QUARTO VERSO
PARA À ROTINA CONTRAPOR O NOVO
Escolha um número aleatório entre
354 e 468 inclusive.
Descubra o poema correspondente
como uma mensagem particular para o seu dia de hoje.
354
359
Para à
rotina
Sapiência
Para à
rotina
Uma experiência de vida
Contrapor o
novo
É
só um primeiro momento,
Que sina
aprovo?
A sapiência é o que convida
Os
trilhos
Ao seu aprofundamento.
Correr,
Os brilhos
Reter?
360
Contam
Disperso me
perco...
- Por dentro de
mim
As más colheitas remontam
É que o
fim
Não às ceifas mas às lavras
Gratuito me
merco.
Quando as ideias não contam
E
contam mais as palavras.
355
Ano
Novo
361
Acordado
Não desistas da
alegria,
Aposta em qualquer
renovo:
Um homem bem acordado
- Cada dia
principia
Ainda está para nascer.
Para ti um Ano
Novo!
Estranho é que em nenhum lado
Nem a ambição o quer ver.
356
Início
362
Espelhos
A mudança tem
início
Sempre quando
alguém
vislumbra
Os espelhos de fora
Da nova etapa um
indício,
Aprendi a enganar.
Um indício que o
deslumbra.
O de dentro demora:
-
Só me pode julgar.
357
Salto
363
Pensamento
O que um poeta
consegue
É um salto em que
outrem
tropeça:
Tudo, ao fim, é pensamento.
- Por dentro de
nós
persegue
O
acaso é uma brincadeira
Um sonho em nossa
cabeça.
Se do imaginário o vento
O soltar da vida à beira.
358
Saber
364
Alterar
Todo o saber é
uma acção,
Primeiro já de
saber,
Mesmo se não for capaz
Depois de marcar
o
chão
De alterar a conjuntura,
Com o ser que se
quiser.
Repare no que lhe traz
Se alterar sua postura.
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365
371
Apogeu
Liberdade
Ao contrário dos
sinais
Liberdade, liberdade,
Dum apogeu
ocorrer,
Cada
qual a tem à mão:
É quando vamos
ser
pais
Solta funda a intimidade,
Que vamos ter de
crescer.
Chamamos-lhe admiração.
366
372
Ninho
Livre
Não é o tricô,
não é o
berço
Traz para fora de si
Que em teus
gestos
adivinho:
O desejo que nasceu.
Tudo em ti vive
hoje
imerso
- Livre fui quando o vivi:
De amanhãs a
fazer
ninho.
Admirei-me e aconteceu!
367
373
Tudo
Império
Há um breve
instante em que
tudo
O mistério do mistério
O que houver de
alma na
mente
Que joga fundo em meu seio
Vem aos olhos,
sobretudo:
É
ter em mim tanto império
É ali que um deus
se
pressente.
Que é como se fora alheio.
368
374
Preserva
Séculos
O futuro te preserva
Séculos a
farejar
Cosendo aos
abismos
redes,
No estrepitoso rumor:
Já que o sonho te
reserva,
É o norte a me procurar
Na vida, muitas
paredes.
Nos desertos que há no amor.
369
375
Herói
Eléctrico
Entre o herói e o
corajoso
Há um eléctrico prazer
Há diferenças de
nível:
Neste meu retorno à infância:
Se o difícil
deste é o
gozo,
Com o meu dedo acender,
Num herói é o
impossível.
No interruptor, a distância!
370
376
Virou
Luz
Sentei a beleza
um
dia
Os sábios buscam a luz,
Em meus joelhos
de
sonho
Quem é amante, a escuridão:
E esta luz que me
alumia
Como é que do amor transluz
Virou furacão
medonho.
O trilho de nosso chão?
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377
383
Jóia
Recompensa
A maior jóia do
escrínio
Sem mais larga recompensa,
De quem é bom
professor:
Poder amar-te somente
Evitar sempre o
fascínio
É Deus tanto que se sente
Sempre sendo um
sedutor.
Que
bastante me compensa.
378
384
Família
Atrás
É sempre a
família
amor
Os que andam atrás das damas
Mais que de homem
ou mulher,
Não o fazem por mor delas,
Pois quer mais do
que o
melhor:
Mas por si buscam as camas
- A si quer
sobreviver.
Donde gozem as estrelas.
