DÉCIMO VERSO
NEM A EFICÁCIA
DE MOVER O MUNDO
Escolha aleatoriamente u número
entre 947 e 1063 inclusive.
Descubra o poema correspondente
como uma mensagem particular para o seu dia de hoje.
947
O que vocês não admitirão
Nem a
eficácia
É
que não tenho fronteiras!
Nem a
eficácia
Ora,
De mover o
mundo
Não é aqui mas sempre além
É
perspicácia.
Que
aposto desde agora
Quando a
aprofundo,
O que convém.
Não vale nada
Comparada
Deixem-me em paz!
À
energia
Primeiro,
Dum sonho que
principia.
Porque
tanto faz:
No momento derradeiro,
Queiram-no ou não,
948
Sou inteiro
Avião
E
com tudo em comunhão.
Sob as nuvens, o
avião
Depois,
A curva mole
descreveu,
Nem convosco serei dois:
Insecto
Somos um no mesmo grito
A passear no
chão
A chamar pelo infinito.
Do céu
- Em nosso tecto!
951
Advogado
949
Fale
Um
advogado não é um aldrabão.
É
quem gasta cada tostão
Há silêncios que
reboam
Do que é meu
Mais que as
trompas
A provar que tem razão.
Quando
ecoam.
...E
que me convenceu!
Não procures alibi,
Não interrompas:
- Para que teu trabalho
fale
952
Por
ti,
Prova
Importa que o mais te cale!
Aquilo que o tempo aprova
É o bem que proporciona
950
A iniciativa que inova.
Inteiro
Mas
ao tapete de lona
O
lutador cai por vezes
Não me demove o
gemido
Sem ver a causa aos reveses:
Nem o aceno do
dinheiro:
- O que não foi posto à prova
- Não, não tenho
partido,
Não funciona.
Sou inteiro!
E, se num partido
entro,
953
O meu
lugar
Gere
Lá dentro
É o de o
despartidarizar.
Por muito que a cárie gere cárie
Quando os dentes dou aos ócios,
O meu
modo
A barbárie não vem da barbárie,
É doutra identidade:
A barbárie vem dos negócios.
Só o
todo
Os brutos saltam-me à janela:
É que é
verdade.
-
Não podem negociar sem ela!
Não é falta de maneiras,
Não:
======================================================================
954
959
Problema
Como
O problema de nosso
lugar
Tem lá confiança em ti,
Não é o de ter ou não
porvir,
Que os demais também terão.
É que, se o podemos
criar,
Não digas não:
Também o podemos
destruir.
Mostra, mostra agora e aqui!
Trata como gostarias
Que te tratassem a ti.
955
E oferta todos os dias
Lugar
Um
pouco mais do que aquilo
Que
os outros de nós esperam.
No
lugar
Poderás viver tranquilo:
Do sonho
apetecido
- Teus desaires já esqueceram!
Já lá moro antes de chegar
E ainda fico após ter partido.
960
Correr
956
Arremede
Em
Africa, de manhãzinha,
Uma
gazela acorda.
Não, aí não
entro,
Terá
de correr mais que o leão mais veloz
Vou-me
embora!
Senão morrerá.
Arte sem nada
dentro
Em África, da manhãzinha,
E menos ainda cá
fora
Um leão acorda.
Não germina em meus
hortos.
Terá de correr mais que a gazela mais veloz
Por muito que,
comprometida,
Senão de fome morrerá.
Arremede a vida,
Àquela talham-na os
mortos.
Gazela ou leão, que te importa?
Sofra embora
desconfortos,
- Quando o sol nascer,
Eu serei bandeira
erguida!
Abre a porta
E desata a correr!
957
961
Porta
Antes
O que nos salvará dos
escombros
Não te encostes à parede,
É uma estreita
porta:
Não te tornes um destroço:
Mais que ter a cabeça sobre os
ombros,
Antes de que tenhas sede,
É o que ela terá dentro que
importa.
Cava o poço!
958
962
Pensar
Nem
Há pessoas que jamais
pensaram.
Duma cabra pela frente,
Pior, porém, são os que
pensam
Nem dum cavalo por trás,
Que sabem
pensar.
Dum louco por qualquer lado,
É que os homens então
param
Aproximar-se não tente,
Antes que as ideias os
vençam.
Que o que faz
E logo se enganam de
lugar.
É, no fim, ser destroçado.
======================================================================
963
Que o faz
Tivermos
Sofrer?
