SEGUNDO VERSO
LONGE PROCURE O QUE NA CASA TEM
Escolha aleatoriamente um número
entre 122 e 237 inclusive.
Descubra o poema correspondente
como uma mensagem particular para o seu dia de hoje.
122
127
Longe
Procure
Cientista
Longe
procure
Cientista é quem os limites
O que na casa
tem
De tudo sabe e transpõe,
Quem de si não
cure,
Na
dúvida dos palpites,
Nem doutrem, de
ninguém.
Cada risco a que isto expõe.
É aqui
Que mora
escondido o
além
128
À espera de
ti,
Vales
Refém.
Por
muito que andes na estrada
Pagas
Jamais encontrarás porto
Para o soltar dos
grilhões
Se, afinal, não vales nada:
E ficarem as
prisões
Nada valer é estar morto.
Vagas?
129
123
Espera
Futuro
Somos quanto desespera
O futuro é afinal
hoje,
Nesta meia porta aberta,
Por mais que
no-lo
descontem,
Uma
descoberta à espera
E, se não
corrermos,
foge:
De ser enfim descoberta.
O futuro será
ontem!
130
124
Optimista
Confie
Seja optimista, porque hoje,
Sempre a fugir de
rivais
Por mais velho que já seja,
Vive a terra
inteira
tensa.
É mais jovem que se veja
- Confie em si,
sabe
mais,
Do que quanto amanhã foge.
Muito mais do que
o que pensa!
131
125
Receptivo
Frente
Sempre que me quero vivo,
O que importa é
que eu
assente
Saio, já não me ensimesmo,
Que o rumo da
Humanidade
E, ao mostrar-me receptivo,
Não requer
velocidade,
Os demais fazem o mesmo.
Quer ir daqui
para a frente.
132
126
Pena
Más
A
criança recupera
Os farsantes,
trapalhões,
Como o adulto nunca vi:
São mais que
pessoas
más:
- A criança nunca espera,
Matam-nos as
ilusões,
Pois não tem pena de si.
Vivem daqui para
trás.
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133
139
Espuma
Aprendem
Mantém os gestos
corteses,
Amores se contrafazem,
Porém, olha onde
isto
ruma:
Desdizem-se coisas boas...
Pergunta por duas
vezes,
-
E as pessoas que é que fazem,
Mais vale que
perder-te
uma
Aprendem a ser pessoas?
134
140
Quadro
Lições
A pessoa é um
quadro
antigo
Receber
lições de amor
Muitas vezes
restaurado...
Implica a contradição
- Até que mais
não
consigo,
De aulas ter sem professor
De vez tombo para
o lado!
E ninguém para a lição.
135
141
Contas
Rico
Por que as contas
tanto
erramos
O amor fica muito rico,
Alimentando os
perigos?
Guarda tesoiros intactos?
Ajudando outrem,
ganhamos
- De amor eu mais pobre fico
E não, fazendo
inimigos.
Quão
mais ricos dele os pactos.
136
142
Tempo
Morder
Arte longa em
demasia
Entre o medo de morder
Num tempo curto
demais...
E
o medo de ser mordido
- Ou é o tempo
que me
espia,
Vai o amor virgem morrer
Se furta e não é
jamais?
Nos covais do nunca havido.
137
143
Capaz
Intervalo
Cada qual nasce
capaz,
A vida tem tal vivência
Pronto ao que der
e
vier.
Que enquanto falo me calo:
Sempre a vida é
que nos faz
Entre a vida e a existência
O que não
sonhamos
ser.
Perdemo-nos no intervalo.
138
144
Falamos
Adversidade
Por que não
falamos
quando
Ter proveito da experiência
Um sentido nos
convida?
É a frágil capacidade
- Andamos todos
falando
De aprender com a premência:
Em língua
desconhecida!
- Só se aprende a adversidade.
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145
151
Heróis
Enfrentar
Os heróis como os
cobardes
Se a vida te joga ao chão,
Sentem sempre o
mesmo
medo.
Resta-te enfrentar, com jeito,
Se estes fogem
sem
alardes,
A difícil situação:
Os heróis saltam
no
pego.
- Dela extrai qualquer proveito!
146
152
Riscos
Surdez
Correr riscos
ponderados
Fico surdo cada vez
Torna a vida uma
aventura:
Que me afasto dos conflitos.
Nos anos nela
passados
Permite
minha surdez
A juventude se
apura.
Não ouvir meus próprios gritos.
