SÉTIMO VERSO
DESDE A RAIZ
O QUE DE LÁ NOS VEM
Escolha um número aleatório entre
636 e 736 inclusive.
Descubra o poema correspondente
como uma mensagem particular para o seu dia de hoje.
636
Garante mais alegria
Desde a
raiz
Que
querer muito dinheiro,
Emprego
de fantasia,
Desde a
raiz
Um
casamento cimeiro...
O que de lá nos
vem
É que nos
diz
O fantástico não vem
O que de antanho
nos
contém
Nas redes do dia a dia.
E dali nos
desenha a
subir
E por ele há muito quem
Hoje o traço de
giz
Perde as horas que fruía
Do
porvir.
E agora não é ninguém
Na vida que o desafia.
637
Bem
sucedidos
640
Rir
Bem sucedidos,
eis quem
Sabe que ao topo
dum
salto
Se fizer rir as pessoas
Não chega jamais
alguém:
Desperto-lhes a atenção.
Passo a passo
trepam
alto
Depois
posso cantar loas,
E não ligam à
aspereza
Vir de varapau na mão,
Do chão que os
pés lhes
despreza.
- Porque, faça o que fizer,
Sempre me irão acolher.
638
Horizonte
641
Jardinagem
Um grande homem
me estimula
Pela força de seu
acto,
A jardinagem é linda,
Um grande livro
cumula
Feita de prazer e mágoa.
Meu pensar no que
lhe
acato.
E mais nos requer ainda:
Tanques e regueirões de água
Homens e livros,
em
frente
A regá-la com amor...
A alcançá-los nos
incitam.
...E o mais de água é de suor!
São escadas do
presente:
Novo horizonte
debitam
Pelo qual o nosso
olhar
642
Mais além visa
alcançar.
Perigo
O perigo dos perigos
639
É
uma mulher solitária
Sina
Entre
cem homens amigos,
Pois
lhes mata a sorte vária.
Toda a vida é uma
rotina,
Que tem de
maravilhoso?
É
um perigo para ela,
É cumprir a minha
sina
Que cem desencabrestadas
Co'o que houver
de
saboroso.
Alimárias à janela
Não são sinas namoradas.
Ser feliz ou
infeliz
Provém donde está
a
fasquia:
Mas é maior para eles,
Será sempre quem
mais
quis
Que amigos jamais serão.
Que mais fruste
se
arrepia.
Nada dou por suas peles:
- Em breve estão no caixão!
Ter um bom
pequeno almoço,
Uma bebida em
comum,
Uma sesta quando
posso,
Uma flor em vaso
algum
=================================================================
643
P'ra começarmos a andar
Dinheiro
À
procura dos sinais
De nos diferenciar.
Desvalora-se o
dinheiro,
O dos ricos,
sobretudo,
De facto jamais gostamos
Que o montante é
ali
cimeiro:
De em tudo ser semelhantes
Como é dinheiro
graúdo,
E pressurosos buscamos
Na quebra vai
valer
menos.
Perfis
outros bem gritantes.
É por isso que
eles têm
Nós, porém, acorrentados
De ter muito, sem
medida...
Uns aos outros sempre andamos
Pela condição jogados
Contas são-lhes
de
somenos:
De mortais que nos fadamos.
De quanto compram
provém
A maior paga, em
subida
E assim fica protelado
Cada vez mais
disparada.
O voto todos os meses:
É a ganância
desmedida
Somos sempre, em todo o lado,
De garganta
estrangulada.
Todos irmãos siameses.
Se ao pobre
aquilo o seduz,
Não tem ganho que
a tal chegue.
É o rico que
embaça a
luz
647
E ata os grilhões
que
carregue.
Povoados
Há
aqui muitos povoados
644
Povoados de jazigos,
Mundo
Que
as casas, por estes lados,
Já
não servem mais de abrigos.
O mundo não é do
homem,
O homem foi feito
nele
Ninguém lhes toca sequer:
E o mundo tanto o
compele
É que aqueles que as habitam
Que quantas
coisas o
tomem
À vida nada debitam,
Todas forçam a
cumprir
Andam a
deixar de ser.
O que o mundo
quer e não
O sonho de que o
porvir
Saia ao fim de
nossa
mão:
648
- Não sou eu que
estou a
ir,
Grato
Que outrem tem
meu coração.
- Tanto por mim fez! Estou grato...
-
Mas foi tudo por ti feito!
645
- E como tomá-lo a peito?
Nascer
É
só de si que o acato.
-
Pois di-lo-ia qualquer,
Não, eu não quero
nascer
Pais, mestres ou companheiros...
Nem a ferros
arrancado!
Vieste comigo ter
Quero aqui
permanecer
Em busca de conselheiros,
Neste meu mundo
encantado
Por
isso é que a mim me ouviste.
Sempre a germinar
o
fado
Tudo o mais é em ti que existe.
