OITAVO VERSO
COMO O PORVIR
CUJO ANTEGOZO PROVO
Escolha aleatoriamente um número
entre 737 e 846 inclusive.
Descubra o poema correspondente
como uma mensagem particular para o seu dia de hoje.
737
742
Como o
porvir
Confins
Como o
porvir
É espantoso o que a mulher
Cujo antegozo
provo,
Na vida vai dar a um homem.
Eis-me a
ir,
Muito mais que um lar qualquer,
Quanto mais velho, mais
novo!
Que
amor de que todos comem,
Traz-lhe o céu, é o paraíso
738
Nas suspeitas doutro mundo,
Acordam
É
nas tragédias o riso
Que
o destino traz fecundo.
Não são golos que metemos
Que as pessoas nos
recordam,
E dum nascimento o grito
Pois na vida o que
valemos
Mais que um grito é de criança,
São sonhos que nos
acordam:
É o espanto do infinito
Isto é que marca a
pessoa,
Da História entrando na dança.
De má, por fim, ou de boa.
Porém, o maior mistério
Não é o do que ao homem traz,
739
É
o do que, sob seu império,
Desmaio
A
mulher dum homem faz.
É das chuvadas de
Abril
É por isso que acredito
Que as flores brotam de
Maio.
E, sendo o mundo mesquinho,
Do Inverno as tristezas
mil
Fronteiras não lhe limito,
São um ligeiro
desmaio
Que lhe ando armando outro ninho.
Em que mergulha a alegria
Aguardando o novo
dia:
Aquilo que sou capaz
Quando o Verão
aparece
De
fazer não saberei.
Que eu aconteça
acontece!
Sei, porém, que lhe ando atrás
E um dia, mulher, serei
740
O sonho que tu me sonhas:
Feliz
Saltarei
dos confins meus,
Vou
dar-te o céu onde ponhas
A felicidade
quer
Quanto eu e tu somos Deus!
Livre um olhar de estupor
Pelos oásis que buscamos.
Feliz é quem
remeter
743
Prò espelho
retrovisor
Omnipotente
Os desertos que deixámos.
A mulher é omnipotente
Desde
o nascente ao sol-pôr,
741
Sem que nada, nenhum ente
Imaginar
Sequer
se lhe possa opor:
Coragem de
imaginar
- Em segredo, os gineceus
O que podia ter sido
Andam-nos
a gerar Deus!
É o nosso grande recurso
Para um sobressalto dar
Com algo mais
colorido
Da vida ao cinzento curso.
Sonhar é mais que um percurso:
Dá sabor ao que, comido,
Me alimenta de sentido.
=======================================================
744
É mais que o fim duma guerra,
Estafeta
Que da paz o gineceu,
É
mais que um tremor de terra:
Vida, a intérmina
estafeta
- É mesmo um tremor de céu!
Desde a mais longínqua idade,
De mão em mão, rumo à meta,
A acender cada faceta
749
Do lume da
eternidade.
Glória
Para a Humanidade, a glória
745
Não será problema lógico,
Avançar
É
reconciliar a História
Com
um fim escatológico.
Quem tem medo de ter medo,
Contra o medo é de
avançar.
A Fé matou a esperança
Dentro acaba-lhe o
degredo:
Na
História que acontecia
Descobre ali o
segredo
Em prol do que não se alcança:
De ir para todo o
lugar.
O sonho, a escatologia.
Certo humanismo ateísta
746
Toda
a espera à história deu:
Coisa
Com
isto perdeu de vista
A
transcendência do céu.
Tu tens sempre alguma coisa
Que aos demais fará
brilhar,
E
assim andamos perdidos
Mesmo quando em nada
poisa,
A navegar sem guarida
O mais distraído
olhar.
A ver se ouvimos vagidos
Do nascer duma outra vida.
Terás de nela ter fé
E, após, ver qual coisa é.
Nela inteira investe a
vida:
750
- Então terás a
medida!
Morei
Nós a crer que o desejamos,
747
Que
são nossos os seus traços
Atalhos
E
afinal sempre morámos
Por
dentro de seus abraços:
Que importa que batam malhos,
Nossos carris por
igual
- Muito antes de os desejos serem meus
Forjando p'ra nos
servirem?
Já nos desejos eu morei de Deus!
- Jamais existem atalhos
Para os sítios onde vale
A pena as pessoas
irem!
751
Sonho
748
O
sonho de cada qual
Tremor
Acaba
onde principia
Todo
o peso do real.
Desaba um
sistema,
Só quando se é genial
Morrem
sovietes:
É que o sonho é nosso guia
Enterro dum
lema
Hoje e sempre, a tempo inteiro.
Ou fim das
cassetes?
É que o sonho de verdade
É para o génio parceiro
Crentes ou
descrentes,
Da própria realidade.
Tudo estremeceu:
Não mais dissidentes
Nem mais apogeu?
=======================================================
752
756
Nada
Novos
Ficamos sempre sem nada,
Mais
novos, tenham respeito,
Nós que ao fim criamos
tudo.