147
153
Procura
Jangada
Quando alguém
procura
alguém
As aventuras da vida
Para de si se
afastar
São viagens de jangada:
Não encontra ao
fim
ninguém
Pende a sorte nela haurida
Nem mantém o seu
lugar.
De quem ajunta a jornada.
148
154
Anula
Paradoxo
A mera
bisbilhotice
Num paradoxo acredito:
Engana a fome de
humano
O sacrifício pessoal,
Quando em factos
se
espreguice
A bem da equipa predito,
Nos motivos vendo
engano.
Compensa-me
no final.
149
155
Vazios
Obedeça
Em terra
estranha, os pés frios
O amor que te tenho faz
Volvemos sempre à
miragem
Com
que mais eu te obedeça
Do que atrás
deixa a
viagem:
Que o medo da morte, aliás,
E a dor se enche
de
vazios!
Nem que no inferno pereça.
150
156
Socorro
Persigam
Há muitos que,
lentos,
morrem,
O mais comum é que aos factos
Gritam que lhes
não
acorro:
Os persigam as palavras:
- Os que a si
próprios
socorrem
Mais fáceis que quaisquer actos,
Não hão mister de
socorro.
Delas cobres o que lavras.
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157
163
Demasiado
Devotos
Um amor
demasiado
Devotos do Deus do amor,
A si se enganou e
aos
mais
Por que não sois tolerantes
E por ser tão mal
amado
Para com o seguidor
Dos amantes faz
rivais.
Que O segue doutros quadrantes?
158
164
Talvez
Alguém
Talvez tivéssemos
menos
Quando se gosta de alguém
Guerras se jamais
houvesse
Não quer dizer que aos demais
Quem nos
convença,
pequenos,
Não os amemos também:
Dum dogma que só
parece.
O amor tem muitos sinais.
159
165
Apanhado
Jura
Aquele que não se
importa
Quem jura amar a mulher
É que jamais é
apanhado:
Para sempre não se amarra
O medo é que
atrai à
porta
À primeira que vier
O vigia ali do
lado.
Prender-se-lhe sob a garra.
160
166
Mal
Dentro
Um mal jamais é
tamanho
Nunca te olharei por dentro
que não possa
imaginar,
Mesmo quando o desejara:
Para dele tirar
ganho,
Quando em ti entro não entro,
Um maior em seu
lugar.
Só longe em saudade és clara.
161
167
Coragem
Nunca
É preciso ter
coragem
Nunca se pode ser tudo
Para saber
esperar,
E nada menos ainda:
Esperar desta
viagem
Ao fugir de mim, contudo,
De que ninguém
torna ao
lar.
Não fujo, sou eu na vinda.
162
168
Noite
Tecto
De noite,
qualquer
pessoa
São os sonhos que seguram
É aquilo que
sonhou
ser
O
mundo no seu trajecto.
E não esta coisa
à
toa
E as mulheres, se os murmuram,
Em que deveio ao
viver.
Nele andam montando o tecto.
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169
175
Nuvem
Alimenta
Se a nuvem é
aterradora,
Um homem, se tiver filhos,
Nem queiras ver o
terror
Também se alimenta deles.
Dessa nuvem que
em ti
mora
Nossa cara de sarilhos
Se dela não és
senhor.
É
que os não sacia a eles.
170
176
Destino
Trabalhos
As notícias do
destino
A vida engendra trabalhos
São sempre meias
notícias:
Ao
acaso do que calhe,
Conta amanhã com
que
atino,
Não se lhe murcham os galhos
Hoje são nada as
primícias.
Enquanto houver quem trabalhe.
171
177
Medo
Tal
Nem todo o medo é
negado,
Onde mora o ser humano
Que há sustos com
tal
clivagem
Que tal como é tal se veja?
Que então se vive
assustado
É o mais difícil arcano,
Com sua própria
coragem.
Qualquer que o arcano seja.
172
178
Louco
Sapo
Se um pouco temos
de
louco,
Se é um sapo teu coração,
O juízo da
loucura
Cuspo em ti e cuspo nele,
É aqui agarrar
tal
pouco
Amaldiçoo-te a pele,
A ver se cá nos
segura.
Que a sapos dás geração.
173
179
Força
Noite
Quando Deus não
sopra,
Tudo tem medo da noite,
Ainda algo se
esforça:
Porém, nenhum medo vi
- Colhemos a
copra
Quando a noite em que se afoite
Fazendo nós
força!