379
385
Poesia
Futebol
A poesia tem
olhos
Um povo em que a reflexão
Olhos que tanto
dilatam
Se esgota no futebol
Que nos catam os
abrolhos
Jamais poderá ter mão
E a vida aos
molhos
desatam.
Naquilo em que o porvir bole.
380
386
Pressente
Beldades
Por gélido e
deprimente
As beldades são o céu
Que um inverno
venha a
ser,
Dos sonhos mais inefáveis
A primavera
pressente
E
mormente quando um véu
O mundo inteiro a
nascer.
As torna mais desejáveis.
381
387
Alternativa
Estranho
A mais
significativa
O
mais estranho do amor
Das obras de arte
há-de
ser
Não é ser herói covarde,
A que gere a
alternativa
É que, ignoto, o seu ardor
À nossa forma de
ver.
Mais fortemente então arde.
382
388
Inovação
Vê
A genial
inovação
Com o tempo, quem não crê
Nem sempre o
génio
requer,
Poderá ver claramente
Basta a
predisposição
O que, outrossim, jamais vê
De pôr em causa o
que
houver.
Se o amor lho não consente.
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389
395
Arder
Chave
Dás-me um rasto
de
perfume,
Há uma chave que conduz
Mal te deixas
entrever,
À realização do sonho:
Mas a estopa ao
pé do
lume
- Uma equipa onde ele luz
Sempre acaba por
arder.
E onde o coração deponho.
390
396
Prisões
Primavera
As prisões são
sempre
estreitas
É a Primavera a estação
Mas o pensamento
nelas
Que torna possível tudo
Prega-lhes tantas
desfeitas
E, ao pulsar desta ilusão,
Que de lá salta
às
estrelas!
Realizamo-lo amiúdo.
391
397
Ideologias
Saltos
As pessoas,
desejosas
Calçamos de saltos altos
De alcançar
melhores
dias,
Disfarçando a pequenez.
Não perdem tempo,
ociosas,
Que bom que era termos saltos
Discutindo
ideologias.
Que nos saltassem de vez!
392
398
Tendência
Justo
Tendência tem
cada
qual
O justo que é muito justo
A amar aquele que
o
ama.
É justo ter o lugar
Dá tu primeiro o
sinal:
Que logrou com tanto custo,
Vais ter amigos e
fama.
-
Mas pode sempre pecar!
393
399
Dá
Requer
Todos os dias dá
um
pouco,
Ao homem como à mulher
Não dês só uma vez
por mês.
É
que impendeu o plantar.
Teu gosto de dar
invoco:
O crescimento requer
- Não o gozes só
uma vez!
Mistérios doutro lugar.
394
400
Obra
Silêncio
Mesmo que a vida
de
sobra
Da verdade não é dita
Lhe afunde tudo o
que invista,
Na palavra a identidade,
Vencer é pôr mãos
à
obra:
Que o silêncio que medita
Não desista, não
desista!
É
o momento da verdade.
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401
407
Esperança
Surpresas
Pouco alimento a
esperança
As surpresas se reservam
Requer para
ressurgir.
Aos
que nos mistérios lêem:
De que caminhos
alcança
Os que mais ao longe observam
Do nada tudo
extrair?
Não são que mais fundo vêem.
402
408
Renascer
Cego
Nada como uma
esperança
Se hoje for dia de ver,
Para de ti
renascer:
Não será dia de olhar:
Mesmo quando a
morte a
alcança,
Tenha os olhos que tiver
No Além vai
tentar
vencer!
Cego é neles se fiar.
403
409
Carestia
Muda
Em tempo de
carestia
É muda a palavra quando
As coisas para
comer
Quer dar conta da sequela
Da felicidade um
dia
Da
vida que está mudando
São o rosto que
tiver.
Connosco mudando nela.
404
410
Presentes
Hipotecou
O engano da
caminhada
O Estado que não investe
É que exigimos,
dementes.
Da juventude no apuro
Se nunca se pedir
nada,
Não é um Estado que preste,
Então tudo são
presentes!
Hipotecou-lhe o futuro.
405
411
Flutuante
Netos
Flutuante a
realidade
Nada como ter uns netos
Não é das
opiniões,
Para a gente acreditar
É de quanto mais
verdade
Que hereditários decretos
Mais se lhe ver
os
senões.
Se
nos renovam no lar.