-
E assim é que apraz
Nem
Viver!
Estafermos,
Nem
Infernos,
967
Nem
Rastejar
Ermos,
Nem
Invernos
O que aterra
Nos
impedirão
É
que os homens não queiram voar.
De
sermos.
Preferem rastejar
Não!
Na poeira da terra.
Seremos alguém:
- Enquanto uns aos outros nos
tivermos,
Que ao menos deixem
Estaremos
bem!
Voar
os demais
Que têm asas para o fazer.
Que se desleixem,
964
Não incitem crianças, animais
Vim
Contra
quem quiser
Trepar
cá dos baixos
Olha para
mim.
E ascender!
Queiras ou não
queiras,
-
Ah! Como os répteis são aos cachos!
Só porque vim
Mudaram tuas jeiras.
968
Jamais serás
Escritor
Aquele que eras
Antes de meu toque
fugaz
O escritor,
Em tuas quimeras. Se
não faz descobertas
Sensacionais,
Vais ser
Ferido no pundonor,
Doravante
Inventa-as, desperta-as...
Outro eu a
acontecer
- Não é preciso mais:
De mim por ti
adiante.
Então é que tem valor!
965
969
Potência
Partir
Uma frase de
paixão
Vai meu filho para o mundo
Às vezes tem mais
potência
De que não conhece nada.
Do que um tiro de
canhão,
Qualquer risco é tão profundo
E joga com
frequência
Ante
a insegura passada!
Os
amantes
E esta voz a me trair
Tão
distantes
No peito rouco...
Que nem eles por si
dão!
- Vê-lo partir
É
morrer um pouco!
966
Esquecer
970
Vontade
O amor é a paz
Que a guerra
traz:
A força de vontade
De
esquecer
Não
a confundo
Quem é
capaz
Com espírito de sacrifício:
A
mulher
Força é a positividade
======================================================================
Com que fundo o
início.
Depois vieram capturar
Os judeus:
Não achei de protestar,
971
Que não eram dos meus.
Querer
A
seguir vieram capturar
Querer é
poder.
Os sindicalistas:
Não é, porém, toda a
verdade:
Não
achei de protestar,
Além do que se
quer,
Que deles não corro nas pistas.
Há muros a vencer
E a
capacidade
Por fim vieram capturar
A que
apeles
Os crentes:
De lidar com eles.
Não
achei de protestar,
Que eu sou dos inocentes.
972
Agora chega a minha vez:
Mantém
-
E já não restará ninguém
Para
gritar, talvez,
Quando o porco
mato,
Pelo refém!
É o preço de manter-me vivo,
Não é vício:
A vida mantém a vida em
recato,
976
Sem
correctivo
Velocidade
Nem desperdício.
A velocidade
É a nossa libertação:
973
A sensação
Vingança
De
me distanciar de mim,
Largando
para trás a velha identidade,
Doce é a
vingança
Purificando-me enfim.
Se, em vez de matar um
inimigo,
Como
se, no fim,
Alcança
Pudesse renascer sob outros céus:
Convertê-lo em
amigo.
No silvo dos comboios, carros, aviões
Voam os sonhos de não ter senões,
Vêm
os traços que hão-de ser os meus.
974
Ar
977
Como quem respira o ar
Série
Se percebe:
Quem nada pode
dar
A vida
Nada
recebe.
É uma série de mudanças
Tão constantes, tão constantes
Mas se pode ainda
aceitar,
Que mora despercebida
Não se
ofenda:
Na
série das contradanças
- A ternura dá
lugar
Dos instantes.
À
prenda!
Embora não manifestem
Um rosto visível,
As
mudanças me vestem,
975
Me revestem,
Não
Tornam-me
um homem possível
Quando
por mim fora investem.
Primeiro vieram
capturar
Assim
Os
comunistas:
Me prendo
Não achei de
protestar,
A mim.
Que eu não lhes era das
listas
E aprendo:
-
Minha idade
======================================================================
É a desta
maturidade.
Mexemos, mortos de cansaço,
Para
não pensarmos mais.
No derradeiro, o que quero
978
É dissolver-me no espaço
Tripulação
Em
átomos siderais.
Depois,
a maré da vida
Que importa o grande plantio,
Volta a encher-nos:
Estradas, pontes a
rigor,
- É a respiração comedida
Se nisto ninguém tem mão?
Dos gestos ternos.
- Um navio
Nunca pode ser melhor
Que sua
tripulação!
