TERCEIRO VERSO
VAZIO SEMPRE O QUE MELHOR CONVÉM
Escolha aleatoriamente um número
entre 238 e 353 inclusive.
Descubra o poema correspondente
como uma mensagem particular para o seu dia de hoje.
238
244
Vazio
sempre
Carinho
Vazio
sempre
Carinho alimenta as almas
O que melhor
convém,
E alarga além mais a esfera:
Até que me
lembre
Troca ansiedades por calmas,
De voltar
aquém,
Até corpos recupera.
A apoiar o pé
Para o salto.
- E upa,
até
245
Ao
alto!
Importantes
Não fujas ao que era dantes
239
Sonho impossível de alguns:
Escolha
Foram coisas importantes
Que hoje são as mais comuns.
A persistência
não basta
A quem os prémios
recolha:
Tem abrangência
mais
vasta,
246
Persistir inclui
a
escolha.
Senso
Pouco
importará o que penso.
240
Quem tiver senso comum
Influência
Que baste terá bom senso,
Ninguém
lhe quer mais nenhum.
Que à vontade se
promulgue
Não sermos coisa
nenhuma,
Porém nenhum
homem
julgue
247
Não ter
influência alguma.
Novas
São sempre precisas provas
241
Para o amor amar quem ama?
Baloiço
- Nada como as boas novas
Prà vida saltar da cama!
A criança no
baloiço
Suspensa entre a
terra e o céu...
- Que será que
vejo e
oiço
248
Que ali faz que
esteja
eu?
Fatal
Um medo há que é ritual
242
E torna a vida em tormento:
Sonho
É o que à nascença,
fatal,
Nos
condena o pensamento.
Sempre o sonho é
tão central
Que um homem se
arreda dele
E ele fica tal e
qual:
249
Ninguém vive sem
a
pele.
Lei
Se entre fraco e forte há crime,
243
Da
lei as malhas aperta:
Louco
Se a liberdade é que
oprime,
A lei é que então
liberta.
Louco é quem não
siga a estrada,
Quem dorsos de
dinossáurio
Transponha em
cada passada...
- Será sonho?
Então instaure-o!
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250
256
Panela
Mesa
"Eu tenho a
panela ao
lume,
Quantos homens comungando
Ferve o que já me
não
tiras..."
À mesa o mesmo repasto
Não é amor o seu
perfume?
E
quantos que chegam quando
- Ela anda a
ferver
mentiras!
Já todo o cibo foi gasto!
251
257
Antes
Infeliz
Antes de ser
imortal
O
amor é tão infeliz,
O que importa
descobrir
Mora nele tanta dor
É uma questão
crucial:
Que feliz é só o que diz
- Posso viver, há
porvir?
A ideia que diz o amor.
252
258
Escravos
Duelo
Sempre o mundo é
governado
Em duelo, dia a dia,
Por gordas
canelas,
cravos
Vivo emboscado e transido:
Onde quem é
esfomeado
- A vida é um alvo atingido
É da espécie dos
escravos.
Por
quem tiver pontaria.
253
259
Cão
Escola
O cão é o mestre
do
amor,
O que é mais angustioso
Do amor com que
jamais rima
Em qualquer
escola de arte
Quem ama sem ter
senhor:
É uma obra dar tão mais gozo
- O amor de baixo
p'ra
cima.
Quão mais da escola se aparte.
254
260
Fantasma
Criança
Pessoas tão sem
sequelas
Criança não é vasilha
Que perdem todo o
lugar,
Onde despejo o saber,
Vai ser só o
fantasma
delas
É fogo que ateia e brilha
O que se busca
salvar.
E que eu tenho de acender.
255
261
Ditador
Génio
Desde sempre,
eternamente,
Quando é o génio quem te agrada
O ditador a
tentar...
Mas não logras alcançá-lo,
- O tempo que
leva a
gente
A
instrução é a tua escada:
A se
desumanizar!
Trepa às copas, colhe o talo!
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262
268
Surpreender
Tormento
Um trabalho aborrecido,
Já
sofri tanto tormento
Para deixá-lo de
ser,
Que começo a vangloriar-me:
Só se a mim
próprio convido
Há males que, se dou tento,
Com ele a me
surpreender.
Todos vivo sem alarme.
263
269
Aperitivos
Pintor
Há certos
contemplativos
Se um pintor pinta um retrato,
Que nunca passam
à
acção:
Não é um retrato, é uma vida:
Tomam os
aperitivos
- É o que houve de entrar em acto
E jamais a
refeição.
