Quarta Redondilha
PARA AO PORVIR
DAR VALOR
Escolha um número aleatório entre
416 e 537 inclusive.
Descubra o poema correspondente
como uma mensagem particular para o seu dia de hoje.
416 - Para ao porvir dar valor
Para ao porvir dar valor
Fundirei saber e gesto
E os frutos de tal apresto
Na quadra enxuta os vou pôr.
Aos horizontes empresto
Das palavras o fulgor
Como quem na estrada um ror
De marcos coloca presto.
Então vislumbramos onde
Os roteiros encaminham
Nos horizontes que sonde
O que os sonhos adivinham.
Mantenho à frente da vista
O alvor do fim duma pista.
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417 - Rumo |
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O rumo é desconhecido, |
Só factos são elemento |
Que orientam no sentido: |
- Busca-os a todo o momento! |
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418 - Peregrinos |
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Todos somos peregrinos |
Da viagem nas etapas, |
Mas alguns moldam destinos: |
- Têm os melhores mapas. |
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419 - Probabilidade |
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Ciência ou probabilidade, |
Por mais que ande contra mim, |
Ignora, enfim, a verdade: |
- Tudo é milagre no fim. |
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420 - Gastar |
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Tempo a se desperdiçar |
Enquanto a vida se afasta |
É tempo para gastar |
Todo o tempo que nos gasta. |
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421 - Semear |
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Há um gosto fundo e viril |
Em semear um país |
Com povo cheio de Abril |
A crescer desde a raiz. |
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422 - Deixas |
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Correm, correm anos |
E mingam as queixas. |
Do fado aos enganos |
Ninguém prende as deixas. |
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423 - Desculpas |
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Não uses nos pontos fracos |
Desculpas por desistir, |
Salta por cima dos cacos, |
Tenta em frente outro porvir. |
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424 - Oportunidade |
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A grande oportunidade |
É na vida bem pequena |
E é vitória de verdade |
Não a perder nem ter pena. |
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425 - Vela |
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Que importa insultar a estrela |
Do escuro no terror vão? |
Mais vale acender a vela |
Que ralhar à escuridão. |
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426 - Destino |
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Se destino é o que é fatal, |
Quer esteja longe ou perto, |
Que sentido é o do sinal |
De quem tem destino certo? |
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427 - Louco |
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Todo o mundo anda a correr, |
Ninguém vê que anda a ser louco: |
- Tudo o que é bom tem de ser |
Construído a pouco e pouco. |
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428 - Plano |
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Quando teu plano for bom |
Aquando da concepção |
Vê que lhe não mude o tom |
A hora da execução. |
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429 - Medos |
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Com medos eu me atormento? |
Para onde quer que o vento |
Esteja a ir, não é nada: |
- Só eu fico na alvorada. |
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430 - Praga |
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Se não há nem uma estrela |
Guiando o rumo do chão, |
Melhor é acender a vela |
Que uma praga à escuridão. |
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431 - Distância |
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Cautela com a distância |
Entre o que sonhas e o acto: |
Onde é bênção a ignorância |
É loucura ser sensato. |
432 - Lambe |
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A vida tem mais sabor |
Quando as desgraças a tomem: |
Sabe a vida bem melhor |
Quando a morte lambe um homem. |
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433 - Verde |
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O verde no campo aos molhos, |
A fruta a rir pelas franças… |
- Se a verdura entra nos olhos, |
Almas forra de esperanças. |
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434 - Pretexto |
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Um pretexto de viver |
Vale mais que uma certeza: |
Se um objectivo se quer |
São coragens que embeleza. |
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435 - Antídoto |
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Quando falha quanto espero |
Não me vou jogar ao chão, |
Antídoto ao desespero |
É apostar em mais acção. |
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436 - Sombra |
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Toda a acção que alguém cometa |
Lhe rodeia os pés de alfombra, |
Que a correr mesmo o planeta |
Ninguém foge à própria sombra. |
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437 - Nora |
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Pouco importa lamentar, |
Sonhar no fogo dos céus: |
Nora sem dono a puxar, |
Cá vamos na mão de Deus. |
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438 - Fotografar |
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Fotografar é nos vermos |
À escala da própria história: |
Certifica-me em meus termos, |
Ressuscita-me em memória. |
439 - Sepultura |
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Mede a altura do que intentas: |
Mais alta a cavalgadura |
Nos volteios e nas tentas, |
Tão mais funda a sepultura. |