983
Escravidão
979
O lugar
Inimigo
Da
escravidão:
-
Posso falar?
Quando apenas o
inimigo
- Não!
Nos pode salvar
É mais que um perigo:
Ninguém mais tem
lar!
984
Milagres
Resta a consolação:
Vai ter de dar
lugar
Quem os milagres condena
A melhor
situação.
Talvez creia nas más sinas.
É uma pena!
Não tem razão,
980
Porque há estrelas no chão:
Luz
-
Tantos meninos e meninas!
Foi-nos dada a luz,
Fizemo-nos
humanos.
985
Domámos o fogo, a bomba o
reproduz:
Madrugada
Principiaram os desenganos.
Há verdades
eternas,
A verdadeira madrugada
Tudo a pouco se
reduz:
É assim:
- Matámos a luz,
Moras
em mim
Voltamos a ser homens das
cavernas!
Mesmo que dês outra morada.
981
986
Culpa
Dilema
Onde começa e acaba a culpa?
O
dilema
Começa em todo o
lado
De viver:
E não acaba
nunca.
Acordas, és poema
Ou isto é uma
desculpa
Antes de o poema acontecer.
E o inverso é que é vedado
A qualquer pergunta?
Oh! Céus!
987
Onde está Deus? Onde está
Deus?
Pegada
Cego,
982
Surdo
Desespero
E
mudo,
É
o apego
No penúltimo
desespero,
Com que urdo
======================================================================
Minha
teia:
E tímidos foram os abraços,
Imprimo a pegada em
tudo,
Pois
cedo é preciso entregar os braços
De mim deixo a História
cheia.
Ao campo.
A campesina criança,
De membros
lassos
988
E gestos graves,
Pressa
Não
descansa nem alcança,
É
o figo lampo
Primeiro um homem
tropeça,
Temporãmente comido pelas aves.
Gatinha mal, depois anda
E mais tardio é que corre.
Como não lhe pára a pressa,
992
Fareja em nova
demanda
Caroços
O balão que breve morre:
Foi este o primeiro passo,
Caroços
ao chão
Perdido em longa
distância,
Sempre o povo atira.
Que hoje faz voar no
espaço
Tivera-os à mão
Nossa insaciável
ânsia.
E el-rei o repetira.
Ninguém descortina, ao
ir
Nas
coisas pequenas
Prender a amarra do
estai,
Nos traem os sinais
Rumo a que ignoto
porvir
De que somos apenas
Vai.
Todos iguais.
989
993
Ausência
Segredo
Se o coração não
entendeu
A decrepitude
O que
ouviu,
Vem do medo,
Na boca não há
mentira
O
que mantém a juventude
Ao
falar:
É guardar um segredo.
É uma ausência que delira
Longe do lar.
994
Vida
990
Caso
Nem
miséria, nem tristeza,
Se
em todo o lugar correram
Muito pouco
caso
Águas sobre as pedras,
Se faz de muitos
casos
Se
as aves cantaram a beleza:
Para que
verdades
- Com a vida medras
Maiores, por
acaso,
Os que a morreram.
Se salvem nos prazos
Das
utilidades!
Pode a vida ser apenas
Quantas vezes
Nas
ervas estar sentado,
Se
mente
Segurar um malmequer
Para evitar
reveses
Do prado
Da vida ou da
mente?
E não lhe arrancar as penas
Que
nas pétalas tiver.
991
Não arrancar, que pequenas
Campo
Já
sabemos as respostas
E
são de tão pouca monta
Breves lhe crescem os
traços
Que descobri-las nem conta.
Da mesa sobre o
tampo,
Nunca valem as apostas
Escassos
Que nos segreda o rumor
======================================================================
Que há na vida duma flor.
Ao
fim e ao cabo, seguro,
O rumor
vale
É que tanto faz:
Sobretudo
- Ninguém logra atravessar o muro!
Por nada haver que o iguale.
E é tudo.
999
Feliz
995
Fartos
Ser
feliz
É
contentar-se
Há muitos que,
fartos,
Cada qual com o que
tem,
Sabendo que o pão de
agora
Enquanto, por um triz,
Nunca mata a fome de
ontem
Se nos disfarce
E menos a de
amanhã,
O que vem.
Mesmo assim tombam nos
quartos
Enquanto não rompe o alvor:
E, sem
demora,
- Enquanto não me inventar melhor!