Até à cara ali surgida.
264
270
Chamiço
Inseguro
Chama breve dum
chamiço
Se alguém se sente inseguro,
Entre os gravetos
que
temos,
Doutrem teme o julgamento;
Apenas um
compromisso
E deste o temor mais duro
Com os outros nós
seremos.
Daquele é que o julgue o intento.
265
271
Mancheia
Verão
Trata de outrem
pôr
feliz,
Se o Verão te vem aí,
Que a felicidade
alheia
Não chores a Primavera:
É alheia só por
um
triz,
Quem sente pena de si
Deixa em ti uma
mancheia.
Jamais
de si recupera.
266
272
Criança
Levantar
O mais lindo é
uma
criança
Não é sorte nem é siso
E à criança
presto
preito:
Quando alguém nunca tropeça:
O mais que um
amor
alcança,
Para vencer é preciso
Terno alcança
este
defeito.
Levantar sempre a cabeça.
267
273
Pastor
Açoite
O pastor não
vigilante
Nem sempre é fatal o açoite
Há-de ser sempre
enganado,
Que nos arrasa no chão:
Mais atrás, mais adiante,
Deus apenas fez a noite,
Por qualquer lobo
emboscado.
De nós vem a escuridão.
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274
280
Lutar
Mestra
Se deixarmos de
lutar
Não vai ser a idade
Por uma vida
melhor,
Que a preguiça amestra,
A vida perde o
lugar,
Só
a necessidade
Irá de mal a
pior.
É uma boa mestra.
275
281
Sorte
Jamais
Todos sofremos
reveses,
Jamais, jamais eu me embosco
Não enfrentá-los
é a
morte.
Se à tocaia me obrigais:
Lutemos todas as
vezes,
- Que têm a ver connosco
Que a insistência
é a mãe da
sorte.
As guerras de nossos pais?
276
282
Coração
Milagres
O coração
vencerá
Os milagres aparecem
Quanto lhe for
oponível:
Se a contagem chega a zero:
Quando o coração
se
dá,
Milagres só me acontecem
Ao corpo nada é
impossível.
Resvés
com o desespero.
277
283
Prezo
Povo
De animais que me
não
mordem
O povo nunca sabe
Prezo mais a
companhia
Usar a liberdade?
Que de homens que
em mim
acordem
- É que ela ainda não cabe
Sevícias de
vilania.
Na tua mentalidade...
278
284
Máscaras
Dente
Olha bem de lado
a lado
O
problema é que só conta o produto
Onde máscaras
houver:
Que ninguém adivinha previamente:
- Há quem chore
seu pecado
Pela casca ninguém conhece o fruto
Dele rindo de
prazer.
Se não lhe houver metido antes o dente.
279
285
Riem
Ajudas
Quando elas riem,
quando
elas
Deus é maneta e perneta,
Assim devêm
seguras
Que não tem braços nem pernas,
São uma casa às
escuras
-
Mas fez a Terra completa
Que abriu todas
as
janelas.
Sem ter ajudas externas!
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286
292
Leilão
Custa
Somos homens,
somos
Muito
custa o tempo a passar
Sem pés nem
cabeça,
Até vir a felicidade
Por isso nos
pomos
E quão breve ocupa o lugar
Em leilão à
peça.
Que prometera a eternidade!
287
293
Desconcerto
Mundo
O mundo obedece
mal
Não vale o mundo nenhum
Se nos não
vislumbra ao
fundo.
Ou tudo vale também:
Dos homens não há
sinal?
O mundo de cada um
- É o desconcerto
do
mundo!
São os olhos que ele tem.
288
294
Zé-ninguém
Ludíbrio
Um homem é um
zé-ninguém!
Será o ludíbrio tão fundo,
Não que o valor
dele
abale:
Tão
fundo que convenceu?
- Um homem sabe o
que
tem;
- Ninguém ignoto do mundo
Porém, não sabe o
que
vale.
Santo no-lo aponta o céu!
289
295
Forças
Fogo
Quando a mãe
abraça um
homem,
Fogo em turbilhão
As forças de tal
fusão
A cinza anuncia:
Dum homem diz que
se
tomem
Passada a paixão,
E ao fim são do
coração.
É a melancolia.
290
296
Videntes
Perguntas
Mal o olhar se
nos
apura,
As barreiras na vida são-te opostas,
Que promessa de
presentes!
Tanto que só questões na vida juntas?
Quando, afinal, a
amargura
-
No mundo tudo acorre a dar respostas,
É sempre o olhar
dos
videntes.