Sem a prova de
viver.
Pouco ou nada contribuí:
- Parteira,
troque o mister,
Já o tinhas dentro de ti!
Faça nascer o
outro lado!
646
Siameses
Nascemos todos
iguais
=================================================================
649
653
Algo
Esquecer
Nem sempre temos
aquilo
Em certas ocasiões
Que os outros nos
pedirão,
Tão
importante é esquecer
Mas há sempre em
nosso
silo
Como o próprio recordar.
Algo mesmo ali à
mão:
E, se requerer perdões,
- Que mais não
seja, no
fim,
O que então de nós requer
O que eu queira
dar de
mim.
Mais
difícil é de dar:
O custo que esquecer custa
Mede quanto custo à justa,
650
Pois o perdão, quando fere,
Inverno
Fere
então à minha custa.
O inverno é o
tempo do mal
Se não houver que
fazer:
654
Ler quanto p'ra
ler
tiver
População
À lareira, até o
jornal,
Declamar, ferver
cacau,
É
da natureza humana
Moldar bonecos de
neve,
Continuar qualquer coisa
Saltar o granizo
a
vau,
Agradável, sucedida:
Ser criança um
tempo
breve...
- E a população dimana,
O inverno é uma
boa
altura,
Duplica
as contas na loisa
De chuva e frio
me
inundo
Cada quadriénio de vida!
E desligo-me do
mundo:
Até o dia em que não saiba
- Minha casa é a
minha
cura!
Onde tanta gente caiba.
651
655
Encanto
Jejum
É o encanto a
qualidade
O jejum é uma homenagem
Que nos degela e
desarma,
À beleza do apetite:
Que maravilha e
fascina:
Quanto
mais longa a romagem,
Luz da
personalidade,
Mais gozo a festa em palpite.
Será o duradoiro
karma
Que a vida
inteira
ilumina.
Hoje em dia, acumulados
Comemos todos em cima,
Em
recantos isolados
652
Nenhum lugar hoje prima.
Dentro
O
cansaço em que vivemos
A chuva bate no
chão
Vem
da regularidade:
E por mim dentro
é que
vão
Nós brincamos e comemos
Seus pontos de
exclamação.
Com fiel perenidade.
À tempestade os
arbustos
Fazem vénias,
pagam
custos
Da comida e da família
Que, afinal, são
os meus
justos
Dantes
tudo era distante:
Receios de que a
caminho
Era menor a quezília,
Venha o fim de
onde me
aninho
Que a escassez gera o amante.
E em vez do fim
nela provo
É que me lavo e
renovo.
Se com fome te não davas,
Com
demasias descambas.
Sem família a fome agravas?
- Melhor valorizas ambas!
=================================================================
656
E,
por fim, é incompreendido
Lado
Quem
mais faz por ter sentido!
Não te vás zangar
comigo
Por trôpego ir a
teu
lado
659
Na fuga para o
abrigo,
Tempo
No mundo já
destroçado.
O tempo conhece tudo,
Vemos quanto a
vida é
curta,
Porém, tem várias medidas.
Sempre o passo é
de
apressar,
Põe-nos a jogar o entrudo
Ninguém à pena se
furta.
E
o caixão é o sobretudo
Ocupemos o
lugar.
Com que ao fim nos veste as vidas.
Muito se espera
daqueles
Que com coragem
são
fortes.
660
Quando aos
projectos que
impeles
Fortunas
Os estraçalharem
mortes,
O problema das fortunas
Se vivo não
estiver
É o da terra de as criar:
Fisicamente a teu
lado,
É de leivas importunas
Pensa em mim, que
ainda hei-de
ser,
E sempre noutro lugar!
Mesmo morto, teu
aliado!
As
fortunas já estão feitas
E pouco resta que sobre,
657
Nem nos salvam as colheitas:
Anos
Para
quem já nasceu pobre
Isto
é terra de maleitas!
Há maus anos e
anos bons,
A cada qual sua
estrela.
Não vem, porém,
de seus
tons,
661
Antes de cada
sequela.
Frio
O que é bom para
qualquer,
Sinto
o frio que passámos
Para qualquer
outro é
mau.
De há milhões de anos em casa.
Às vezes é bom
chover,
Nos ossos no-lo entranhámos,
Que se passa a
chuva a
vau,
Não há chama, não há brasa
Que o frio nos mate e a fome
Porém, outras é a
desgraça
Que no estômago nos teima.
Que nos vai cair
do
céu.
E assim o mundo se come,
E, por mais que
um homem
faça,
E
assim o mundo se queima!
A natureza
venceu.
E nada afinal consome
O desperdício da freima:
Na chuva como no
frio,
O ancestral frio do inverno
Façamos o que
fizermos,
Dá
saudade até do inferno!
Em qualquer meu
desafio,
No fim, ela impõe
os termos.