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440 - Encaixo |
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Toda a acção tem um destino |
Num mais largo onde me encaixo: |
Não volto a ser pequenino, |
Ninguém cresce para baixo. |
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441 - Pé |
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Aquilo em que temos fé |
E aquilo que nós tememos |
Atraímos para o pé: |
- Que é que, pois, escolheremos? |
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442 - Somente |
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Depositar esperança |
No futuro tão somente |
É mau sinal: nada alcança, |
Dele ao nada ler presente. |
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443 - Tons |
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Podem os tons de aterrar |
Da vida ser bem medonhos, |
Tudo nos podem roubar, |
Não, porém, os nossos sonhos. |
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444 - Bajulador |
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Do rico o bajulador, |
Quase tanto como o rico, |
Por instinto vai-se opor |
Da muda ao menor salpico. |
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445 - Ratos |
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Sempre o sonho sangraria |
Da pegada dos sapatos: |
- Por que à porta da Utopia |
Há sempre a Quinta dos Ratos? |
446 - Perdeu |
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Quem perdeu pelo caminho |
As pegadas já da vida |
É um fantasma que adivinho |
Na morte a que me convida. |
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447 - Luminescência |
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Há quem irradie luz |
Com tanta luminescência |
Que em consciência me traduz |
Minha própria consciência. |
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448 - Soezes |
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Quando só coisas soezes |
Devieram ideal, |
Torna-se a tristeza, às vezes, |
Felicidade final. |
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449 - Estrada |
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Na estrada das excelências |
Não há limite de idade, |
Nem mesmo, contra aparências, |
Sequer de velocidade. |
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450 - Adivinho |
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Leito de azul fantasia |
Onde me sonho adivinho, |
Das árvores nasce o dia |
Florido em lençóis de linho. |
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451 - Complicar |
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Nunca tentes complicar |
O que fácil pode ser |
E a vida então tem lugar |
E é o lugar de te fazer. |
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452 - Faúlha |
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No mundo que vais tu ser? |
Vaga faúlha de vida |
A lutar até morrer |
Por não se apagar vencida. |
453 - Insepulto |
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Um dia será verdade: |
O civilizado e culto |
Penetrará nossa idade, |
Mata o bárbaro insepulto. |
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454 - Gargalhadas |
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Nas terras ainda despertas |
Do mundo às mil e uma estradas |
As portas entreabertas |
Riem sempre às gargalhadas. |
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455 - Lama |
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Um verdadeiro cristão |
Lama adora a que ilumina |
Por acaso, num torrão, |
Um chispar de luz divina. |
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456 - Missão |
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Tem por missão o futuro |
Ser para nós perigoso: |
A cultura que inauguro |
Destrói aquela que gozo. |
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457 - Delida |
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Se uma razão tens de vida, |
Dá-te inteiro, coração, |
Ou tens a vida delida |
Numa vida sem razão. |
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458 - Assentes |
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Primeiro, prendas, presentes, |
Depois, neles, um ideal: |
De avós meu lar tem assentes |
Os pés em cada sinal. |
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459 - Mouco |
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Vive o mundo sempre mouco |
A querer tudo por junto. |
Pior que mouco, ele é louco: |
- Muitos poucos fazem muito! |
460 - Depressa |
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Quem a passada não meça |
Não tem viagem nenhuma, |
Quando alguém a mais tem pressa |
Nunca chega a parte alguma. |
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461 - Regalo |
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Pode um sonho ser regalo, |
Nem que em eterno devir: |
Se existir, hei-de encontrá-lo, |
Se o encontro, há-de existir. |
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462 - Adorno |
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Se não fora o novo adorno |
Quando eterno torno a mim, |
Ciclo de eterno retorno |
Era o fim sem mais ter fim. |
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463 - Disfarce |
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Tanto sonho sem disfarce, |
Tão longe de ser verdade, |
Que até tremo ao transformar-se |
A promessa em realidade. |
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464 - Celebrar |
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Celebrar uma derrota |
Quando foi máximo o esforço |
E de sacrifício rota |
- É de vitórias escorço. |
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465 - Derrotado |
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Se logo não triunfar, |
Descubra se o derrotado |
Só por ter participado |