406
412
Desato
Perigo
No meu ponto de
contacto
O perigo da esperteza
O mais exacto
possível
É que é tarde quando alcança
É que das coisas
desato
O momento da presteza
Em busca do
indescritível.
Para acudir à mudança.
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413
419
Criativos
Fatalidade
Passam tempo os
criativos
O
que há que ser feito assim,
Demais sem
fazerem
nada,
Quando for a iniquidade,
Mas então é que
estão
vivos
Nunca nos convence, ao fim,
A germinar a
alvorada.
De que é uma fatalidade.
414
420
Crê
Generalização
Muito mais que em
quem
venceu,
Quando o dogma se me esbarra
Também mais que
em quem
falou,
Contra o que é de observação
Se queres um
porvir
teu
Quebro das grades a barra
Crê naquele que
tentou.
Da generalização.
415
421
Veraneio
Rebeldia
Estâncias de
veraneio,
Em terra de conformismo,
Como oásis no
deserto,
Uma parca rebeldia
Deixam o coração
cheio
Sem objectivo já crismo
Dos possíveis em
aberto.
De porvir que se anuncia.
416
422
Distingo
Piedade
Distingo, em quem
nos
motive,
Ninguém se esquiva à piedade
Líder e
profissional:
Atenta à dor do porão
Aquele pelo ideal
vive,
Quando a dor a persuade
Este vive do
ideal.
A
vir estender-lhe a mão.
417
423
Imaginação
Embuste
Não são preces,
não são
gritos
Um embuste devagar
Que o sonho vão
pôr à
mão:
Ganha verosimilhança
Quem nos torna já
infinitos
E da mentira em lugar
É a mão da
imaginação.
É nitidez o que alcança.
418
424
Ameaças
Mensagem
Despreza as vãs
ameaças.
Admiramos
a coragem
Se alguém
ofender-te
visa
Mas, em meio à conjuntura,
A sério e não por
chalaças
Nem ela sabe a mensagem,
Com certeza não
te
avisa.
Nem lhe vemos a figura.
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425
431
Violência
Escassez
Ninguém é
inferiorizado
A minha escassez mental
Pela violência
sofrida,
É aquilo que mais tortura:
Mas muda o
significado
Mais além enxergar mal
Se por vanglória
é
seguida.
Na rotina me enclausura.
426
432
Deformando
Bichos
Deformando as
orações,
Dois bichos de pensamento
Ultrajando-nos os
verbos,
Nunca
deviam casar:
Já nem se vêem
ganhões,
Só o diverso em complemento
Crêem-se donos? -
Nem
servos!
Vai poder convir a um lar.
427
433
Lançadeira
Fora
A mulher é a
lançadeira
Cá dentro vai tudo mal,
Na máquina de
costura
Mas tudo bem lá por fora?
A vestir a terra
inteira
- Nossa fraqueza real,
Do amor que a
terra
procura.
Ao ver tal, logo melhora.
428
434
Prisioneiros
Sem
Somos todos
prisioneiros
A vida está cheia
Da vida, no dia a
dia,
De problemas graves,
E os grilhões são
mais
leveiros
Mas o céu chilreia
Se em nós alguém
principia.
Mesmo sem ter aves.
429
435
Manda
Ofendido
Às vezes nos
comportamos
A
vida ofende-nos tanto
Nem bem nem mal,
é assim:
Que eu me sinto convencido
Nosso animal,
convenhamos,
A agradecer, mesmo em pranto,
Manda mais do que
eu em
mim.
Quem não me houver ofendido.
430
436
Solta
Devaneio
Se nos deixarem à
solta
Vale-nos o devaneio:
É uma
reivindicação
Enxertar sonho aos pedaços
Qualquer que nos
vai dar
volta:
Espalhados pelo meio
Temos o amanhã na
mão!
De cotios que são baços.
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437
443
Madrugada
Começo
Aqui vamos, passo
a
passo,
Há uma altura em que acredito
A rasgar a
incerta
estrada
Tudo
acabado, confesso.
Em que, fracasso
a
fracasso,
Longe, porém, deste fito,
Acendemos
madrugada.
Nisto é que mora o começo.
438
444
Trôpego
Sucesso
Há tanto trôpego,
um
dia,
Um gestor que tem sucesso
Que amanhã vai
dar um
salto
Aprendeu mais que o tratado:
Que o imprevisto
anuncia
Se no empregado há progresso,
Em mim quanto em
mim me
falto.