662
Frios
658
Inteligência
Quantos
frios apanhei
Por
orgulhos de família!
Jogamos na inteligência,
Quando os frios são de lei
Apesar de
perigosa:
Como fugir à quezília?
É rebelde por
essência;
Dentro
do mesmo sujeito
Insubmissa, a
paciência
Sempre coexistem bem
Mata de quem mais
a
goza.
Orgulho e frio a preceito:
- E ambos o matam também.
=================================================================
663
667
Tarde
Amantes
Há pessoas que
são
tarde
Os amantes, na cultura,
Desde o
nascimento à
morte.
D. João ou arlequim,
Neles o fogo não
arde
Erguem-se da sepultura,
E jamais tiveram
sorte.
De manhã, num frenesim,
Não se impõem,
são
ninguéns,
Vão incarnar aos milhões
É sempre tarde
com
eles:
Pelo mundo inteiro além.
O fim que deles
reténs
São fantasmas, são truões
Não é o fim, é a
marca
deles.
Que a humanidade contém,
Quando chegam,
nunca
chegam,
Neles vive o que não posso
São um qualquer
qualquer
um:
Quando sou de carne e osso.
Quando chegam,
não se
pegam,
Não, não nos matam miasmas:
Chegam a lugar
nenhum.
- Trocámo-nos por fantasmas!
664
668
Liberdade
Gente
Liberdade
universal,
É a vida de sumaúma
Mas quem é que
quer dar
isso?
Ou como chumbo é pesada.
Quando lhe arvoro
o
sinal
Quase pessoa nenhuma
É comigo o
compromisso:
A tem leve como pluma.
A demais gente é esmagada.
Dou à liberdade o
sim?
- Estou a pensar
em mim!
669
Amor
665
Desprezo
Um
amor nunca suporta
O
metro do mundo humano,
O desprezo pela
teia
Nenhuma estrada lhe importa
Dos elementos
sensíveis
E o relógio traz-lhe dano.
É que nos mata em
cadeia
Das mortes mais
desprezíveis.
Vive sempre na ansiedade,
Prisioneiro da esperança,
Morremos tão
acabados
E
sempre a incerteza o invade
Após a nervosa
lida
Por cima de quanto alcança.
Que somos
estropiados
Pelas próprias
leis da
vida.
O sonhador sempre encontra,
Ao despertar, decepções:
Toda a vida expõe na montra
666
De incautos os aleijões.
Curiosidade
É
por isso que, aleijados,
O amor nos
experimenta
Nós
navegamos aos tombos,
Sempre da mesma
maneira:
Pela vida estropiados
Co'a curiosidade
tenta
Em barcos cheios de rombos.
Testar quem lhe
mora à beira.
Só que quem tem
nas mãos cheias
Da curiosidade o
teor
Já não tem mãos
para as teias
Com que alguém
tece um amor.
=================================================================
670
674
Apaixonado
Praça
Correr prados,
saltar
jardins,
Não é nunca por virtude
Colher flores e
borboletas,
Que diz não, que nos ilude:
Eis do apaixonado
os
fins
Seja embora a mulher casta
Que aos ombros
lhe abrem
aletas.
Sempre o amor a tudo a arrasta,
Não há praça bem cercada
O apaixonado é a
devida
Que não
acabe tomada.
Marca tutelar da
vida.
Porém, a única isca
É dum amor a faísca
E, quando ela não advém,
671
Nada
lhe vence o desdém.
Elefantes
Vão morrendo os
elefantes
675
Nas selvas
enquanto
houver
Vício
As pegadas dos
gigantes
Das ambições
militantes,
O nosso mais fundo vício
Nas savanas a
tecer
Mede
na lei a sandice:
As teias dos
trilhos de
antes.
Não se pune o malefício,
Mãe África, ei-la
a
morrer...
Mas antes a palermice.
O assassino, quando esperto,
672
Tão esperto quanto mau,
Porto
Moniz
Nunca
de si verá perto
A
fúria do varapau.
Terra de Porto
Moniz,
Dos poios com os
cercados,
O
que vale é que a malícia
Das piscinas
naturais,
O cega às vezes ao ponto
Onde o que o
destino
quis
De se entregar à sevícia
Os homens
predestinados
Com a parvoíce dum tonto.
Talharam com
novos fados,
Do vasto mar todo
o
encanto
Assim andam os sentidos
Juntas inteiro em
teu
canto.
Desta vida tortuosos:
Não é, não, a tua
sina,
Só os parvos são punidos,
É o homem que te
destina:
Não o são o viciosos.
São ondas, são
flores, ramos
- E a nós é que
em ti achamos!
673
Fadas
Uma vida de
conforto,
De abundância
permanente
É o nosso conto
de fadas:
Como cri que
neste porto
Moraria
eternamente
Sem ter de pagar
entradas?
- Nosso estado
natural
É uma existência
irreal
E, por cima,
ainda, no fim,
Isto vai ser
sempre assim!
