TERCEIRA REDONDILHA
E A VIDA SE AQUECE
Escolha aleatoriamente um número
entre 342 e 434 inclusive.
Descubra o poema correspondente
como uma mensagem particular para o seu dia de hoje.
342 - E a vida se aquece
E a vida se aquece
Quando ateia o fogo
E o amor diz logo
Que a vida merece.
343 -
Teste
349 - Imortal
Há um teste p'ra
comprovar O
amor é tão imortal
Se vale uma
relação:
Que o que nas
campas eu leio
- É podermos
discordar É a palavra germinal
Mas sempre de mão
na
mão.
Que
até na morte semeio.
344 -
Só
350 - Esperança
O melhor do
casamento
O amor vive da esperança,
é que permite
estar
só
Esperança duma vida
Sem sentir o
sofrimento
Que
é tanta que não se alcança:
Duma solidão sem
dó.
- É o céu a buscar saída!
345 -
Vazio
351 - Reis
A vida de cada
qual Dos
reis a pior verdade
A tantas mais é
ligada
É que amor jamais nos dão:
Que, quando
falta, o
sinal
Os reis querem
liberdade
É faltar-nos
madrugada.
E amor é uma escravidão.
346 -
Contem
352
- Vencer
Quando o mundo é
impessoal
Há quem vença com as armas,
Uma mensagem é
urgente:
Com
dinheiro ou corrupção.
- No alheamento
universal,
Homens, porém, só desarmas
Contem comigo -
presente!
Se
os vences p'lo coração.
347 -
Olhos
353 - Rosa
A tentação de
teus olhos
Já
fui moça, já fui rosa,
Não é que me dão
quebranto:
Já despertei mil carinhos,
Enchem-me a vida
de
abrolhos,
Mas de quanto fui viçosa
De mudos falarem
tanto!
Hoje só restam espinhos.
348 -
Persuasão
354 - Ao fim
Os livros são
fracas
armas,
Há quem procure a beleza
Do frio que neles
mora,
No que nos oferta a paz,
Contra con quanto
os
desarmas:
Mas
a alegria e a tristeza
- A persuasão que
ama e
chora.
É o amor que, ao fim, as traz.
355 - Ensina
O coração da menina
Mais estabanada ao vento,
Mais, afinal, nos ensina
Que o livreiro dum convento.
356 - Adivinham
Os homens nunca adivinham
O que a mulher não quiser:
Cabeça e gestos alinham
Onde só o coração ler.
357 - Amor
O amor reclama,
O tempo esquece:
Quando alguém ama
Não envelhece!
358 - Espinho
O amor é como uma rosa
Cheia de perfume e cor.
Pua acerba e venenosa,
Ciúme é espinho de amor.
359 - Paixão
Marca de treda ventura,
A tristeza e a solidão
São sinal, não de loucura,
Mas do trilho da paixão.
360 – Sacramento
Amor, sacramento da alma,
Nele se resgata a vida
Esperando a eterna calma
Que ao céu dali nos convida.
361 - Tormento
Um amor é um sentimento
Nascido para dar vida,
Que às vezes é tal tormento
Que só a morte lhe é guarida.
362 - Menor
Ah! Como o mundo é tão grande!
E com ele não me irmano,
Que é menor, p'ra que nele ande,
Este coração humano!
363 - Cabe
Eu já nem sei o que digo
Se o sonho me toma a mão:
No mundo cabe o mendigo,
Não me cabe o coração.
364 - Parco
Só aprendes a dar as mãos
Se co'os demais te igualares:
Homens só serão irmãos
Se primeiro forem pares.
365 - Ausência
Tudo é conexo
Com a apetência:
Do sexo a ausência
Gera mais sexo.
366 - Meio
Tu entras e sais da vida
Ao som da palavra amor
Que em meio fica perdida
Das torturas no estertor.
367 - Retirar-se
Ao retirar-se do mundo
Não o faz por derrotismo:
O amor p'la vida é tão fundo
Que a renúncia é o seu abismo.
368 - Conversar
Ao conversar, confundimo-nos
Com bofetadas de coisas;
Ao falar bem, nós fruimo-nos,
Somos nós e aqui repoisas.
369 - Batimento
Se o coração te bateu
Juntinho a meu coração,
Os batimentos do teu,
Do meu batimentos são.
370 - Geração
Sou da geração perdida,
Só me vou reencontrar
Na solidão assistida:
Se um vizinho acompanhar.