Se têm de dar conselhos!
A nossa ideia é
roubada
É que cá no meu conceito
Na voragem,
sobretudo
São vocês que são mais velhos:
Da sanguessuga,
amiúdo
- Não são anos o que impera,
Postada à berma da
estrada.
É sim qual é a vossa era!
Com a lei já não me iludo:
Mesmo se nunca desgrudo
Do parasita a
passada,
757
Não, não paro a
caminhada!
Inteligente
Um cérebro inteligente
753
É para nós um perigo
Prisão
Se
deposita a semente
Na
cabeça do inimigo.
Cada terra tem seu uso.
Cá nos vamos
aguentando
Se inimigos não tiver,
Até cair em
desuso
Qualquer que seja a cabeça
A nossa prisão ao
bando.
Em que a grandeza aconteça,
É
o porvir a acontecer.
Escravos da natureza,
Anos bons, outros sofríveis,
Cada qual à sua
mesa
758
Serve as estrelas
possíveis.
Tarde
À terra cai a
semente
Nós chegamos sempre tarde
E, num gesto que a
consagre,
A este mundo revelho,
O que espera toda a
gente
Já a fogueira no lar arde
É que aconteça um
milagre.
Onde me aqueça o artelho.
Em
relação ao passado
754
Que é o lugar onde vivemos,
Profissão
Tudo
se encontra ocupado
Pelos
mais com que topemos.
Trabalhar para um patrão
Exige de mim bem
menos
Em relação ao futuro,
Do que qualquer
criação
Porém, que não foi jamais,
Em que meus gestos são
plenos.
Saberei como o inauguro?
-
Chegamos cedo demais!
As profissões asseguram
Mas têm alguns senões:
Tanto quanto nos
maturam,
759
Aniquilam
vocações.
Gargalhada
Ao chegar junto do dono,
755
Dá
primeiro a gargalhada
Pontes
Que
nos desperte do sono:
Rir
do mundo é a boa entrada.
Para quê fazermos pontes
Se as pessoas desta
terra
Deixemos
aos demitidos
Não sabem para onde
vão?
Toda a carranca dos anos.
Pouco importa aonde
apontes:
Vamos rir, que estes sonidos
Quem do cais jamais
desferra,
Derrubam mesmo os tiranos!
Cá ou lá é tudo em vão.
=======================================================
760
Destoutra
navegação.
Admiro
O
primeiro foi o evento
Aqueles que mais
admiro
Do que primeiro se arquive;
São quem de mim mais
diverge.
O tamanho do momento
Então em mim os
insiro,
Continua no que vive.
No que sou tudo se imerge.
Ganhará direito à vida
Admiro porque me
espanta
Apenas quem admirar,
O além do que for
comum.
Que em suas mãos leva erguida
A bandeira apetecida
Admiração, quando és
tanta
De quem vai poder gerar,
Que me tomes a
garganta
Da multidão distraída
Mesmo se não é
nenhum
O
novo tempo e lugar.
O traço do que me
encanta,
Novo tempo onde repouso
Nenhum que me more a
par
No infinito que enfim ouso.
De quanto em mim se encontrar?
763
761
Fortuna
Mistério
Não vale mais meu mistério
É no poder de admirar
Que outro mistério
qualquer:
Que posso levar ao fim
É o desafio
sidéreo
No mistério o meu lugar
Que inteiro ao fim
chegará
E
assim vir de encontro a mim.
Quando nada em nós sequer
Sabemos se chega
lá.
Então, neste chão fecundo
O mistério ao desvelar
Crio
a fortuna do mundo.
762
Admirar
764
Admirar é um
elogio
Força
Da janela prò infinito.
Mas, se lhe não perco o
fio,
Em mim há o que tem mais força
Quem no fundo eu
elogio
Que
a força que eu próprio tenho.
Do espanto é quem solta o
grito.
Arremedo o que reforça
Quando em vez disso devenho
Quem admira é quem se entrega,
De si fora põe-se
inteiro,
A velha voz do destino
Joga a vida pela
vida.
Fazendo o que já está feito.
E, quando nisto se
emprega,
Porque só comigo atino
Nisto se torna
leveiro
Quando a mim tiver respeito,
E a prisão devém guarida.
For
o que em verdade é meu
E assim é que quem
admira
E o meu caso pessoal
Em admirável se
vira.
À terra descer do céu
Nunca quem for
admirado
Incarnando o universal.
Vale como quem o admira:
Fez subir este ao
tablado,
Assim é que alcançarei
Lançou-o p'ra além da mira
O mistério que me tem,
Senão nem sequer me sei
E, ao promovê-lo na
altura,
Nem me saberá ninguém.
Se lhe termina a função:
Onde o sonho se
procura
Quando em corpo tomo forma
Doravante é na
loucura
É que atinjo minha norma.