====================================================
676
Quando o chão se lhe alcatife
Praças
Das
regalias que houver.
Não
abdica da benesse,
Já vimos assediar
praças
Envenena a digestão
E conquistá-las à
força
Quando o remorso aparece
Por não haver
ameaças
E morre do coração.
Nem dinheirama
que as
torça.
- Mas descomer o comido
Nem no Além é conseguido!
Se uma praça
parlamenta
É já meia
conquistada
Que lentamente se
enfrenta,
680
Bem perto da
derrocada.
Esmola
Parece que todo o
amor
Eu é que vos perseguia,
Se alicerça na
loucura:
Mão estendida e sacola,
A mulher só tem
senhor
Era eu que aparecia
Quando de tais
guerras
cura.
A pedir-vos uma esmola.
Assim é que toda
a
paz
Ontem mesmo me enxotaram,
Só uma falta
ainda é de
guerra,
Me enxotaram como um cão,
E tal guerra de
nós
faz
A dor e a raiva me armaram,
Meros despojos na
terra.
Me
armaram de solidão.
Prefiro que me desdenhem,
677
Trigo esmagado na mó,
Actos
Me
torturem, me despenhem,
A
que me abandonem só.
São actos que me
definem:
As rotinas de mau
fado
Fora mesmo preferível
É que em mim
fazem que
atinem
De início correr comigo:
Meu presente e
meu
passado.
Um grande choque é possível
Que afinal nos traga abrigo.
Não me posso
recusar:
- Sou este tempo
e
lugar.
Melhor ferir a direito
Será, com resolução,
Que
alfinetadas no peito
678
Do que espera a espera em vão.
Encontrar
O corpo encontrar
de
alguém
681
Muito mais é que
enlaçá-lo,
Fantasma
Que há quem se
beije também
Noutrem ao beijar
um
halo.
Que fantasma escapuliu
E anda agora a correr mundo,
Gostar-se dum
corpo
alheio
Se toda a noite sou eu
Dos beijos não é
o
furor,
Que
torno a espreitar o céu
É saltar do
próprio
seio
Das sendas do mato fundo?
E perder-se por
amor.
Se volto aos caminhos meus
Onde o luar se desenha
679
Nas sombras da velha azenha,
Bife
Onde
ouço os contos ateus
De
minha avó que Deus tenha?
Arrepender-se do
bife
Não dá para o não
comer:
Que
fantasma escapuliu,
Ao talhante do
recife
Que é que ando eu aqui fazendo,
Nada já o pode
tolher
Se aqui me encontro perdendo,
=================================================================
Não este corpo
que é
meu,
Esquecida a insegurança
Esta alma que em
duas
fendo?
Que de ontem nos tolhe o voo,
Nova ilusão nos alcança
De que a luta terminou.
682
Enojada
Só
que a luta não termina,
Pois
voar é a nossa sina.
Jamais a mulher
de bem
Se enoja alguma
vez tanto
Por ser espancada
em
fúria
686
Quanto enojada
devém
Sábio
Se vê
trocarem-lhe o encanto
Por quem dele tem
penúria:
Onde quer que há um homem sábio
Bela trocada por
feia
Sabe que é sempre ignorante.
Morre a morte que
morrendo
E sempre do ignaro lábio
Todos em volta
incendeia.
Vai sair, de instante a instante,
Aprisionado em
tal
teia,
A pretensão de que é sábio.
Como disto me
defendo?
- Eu me rendo, eu
me rendo!
687
Guerra
683
Fastio
Sempre
a Deus se invoca em guerra,
Por
mais que ande aos tropeções.
Do amor a
fragilidade
E o que neste Deus aterra
Se conhece no
fastio.
É
que ao lado ele se aferra
Quem come pão de
verdade
Do maior dos batalhões.
Sempre, sempre,
toda a idade,
Entra às vezes de
pousio:
- Então a fome do
amor
688
Come, por pão, o
bolor!
Quando
Quando
pelos grandes mares
684
Vemos contorções maciças,
Necessidade
Se
os vulcões em terra olhares
Explodindo-te
as premissas,
A maior
necessidade
Repara que é a Natureza
Faz ignorar as
demais:
A mostrar à Humanidade
Se é a de amor
que vos
invade,
Quão parca é sua destreza
Seja o que for
que comais
E
onde lhe morde a fraqueza
Não há ementa em
quantidade
Que vãos orgulhos lhe invade.
Que vos sacie jamais.
Só nos resta ter piedade,
- É que de amor a
carência
Ante tamanha grandeza,
Dum homem faz uma
ausência!
Com a nossa nulidade.
Não é nenhuma baixeza
Reconhecer a
verdade.
685
Acomodarmos
689
É fácil a
tentação
Quotidiano
De ao fim nos
acomodarmos
À vetusta
situação
A vida tem tanta força
E de então nos
enganarmos.
