,
morreste
Numa boa evolução.
E o céu então te marcou
Com a grã-marca de
mestre:
Para que a criança cresça
- Sem qualquer
comedimento
Robusta de amor à vida
Marcou a ferro e
tormento
Importa que lhe apareça
Teu nosso corpo
terrestre!
Sempre alguém a dar guarida.
1507
Mas, se nos primeiros meses
Isto é uma atenção constante,
Anos
Já depois só traz reveses
Tal desvelo mais adiante.
Casei-me em teu dia de anos,
Sempre anos farei
contigo:
P'ra tornar-se independente,
Se os anos são
desenganos,
Superar o egocentrismo,
Os nossos são nosso
abrigo.
Torna-se à criança urgente
Enfrentar sozinha o abismo
Dezasseis e trinta e sete
Temos hoje: é juventude
Das solidões desta vida,
Que pelos dias se
mete
Dos abandonos, dos medos.
E com que a vida se
ilude.
Quem com ela melhor lida
Tem de iniciá-la aos degredos.
Vamos ajuntando os anos
Lado a lado, sempre em
frente.
Trocamos os
desenganos
À vida que nos desmente.
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1509
Em cada página, um conto
E a minha avó renascendo
Democracia
E o meu pai somando um ponto,
A bisca da vida lendo...
Família e
democracia
O livro leva-me a casa
Geram sempre
confusão:
E à lareira leio o livro.
Esta não encontra via
Se aquela não lhe dá a
mão.
Ter família é ter uma asa
Com que dos pesos me livro
Democracia no
lar,
E é no livro que se casa
Só entre adultos
iguais:
Toda a ternura em que vibro.
O casal, p'ra começar,
Depois com filhos e
pais.
1512
Porém, quando se é
pequeno,
Alguém
É aprender p'ra estar à altura.
No maior fica o
terreno
Move-se numa obra de arte
Das normas desta
cultura.
O produto além do autor
E alguém mais dela faz parte,
Quando se inverte esta
ordem
Eu que ali sou fruidor.
Não cresce a democracia:
- Todos mandam na
desordem,
Vivo no coração dela
É o lar da demagogia!
Ou ela em meu coração
E o que em meu coração vela,
1510
Vela nela em solidão.
Herdeiros
Solidão de alta montanha
Onde respiro mais fundo
Fomos herdeiros da
Terra
E que, por mais só que advenha,
Em qualquer tempo e
função:
Vela atenta sobre o mundo.
Fizemos, do tempo, guerra,
Da função,
destruição.
1513
Hoje temo-la
emprestada
Ensinar
De nossos filhos e netos,
Esta Terra
destroçada...
Primeiro foi ensinar
- Talvez assim tenham
tectos!
E aprender era o dever.
O dever veio a mudar,
1511
Hoje é aprender a aprender.
Quando mais se dominar,
Viageiro
Amanhã como vai ser?
Viageiro perto do lar,
Antevendo-o além da curva,
As folhas corro a voar
Do livro que folhear
E a minha emoção me turva
No caminho familiar
Da letra impressa e recurva.
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1514
Quando descobriu que o que penso
Do mundo só fica perto
Humanidade
Quando em matemática o converso.
A humanidade
sonhada,
1518
Lida em livros e
memórias,
Tão sublime nos é
dada,
Poeta
Depurada das
escórias,
Que o dia a dia é uma espada
Quando Deus criou o mundo
A estraçalhar-nos
histórias
Em seis dias, descansou.
Das quais o que
sobrenada,
O poeta é que, no fundo,
Destruídas as
vanglórias,
Das mãos lhe retoma o voo.
- É que ninguém vale
nada...
1519
1515
Natureza
Linguagem
Na natureza
A linguagem é a
jangada
Nada se perde, nada se cria,
Em que navego na
vida.
Tudo se transforma em beleza
Como nunca está
acabada
Ao sabor da fantasia.
Sempre em volta é
construída
P'ra nunca a ver
afundada.
1520
Definitiva é tal
lida
E provisória, a
jornada.
Tempo
1516 Pelo
tempo corre a História
Sem que dele alguém se aparte.
Ler E, se
seu fio se parte,
Antes trava-o a memória
Ler é pensar com a cabeça
doutro, E imortaliza-o a arte.
O que me obriga a pensar mais co'a minha.
É que, se é grande alguém com que me encontro,
Só no bico dos pés nele amarinha
Meu pensar, só assim dele me avizinha.
Quando ao fim em mim próprio reparar
Mudei mesmo de tempo e de lugar.
1517
Livro
Toda a sabedoria
Está no livro imenso
Infinitamente aberto
Do Universo
E o Homem apenas o leria
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1521
Aqui diverge por crítico;
O gregário, lá, condensa.
Contra
Ser único falta ali:
Homem é animal que ri!
Lutam contra a tradição
E depois o que a gente
herda
1524
É o fedor da inspiração,
Poetas a cheirar a
merda.
Dói
Eles saltam e
relincham
O geral é uma abstracção,
Para ver se alguém se
ilude.