Nele há mais que um empregado.
439
445
Escondidas
Confiança
Vivo aqui às
escondidas,
Se uma pessoa irradia
Em permanente
emboscada,
Sensação de confiança
E assim me perco
das
vidas
Logo
se impõe por magia
Que à porta batem
de
entrada.
Do que em si nem ela alcança.
440
446
Naufrágio
Compreender
Pior naufrágio
não
é
Se tentar compreender
O de quem acaba
morto,
Dos outros a posição
É o de quem sofre
de
pé
Vai logo estabelecer
Sem jamais largar
do
porto.
Confiança: a solução!
441
447
Original
Mesmo
Quanto mais
original
Aceitamos sacrifícios
Brotar uma
descoberta,
Se todos sofrem o mesmo
Mais óbvia, mais
natural
E então, sem mais artifícios,
Nos parece a
porta
aberta.
Movemos serras a esmo.
442
448
Igual
Prezamos
Requerida é igual
coragem
As coisas com que sonhamos,
Para tentar e falhar
Por que lutamos depois,
Como a que fulge
na
imagem
São
as que mais nós prezamos,
De quem conquista
o lugar.
Somos nós nos arrebóis.
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449
455
Importa
Nariz
Do lado de
receber
Detesto
quem é nariz,
Como do lado de
dar,
Da vida sempre no meio,
O que importa é
acontecer,
Sem escolher de raiz
Ser do mundo
inteiro o
lar.
Que lado é bonito ou feio.
450
456
Inocentes
Queira
Do saber o mais
estranho
Há quem queira a pontapés,
É que factos
inocentes
A murro ou à bofetada...
Se interpretam
com o
ganho
E querer assim talvez
De erros só tarde
evidentes.
Seja
melhor do que nada...
451
457
Tecelão
Fundamento
Por muito que
seja
anão,
O importante é perceber,
Sempre esconjura
os
enguiços:
Com
ou sem religião,
Cada qual é um
tecelão
O fundamento do ser
De magias e
feitiços.
Por onde os homens irão.
452
458
Criador
Adivinho
Tudo quem é
criador
Se alguém falar no caminho
Tem uma marca
comum:
E me arder o coração,
É um
indisciplinador
Deixa ver se eu adivinho:
Que do múltiplo
faz
um.
- É um profeta, é meu irmão!
453
459
Sentido
Ponte
Quando tudo é
comedido
Toda a ponte é uma passagem,
E feito sob a
medida
Mas o que é fundamental
A vida só tem
sentido
É
a certeza da viagem
Se lido contra
esta
lida.
Quando eu abrir o portal.
454
460
Demais
Visão
Cosemos os
cabedais
É
sempre reconfortante
Com dedais, não
com
carícias,
A visão de qualquer ponte:
Que a vida é dura
demais
É poder de ir adiante,
Para cultivar
sevícias.
Rasgou-se infindo o horizonte.
=====================================================================================
461
467
Boca
Raiva
Qualquer boca que
alguém
abra
Acordo velho empolgado
Não lhe evita
fomes
pretas:
Com a raiva de viver:
Para mamar duma
cabra,
Do naufrágio salvo a nado,
Aprende a
mungir-lhe as
tetas.
Todo o dia é um renascer.
462
468
Ordem
Tanto
O respeito pela
ordem
Ninguém capaz de dizer
É sempre
fundamental
Tanto
é de coisa nenhuma
Excepto quando é
a
desordem
Como aquele homem que, em suma,
De ser única e
final.
Descobriu nada saber.
463
Homem
Quando é que um homem é homem?
- Dizem que é quando dá vida,
Mas é quando lha consomem
Amores de que é esculpida.
464
Sábio
Quem é sábio não possui
Qualquer sede de poder
E pelo espaço evolui
Como um pássaro qualquer.
465
Furões
De furões temos figura:
Para uma data de apostas
Andamos sempre à procura,
Mas sem data, de respostas.
466
Construir
Pensar que vou construir
Dá-me uma grande alegria:
É o bastante para rir,
Ser forte e esculpir o dia.
467
Raiva
Acordo velho empolgado
Com a raiva de viver:
Do naufrágio salvo a nado,
Todo o dia é um renascer.
468
Tanto
Ninguém capaz de dizer
Tanto é de coisa nenhuma
Como aquele homem que, em suma,
Descobriu nada saber.