É a que tem dentro de si.
174
180
Fogo
Gore
Quantas reservas
se
comem
Se pensa nalguma coisa,
Do coração onde
as
ponho
Muito tempo não demore,
Para alimentar um
homem
Quem
tarde no choco poisa
Que quis deitar
fogo a um
sonho?
Seu ovo fará que gore.
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181
187
Erro
Rituais
A tempo importa
aprender
De
manhã tomo o meu golo
Que será um erro
sorrir
De leite e boas entradas:
A quem abusos
fizer
- Os rituais são consolo
E ao fim de mim
se
partir.
De vidas desreguladas.
182
188
Oportunidade
Prendas
A nossa oportunidade
Muitas prendas dão os pais
Difícil se
reconhece,
Mas uma só vai valer
Que caímos na
inverdade
Mais que todas as demais:
De só ver o sino
e a
prece.
- A do bom gosto de ler.
183
189
Estranho
Ameaças
Do génio o que é
mais
estranho
Normalmente as ameaças
É que ele jamais
entenda
Ameaçam e prometem:
Que dum campo ter
o
ganho
Forçam mudanças que faças,
Não é ter em tudo
a
tenda.
Óleo nas juntas te metem.
184
190
Férias
Cadeia
Boas férias de
quenquer
A cadeia nos transforma,
São aquelas que
permitem,
Por falta de liberdade,
Mais que os
problemas
hesitem,
Ao impor que é boa norma
Que o tempo possa
esquecer.
Uma quebra da vontade.
185
191
Mais
Palavras
Como quando sobre
as
lavras
As palavras certas
Comandam os
elementos,
A certas pessoas
Mais fortes são
as
palavras
Soam-lhes a alertas,
Se fracos os
argumentos.
São da fome as broas.
186
192
Cansados
Impossível
Se os olhos te
estão
cansados
Impossível
defender
De olhar quanto
vai no
mundo,
Qualquer direito de alguém
Deleita-os na
flor dos
prados
Se direito não houver
Do espaço no mar
profundo.
A uma lei que se mantém.
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193
199
Patrão
Traições
Quando o patrão
fora um bruto,
Não revoltam forças brutas
Fácil o
toleraria;
De pestes, inundações.
Se é uma
inteligência, o
fruto,
O que aos homens traz disputas
Se safado, é que
afligia.
São à justiça traições.
194
200
Desgraça
Solidariedade
O que a desgraça
me
ensina!
Quantas vezes busco à porta
Sem o que ela me
embeleza
A
solidariedade
Julgaria a humana
sina
E, quando ela é o que me importa,
Destituída de
nobreza.
É o gelo que ao fim me invade!
195
201
Lide
Miséria
A cadeia me
divide:
Quando se cai na miséria,
Dentro só raiva a
ferver,
São os desinteressados
Por fora,
cobrindo a
lide,
Actos que pagam a féria
Sou frio como
qualquer.
Com que se atalham os fados.
196
202
Desvairo
Desgraça
Um desejo que
deseja
Nas horas tristes se encolhe,
Fácil muda em
realidade
Presa a ilusões fugitivas,
O desvairo com
que
almeja:
A desgraça: ainda recolhe
Torna a demência
verdade.
Sonho embora, gestas vivas.
197
203
Línguas
Pegajosos
Operários e
burgueses
Há
lamentos pegajosos
Falam línguas
diferentes?
Que nos sugam com sequelas.
- Não se entendem
muitas
vezes,
Só não ficamos lodosos
Que tudo é dito
entre
dentes.
Quando nos limpamos delas.
198
204
Imaginário
Ilusões
O tormento
imaginário,
No meio do desespero
Muito mais que o
verdadeiro
Teimamos nas ilusões
Nos romantiza o
fadário,
Sabendo embora o tempero
Nos torna heróis
por
inteiro.
E mais as limitações.
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205
211
Corda
Degredo
Se tenho a corda
ao
pescoço
Vivo a vida sempre a medo,
E alguém, rindo,
mo
negar
Nem
sei o que a vida é:
Facilmente me
remoço
Tenho medo dum degredo,
Crendo estar
noutro lugar.
Medo sei lá bem de quê!
206
212
Processo
Daninhas
Prisioneiros sem
processo,
A melhor solução
Por quê matar a
cabeça
Para as ervas daninhas
A inquirir por
quê o
excesso
É a resignação
De a vida matar à
peça?