=======================================================
765
768
Fora
Tarefa
Que se encontre a
humanidade
Bem difícil é a tarefa
Quando pusermos cá
fora
De nos conhecer bastante
Inteiros a
intimidade,
Para adaptar cada instante
Apesar de ser
verdade,
Das vidas à
sinalefa.
Implica mais que a demora:
Todos embora
implicados,
Se ordenas os sentimentos
Quem o entende e o
promove
Antes sempre de os viveres
Perde a força que o
demove,
Podes contar com bons ventos
Que andamos sempre
isolados
Numa
vida com haveres.
Em busca de braços dados,
Quando a ninguém tal
comove
Ao mínimo reduzir
E ao fim nenhum elo
move
As tuas margens de acaso
O eterno jogo de
dados.
É te alargar o porvir,
E continuamos
jogados,
Na
vida à vida dar azo.
Sem nada que nos renove,
Vagos, por todos os
lados...
Cada coisa mais não vale
Que o esforço que custou:
A facilidade é igual
766
À morte de qualquer voo.
Castelo
Uma
atmosfera feliz
Se um castelo se
incendeia,
É a morte da actividade:
A multidão, ao
surdir,
Não
lhe resiste a vontade,
Quando para ele
ameia,
- Só a luta connosco diz!
Será para o derruir.
Deitar abaixo o
tirano
769
Ancestral de toda a
idade,
Ingénuo
Da cinza escreve no pano
O corpo da liberdade.
Um
ingénuo é o que não tem
Consciência dos problemas.
Outro, aquele que a mantém
767
Além
dos filosofemas:
Maioria
-
Bateu a todas as portas
E
as casas estavam mortas;
A força da
maioria,
Porém, ruma destemido
Sempre hostil à inovação,
Dentro
do desconhecido!
Tolhe o que a perturbaria,
Rotineira, cada dia,
De antanho sempre ao
serão.
770
Gratidão
Um a um, tal propensão
Decerto se
mudaria
A gratidão é de antanho
Do novo na
admiração.
Só porque dei aos pardais
Um a um trocam de
mão.
No inverno alguns grãos de ganho
- E o Homem
acontecia!
E depois são comensais,
A
primavera chegada,
Da semente semeada?
=======================================================
771
775
Sonho
Bonecas
Quando estou a
começar
Nas
bonecas a criança
E o ignoto me
proponho,
Descobre as prendas mais belas
Tiro ao pessimista o
ar,
Que um olhar jamais alcança.
Que ele me não roube o sonho.
E as pedrinhas das vielas
Para que um sonho me
mude
Junta em mancheias de jóias
Em nova
realidade
Mais preciosas que estrelas.
Urge crer que não me ilude,
Que tenho
capacidade.
Mas ao crescer novas bóias
A
prendem ao mar da vida
Em que já o futuro apoias:
772
Lâmpada
Bonecas
vivas convida,
Seus
companheiros de encanto,
Muito se luta e
combina
E com eles se valida.
E não pára o desatino.
A lâmpada que
ilumina
Com mais larga experiência,
Os caminhos do
destino
Vê que nada enxuga o pranto
Há lá nada que
serene
Da
nossa fruste existência.
Dela esta busca perene!
Daqui nascem sempre os deuses
Ou, quando há descrença neles,
773
À
vida tristes adeuses
Esperança
Sem
nada mais a que apeles.
A esperança não é um dom
Nem vem da
oportunidade,
776
É virtude, é coração Terra
Como a fé e a caridade.
A
terra por cultivar,
Deverá ser
praticada,
Cheia de árvores e de ervas,
Ache-se ou não
natural.
Continua desejada,
Ela é que nos rasga a
estrada
Pois se espera venha a dar
De se ser menos
mortal.
Bons frutos quando a preservas
Para, enfim, ser semeada.
- E assim é que o coração
774
Jamais
perde seu condão.
Matriz
A matriz da
vida,
777
Código patético,
Regimes
Sendo transmitida
Em cordão
genético
Não acredito em política,
Milhões, milhões de
anos,
Que
os regimes não transformam
O frágil
sujeito
Homens em matéria mítica
Eleva aos
arcanos
Que a seu bel-prazer conformam.
A que presta preito:
- Em mim
inauguro,
Homens felizes à força,
Com o meu
legado,
Quando o somos por acaso
O elo do
passado
Ou a vontade nos força
Que ruma ao
futuro.
A nós próprios a dar azo?
=======================================================
À força o que se reforça
Sacrificar
o presente,
É a quanto a desgraça
orça.
Renegar sonhos de antanho,
Eu é que cuido de mim
Como, se o que se pressente
E mesmo assim, mesmo
assim...
Não promete qualquer ganho?
A
troco de incerta aurora
778
Como perder a saudade
Cante
Do
porvir que nos devora
Além
de qualquer idade?
Há quem cante a sufocar
Os remorsos interiores,
Pronto a fugir,
debandar,
781
Noutrem a acalmar as dores. Lesto
Esquecer-se nos
demais
Um amor, quando é honesto,
É uma forma de
convívio
Não
conhece proibições
Como quem nos
lodaçais
E encontra meios mais lesto
Às feridas busca
alívio.