Mal as preguiças apontem,
Dão-se à soneira malsã.
1000
Então,
devagarinho,
Infernos
Fica-lhes o pitéu pelo caminho.
Inferior
a nós ninguém
Pode ofender-nos;
996
Igual a nós, também,
Milhões
Que
ninguém ousaria...
-
Donde provém
Aos milhões, como os
usar,
A romaria
Que faria então de
mim?
Aos infernos?
- Os pobres não sabem
gastar,
De nós acima
Os poderosos,
sim.
São
Os gelos eternos
Da solidão...
997
-
Onde é que a ofensa se arrima?
Carnal
Comércio
carnal?
1001
Não é por
isso
Envelhecer
Que as pessoas deixam de ser santas.
Por
sinal,
Envelhecer é do artelho,
É o chamiço
Não
é um auto-de-fé:
Que, más e
boas,
Ser olhado como velho
Um dia, às
tantas,
É que é.
As fez pessoas.
1002
998
Alcance
Metade
A
felicidade
Do mundo a
metade
Brinca ao alcance
Tem
curiosidade
De
qualquer pessoa.
Por saber da
vida
Então por que é que há-de
Da outra
metade
Perder-se-lhe o lance?
E esta
revida.
Não é assim tão boa?
É
que a maioria,
Quando ninguém tem de
meter-se
Por mera preguiça
Onde outrem a vida
converse.
Sem qualquer remorso,
Aliás,
Nunca a quereria:
======================================================================
- Que ela desce à liça
De como os desempataria!
Mas com muito
esforço!
Sei lá como a aprenderei!
Aqui
d'el-rei! Aqui d'el-rei!
1003
Ratoeira
1008
Soldado
Os mais inteligentes,
Com as reacções lentas
demais,
Soldado aparvalhado
Impacientes,
Não presta:
Já os outros não ouvem
mais.
O maior defeito do soldado
A
impaciência
É ser besta.
É a
asneira
E
assim
Em que a melhor
inteligência
É mesmo parvo o nosso fim!
Cai na ratoeira.
1009
1004
Capitão
Ouvir
Para o preso capitão
Quando "ouvir os
subordinados
As ordens, o regulamento
É bom para os
fracos",
Sempre o deformarão
Já os sonhos ficaram
derrotados
Sob o esmagamento
E as carreiras, em
cacos.
Da disciplina.
Atarantado na cela,
A orelha atenta inclina
1005
Ao
passo da sentinela,
Risco
A
decifrar o rumor,
A
adivinhar as esferas
Espicaçados pela
omnisciência,
Que se lhe virão impor
Os mais brilhantes não vêem o cisco:
Em
traiçoeiras esperas.
Tornam-se viciados por
excelência
Se vier um general,
No
risco.
Tamanho que nos esmaga,
Somos apenas o animal
A
quem ele roga a praga.
1006
Tudo vai depender dele,
Criança
Ao
arbítrio da vontade:
A
nossa pele,
Ser
criança
A nossa identidade.
É viver tão
aturdido
É o destino daquele
Num Verão que não se
alcança
Meu parceiro:
Que tudo cai logo no
olvido,
- O prisioneiro
- Excepto o que sempre
há-de
Da Humanidade!
Prometer a liberdade.
1010
1007
Defensores
Mudança
Se
os defensores da ordem
A
mudança
A violam,
É
horrível:
Que esperar dos que a só mordem?
Perco a
segurança
Caos, confusão e ruína
E tudo é
possível,
É
o que juntos nos arrolam
Como sina.
O bem e o mal,
O novo e a velharia...
- Sem sinal
======================================================================
1011
E assim morre a vida à fome
Suicida
De
vida
Viva:
A nossa vida não
tem
- Tudo se some, tudo se some
Muito
valor.
Tão de fugida!...
Quando se envenena, quem
Não quer fim lhe contrapor?
Caso ao suicida falte a
coragem,
1014
Mete pés à
viagem
Transmutam
Da rebelião.
Sobre quem manda
À míngua de louros,
Recai doravante a
decisão
Revolucionários bisonhos
De seu desaparecimento.
As
chicotadas dos couros
Em paz, finalmente,
anda,
Transmutam em honrarias,
Com este fingimento,
Guerreiros de sonhos
O frustrado
suicida.
E fantasias.
Então, tornado herói,
Pior,
porém,
Já não é o que
foi:
É que a confusão de valores
- Corre-lhe por fim bem a
vida!