371 - Crua
De longa experiência
É a crua verdade:
A má consciência
Corrompe a amizade.
372 - Falar
Estendo-te a mão, leveiro,
Sofro, louco, meu amigo:
Não te quero o teu dinheiro,
Quero só falar contigo!
373 - Gaiola
Os limites são medonhos
Mas o além temo e desola:
Rapariga dos meus sonhos,
Mas que esplêndida gaiola!
374 - Mente
Toda a mulher é rainha:
Um corpo de deusa em dança
E uma mente como a minha,
Com meus sonhos de criança.
375 - Grande
Sempre só e sem calor,
Ignoto, é uma fantasia:
Grande artista é um grande amor
Mas que ninguém aprecia.
376 - Paz
A paz é o que sinto e faço:
Ter um coração atento
É sempre o primeiro passo
Do mútuo entendimento.
377 - Vizinhos
Meus vizinhos não me falam
Se ouvem meu filho chorar:
Disciplinas os abalam,
Não sabem o que é amar!
378 - Sumo
Obra de arte está prà vida
Como as uvas para o vinho:
Toma por conta e medida
Quanto sumo há no caminho.
379 - Fermento
O amor é como o fermento,
Fermenta o dia e valida
Toda a vida num momento:
- E um momento é toda a vida!
380 - Exclamação
É um ponto de exclamação
Num amor quanto é esplendor.
Mas os filhos é que são
Toda a exclamação do amor.
381 - Amigo
Um amigo é aquela parte
Da humanidade sem dano
Com que a vida se reparte
E se pode ser humano.
382 - Moralidade
Moralidade tem regras
Mas moral é só o amor.
Se só de regras a integras
É um jogo em computador.
383 - Partilha
Tudo o amor partilha,
Brilha em quanto troca:
É tanto a virilha
Como o pão prà boca.
384 - Banal
Fazer conjuntamente o que é banal,
Derreter a manteiga, bater ovos,
Sem trocarmos palavras, é o sinal
De tanto amor: tão velhos, somos novos!
385 - Soltas
Tens amor à vida?
Ao alvor, acordas
E soltas as cordas,
Trepas na subida?
386 - Lindas
São tão lindas as crianças
Que, por pouco que te encantes,
De olhos perdidos e tranças,
O mundo enchem de brilhantes!
387 - Frescor
Não gele, fuja ao frescor,
Prossiga, caminhe em frente,
Que à frente avança mais gente
E onde há gente faz calor!
388 - Privado
Num cemitério privado
Enterro-os, pois esqueceram.
Amigos, foram meu lado;
Traíram: p'ra mim morreram.
389 - Ilusão
Sonhos de fraternidade,
De festa à esperança vão,
Se o fanatismo os invade,
Ser o enterro da ilusão.
390 - Aconchego
O aconchego de quem gosta
Vale da vida a fadiga:
- Onde chego é a mesa posta
E posta a palavra amiga.
391 - Vida
Para que o tempo a depure,
A vida, para ser vida,
Não conta o tempo que dure,
Só na amizade é vivida.
392 - Morte
A partir de certa idade
Convivemos mais co'a morte:
Os amigos de verdade
Já tomaram passaporte.
393 - Meninas
Meninas que são meninas
Têm tanta meninice
Que só um campo de boninas
Foi quanto nelas se visse.
394 - Pequenas
De coisas que são pequenas
Se nutre toda a amizade:
Sal da vida, cura as penas
E apimenta-a em novidade.
395 - Evitar
Ser pai é a causa perdida
De ao sonho o risco evitar:
- Que os filhos voem à vida,
Mas do aconchego do lar!
396 - Conversa
Só quem com outro ata os nós
À mente dele acedeu:
Vivemos hoje tão sós
Quanto a conversa morreu.
397 - Não
Quero meu tempo leveiro,
Que ninguém me roube a mão,
Nem me use, feito parceiro:
Há o direito a dizer não!
398 - Amigos
De teus amigos teus mestres
Faz, juntando a utilidade
De aprender calmas campestres
Às conversas da amizade.
399 - Causo
Com meus amigos me causo
No melhor de mim vivido:
O que disser tem aplauso,
O que ouvir será aprendido.
400 - Prepara
No Verão prepara o canto
Que teus invernos fecundam:
Um favor não custa tanto
E as amizades abundam.
401 - Elogios
Se te incensas nos altares,
Não te libertas dos frios:
Em vez de te lamentares,
Leva aos demais elogios.