De se soltar do cabresto
Que os inimigos, grilhões.
Porém, só resultará
Com outrem diminuído:
E
assim chegam sempre à fala,
Só meio encontro se
dá,
Mais depressa certamente
São um par desconhecido.
Que quem tal amor entala,
Os que amam o que não cala
Qualquer amor persistente.
779
Desgraça
Hábitos
de qualquer ordem
São
disfarces de encontrar
Suavizar a
desgraça
Onde
sob as capas mordem
É chuva de
primavera.
As sombras em que recordem
Paz egoísta que
grassa,
Inimigos a espreitar.
Por nós trepa tal qual hera
Na satisfação
culpada.
De qualquer estratagema
Não há maior inventor
Mas no olhar brilharão
áscuas
Do que quem seguir o lema
E repicam, na
alvorada,
Da paixão que fruste gema,
Os sinos de antigas
páscoas!
- Pois quem cria é sempre o amor!
- Suavizar apenas, não!
Convém é a ressurreição!
782
Valioso
780
Barco
Se
nada é mais perigoso
Que
um amor fundado em vício,
Quando os puros
desertaram,
Também nada mais valioso
Que é do barco da
esperança?
Que um coração corajoso
Sempre escravos o
puxaram
Onde um amor teve início
E a manhã jamais se
alcança.
E que se abre ao maior gozo:
- Dar-se sem qualquer resquício.
Nunca o sol da liberdade
Raiará numa alvorada
E já mortos de verdade
No rio vão de largada.
=======================================================
783
786
Distinguir
Trabalho
Aprende a distinguir
bem
O trabalho importa tanto
Contratempo de
problema.
À imagem que de mim tenho
Se um acidente te
advém,
Que um revés, um desencanto
Se de comer se não
tem,
Me ameaça todo o ganho.
Importa que isto se tema,
Porque é um problema.
Porém,
Mas por mais que haja a inscrever
Se dum ovo tens a
gema
Prejuízo em minhas loisas
E a clara é que te
convém,
O
que importa é não perder
Não grites por tua
mãe,
Jamais a noção das coisas.
Que a vida, em todos os tempos,
É feita de
contratempos
Em vez de me ver a mim
E cedo a mais morre
quem
Condenado ao desemprego,
Não lhe respeitar o
lema:
O que importa é ver-me assim:
Isto é que é bom que se
tema.
- Tenho escolha, afirmo e nego,
Por si se resolve o mais,
Não com protestos nem ais.
Por isso não vou medir
Minha perca a
quanto orça.
Talho, afinal, meu porvir,
784
Eu sou livre, eu sou a força!
Fundo
As mensagens
não-verbais
787
Vêm do fundo de
nós
Constante
E dão-nos sempre sinais
De nossos contras e
prós.
A mudança de hoje em dia
É quase única constante
A linguagem
corporal,
De que o trabalho se fia,
Em busca de
melhorar,
Sem garantia adiante.
Retraduz qualquer sinal
Dentro em nós sorvendo o
ar.
Quem tiver capacidade,
Quem souber recuperar
E é de dentro para
fora,
É que aprende de verdade
Pondo-se de bem consigo
Como aqui ter um lugar.
Que cada qual em si mora,
Que digo mais do que
digo.
Aprender a resistir
Aos reveses da carreira,
Com
optimismo fluir,
785
Do vencedor é a maneira.
Muda
788
Se uma actividade
muda,
Falhanço
Provoca então tal mudança
Que a conta é sempre
miúda
Os maus momentos da vida
De quem disto a conta
alcança.
São nossa incapacidade
Para enfrentar um falhanço.
Então muito menos
são
E há no íntimo, perdida,
Os que aceitam,
afinal,
A voz da interioridade
A inteira
transformação
Que me impele a um novo lanço.
Que requer mudança tal.
Ela dá mais que a coragem,
Que
a energia além das dores:
Porém, a vida que
vence
- Jorra o poder da viagem,
É de alguém que a vida
aceita
A força dos vencedores!
Mudar no que lhe pertence:
- Vida é a muda à vida atreita.
=======================================================
789
E é possível que nem delas,
Fugaz
Pois,
afinal, como medras?
Ser
feliz sem mais sequelas
Olha sempre duas
vezes
Se
calhar só mesmo as pedras!
O que queres recusar,
Que o presente não são meses,
É mui fugaz a
passar.
792
Atendendo à
mutação,
Sós
Poderás ser prevenido
E mais que ter
precaução,
Estaremos ambos sós,
- Ao tempo darás
sentido.
Mas casados será menos
O travo que for atroz.
- Ou, ao invés, nossos drenos
790
Se
entopem, magoa mais
Fim
Quanto
em nós não dá sinais?
Apressemo-nos, amigos,
Que o fim da
revolução
793
É dos mais duros
castigos
Cão
Dum sonho sonhado em vão.