A princípio provoca desdém
E, no fim, temores
De
sermos colhidos também.
1012
Colhidos no frio
Presos
Deste
vazio
Onde
não mora ninguém!
Aos presos de opinião
Não é só o corpo que ferem.
Ao arrastá-los no
chão,
1015
Ao encharcá-los de
lama,
Louvor
O que querem
É embotar o
coração,
O louvor em várias formas,
Podar-lhes a
rama
Edulcorado
nos tons,
Da
vontade.
Elogios que transformas
Porém, desmascarada a intenção,
Num mar hipnótico de sons
Fica o efeito na
metade:
Estrumam a massa ignara.
Após as horas mais duras,
Enxerga-se a grandeza ausente
Senhor do
entremez,
Dum tamanho conveniente,
Mais convicto da razão
Vira o banal jóia rara.
E das
torturas,
Curtas virtudes aumentam,
Liberta-se de
vez
Desenvoltas,
O
coração.
Defeitos se desinventam
Obliterados.
Soltas
1013
O personagem dos fados
Sumiu
Encomendados:
Síntese
da qualidade alheia
No
final
Discretamente
oculta.
Cada
qual
Dele se pendura cheia
Se
sumiu.
A instituição culta,
Na verdade, desde que
nasceu
O movimento justo,
Em perenidade
O
partido alternativo.
Se esteve
sumindo,
Cabide elevado a custo,
A esgueirar-se de canto para esquina.
Encarna a coragem, o motivo,
Todo o manejo
findo,
A firmeza, o talento
Cumpre a
sina
Que não tem mas que lhe invento.
Na fuga
definitiva,
- Para que jamais
Nem há tempo de gravar-lhe o
nome
Se deixe de ver nele o que há no mais.
Na
retentiva.
E que,
ao fim, lá
======================================================================
Também não
há,
Tudo igual,
Que o que lá
ponho
Aqui não há padrinhos,
É o nosso
sonho.
Quem os tem ficou lá fora
O sonho, quando
aprouver,
Noutros ninhos,
De vir a
ser.
Por outros caminhos...
Aqui,
agora
Ninguém se vai corrigir:
1016
Quem à Terra veio, ao nascer,
Rebanho
Quando a
sério o vir,
Veio
aqui para morrer!
Humanal
Rebanho de criaturas,
Acossado
1019
Em
curral
Fama
De arame farpado,
- Tais são nossas
figuras!
Todos gostamos de vir a
ser
Aqui, lado a
lado,
Alguém que sempre recebe
Que futuro me
futuras?
A paga superna:
A fama reconhecida.
E
até deixar de beber
1017
Ninguém percebe
Quando
Que
a vida social moderna
Gira
em torno da bebida.
Quando nos tiram as unhas dos
pés,
Há quem creia que a fama
Arrancadas a
turquês,
É uma droga,
É o
horror
Quando droga é a cama
Da dor.
Alcoólica que a afoga.
Será por isto que famoso
Quando sem as unhas vemos um
sujeito,
A sério,
Sabemos que, de algum
jeito,
Só quem da fama já não colhe gozo,
Lhas arrancou
alguém.
Da morte sob o império?
Já não nos importa ir além.
Findaram os
sofrimentos,
1020
As unhas
renascerão,
Professor
Da vítima memória e pensamentos
Murcham na
ocasião.
Qualquer professor
Para
qualquer aluno
Este miserável
segredo
É um deus menor
Nos
arrasa,
Que distante venera.
Frio.
Com ele uno,
E nenhum
credo
Quanto
professor se altera
Ateia a
brasa
E tenta prender o destino
Neste
estio:
Em trejeitos de palhaço divino!
Queima-nos o deserto
Da distância aqui tão perto.
1021
Escolhe
1018
Aqui
A
família não se escolhe,
Temos;
Aqui não há direito, nenhum direito.
Ao
amigo que acolhe
Quem foi grande ignore-o, aqui não há grandes.
Escolhemos.
Aqui a vara fossa a eito
O curral
Das
glandes:
Um animal é um
animal!
======================================================================
1022
1026
Tudo
Metas
Filho, não vais
conseguir
Impõe-te metas
E teu máximo estás
dando?
E corre atrás delas.
Persiste, pois
quando
Quando nelas te comprometas,
Tudo se
empenha
De mero espectador
É o
porvir
Revelas
Que se
ganha.
Que devieste participante-mor
Na aventura esquecida
Da vida.