Neste humilde quotidiano
Que
não há guerra que a torça,
Voa sempre a todo o pano.
=================================================================
Vem donde a
vitalidade
693
Que nada vai
destruir
Ódio
No corpo da
sociedade
A erguer-se
quando
cair?
Ódio, não, que é sempre um luxo
E faz pagar por seu gozo:
Continua a
alimentar-se,
Perde-se do risco o fluxo,
Contra as marés a
investir-se,
Já
se não é cauteloso.
A entreter-se, a
distrair-se,
Ódio, não, que seu tamanho
Ali sem qualquer
disfarce,
É de perda e não de ganho
E para perda já basta
Ante a maior
hecatombe,
A
vida quanto é nefasta!
A maior
calamidade!
Nenhum abismo em
que tombe
Impede que
sobrenade.
694
Mosteiro
Milagre tão
rotineiro,
Quem não vê, de
distraído,
Nas caves deste mosteiro
Que ele é o
mistério
primeiro,
Barras de ferro cravadas
Nosso primeiro
sentido?
Nas lajes cruas do tecto.
Antes de ser por inteiro
A
frescura de mãos dadas
690
Com a paz, com amor recto,
Língua
Foi
câmara de tortura
A linguagem
arde.
Das bruxas e dos heréticos.
Quem a língua não
segura
Ali, suspensos dos pulsos,
Até demasiado
tarde,
Com pesos numa armadura
De bom nada
apura:
Atada aos pés, esqueléticos,
Quando bate em
retirada
Já tem a língua
queimada.
Queimados
com ferro em brasa,
Eram caridosamente
Bem torturados até
691
Confessarem. Nesta casa,
Infortúnio
Depois,
pela voz do crente
E
sempre em nome da fé,
O infortúnio não
atrai,
É quase
pecaminoso,
Os condenavam à morte,
Qualquer um dele
se
vai,
Pela causa do bom Deus,
Que o sente
contagioso.
Do amor cristão pelo irmão!
O Cristo tem pouca sorte:
E o pobre do
infortunado,
- Na cruz morto pelos seus,
Cercado no
isolamento,
Morre
após por sua mão!
Vê-lhe aumentado
o tormento,
Da sorte não,
deste fado.
695
Patife
692
Duro
Se
um homem não é um patife
Tratará
sua mulher
O que é mais duro
na
vida
Com o amor com que no esquife
Não é a luta, nem
sequer
Verá uma amante morrer.
Não chegar ao que
convida,
Mas de viver o
mister
E,
se a mulher não é tola,
Em que até nem se
acredita,
Para o prender o trabalho
Tanto nos marca a
desdita:
Terá que a amante lhe imola
Pois mais fácil é
morrer
Para o ter no seu baralho.
Que viver. Vida
maldita!
=================================================================
Isto é assim e
vice-versa...
700
Tudo o mais é só
conversa! Nus
Deus,
tendo-nos feito nus,
696
Por que é que apenas vestidos
Penitentes
Nos
acolhe à contraluz
Da
presença, travestidos
Ai quantos dos
penitentes
Flagelam sangue
nos
lombos
Do que os ventos nos teceram?
Para os olhos
promitentes
Vá lá entender-se tal Deus
Que nas sacadas,
frementes,
Ou a fé que lhe fizeram
De amor já sonham
os
tombos!
Quantos
se clamam de seus!
- Como é terreno,
afinal,
Qualquer divino
fanal!
701
Esquecidos
697
Troca
Bom
Jesus dos Esquecidos,
Que
religião perdida
Quando o que é
meu fica
teu
Perde os crentes desvalidos
E após meu torna
a
ficar,
Nas esquinas da avenida
Se com o teu
sucedeu
E
depois lá vai mandando
Igual troca de
lugar,
Um Cristo mal amanhado
Recozido em fogo brando
Meu e teu já não
persistem,
Que afinal lhes passa ao lado?
Que nosso é
quanto tivermos.
Eu e tu mais do
que existem:
O autêntico fora ele
- Nasce um Nós do
que
vivermos!
E eu queria adivinhar
Que é que ele faria à pele
De quem lhe ocupa o lugar!
698
É melhor nem sequer vê-lo:
Chama
-
Ficaria tudo em pêlo!
Alguém diz como
se chama
E espera o resto
da
vida
702
Para ver se o que
proclama Segredo
Lhe diz qual sua
medida.
Só de olhos vendados
Ontem, porém, não
é de
hoje,
Atinjo o segredo
Hoje não é de
amanhã
E é deles velados
E assim a medida
foge,
Que
dele me arredo.
- Torna toda a
espera vã.
Que vale um caminho
Assim tão sozinho?
699
Vento
Deixava-o,
se meu...
Não posso: sou eu!