A demora é do tempo das perguntas.
291
297
Antecâmara
Adulto
O que sempre nos
aterra
Um
adulto é uma criança
Não é verão nem
inverno,
Que se perdeu das entradas
É poder ser esta
terra
E que agora só se alcança
A antecâmara do
inferno.
Cavando algumas camadas.
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298
304
Problemas
Sistema
Os problemas
desta
vida,
Quando penso, o que descubro
Metade ao sim
apressado
Vai dar lucro a quem oprime.
Se devem e, na
fugida,
Atormenta
é que assim cubro
Outra ao não que
tarde é
dado.
Com um sistema o que é crime.
299
305
Questão
Estupidez
Questão não é
rejeitar
A estúpida estupidez
De vez a
tecnologia,
Não é que estúpida fala,
É de ela não ser
meu
lar
É que, mesmo quando cala,
Na vida nem por
um
dia.
Nos quer do mesmo jaez
300
306
Sempre
Miragem
Jogos, bonecas ou
doces,
Se se dissipa a miragem
Ao fim são prenda
perdida.
Nosso estado lastimoso
Ler por gosto é
tal se
fosses
Logo maquina a viagem
Prenda sempre
toda a
vida.
Doutro
sonho para o gozo.
301
307
Escola
Auguro
Quando a escola
não
ensina
O refúgio no passado
E anda emburrando
a
criança
Ou a adornar o
futuro
Com alguém isto
combina
É o presente pôr de lado.
E vai-lhe
engordando a
pança.
Que porvir então me auguro?
302
308
Prisão
Emigrantes
A prisão dará
prazer
Este povo de emigrantes,
Quando a vida
fora
dela
Da Humanidade medida,
Tanto tormento
tiver
Alonga sonhos distantes
Que o que nos
liberta é a
cela.
E só quer cavar a vida.
303
309
Pensamento
Patife
O pensamento é um
efeito,
Quero agradecer sincero
Não pode ser uma
causa.
A um salvador que é um patife?
Porque lhe
inverto o conceito,
-
O valor de quanto é vero
Manda em mim, não
me dá
pausa.
À tumba levo no esquife.
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310
316
Rasteirada
Nojo
Agora ninguém
dilata
Será
o nojo natural
Nem o império nem
a
fé:
Ou de fora nos é imposto?
Quando alguém
alguém
maltrata
- Se não vem do social,
É à rasteirada e
à má
fé.
Fá-lo então perder o gosto.
311
317
Covardia
Multidão
P'ra não mostrar
covardia,
As criaturas se anulam
Quantas vezes é
sandice
Na multidão como insectos:
O que se resolve
um
dia
Esboços vagos, pululam,
- E pratica-se a
tolice!
São
desenhos incompletos.
312
318
Sufrágio
Gato
O sufrágio é coisa
débil:
As perfídias e maranhas
Se ninguém a
defendeu,
Se
afastam com mão de gato:
Àquela decisão
flébil,
As garras, felinas manhas,
Como ganhou se
perdeu.
Só se mostram quando em acto.
313
319
Estupidez
Choque
Eles não querem
apenas
Qualquer choque nos perturba
Mostrar nossa
estupidez:
E o pior é não saber
Forçam-nos, ao
impor
penas,
Até onde afoga a turba:
A sermos de tal
jaez.
Bulindo impede de ver.
314
320
Hostil
Risos
Vivo num ambiente
hostil?
Para mim rides, estranhos,
- Nas fisionimias
há
gralhas,
Vossos risos de caveira.
Gelo no grupo
febril,
-
É que já vedes os lanhos
Nos espíritos,
navalhas.
De minha carcaça inteira?
315
321
Doi
Direito
Muita dor é dor à
toa:
Não
temos qualquer direito,
Um discurso
incendiário
Somos homens sem sequer
Nem sempre faz
que me
doa
Ter o tempo a nosso jeito:
O que doi um que
é
sumário.
Nem há o direito a viver!
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322
328
Humano
Tratar
Temos coração
humano,
Quem outrem melhor tratar
Demasiado, por
sinal;
É quem aos outros se impõe:
O hábito de
causar
dano
Para
o reter, meu lugar
No-lo torna de
animal.
É o que o coração impõe.
323
329
Desbotam
Pontes
Numerosas
criaturas
Quando eu tratar as pessoas
Se desbotam no
papel
Como quero ser tratado,
Como em mim suas
figuras
Nossas pontes alargou-as
Apaga o tempo a
granel.