Não recebe algo em lugar. |
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466 - Pedras |
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Que importa que sofras, doas |
As pedras de teu destino? |
Serão sempre coisas boas, |
Que são teu eu clandestino. |
467 - Descoberta |
|
A descoberta de mim |
À desordem implantada |
Empresta a marca do fim, |
É a força da madrugada. |
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468 - Planura |
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O silêncio, a solidão |
Da planura rumo aos céus |
Nos desperta à imensidão, |
O véu soergue de Deus. |
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469 - Lega |
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Quem aos livros põe portões |
é mais que não deixar ir: |
Os livros são as lições |
Que a morte lega ao porvir. |
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470 - Triste |
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Triste é saber o caminho |
Onde o sonho tem lugar |
Sem capaz, como adivinho, |
Ser eu de a cabo o levar. |
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471 - Vitória |
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A vitória vem da altura, |
Ao nada já ser fecundo, |
A que saltar a aventura |
De quem bateu lá no fundo. |
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472 - Paraíso |
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Mora o paraíso perto |
Mais que muitos pensarão: |
O paraíso anda aberto |
A todo o bom coração. |
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473 - Leira |
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A melhor maneira |
De o porvir prever |
É criá-lo à leira |
Por mão do que o quer. |
474 - Representa |
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Aquele que de feliz |
Todo o dia representa, |
Devém naquilo que quis, |
Ao fim ri quanto aparenta. |
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475 - Almofada |
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Não vegetes, ocioso, |
Na almofada narcisista: |
Dedica-te antes, fogoso, |
Ao que, acaso, houver em vista! |
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476 - Milagres |
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Acreditar em milagres, |
Se com eles tu te impeles, |
Bom é que a tal te consagres, |
- Porém, não dependas deles! |
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477 - Morbidez |
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Não é mórbido um artista: |
A morbidez é a matéria |
Que ele percorre na pista |
Duma mensagem sidérea. |
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478 - Maravilha |
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Do que crê saber, mais sabe |
Qualquer homem no que brilha. |
Menos que deseja cabe |
No sonho que o maravilha. |
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479 - Estranhos |
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É sempre deixado a estranhos |
O condão de revelar- |
- Me a mim próprio: quantos ganhos |
Ignotos trilham meu lar? |
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480 - Incerteza |
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A incerteza nos encanta: |
Em tudo a penumbra certa |
Maravilha igual implanta, |
Fica ao mundo a porta aberta. |
481 - Inacessível |
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Nada fica inacessível |
Ao pesar o que se alcança: |
Abre a porta o imprevisível, |
Toda a vida é uma esperança. |
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482 - Semeia |
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Toda a vida é um quarto de hora |
De minutos pressurosos: |
Semeia-a, pois, sem demora, |
Dos frutos mais saborosos. |
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483 - Descontentamento |
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Será o descontentamento |
O passo primordial |
Do progresso que me invento |
Rumo a uma pátria ideal. |
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484 - Morte |
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A morte parece o mal, |
Luta a vida sempre contra. |
Mas se a morte não for tal, |
Onde é que a vida se encontra? |
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485 - Maneira |
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Descobri que muitas vezes |
Posso ir à minha maneira |
Quando não vêm mais reveses |
Da minha que doutra jeira. |
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486 - Vigairada |
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Se uma coisa vai sem ser |
Requerido dizer nada, |
Deixe-a ir e vá viver |
O ar puro da vigairada! |
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487 - Quinteiros |
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De minha terra os quinteiros |
São encontros, fantasias, |
Onde, aos alvores primeiros, |
Eu nasço todos os dias. |
488 - Verdes |
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Há quem mui lamente a perda |
Dos sonhos dos verdes anos |
Sem reparar que o que ele herda |
É o que ele matou de enganos. |
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489 - Pernas |
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Não desarmes com sarcasmo |
Ante o suor da subida, |
Optimismo e entusiasmo |
Serão as pernas da vida. |
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490 - Preocupações |
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Quer te ocupes do futuro, |
Quer te não ocupes dele, |
Preocupações, te auguro, |
Não são o que o bem impele. |
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491 - Culpado |
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Se não sabes que fazer |
Da vida, não vás culpado |
Entre os mais envelhecer |
Felizes sem tal cuidado. |