1023
Nunca
1027
A verdade e a anedota
Ingente
Não são nunca
incompatíveis:
As anedotas
melhores
Frequente
São verdade que se
nota
É apostar
E as verdades mais
credíveis
Numa tarefa ingente
De anedotas os humores
Que
nunca terá lugar,
Por vezes
revestem.
Definitivamente
A vida a
sério
Preterida.
Não é um
cemitério
O que importa é projectar
De que me
vingo,
A
meta que pode e vai ser atingida.
São os factos que se
vestem
Tudo o mais falhou a vida.
Para as festas de domingo.
1028
1024
Degraus
Adeus
Mais
fácil é a tarefa se em degraus
Digo o adeus
definitivo
A meta a atingir for dividida.
A uma avó que foi
querida
Primeiro a margem de além,
E de repente não
vivo,
Defronte aos vaus,
De mim faço a
despedida.
Elege como primeira medida.
A seguir, porém,
Algo de feliz e
jovem
Determina, pedra a pedra,
Morre em
mim,
Como
a passada te medra
Feito de nadas que jamais se
movem.
Rumo ao sonho que proponhas
Que seja a vida que sonhas.
Permanece
A dor até ao fim:
O vazio jamais
desaparece.
1029
Prazo
1025
Para que a vida te prometa
Medonhos
Mais
do que qualquer acaso,
Escolhe
a meta,
Todos têm
sonhos.
Impõe-te um prazo.
O que nos provoca abalos
É que nos tornamos
medonhos
Marca-te o prazo um limite
Se não aprendermos a
realizá-los.
Para a busca
A
que o agir te solicite
Do que no sonho te ofusca.
É uma seta
A que um alvo te deu azo:
======================================================================
Uma
meta
1033
É teu sonho com um
prazo.
Saída
Não é a sede de
infinito
1030
Que nos atordoa:
Arrependimento
-
Quando não há saída para o grito,
Não
há saída para a pessoa!
O arrependimento a sério
Pelo mal que nós causámos
É que nos dará o
império
1034
Das mudanças que
encetamos.
Fendas
Se, arrependido,
partilhar
A água
A primavera após o
inverno,
Não tem buracos, é lisa.
Ensino o mundo a
retornar
Não
sofre a mágoa
Do
inferno.
Das fendas em que o mundo se eterniza.
Disfarçadas com papel,
As fendas e buracos deste mundo
1031
Ei-los, a granel,
Perguntas
Cavando
à minha frente
Um
abismo dia a dia mais profundo.
Faz perguntas, que as
pessoas
E
eu que os não vejo, de recente
Vão achar-te
fascinante
Em tudo o que me seduz,
Se de si, das coisas
boas
Eu que, fiel, junto meus cacos
Que tocam para
diante
Em demanda da luz
As incitas a
falar.
Que
não tem buracos!
Ficam tão lisonjeadas
Que nem vêem, se calhar,
Quão estúpidas
topadas
1035
Na matéria, ao
perguntar,
Belo
Tu vais dando.
-
Quando
Pobre e frágil mundo!
Lhes ouves os interesses
Tudo é mais belo
Jamais então lhes
esqueces,
Se ameaçado a fundo,
És um deus
alumiando.
Incluindo o débil elo
Que cada qual for.
1032
Desabrochas, ágil
Labrego
Flor
após a geada,
Desesperada-
Tão
labrego
Mente
corajosa e frágil.
Me sinto ante a gente-bem
Que não tenho
sossego
- E o Universo inteiro reza
Com a palha a sair-me das
orelhas
A beleza.
E a penetrar além:
Nas atitudes
Doravante
azelhas
1036
Que as
virtudes
Vaca
Vernáculas entre eles têm!
Todavia, valho o que
valho,
É por dentro este lamento
Sei-o,
Contra o que não está certo.
E mais valho quando àquele
meio
Sou a vaca apaixonada
Involuntário sirvo de
soalho.
A mugir de tormento
Se troco da
fantasia,
No campo deserto:
Ainda um
dia
- Não vale de nada!
Os atrapalho!
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1037
Onde
acontece, profundo,
Culpa
Devagar,
O
novo mundo.
Aprende a pedir desculpa,
Que conquistas simpatia.
A
culpa
1041
É muito má
companhia.
Quando
Quando ela apareceu,
1038
Cri ter agarrado a vida
Descobrir
Nas
mãos.