Com que nelas caminhas.
207
213
Animalidade
Comer
Os nossos mais
fundos gozos
Quando não puderes dar
Cheiram a
animalidade:
De comer a cem pessoas,
Mesmo gestos
generosos
Dá só a uma: um pouco de ar
Contêm
brutalidade!
E o forno coze mais broas.
208
214
Céu
Convence
Como merecer o
céu
Um patrão que nos convence
Quando passo o
dia às
fintas?
Em meio a qualquer quezília,
Com um cego como
eu
Ao convencer-nos não vence,
Desperdiça o céu
as
tintas!
Fez-nos todos da família.
209
215
Hóspede
Qualidade
Aprisionados na
vida,
Muitas vezes a verdade
Porém para os
demais
não?
Vem da busca de seus bens:
Se hóspede é quem
se
convida,
Se queres ter qualidade,
Todos convidados
vão.
Faz de conta que a já tens.
210
216
Fantasmas
Ajudas
Vivemos criando
os
sonhos
Se o barco do teu irmão
Mas os fantasmas
também,
Ajudas
na travessia,
Por isso são tão
medonhos
Vai ser tua embarcação
Os feitos que
dali
vêm.
Que entra a salvo na baía.
===================================================================================================================
217
223
Ouvir
Decido
Toda a
comunicação
Sei lá bem se o que decido
Eficaz só
principia
Sou eu ou em mim alguém!
Quando pões toda
a
atenção
- É que sempre me endivido
Em ouvir quem se
anuncia.
Nos passos que a vida tem.
218
224
Tanto
Pensa
Tanto quanto aos
outros
dás
Quando alguém mal de si pensa
Aquilo de que
precisam,
Acabará por tornar-se,
Tanto em paga,
para trás,
Em
vez de pessoa imensa,
O que queres é o
que
visam.
No seu maldoso disfarce.
219
225
Rumo
Sozinho
Em vez de os
outros
forçar
Nunca
te sentes sozinho,
A chegarem a um
consenso
Não de sexo ou de amizade,
Atrai-os rumo ao
lugar
Mas deste estar comezinho
Que lhes desperte
o bom
senso.
Só com alguém à vontade?
220
226
Sozinhos
Vinho
Pedes e crês
encontrar,
Como é bom viver sozinho!
No que te dão,
pergaminhos?
Só que, nas fases de crise,
- Ninguém nos
poderá
dar
O que reconforta é o vinho
O que fazemos
sozinhos! De
alguém com quem me autorize.
221
227
Depressa
Dinheiro
A morte sempre
começa
Ter dinheiro, ter dinheiro...
Por onde a vida
se
esfuma:
Que
importa a quem o terá
Viver depressa,
depressa,
Se ao fim não pode estar cá
Não nos traz
bênção
nenhuma.
Para o gozar por inteiro?
222
228
Iguais
Enquanto
No casal, se um
ganha
mais,
O desencanto do encanto
Quer poder de
decisão,
É que encanta se o não vir:
Mas só o poder
entre
iguais
Toda a vida é por enquanto,
Reforça mais a
união.
O que conta é o que há-de vir.
===================================================================================================================
229
235
Compram
Cheio
Que nos importam
dinheiros
Se um homem acorda velho
Se não compram a
alegria
Bem cheio de ter vivido,
Dos vinte e
quatro ponteiros
Por mais que sofra do artelho,
Que pontuam cada
dia?
Nisto é um homem conseguido.
230
236
Frutos
Escolhemos
Sempre a mais nos
acontecem
Os
amigos escolhemos
Factos que nem
sequer
há:
Que teremos vida além,
Os homens nunca
merecem
Mas jamais escolheremos
Os frutos que a
terra
dá.
A família que se tem.
231
237
Soletrar
Alforria
Soletrar bem as
palavras
Quando fiz meus dezoito anos,
Não se aprende
por
decreto,
Se me deram alforria,
Quem bem quer
lavrar tais
lavras
Tanto corri aos enganos
Finca-se do chão
ao
tecto.
Que
a morte ali principia.
===================================================================================================================
232
Medida
Jamais é com um destino
Que encontro minha medida,
O metro com que eu atino
É minha altura de vida.
233
Valentia
Um homem cheio de medo
Pode ter a valentia
De avançar para o degredo:
Só então vejo que valia.
234
Velhos
Os velhos olham o mundo
E tanto tempo já têm
Que mais olham e mais fundo
É o que não vêem que vem.