O vento maneiro
Moi o cereal
Mas quando é
ponteiro
703
Corre a vida
mal:
Reputações
Nas sequelas Um
nadinha é quanto basta
Do
caminho
A fazer reputações,
Rasga as
velas
Um outro nada as desgasta,
Do
moinho.
Faz e desfaz ilusões.
=================================================================
A questão é de
encontrar
707
Qual será o
caminho
certo
Herde
Da credulidade, a
par
Do interesse que
anda
perto.
Ninguém se salva nem perde,
Que o pecado não existe.
Logo todos vão
ser
eco,
Morte e vida fazem que herde,
Ou cúmplice ou
inocente,
Morto ou vivo, o que resiste
Do que sagro ou
do que
peco.
E
além da berma da estrada
- E eu cá por mim
fico
ausente.
Não há mais nada, mais nada!
704
708
Capaz
Sucesso
Deve um homem ser
capaz
Os
alunos de sucesso
De ganhar sempre
o seu
pão
Na vida quase jamais
Por qualquer modo
que o
faz
Melhor logram ter progresso.
E seja qual for o
chão.
Derrotam-se por demais
Com
os erros que cometem,
Porém, se não lhe
alimenta
Pois nada do que estes mais
Este pão toda a
dor de
alma,
Os abate, se arremetem.
Satisfaz-lhe o
corpo a
ementa
Eis a razão importante:
Mas de alma a dor
não lhe
acalma.
É
que os da segunda fila
Vivem a luta gigante
Eis porque tanto
padece
Que o tentar vencer perfila.
Sem esperança de
apelo
Para a vida sucedida
O Homem que o
destino tece
Com
vitórias bem reais,
Sem lhe soldar
aquele elo.
Os de trás logo à partida
Sabem que há que esforçar mais.
705
Morte
709
Pressa
Ao contrário do
costume,
Não é toda a
morte
igual,
O sentimento da pressa
Igual é finar-se
o
lume,
Aumenta directamente
Morto ficar cada
qual.
Com
o número que meça
De aparelhos com que tente
Mortos há que é
nesse
dia
Poupar tempo gasto à peça.
Que a vida lhes
principia.
Quanto mais tempo poupar,
Mais
pressa, menos vagar.
706
Cresce
710
Lisboa
À medida que a
vida cresce
Hoje o mundo se
ensombrece,
Uma festa para os olhos,
Esta Lisboa é mutante,
Entra em nosso
coração
Com a luz jorrando aos molhos
Com o vazio do
chão.
Na divergência do instante.
Ao encher-se do
que
existe
Levanto-me
de manhã,
O coração não
resiste
O rio vai prateado,
No crepúsculo é azulado
E assim é que,
sem
querer,
E tem a graça louçã
Nascer é igual a
morrer.
Dos
oiros do meio-dia
Onde o sol preguiçaria.
=================================================================
Tem todos os tons
do
mundo
Tão brutos e tão bandidos
A conviver sem
atrito.
Como os tais de antigamente.
A ponte salta,
elegante,
Vivem hoje mergulhados
Mais que a margem
adiante:
Na heróica burocracia
- Pela neblina
vai
fundo
Que nos desgasta aos bocados.
Para dentro do infinito.
Quem, pois, adivinharia
Que o melhor trabalhador,
Profissional, atilado,
711
É o que foi atirador,
S.
Pedro
Que
cumpriu como soldado?
S. Pedro é um
homem robusto,
Mais acção que
pensamento,
714
Dedicado e tão
mais
justo
Apóstolo
Quão mais fraco
em cada intento.
Tanto cativam as
ganas
Apóstolo disponível
Quanto as
fraquezas
humanas.
Era o de olhar muito aberto
Que examinara, sensível,
De grandes barbas
intonsas,
O pobretana encoberto,
É um homem de
ombros mui largos,
Os miseráveis rurais,
As sobrancelhas
esconsas,
Os ignorados que tais
Truculento em
quaisquer
cargos.
Dos estadistas ceguetas
Rude e franco,
acolheria
Que os dominam e eliminam,
O quem humana,
uma
chefia
Pretextando que são tretas
Sempre terá de
acolher:
Com que alguns nos contaminam.
Nossas fraquezas
quaisquer,
Vagabundos em farrapos
Pois, quem não
tem
perfeição,
São bandeira, mas de trapos:
Tem de agir com
compaixão.
Quanto o exército alvoroçam,
Os pulhíticos destroçam.
... Talvez nos
deixe lá entrar
Quando batermos à
porta,
Que isto aqui não
é
lugar
715
Que a quenquer
que seja
importa!
Simulacros
Simulacros
de justiça,
712
Farsas e loucos processos,
Íntimo
Neles
ainda entro na liça,
Mexo
meus rastros travessos.
Um homem, dentro
de si,
Tem um centro tão
profundo,
Tribunal da safadeza
Íntimo tanto que
aí
Vale ainda qualquer coisa,
Ninguém o viola,
que é o
mundo
Que sentença sem justeza
Contra o qual a
tirania
Teme
o público em que poisa.