Nós
somos o cão
Pois quem a fizer
durar
Dum osso escondido
Todo o tempo, em
demasia,
Que o tendo esquecido
Não ocupará o
lugar
Nunca o tem à mão.
Dos frutos que prometia.
E a vida é procura
Não porque outrem lhos
retire
Desse lugar onde
Mas porque os não
haverá:
A memória apura
Quando alguém um sonho
vire,
Que sempre se esconde.
O sonho nunca está lá.
Foram as trôpegas
pernas
794
Desta humanidade
coxa
Medos
Que das alturas supernas
À realidade
frouxa
Quando se ama alguém
Conhecem-se
uns medos
Desceram as
utopias:
Que antes ninguém tem.
Não por mal ou
mesquinhez,
É nestes degredos
- É só que a massa dos
dias
Que conheço bem
É a da terra que nos
fez.
Que te amo
segredos.
E a vida, também,
Se eram só penedos,
791
Agora os não tem.
Ambas
Mas
restam os medos
De tudo e ninguém:
Infelizes e
felizes,
Amor com o credo
Sentimos ambas as
coisas,
Na boca e que nem
Tais são as nossas
matrizes,
Vê se é tarde ou cedo
E só n'ambas te
repoisas.
O que lhe convém.
Um amor sem medo
A felicidade
plena
Amor nem contém!
Que persegues e que atacas
É, se calhar, a da hiena,
Provavelmente a das
vacas...
=======================================================
795
- E é sempre o que fica além
Ampara
Que
doravante convém.
Como o mundo nunca pára,
Se descrês de teu país,
799
Com o mundo então te
ampara,
Espantadiço
Ainda podes ser feliz.
Se na vida se viu muito
É preciso
acreditar
Já não se é espantadiço,
Que se um eclipse é
possível,
Mestiçar-se é o dom gratuito
Eliminar o
luar
Que nos oferta mais viço.
De vez nunca será crível.
A melhor maneira
Ao menos neste
planeta,
De
viver no mundo
A solução quando
quero,
Lima-nos arestas:
Nunca atingirei a
meta
Ir mais longe e fundo
Se me entrego ao
desespero.
Por toda a ladeira
Às
dores e às festas
Despertando o além,
796
Afinal convém
Sonhos
Aos
homens e às bestas.
Nem vale a pena tentar
Que se nos salvem os sonhos,
800
Que eles renascem do
ar
Muda
E espicaçarão risonhos.
- O que vale a pena é a
fé,
O homem tem tanta fome
Que é nela que tomam
pé.
Que, se pudera, mudara
Como
se muda de lavra.
Às vezes muda de nome,
797
Pior é quando é de cara
Rico
E
mais, se for de palavra.
E,
depois, quanto mais muda
Engraçado é o homem
rico
Mais a seu zero se gruda.
Imaginar comprar tudo
Com o dinheiro que tem.
Porém, o que
identifico,
801
Se ao coração não
convém
Académicos
Tornar-se um boneco mudo,
É que este vive em
delícias
De académicos o absurdo
No pior dos
pardieiros
É que vão abrir a estrada
E só respira
malícias
Com o ouvido ao porvir surdo.
Do ricaço nos
viveiros
Depois, feita a caminhada,
Se acolá se
encontraria
Quando já rotinas urdo,
E neste não mora já.
Voltam, que é coisa passada:
O coração vai
comigo
- E têm a pretensão
Para onde quer que eu
vá
De ser quem nos deu a mão!
- E ao fim sou sempre eu que o sigo.
802
798
Aves
Inefável
As
aves, para voarem,
O problema da
verdade
Têm de bater as asas
Não é ser
desagradável:
E, se as formas lhes bastarem,
Quando atinjo a
realidade
Os ninhos armam nas casas.
Penetro então no inefável
============================================
Ave falhada que
sou,
806
Meu golpe de asa onde o
há?
Pedra
- O meu segredo do voo
Não é nas asas que está...
Quem foi colocar a pedra
À varanda donde o Papa
Sobre o mundo que mal medra
803
Da bênção estende a capa?
Criador
Bem
melhor abençoaria
Nunca pode o
criador
A
bênção do abençoador
Escapar-se à
criatura:
Se as funções juntara um dia
Naquilo em que o selo
aponho,
Nas mãos do trabalhador:
Como posso, sonhador,
Sem perder minha
figura,
- Seria semear pão
Aceitar perder meu
sonho?
Sem ter de o pedir fiado
E comê-lo de seu chão,
Nem vendido nem comprado.
804
Agasalho
807
Quando
agasalho
Conciliar
Rende mercês
Dá-te ao
trabalho,
Uma vida,
Pesa os
porquês.
Para ser bem sucedida,
Tem
de saber conciliar
Farás o
bem,
Trono e altar,
O que é
melhor
Ou outro qualquer poder
Olhando a
quem
Que venha então a ocorrer.
Que nenhum pôr.
Melhor
seria,
808
Pesando
bem,
Dorme
Se o bem porfia
Sem ver a
quem.