Em cada geração, cada
escritor
Ao contrário, eu
Tem de descobrir a
vida.
Com a vida fiquei perdida
O tempo às convenções cria
bolor,
Na sementeira dos grãos.
O que era novo é já carcaça apodrecida.
Só a coragem duma
voz
Procurei onde
prender-me,
Pode soprar a vida real
Uma argola na arcada,
Soterrada em
nós
Mas depois de perder-me
Sob décadas de pó literário
Não encontrei nada.
Que nada vale:
Só a coragem inaugura o
itinerário.
Porém,
ao procurar,
No gesto, no esforço,
Por mero azar,
1039
De náufrago o meu escorço
Público
De
revelar me acabou
O
que, nem sei, mais procurava:
O público
perfeito
- Eu próprio, eu - breve sobrevoo
Do
escritor
Sobre
vulcões de lava!
É singular:
Basta um único leitor
Que o tome a
peito
1042
Sem o móbil insosso de
criticar.
Cidades
Reveste-o então de pele
As grandes cidades da desordem organizada,
E de
lugar:
Da
justiça demente em cada
Solitário inaugura
nele
Gregarismo frio,
O mistério a
criar.
Levam um homem a sentar-se, vazio,
Serenamente à lareira
Enquanto, à beira,
1040
Um outro para o lado
Estropiá-los
Tomba
selvaticamente assassinado,
Ignorado
na esteira.
O medo dos sonhadores
Leva sempre a
estropiá-los.
Ignorado, ignorado!
De que valem os penhores
Que lhes borbotam dos halos?
1043
Temos sempre mais
apreço
Surdez
Pela banca, o capital,
Do que por quem paga o
preço
Quando em ti ouço a surdez
Do que qualquer deles
vale.
Duma voz que é uma pedrada
Perco minha solidez,
Quem lhes dá o dinheiro
sonante
Corpo
de alma esvaziada.
A ganhar
É quem levou o sonho por
diante
Não sou lar de porta aberta,
Até àquele
lugar
Ser eu próprio já nem tento,
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Torno-me casa deserta
Que
seria dum artista
Por onde assobia o
vento.
Da fome ao ferrão medonho?
- Vai pagar para que exista
Sem músculos e sem
sangue,
Àqueles dando-lhes sonho.
Sem sentimentos, ideias,
Não há nada de que
mangue
E no sonho é que, afinal,
No meio das tuas teias.
Todos vêem seu fanal:
- Que um pão
No fim
Não
é mais que dum sonho a encarnação!
Não fui eu só que perdi:
Se não resta nada em mim,
Nada restará de
ti.
1047
Secreto
Em mãos,
Do encontro que
prometia,
Ter um código secreto
Lembramos, pelos
desvãos,
Será mil vezes melhor
Que somos casa
vazia.
Que as palavras em concreto
Que apenas falam de cor.
1044
Um
código, porém,
Silêncio
Fala
de mim
Sem
Teu silêncio
grita
Nenhum toque de clarim.
Com tal pavor
Que é palavra, mas
maldita,
E
quando a palavra então cala
É um silêncio
ensurdecedor!
É quando em nós tudo fala.
Nela inauguro,
1045
Inteiro, o futuro.
Cães
Os homens adoram cães
1048
Por se verem ao
espelho.
Visão
Por muito que tenham mães,
O casco
velho
Não te pudera ver, não.
Não há educação com que
caia.
Mas ouvir a tua voz
De manhã, quando ele
saia,
Foi
mesmo ter a visão:
Qualquer homem que se
preze
Eras tu, éramos nós!
É normal que atrás despreze,
Ignorado,
E agora, na própria ausência,
O esterco que houver
criado:
Vejo-te na voz redonda.
- Um poema, uma
lancheira
Inundaste-me, na essência,
Ou outra amada
lixeira
Já não passo duma onda,
A que haja entregue o cuidado...
Ali ficará de
lado,
Onda de som em que, após
Tudo jogado no chão,
Teu
falar,
Tal qual como faz o
cão.
Nasce o mar
Dentro de nós
Com rotas demais abertas
1046
A
todas as descobertas.
Queda
Ter a queda para a
arte
1049
É ser um
irresponsável,
Sociedade
Quem trabalha é quem reparte
A comida
sudável.
A sociedade alinhou
Entre
os homens tantos laços
======================================================================
(Cada qual ela
enredou
Se queres ter refrigério
Em leis, credos e
embaraços,
Da vida na caminhada,
Nos totens e nos
tabus),
Não digas tua pobreza.