Sempre, tolhida,
é impotente.
É tal medo que, por vezes,
Daí me inauguro o
dia,
Anula as perseguições,
Ganho alma,
torno-me
gente!
Não vão ocorrer reveses
Por
mor do que lhes opões.
713
Pior é se não há mostra
Generais
De
se querer julgamento.
Sou
dum condenado amostra,
Conquistadores
antigos,
Já sentença em cumprimento.
Todos brutos e
bandidos,
Generais são hoje
amigos,
Bons homens, bem
comedidos,
Porém, teoricamente,
=================================================================
Suprimido o
julgamento,
A palavra necessária
Já nenhum direito
existe,
Diz com o gesto preciso
Nem da culpa um
elemento,
Na
hora exacta, sumária.
- Um nada sou que
persiste.
Ele poupa a ideia vária,
O movimento indeciso,
716
Para então, com segurança,
Arranhadela
Visar
o que ao fim alcança.
Por
isto nele se abarca
O facto que mais nos
choca
Quem dum chefe traz a marca.
Jamais é a
sinceridade
Mesmo quando
impertinente.
É a arranhadela
que
toca
720
Fugaz, com
celeridade, Rara
Perfídia a sorrir
no dente,
São as facas de
dois
gumes,
Há uma qualidade rara
Alfinetes
espalhados
De apreender num instante
Das palavras nos
perfumes
Disposições
colectivas:
De sentidos
disfarçados.
Rancores que não têm cara,
Aqui só a bílis
dispersa
Desejo do que há diante,
A indigestão da
conversa.
Esperas, iniciativas,
Tudo
muito comprimido
Nos profundos subterrâneos
717
Das ignotas consciências.
Pejo
Quando
alguém tem este ouvido
Agarra
os contemporâneos,
Se um vivente não
tem
pejo
Dos mitos cria evidências
De matar, outro
não
vai
E conclui, desconcertante,
Revelar-lhe este
desejo;
Marchando
direito a um fim.
Se puder, sobre
ele
cai.
E, se ele segue adiante,
Vai-lhe atrás o mundo afim.
Quando um homem
ameaça,
Porém, das marcas impressas
Afinal, é uma
trapaça.
O
mais estranho sinal
É o que segue cada qual
Convicto de que, às avessas,
718
São guia as próprias cabeças.
Preguiça
Quem nunca
viveu
721
Sem
ocupação,
Pedestal
Na preguiça viu,
Com ou sem
razão,
Em público sopesado,
Um tipo de
furto:
Com
as falhas no jornal,
Uma
epidemia
Sai donde foi colocado,
De mais forte
surto
Tombará do pedestal.
Que o furto
ousaria.
Em privado, clandestino,
Esconde
a insuficiência;
719
Qualquer mérito menino
Mando
Dá-lhe
o trato de excelência.
De voz fraca e
fraco
músculo,
Se
encenar de olhar aberto
Será impróprio
para o
mando?
De símbolo seu papel,
Quando o interior
é
maiúsculo,
Fará chover no deserto
Em seu redor o
grupúsculo
As virtudes a granel.
Cresce de súbito
quando
=================================================================
Contudo, viverá
preso
725
Sempre apenas por
um
fio:
Diversos
Se se ensoberba,
surpreso,
Rebenta o balão
vazio.
Comportamentos diversos
Em
múltiplas condições,
Só quando não são adversos
722
Nem meios nem decisões.
Precaridade
Porque
o dever principal,
Educar
precaridade
Quando o risco em nós bulir,
Numa educação
precária...
Nem sequer é racional,
Porém, pior é a
vaidade
É só o dever de existir.
De apêndices
adquiridos
Tantos anos em
tal
área
Tudo
então em nós se afunda
Que, num
instante, se
soltam
Nesta triste condição
Dos vernizes mal
polidos
De animal na
barafunda,
E as feras que
somos
voltam.
Tal qual como os demais são.
O jovem que fora
amável
Irá devir rude e
seco,
A razão jamais anula
A educação mais
fiável
A humana contradição
Dá no fim um
fruto
peco,
E, quando o abismo em nós
bula,
À menor
dificuldade.
O instinto nos tem à mão.
É tal a
precaridade
Do que a educação
nos traz
Que, por pouco,
tanto
faz...
726
Como ignorar o
animal
Óptimo
Que ao fim somos,
bem ou mal?
Quando
um óptimo sujeito
Ganhou seus cabelos brancos
723
Dezenas de anos afeito
Descampado
A
um ofício miserável,
Vai
manter os gestos mancos
No descampado
social,
E o sabor mais intratável,
Nem uma
colina
Crente apenas de que assim
E tanto
pinhal
É
que faz jus à grandeza
A perder-se na
rotina!
E se mantém dela afim.