Do mútuo apoio o cuidado.
324
330
Desquita
Atento
Dos escritos me
desquita
Se a outrem quiser impor-se,
Por não ter
nenhum
valor,
Terá de estar muito atento
Não obra que é
mal escrita,
Para atender, ao expor-se,
A que não tem
interior.
Ao
que ele aguardar do evento.
325
331
Punhal
Puxar
Um sorriso nos
envolve
A empurrar ou puxar
Mas, enquanto
anestesia,
Nossas
relações se tecem;
O punhal oculto
volve
Quem puxa sem empurrar
Em assassino um
"bom
dia!"
São os sonhos que acontecem.
326
332
Chama
Plano
Alarmo-me e
destrambelho
Para alguém se impor a alguém
Ante minha
pequenez
É preciso sapiência
Quando alguém me
chama
velho
E ver se no bolso tem
A sério a
primeira
vez.
Sempre um plano de emergência.
327
333
Viagem
Argueiro
O melhor duma
viagem
A mulher encara o risco
É prevê-la e recordá-la;
De investir como um argueiro
É que realizá-la
abala:
Nos olhos, tal como um risco
É o problema da
bagagem!
Com que irá perder dinheiro.
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334
340
Pessimista
Respirar
Sofre o
pessimista as
penas
Dizem: "não te preocupes,
Das cores que
elide tanto
Tudo se vai arranjar!"
Que o arco-íris
apenas
Não vêem que é: " não te ocupes
Lhe aparece a
preto e
branco.
Com isso de respirar"?
335
341
Interliga
Açoite
O sonho nos
interliga
Para quem vive de noite
Como o mais
profundo
elo
Será sempre a luz do dia
Mesmo com a falsa
liga
Que ele verá como o
açoite
De ser hoje um
pesadelo.
Em que o medo principia.
336
342
Crer
Falha
Crer que algo vai
ser capaz
Quando um gesto independente
De transformar o
que
existe,
Entre nós alguém ousar,
Podendo não
trazer
paz,
Falha sempre quanto intente:
Dá valor ao que
resiste.
- Para os mais vai sempre olhar!
337
343
Alheio
Cópia
Por imperativo
alheio,
Se ninguém tem acção sua,
Quantos passos em
meus
passos:
Tudo é cópia repetida,
Quanto doutrem
ando
cheio
A verdade nua e crua
No que creio meus
espaços!
É
que ninguém vive a vida.
338
344
Realidade
Vontade
Há quem fuja à
realidade,
Amorfos, a adversidade
Porém, a pior
sequela
Nos humilha até o tormento,
Vir desta fuga
não
há-de,
Pois quem nunca tem vontade
Mas de quem se
alheia dela.
Nunca pode ter lamento.
339
345
Remorsos
Estrela
Por causa de
nossas
vida
Quanto mais se nos exorta
Que nunca passam
de
escorços
A evitar uma má estrela,
Carregamos,
reprimidas,
Tanto mais sai pela porta
Toneladas de
remorsos.
Entrando pela janela.
=====================================================================================
346
352
Pau
Arpoador
Transpomos todos,
discretos,
Arpoador sem pontaria,
Os banais dias a
vau;
Navego uma eternidade
Vemo-nos vagos,
secretos,
A
falhar a presa esguia
Sem ramo ou folha
- só
pau!
Que chamo felicidade.
347
353
Sobrar
Sós
Se tudo são
desenganos,
Por mais que atemos nós,
Nada na vida
convida,
Que estendamos os laços
Passamos todos os
anos
Não chegam os abraços,
Mas sempre a
sobrar na
vida.
- Todos estamos sós!
=====================================================================================
348
Deixa
Deixa um homem de ser homem
Não quando morre mas antes,
Quando os gestos se lhe somem
Em mil nadas inconstantes.
349
Rasto
Um homem, quando perpassa,
Deixa um rasto sobre a tera,
Pegada funda ou escassa
Conforme a vida que encerra.
350
Enubla
O tempo vai-se enublando,
Perdendo o esplendor da glória;
Mais se enubla o tempo quando
Me enubla minha memória.
351
Perco
Da família meu abrigo
E do lar este meu tecto,
Como longe os não lobrigo,
Cresço e perco o que é dilecto
352
Arpoador
Arpoador sem pontaria,
Navego uma eternidade
A falhar a presa esguia
Que chamo felicidade.
353
Sós
Por mais que atemos nós,
Que estendamos os laços
Não chegam os abraços,
- Todos estamos sós!