É o particular que doi.
São jovens: quando assim
incham,
Se o político é de acção
São a nossa jumentude. Não
se fica no geral,
Mera fórmula mental,
Aos coices na
linguagem,
De cada qual se condoi,
Aos pontapés na
gramática,
Caso a caso reconstroi
Eles cantam em
selvagem:
Toda a dor duma nação.
É inspiridade
automática!
É que não há bem nem mal,
Há uma fome e dela o pão.
Nós somos botas de
elástico
Se o País cai na desordem,
De elasticidade
zero;
Eficaz, só uma medida:
Eles, um porvir fantástico...
- Não impor ordem na vida,
- No fim, é só
desespero!
Mas pôr-nos a vida em ordem!
1522
1525
Ideologias
Pacifismo
Espíritos era
dantes.
Prepara a guerra, se queres.
Hoje são
ideologias
A paz que te hão prometido
Que magos e
feiticeiros
Não será de teus haveres.
Invocam em seus
descantes.
Se queres paz, o sentido
É que para a protegeres
No encanto das
melodias
Tens de ser mesmo aguerrido
Vogamos todos,
parceiros.
Para os guerreiros tolheres.
Lá se tecem nossos
dias,
Não creias que vais trair
Que ideologias
garantes
O teu sonho pacifista
São de nossas
fantasias.
Por guerra armar contra a guerra:
P'ra o rio o mar atingir
E, como os deuses de
antanho,
Convém que anule e resista
São livres, não se
dominam
Às fragas todas da serra.
E nós somos o rebanho
Que a seu capricho combinam.
1523
Homem
Homem é animal político,
Homem é animal que pensa:
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1526
1528
Encurralado Reflexos
Há quem fique
encurralado Os
gestos se encadeiam, presos por reflexos
Pela força do
poder,
Condicionados, ligam todo o tempo agora,
Tenha ou não motivos
dado
Sintetizando-o aqui da história com os nexos.
Para tal lhe
acontecer.
Mas também as ideias tecem de hora a hora
Idênticos reflexos em que nos demora
Pior
encurralamento
Todo um encadeamento de eventos complexos
É o daquele que
tropeça Que
hoje aqui nos retraçam o vivido outrora.
Do silêncio no
tormento Dum
cavalo a pegada acorda num soldado
Martelando-lhe a
cabeça.
Dum cavaleiro a imagem e o fragor da guerra,
Mas para o camponês é a dum campo lavrado,
É que este silêncio
grita
Esta charrua fundo a revolver a terra.
Por dentro de cada um
E quanto mais dor
suscita
1529
Mais grita sem grito algum.
História
1527
Há uma história progressista,
Depois Outra
que é conservadora,
Neutra não há que resista
Primeiro o Homem
é,
À fúria argumentadora.
Depois toma consciência:
- Põe a filosofia de
pé.
Tentam que seja objectiva.
Vão abolir o sujeito?!...
Mais além, com a ciência,
Vê o que, pelos tempos fora,
Resta ater-se à tentativa
Daqui nos
resultaria.
De à crítica prestar preito.
A busca desta
demora
E assim se salvam os modos
É a história da filosofia.
Em que está tudo e estão todos.
E, como há sempre um
depois
1530
A espreitar em cada dia,
Ao juntarmos dois e
dois,
Potência
A filosofia cria
Da história da filosofia
Primeiro foi a natureza,
Que, por sua vez
requer
Depois foi a descoberta
Um complemento
qualquer
De que é escrita em matemática.
Que a retenha na
memória:
A seguir, quem mais a preza
Desta filosofia, outra
história.
Busca-lhe uma porta aberta
Decifrando-lhe a gramática.
E assim
sucessivamente,
Desde sempre,
eternamente...
Deste esforço milenar
Brota, por fim, a ciência,
Que tal é a razão,
enfim,
Cuja marca tutelar
Máquina precisa e
rara,
É ser também matemática.
Que somente um dia
pára
Multiplicou-se a potência
Se nos alcançar o
fim.
Desde a teoria à prática.
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1531
1533
Idade
Selo
Filha do tempo é a
verdade.
Não há verdade mais crua
Se hoje Platão
vivera,
Para o que está para vir
Seria de nossa
idade,
Que este selo do porvir:
Não seria o de outra
era.
- Quando o homem sai para a rua
As árvores desatam a fugir!
Se Aristóteles nascera
Em nosso mundo famélico
1534
O que hoje aqui defendera
Não seria aristotélico.
Dialéctica
E, se entre o sonho e a
desgraça,
Marx tinha razão,
Entre nós sofrera
isto,
Que a dialéctica é sempre indefinida.
Fiel ao tempo que
passa
Os marxistas, não,
Nem Cristo seria
Cristo.
Que por consumada a dão,
Parando no seu ídolo de partida.
É por isso que os
fiéis
São quem mais nos
atraiçoa,
1535
Presos que são aos anéis
Da verdade outrora boa.
Assentos
Perdem-se assim hoje em
dia, Os
nossos antepassados
Em nome dum sonho
ausente,
Nos poliram os assentos
Para o que lhes
requeria
Donde hoje olhamos a Lua.