402 - Palácio
Que é que falta num palácio
Sumptuoso até mais não?
- Não é, não, falta de espaço,
É tua mão na minha mão.
403 - Incitamento
O teu filho tu promoves
Mas dele jamais repoisas
Senão co'a prova dos noves:
- Dá incitamento e não coisas!
404 - Demissão
Os pais que tudo oferecem
Sem ofertar ambição,
O que aos filhos eles tecem
É uma vida em demissão.
405 - Além
Nesta minha casa cheia
Dorme estranho encantamento:
A paz que aqui me permeia
Mora além do entendimento.
406 - Afasta
Gera-se um filho e logo então se afasta
Mais dia a dia até no além perder
Todos os laços de que a vida engasta
Nossa impotência até de aqui sofrer.
407 - Consolar
Desgosto de amor?
- Consolar o doente
Não lhe cura a dor:
Faz que a dor aumente.
408 - Correspondido
Um amor correspondido
Gosta de dar a saber
Toda a festa que do olvido
Faz a terra renascer.
409 - Viver
Viver sm ter uma estrada
Onde o amor venha correr,
Viver a vida p'ra nada
É o mesmo que não viver.
410 - Bater
Quando alguém bate a uma porta,
Não bate à porta co'a mão:
O bater que nos importa
É o bater do coração.
411 - Sentido
A vida tem um sentido
Que doce lhe torna o travo:
É o amor que, bem vivido,
Do amor torna tudo escravo.
412 - Amor
Quando o amor me tem à mão
Dizem que o amor é gratuito,
Mas não é gratuito, não,
Que o amor faz sofrer muito!
413 - Sós
Como o amor nos liga!
Contigo me fundo
Mas isto me intriga:
- 'Stamos sós no mundo!
414 - Decepções
As decepções de amor são ninharias.
Horrível é saber, a pouco e pouco,
Que se foi enredado em fantasias
Sobre o valor moral do amante louco.
415 - Breu
Passei junto à casa dela,
Fez escuro como breu:
- Só por não ver uma estrela
Logo todo o sol morreu!
416 - Recordá-la
Tramam as horas um gozo
De a não poder entrever:
- Recordá-la é doloroso,
Também é o maior prazer!
417 - Faísca
Como é bom estar aqui
Co'a tempestade lá fora:
Faísca de mim p'ra ti,
Cá dentro é que nasce a aurora!
418 - Âncoras
Os dias da mãe são danças
Num barco pronto à partida,
Âncoras são as crianças
Que prendem a mãe à vida.
419 - Escutar
Aprende a escutar, que ouvir
É mais que ser receptor:
A importância vai subir
Se aos outros lhes dás valor.
420 - Bens
A família tem tenções
Que não são as que tu tens?
- Vê lá mais que obrigações:
São os teus melhores bens.
421 - Penso
Penso em ti quando estás perto
Sem que isto a mim me despoje.
P'ra de mim ficar mais certo,
Penso em ti quando estás longe.
422 - Melhor
Em todo o tempo e lugar,
Para mim o que é o amor?
- Mostrar que sou o melhor,
Melhor amigo a meu par!
423 - Nascer
Por quê o Mundo nascerá
No meio de sangue e horror
Se até o bebé pode já
Nascer dum parto sem dor?
424 - Gostar
Abrir-lhe ou tirar-lhe o ar
É que requer decisão,
Que o gostar ou não gostar
Nunca está na nossa mão.
425 - Medida
A medida dum amor
De alguém por outra pessoa
É a do tamanho da dor
Quando ela o atraiçoa.
426 - Íntimo
Quando nosso íntimo é puro,
Nossa comunicação
Segue um caminho seguro:
Faz-se com o coração.
427 - Mulher
Mulher, em todos os lados
De destinos instrumento,
Nós somos barcos parados
Como se foras o vento.
428 - Inanição
Morremos de inanição
Mas a maior queimadura
É a fome do coração
Que espera em vão na procura.
429 - Diabo
Viver sozinho é o diabo;
Dos outros tanto preciso
Que no bem que levo a cabo
A mim é que ao fim me viso.
430 - Companheiros
No autocarro empacotados
Cá vamos juntos prà lida,
Companheiros amassados:
Massa em que se molda a vida.
431 - Namorada
A vida é bela e terrível,
Fera á solta, tempestade,
A namorada sensível
Por quem se morre em verdade.