É o padrão que por fim preza,
Tanto por dentro o conquista
724
O
trabalho em que se invista.
Diminutos
Eleva
assim de tamanho
A
pequenez de seu ganho.
Se quiserem
caminhar
Se
se tornou tão azedo
Poderão caminhar
bem,
É que no fundo é só medo
Nós não tolhemos
o
espaço.
De acabar por descobrir
Diminutos no
lugar,
Que não é nem tem devir:
Rentes às tábuas,
ninguém
-
É um porta-voz do degredo.
Altera por nós o
passo:
Passa tranquilo
por cima
Com a sola dos
sapatos.
727
Menos do que chão
que arrima, Tocaias
Somos pontas de cigarro
Neste chão de
desacatos.
Nas tocaias e sarilhos,
Estes pés a que
me
agarro
Ranger
de porta anuncia
Jamais darão por
meus
actos,
Os estalos dos gatilhos
Tão diminuta é
uma
sina
E quanto na roupa havia,
Quando um sapato
a
destina!
Nas pregas, bolsas e sacas,
Navalhas,
punhais e facas.
=================================================================
Pior é que,
alucinados,
Porém, a nossa derrota
Na vida que
atriçoamos
Isto fez que se atingisse:
Quase sempre são
tais
dados
É o perigo que a conota
Aqueles com que
jogamos.
E o fim é sempre a velhice.
Se esta os perigos não vela,
728
Por quê termos tal sandice
Televisão
Em
que o nascer se atropela
Com
morrer de sovinice?
Aos homens
importa pouco
Que é que há na
televisão.
Ao desconhecido
mouco,
732
Cada qual só
estende a
mão
Mentira
Se o que na vida
lhe advém
A pantalha o dá
também.
Qualquer coisa nos servira
Assim, no
programa é o
velho
A feliz simular ser,
Que se vai ver ao
espelho.
Cultivamos a mentira
Que nos poderá manter:
Fora dela morreria
729
Todo o sonho e fantasia
Construção
Por
quem, um dia qualquer,
Tudo
pode acontecer.
Quem toma por
natural
Ao envelhecer medimos
Ou, pior, por
revelado
O tamanho que isto alcança,
O que é fruto cultural
Quando no tempo nos imos
Da Humanidade em
seu
fado
Sem
recuo nem tardança:
Sempre assim torna
absolutos
Não há mais como mudar
Os relativos
modelos
Nem que verdade encarar.
Que vida fora, impolutos,
Só então vemos que não fomos
Nos foram tecendo
os
elos.
Aquilo
que afinal somos,
E assim é que, em
vez de
vida,
E que ninguém trepa à frança
Em nome de Deus,
são
lutos
Daquilo que o sonho alcança.
Que ao erro dão
despedida.
733
730
Menina
Identidade
Chega
à fábrica a menina:
Nossa vera
identidade
"Volta quando mais crescida!"
É a bola de
futebol
Uma
semana e ela bina,
Se de equipa a
equipa ela
há-de
Pois, para as fomes da vida,
Saltar insegura e
mole,
Uma semana consente
Sem duma vez se
fixar
Que cresça o suficiente.
Na baliza a
conquistar.
Nossa sina não é
tola:
Romba e sem
ponta, é uma
bola!
734
Coragem
731
A coragem contagia.
Velhos
Quando
um homem corajoso
Uma
rota principia,
Somos velhos e
manhosos
Outros homens empertiga
Logo desde o
nascimento,
E ao fim a todos os liga
A defender nossos
gozos
O vigor do mesmo gozo.
Como a fugir do
tormento.
=================================================================
735
Eterno
Os cremes de juventude
São no fim de minha infância
Meu gesto de quem se ilude,
De eterno jovem com ânsia.
Só tu não iludes, mãe:
Teu corpo o tempo carrega,
Mas carrega-o sempre sem
Contar no mar que navega,
Teu mar de sonhos eterno.
Toma os cremes que te dão
A ilusão. Meu gesto terno
A teu corpo dá-te a mão
E vai dar-ta ao coração:
Só para que te convenças
Que não tem tal precisão
Quem detém tais parecenças!
Eu sou criança, bem sei,
A um passo de ser madura.
Não esqueças que esta é a lei:
A idade é que nos apura,
Quanto mais, mais bem gerida,
Mais em nós apura a vida.
Por isso tens mais do que eu,
Mora em ti muito mais céu.
736
Factos
Os factos nunca são factos,
Suportam contra-argumentos,
Uma vez que iguais eventos
Para estes são pacatos,
Para aqueles, turbulentos.
Estes acontecimentos
Confrontados aos sujeitos
Variam mais do que os ventos,
Contrários são os conceitos
Com que lhes lemos intentos.
Mais vários são os efeitos
Quão mais vários os sujeitos.
Não há factos, mas tormentos
Na caminhada em que, lentos,
Aos ventos vamos afeitos.