Que o homem se
transformou,
Tua reza
Dos primevos puros
nus,
Não é produto de venda
Num desvio à
natureza
No lugar.
Que a natureza
criou,
Di-la só a quem partilhar
Sobre que ninguém tem
presa,
Contigo sua fazenda.
Que, de tanto variar,
Não há como controlar.
1054
É o fim, é o
fim!
Louvores
E só nisto
É que
existo:
As
nossas bocas espalham
- É que lá me encontro a
mim!
Os teus louvores
- Cantam as bocas que calham
Ao senhor dos senhores.
1050
Pisaduras
Porém,
quando aquilo é lavrado
Na
boca dum canhão,
Desperta o
dia
Que louvor é que é cantado
Com as freimas rasgadas de
agruras?
Pelo trovão?
- À noite a casa
acolhia,
Que deus tem a sorte
Não o corpo, um acúmulo de
pisaduras.
Presa a tal boca de morte?
A verdade é que jamais houve um deus
1051
Cujos
canhões
Virtudes
Não
hajam trovejado destruições
Aos
céus.
As virtudes de tostão furado,
Quando querem convencer-se
De que valem dinheiro
contado,
1055
Abocanham quanto se
converse:
Mulher
Toda a honra é porcaria,
A grandeza é
canalhice...
O homem luta,
E não há
sabedoria
A mulher sonha
Que resista à
sandice!
E na medonha
Disputa
1052
A fantasia
Lavra
Gera
os deuses
Que
a mulher cria
O povo sempre se
empala
Na hora dos adeuses:
Quando a língua não entala
Porque o oiro que lhe
convém
Tem a imaginação
Não o
tem.
De voar ao infinito
De facto, quando o oiro
fala,
Com
a segunda visão
O mais
cala.
Que dá corpo a cada grito.
- Por isso quem o País lavra
Jamais tem a
palavra!
Os deuses, como nós,
Vão nascer e morrer
A
sós
1053
No seio duma mulher.
Pobreza
A pobreza, mesmo
honrada,
Soa como vitupério.
======================================================================
1056
De
quanto por ela invistas.
Palpites
Não
imites
1061
Uma voz
autorizada,
Viagem
Tenta imitar-lhe os palpites
Com que acerta na
jogada.
A mística transcendência
É
uma fé cuja vivência
Sempre caminha em viagem:
1057
Alma e corpo em derrapagem
Outono
Fora
do tempo e lugar
Onde
a deus banalizar
É o Outono uma
estação
Qualquer representação
Do ano, como da
vida,
Que não bata ao coração.
Logo seguida,
Pelo Inverno,
não,
Exploradores
Antes pela
espera
Da noite pelos caminhos,
Da vindoira
Primavera.
Buscam os fulgores
Das rotas de que há rumores:
-
São os nossos adivinhos!
1058
Insectos
1062
Nós somos todos insectos
Silêncio
Da terra nos figos lampos
E cremos, sem mais
decretos,
Quando o crepúsculo chegar,
Sermos todos
pirilampos.
Adense-o.
Repousar
O que seduz
Nas asas do silêncio
É a
promessa
É o lugar
Dessa
Da prova do fogo,
Luz.
Quando importa navegar
Todo o mar em que me afogo
Da
terra até ao confim,
1059
Até ao confim de mim:
Exercício
Repousar,
em meio ao grito
Do
silêncio do infinito.
Quem diz que tempo não tem
Para o exercício físico
Convém
1063
Que mais cedo ou mais
tarde
Natureza
O arranje e
guarde
Para quando ficar
tísico.
Ainda há um século vivias
Convém
Comungando a Natureza,
Manter a
calma,
Tu davas-te e recebias
Porém,
Mais do que ela, uma surpresa:
Que anda já tísico de
alma.
A
ti próprio em inteireza.
Hoje em dia, a ligação,
1060
Perdida pelo caminho,
Felizes
Tornou-se
utilização
De
lazer em que o carinho
Não aguardes que os
demais
Não sabe a pão nem a vinho.
Sejam felizes por ti.
Ser feliz requer-te mais,
Como requer uma
huri:
As conquistas
======================================================================
Lagos para navegar,
Montanhas para alpinismo,
Os vales de esqui lugar
E as florestas para o abismo
Em que me procuro e crismo.
Estudo
O perdido rumo:
- É tudo
Mero artigo de consumo!