Quando um homem dentro dorme
É pedra tombada ao chão.
Se um pé o não toca, inconforme,
805
Ganha cama, posição,
Festa
Crescem-lhe
ervas ao redor,
Nascem
astros nas esferas...
Primeiro vem o
jantar,
- Raízes que o vão supor
Depois, a hora da
sesta.
Aliado a eternas esperas,
Se não houvera
lugar
Quando um só gesto de amor
Na vida para uma
festa,
Brota dele as novas eras.
Labor e após descansar,
Nem sequer valia a pena
Enfrentar marés e
ventos
809
Programando a farra
plena
Sisuda
Nas solidões dos conventos.
Para quê partir a
pedra
É
impossível manter
Se a alegria ao fim não
medra?
Uma cara sisuda
Se à frente remexer
A ninhada miúda
Duns
lestos cachorrinhos.
O mundo vai sorrir
Em todos os caminhos
Quando
aprender a ouvir
Os cantos comezinhos
=======================================================
Dos ninhos do
porvir.
812
Deixar
810
Às
vezes, a melhor forma
Razão
De
se haver com um problema
É
deixar de o resolver.
Receio acordar um
dia
Tudo pôr de lado é a norma,
Com minha vida
vazia.
Por mais que com isto trema,
Para acordar quanto houver.
Do mundo sou que razão?
Esta que terei à
mão:
Meia hora de passeio
E
tudo se desoculta
Aos mais, pequenos
archotes
Do fogo que arde no seio,
Distribuo, com os
dotes
Que o mistério catapulta.
Então explode o vulcão:
De os guiar na
escuridão.
- Vem-lhe à mente a solução!
Se eles alçarem então
A luz às mãos a
seguir
813
E essa luz se
escapulir
Não
Sem fronteiras, mundo
fora,
Para o tempo equilibrar
- Dentro em pouco rasga a
aurora!
O importante é dizer não.
Sem medo de perder ar,
Recusar a aceitação
811
De ocupar mais um
lugar
Caminho
Vai
aumentar-lhe o pulmão.
Dizer não é impor o
crivo
O fácil caminho
Que o torna mais produtivo.
É o erro da vida.
Quando me adivinho
Na curva
seguida,
814
Quantas vezes
tenho
Sabor
De trocar de trilho!
Jamais
desempenho
O sabor duma comida
Trabalho com
brilho
Conjuga nele também,
Se me não
retoco,
Para além do que mastiga,
Se não
desemboco
O cheiro que tudo tem.
Na virgem floresta,
Se não sigo à
testa
Acontece em qualquer lida:
De quem a
desbrava.
Conta
o que a lida contém,
É quando
abandono
Mais, se tudo se investiga,
A leira onde
cava
Dela o halo para além.
Sempre a voz do dono
Que largo o repouso
Visando outro
gozo.
815
Superlotada
O mestre me disse
Que outra senda
abrisse?
Na escola superlotada
- Talvez já
famoso
Vão farrapos, vão tamancos,
Ao longe me
visse...
Da miséria uma parada...
São os nossos solavancos
Foi buscando meu
caminho
Na imparável caminhada
Que encontrei meu pão e
vinho.
Que, por trancos e barrancos,
Nos
procura a madrugada.
=======================================================
816
820
Imperceptível
Riscos
Nas pessoas cada
qual
Os riscos dificilmente
Qualquer coisa
imperceptível
Darão coisa boa:
Descobre que é quanto
vale.
Homem sensato e prudente
E a diferença
visível
Não se arrisca à toa.
Jamais constitui razão
Para afastar, odiar,
Pois de certeza que
não
821
Sabemos nosso
lugar.
Bagatelas
A certeza que logramos
É de jamais se estar
certo,
Somos sempre bagatelas,
Que é de longe que
enxergamos
Senão nojentos escarros,
Os pedaços que andam
perto.
Cisco ao canto das vielas,
É preciso
compreender,
Priscas gastas de cigarros,
Nem que seja a
aceitação
- Mas um dia em nós luziu
Da reflexão de
quenquer:
O lume que em tudo ardeu.
Assim minha a torno então,
Valha ao fim o que valer.
822
Ignoto
817
Calos
Quando
me exibe um ignoto
Trabalho
que é nulidade,
Quando ninguém nos
recorda
Não sou jamais duro, anoto
Espaços de
liberdade,
Que há uma possibilidade:
Calos de alma atam a corda
Onde já ninguém
acorda
- Sei lá bem se a criatura
Nas redes que o sono
invade.
Amanhã não é o porvir
Que inesperada inaugura
Além de quanto eu previr?
818
Quem?
823
Pessimismo
Quem dá força às almas tristes,
Quem a deu aos
fatigados
Não me posso enclausurar
Corpos em que ainda
resistes?
Por dentro do pesimismo,
Indiferentes,
fanados,
É indispensável este ar
Quem arranca a
aclamação
Do retorno ao meu abismo.