Toda a carne do presente.
Hoje é deusa sem cuidados,
1532 Mera
fonte de proventos:
- Rameira à esquina da rua!
Terra
Centenas de milhões de anos
Conta a Terra de velhice.
De seus mais novos arcanos
É a nossa
meninice
Que, posta num calendário,
Por dentro dum ano inteiro,
Não faria aniversário:
Só no dia derradeiro,
Em seus minutos finais
Nossa história desembesta.
Tarde, pois, demos sinais,
- Mas deu p'ra virmos à festa!
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1536
Tal é nossa natureza
Que em lavra contrariada
Terraço
É que nos traz, co'a certeza,
A natura germinada.
Diziam outrora
Que a Lua era de prata
1539
E agora,
Nem de lata!
Questão
Que, romântica, presidia aos
amores Se
perguntas porque não
E hoje, disso, nem
rumores!
Vives num mundo melhor,
Perdes o tempo e a razão,
Que era uma deusa
adorada
Que esta é a única questão:
E agora, nem para iluminar a estrada!
- P'ra o melhorar, que vens pôr?
Continua, porém, um
espanto
1540
Aquele insignificante passo
Gigantesco da humanidade Movimentos
Que imprimimos no pó dela e, por encanto,
Nos inaugurou o
terraço
A ordem do mundo, Galileu,
Donde olhamos
renovadamente, Jamais
poderia ser
Da janela do
presente, A
disposição hierárquica dos elementos.
A
infinidade!
O mundo cresceu
Contigo ao compreender
1537
A combinação harmónica dos
movimentos:
- Não é a hierarquia, o poder
Rédea Solta
Que nos dá o sabor,
É o amor
É um herói o pensamento
Que nos faz ser!
Que cavalga à rédea solta
Os espaços
infinitos.
1541
Corre o tempo como o vento,
Ferra-o a nossa revolta
Galilaica
E vai-nos comendo os mitos.
A revolução galilaica
Picado de
entusiasmo,
É o momento em que a matemática
Vive de sonho e de
pasmo.
Aniquila a ciência arcaica
Com sua linguagem ática,
1538
Visando então definir
No seio da natureza,
Natureza Por quem
tais caminhos preza,
Os caminhos do porvir.
Todo o homem raciocina
Mas à maneira animal,
É um baldio na ravina
Este saber natural.
Mas lavrada e cultivada
Com canseira e persistência
Esta lavoira danada
Leva por fim à ciência.
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1542
É lamentação inglória,
De contornos não fiáveis,
Mundos
Pregar que nos limitemos.
Se tão sábio é o locutor,
A diferença entre
mundos
Qual a fronteira ao amor?
É uma questão de
gramática.
- Só se o crescer for de demos...
Os nossos são mais fecundos
Que os antigos mais
jucundos
1546
Por irmos lendo experiência com matemática.
Cinza
1543
As paixões da juventude,
Finalismo
Sonhos de
revolução...
Depois a cinza que ilude,
Primeiro os homens tomam as coisas como
meios. A colar-se como grude
Depois não podem crer que a si próprias se
façam Ao bater do coração...
E sobre tudo rodam cheios de rodeios
À procura dos fins a que todas se abraçam.
- Enterro de desenganos
É o que é o correr dos anos.
Modelo utilitário que provém da prática,
É tudo finalismo em cada ser do
mundo.
1547
Esta infinda hierarquia é uma fonte emblemática
Da humanidade toda: - Dela tudo
inundo! Camponês
1544 Camponês picando
os bois,
Sempre em frente, vida fora,
Criatividade Ao compasso da
demora,
Vou seguindo, p'ra depois,
Quem se ocupa do
futuro Por um triz perder a aurora
Previne tempos
melhores. Ao findar meus arrebóis.
Mas se no futuro auguro
Uma câmara de
horrores,
1548
Fujo à primeira evidência,
Nego a
criatividade, Complacente
Torno o presente esta ausência
Duma ancestral
gravidade.
Quem é jovem sempre admira
- Mas de inovar os
pendões
Quem for mais inteligente,
São de encontrar soluções.
Que a eficácia tem na mira.
Ser velho é viver ausente,
1545 Que seu
tempo arde na pira.
Tudo o que admira, contente,
Vitória
Com quem mais for complacente,
Este ar é que se respira.
Hoje vivo duas vidas
Comparado a meus avós.
E, se vivemos tão sós
Quanto nas épocas idas,
É uma espantosa vitória
Sermos tantos tão duráveis.
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1549
1550
Memórias
Dúvida
É de memórias
perdidas
No contexto de aqui estarmos
Que a vida se nos
refaz,
A dúvida se levanta
Pegadas
desvanecidas
Sobre o que foi o passado:
Em que o tempo volta
atrás.
No passo de aqui andarmos
Ao erguer-se meu
presente
Em que tanto desencanta,
Era aquele tempo
ausente
- Por onde temos andado?
Aquilo que ele me traz.