Por sobre nossas cabeças?
- As artes que em arte
são,
Tenho de me fiar nela,
Que à vida vão pedir
meças.
Não posso satisfazer-me
De humanidade à parcela,
A poeira põe-me inerme.
819
Turba
Muito
em baixo, à lama e chuva,
O
frio a partir-me os ossos,
O domínio sobre a
turba
Sempre alguém me estende a luva
Vem do dom
divinatório
E assim é que evito os fossos.
Que os sonhos vagos perturba
E a pólvora no
incensório
Bem sei que um dia termino
Dos espíritos
mistura
E que todos terminamos,
Com o interesse
escondido.
Mas que importa o desatino?
A receita ao fim se
apura
- Por ora continuamos!
Com um fósforo acendido.
=======================================================
824
A que em pé sobreviveram.
Brando
E, se hoje a cor se não goza,
Baça
no antigo esplendor,
O poder hoje é mais
brando,
Não é de menor vigor:
Não se impôe andando aos
berros,
Tonalidade cinzenta
Nem aberto
criticando,
É velhice que se inventa
Nem medo metendo aos
erros.
Sem deixar em mão alheia
Devir bela de tão feia.
Hoje informam-se as
pessoas,
Os castelos não são pedras,
Tenta-se que elas
adiram
Têm mais um ar de gente,
A ideias que forem
boas
- É com eles que tu medras
E que em conjunto as
confiram.
Bem desde a tua semente.
Pode qualquer um impor-se,
Fazer sentir o seu
peso
828
E bom é que o custo a que
orce
Grito
A qualquer um deixe ileso.
O sol vai secando a névoa
E, por este ar cristalino,
825
A
vista espantada levo-a
Zangado
De
monte em monte menino:
Quando alguém fica
zangado
O horizonte imenso é o grito
Comunica em
negativo.
Do limiar do infinito.
Se grita a um subordinado,
Mesmo obtendo um resultado,
Morre este a prazo no
arquivo:
829
Sempre esmorece o
respeito
Excitante
A quem a zangar-se é atreito.
Que será mais excitante?
Ir
até ao fim do mundo
826
Num barco que corre avante?
Fardos
Ou
inventar, ver a fundo
O barco capaz, enfim,
Vamos suportar os
fardos
De ir do mundo até ao fim?
Mas gozar as alegrias:
Na vida há incontáveis cardos
Que suportam
melhorias.
830
Chaves
Vamos depender de nós
A
mulher tem mais tendência
E abrir o nosso
caminho
Para esbanjar de começo,
Sempre a reatar os
nós
A afirmar-se independente.
Com que se atar o
carinho.
Depois impera a premência
De
medir melhor o preço,
A bênção duma
abundância
Que dinheiro tem pendente
Pode até matar
prazer:
As chaves que irão abrir,
- O de vencer a
distância,
Entre os demais, o porvir.
Pesar o que pesa o ser!
831
827
Liberdade
Muralhas
Toda
a nossa liberdade
As muralhas dos castelos
Sofre
de caricatura:
Do crepúsculo
acolheram
Cada qual para a ter há-de
Do sol todo o cor-de-rosa
Cumprir o que a ditadura
Pelos séculos
singelos
Dos mais diz ter de ser feito.
=======================================================
Se cada qual de
fazer
Não somos um povo, não.
Como os mais tem por
dever,
Exército a marcar passo,
- Ser livre, então, de que
jeito?
Somos a desilusão
Da
espera doutro compasso.
832
De tão grandes que já fomos,
Trocas
Como
é que assim tão pequenos
Só
recolhemos os pomos
Se o governo nos não
serve
De gente que é gente a menos?
Mude-se o governo então;
Se o novo nada
preserve,
Sempre tudo no rebanho
Nada as trocas nos
trarão.
Cada qual como os mais faz.
Quando em tais impasses
vi-me,
Quem me pode dar o ganho
Outra vez mudo o
regime.
De cortar a cauda atrás?
Até que, insistentemente,
Nos dê fruto esta
semente.
De cortar de vez amarras,
De trepar rumo às estrelas,
De recuperar as garras
833
Que houvemos nas caravelas?
Lados
De
não ter medo sozinho
Tudo toca por dois
lados:
De romper entre inimigos,
O lado em que nos dá
gozo
Largar de vez o vizinho,
Mais o inverso, de
entediados,
Do sonho correr perigos?
O lado em que é perigoso.
Somos tão
disciplinados
Vem a vida do
equilíbrio
Que indisciplinados somos:
Entre o prazer e a
aventura.
Quem nos vai jogar os fados
Quando um da outra é o ludíbrio
Se do invés é que nos pomos?
Talha em vida a sepultura.
Há o momento de
gozar
835
E aquele de correr
risco:
Intelectual
Primeiro abro aqui lugar,
Depois a fruta
petisco.
Ser um intelectual
É ser lugar dos possíveis,
Móbil
em cada ideal,
834
Inesperado nos níveis
Disciplinado
Em
que intervém no poder
Ou
nas redes do saber
Um povo disciplinado,
Como de coexistir.
Obrigado a
obedecer,
Intelectual a preceito
Comete sempre o pecado
É o direito a ter direito:
Que comete outro
qualquer.
Aqui
começa o porvir.
Por mais que haja disciplina,
Quando não for no
maior
836
É no menor que
imagina
Humano
Trocar voltas ao senhor.
Homem simplesmente humano
Assim é que,
subservientes
É aquele homem que nos fica
Pela frente e não por
trás,
Quando todos os direitos
Arreganhamos os
dentes
Sofreram total engano.
Nas costas do
ferrabrás.
Todos negados, implica
Que
ficam secos os leitos
Onde os rios vão correr:
- De novo se irá nascer.
=======================================================
837
841
Espera
Ovo
Aqui vamos nesta
longa,
Quando se alguém ensinou
Nesta dolorosa espera
Mais que aos demais sobretudo
Que quanto mais se
prolonga
Que
amar é um acto em que voo
Mais é um nada que
viera:
Até mim cruzando tudo,
Eternos
adolescentes,
Pode até voltar atrás,
Sempre a amar, mas entre
dentes,
Começar um homem novo:
Todos prevemos, em
suma,
-
Cria a coragem que traz
Não chegar a coisa
alguma.
O futuro inteiro em ovo!
Entretanto, à dor dormentes,
Continuamos, dementes,
Contra todos, contra
tudo,
842
A impetrar longe o céu
mudo.
Escreve
838
Escreve,
homem, que te escreves:
Humilhado
Exorcisas
os fantasmas
Que
remotos tu te deves
Somos um povo
humilhado
Destruir de quanto plasmas.
De destino
incontrolável,
Vela cuidadoso o estilo,
A altivez posta de
lado
Que eles irão persegui-lo.
Na tarefa
irresponsável.
Tu contigo serás um
Quando
um dia não houver
Um nada nos
bastaria
Já mais fantasma nenhum:
Para erguer o rosto
atento
Só então não há que escrever.
E, sem qualquer fantasia,
Responder por todo o evento.
843
Bastaria
acreditar,
Força
Ter orgulho na função:
Mudaria o rosto de
ar,
Nossa força não é nossa,
- Teria já uma
missão!
Advém-nos da adversidade,
A
raiva açula, destroça
E assim rompe quanto invade.
839
Sortido
Se
não somos animais,
Decerto
que o deveremos,
Como era bom
acordar
Entre outros vagos sinais,
Com a vida
realizada,
À raiva com que o quisemos.
As obras todas a par
Em fila bem
ordenada,
E se andamos apostados
De anos e anos o
sortido...
Em
deuses um dia sermos,
- E eu sem ter
envelhecido!
Cuidado, cuidado, fados,
Que é só nos enraivecermos!
840
Completa
844
Palavras
É bom quando se envelhece
Sem olhar para os despojos
Quando todas as lembranças
De que a estrada se
entretece,
Houverem já fenecido
Cerrando ao fim, como em
prece,
Neste corpo apodrecido,
Completa a obra, os
estojos.
Ainda ao vento voam tranças,
Crescem leivas pelas lavras:
Dele restam as palavras
=======================================================
Que irão salvar-nos do
olvido.
Por
isso cantemos todos,
Tanto quanto um gesto
terno,
Que em nós nasce hoje a criança,
Trazem-lhe a marca do
Eterno
Folguedos, doces a rodos,
E a semente anda a
crescer
Entremos todos na dança!
Até um dia vir a ser.
Quando
a criança crescer,
Os destinos que ela entrança
845
Quem sabe se não vão ter
Perfume
Ao
tal Natal da criança?
Dou-te um perfume e não dou,
Que o perfume que te vou
Pôr nas mãos tem nele o lume
Que me acena lá do cume
Com teu jeito delicado.
Levas-me a pôr-me a teu lado,
Trepar íngreme a subida
Onde mais se vive a vida.
Neste perfume vou eu
A rumar ao apogeu,
Por isso é que to não dou,
Pois nele sou eu que vou.
846
Natal
O Natal é das crianças
Porque é nelas que o sentido
Que na vida nunca alcanças
Alguma vez é vivido.
E, se o Pai Natal é velho,
É que nos gestos corteses
Vai seguindo um bom conselho:
- Ser criança duas vezes.
Aquilo que não consegues
Nas freimas de tua lida
É crescer, como prossegues,
Sendo bebé toda a vida.
É por isso que o Natal
Nos faz sempre companhia
Até vermos o sinal
Da Terra que ele anuncia
E sermos todos Reis Magos
A vivermos da magia
De por nada sermos pagos
Com todo o céu qualquer dia.
Por isso cantemos todos,
Que em nós nasce hoje a criança,
Folguedos, doces a rodos,
Entremos todos na dança!
Quando a criança crescer,
Os destinos que ela entrança
Quem sabe se não vão ter
Ao tal Natal da criança?