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492 - Caixote |
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Dar conselho é resgatar |
O caixote do passado |
Reciclando-o, a dar lugar |
A o vender revalorado. |
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493 - Sentado |
|
Se ficas sentado à espera |
Da felicidade, perdes |
O teu tempo, pois se gera |
No suor dos campos verdes. |
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494 - Adies |
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Não adies o teu ser |
Entregue a vãs fantasias: |
- Diz o que tens a dizer, |
Não aquilo que “devias”! |
495 - Linhagem |
|
A evolução significa |
Que nós somos devedores |
À linhagem longa e rica |
Dos que são os vencedores. |
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496 - Beatitude |
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Sonhar é uma beatitude. |
Esperar que, bem ou mal, |
De ocorrer tenha a virtude, |
Isto é que é a vida real. |
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497 - Aumento |
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Envelhecer, para além |
Das cãs que haverá de ter, |
Pode a sério ser também |
O nosso aumento do ser. |
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498 - Apanho |
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A maior sabedoria |
É ter um sonho tamanho |
Que da vista o não perdia |
Correndo, a ver se o apanho. |
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499 - Sombras |
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Teus projectos vê o que afectam |
Em todo o meio envolvente, |
Que as grandes obras projectam |
Grandes sombras sempre à frente. |
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500 - Agasta |
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Ficar de parte não basta, |
Importa saber barrar |
O caminho ao que me agasta, |
De injusto se me antolhar. |
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501 - Ror |
|
Quando um homem se revolta |
Tem o motivo decente |
De impedir que dele à volta |
Um ror de medos aumente. |
502 - Adiar |
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Adia o que não puderes |
De imediato empreender: |
Queiras lá quanto quiseres, |
Adiar não é esquecer. |
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503 - Comezinho |
|
Um indivíduo sozinho |
Pode, tendo decisão, |
Fazer mais que, comezinho, |
Das massas o turbilhão. |
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504 - Acredita |
|
Naquilo que um homem quer |
A esperança deposita |
E tanto em tal acredita |
Que o que não é vem a ser. |
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505 - Êxito |
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Um facto, um facto convence: |
Um êxito que nos guia. |
O resto é a falha em que pense, |
Quando muito é teoria. |
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506 - Distância |
|
Distância é questão de espaço |
Como de tempo é questão: |
Mede o tamanho dum traço |
Mas dum traço de união. |
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507 - Ninhos |
|
Só a distância abre caminhos |
E beleza de paisagens: |
Sem ideais quem vai aos ninhos |
E o dias muda em viagens? |
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508 - Engrandece |
|
Como a distância engrandece: |
Deixa tempo e ligar são, |
Não só para quanto esquece, |
Mas para a imaginação! |
509 - Vitória |
|
A verdadeira vitória |
É transformar o inimigo, |
Para além de qualquer glória, |
No que for um vero amigo. |
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510 - Voz |
|
De mais próximo ao destino, |
Sem a voz da razão culta |
É que um sonho de menino |
É maior que gente adulta. |
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511 - Enleio |
|
Um livro não sou que leio, |
É sempre ele que me lê |
Quando me prende no enleio |
Dum mundo só ali de pé. |
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512 - Diferença |
|
Metro de quem é importante |
É do tamanho que vença |
Ou de cultivar, distante, |
Apenas a diferença? |
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513 - Subindo |
|
Os anos somam tão alto, |
Envelhecemos subindo: |
É sabedoria o salto |
Que o perto longe vê indo! |
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514 - Busca |
|
Ser homem é procurar |
Sempre um mais que nunca é, |
Que do mais sempre é o lugar |
Onde a busca não tem pé. |
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515 - Polar |
|
Um mito é uma ideia-força, |
Serve de estrela polar. |
Que importa que se distorça? |
- Vale enquanto ele guiar. |
516 - Fábula |
|
Que importa se Ele é uma fábula, |
Fábula os milagres dEle? |
É milagre haver tal rábula |
E importa é o que nos impele. |
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517 - Caminho |
|
Um caminho é sempre bom, |
Basta-lhe ser um caminho. |
Erro é quando isto não são, |
Mas fim de que me avizinho. |
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518 - Catarse |
|
Os vagabundos ofertam |
À nossa angústia a catarse: |
Em embrião nos alertam |
Para um Homem sem disfarce. |
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519 - Novidades |
|
São livres as novidades |
Como é livre uma alma de homem, |
Não há prisão, não há grades |
Nos sonhos que nos consomem. |
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520 - Granjeia |
|
Segue, segue a tua ideia! |
Quem segue a ideia dos mais |
Não faz nada nem granjeia |
Obra que deixe sinais. |
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521 - Mando |
|
Um homem vivo é deveras |
O inteiro Universo que há-de |
Submeter-se, além das eras, |
Ao comando da vontade. |
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522 - Beira |
|
A carne e o sangue de Deus |
São a natureza inteira, |
O nosso espelho dos céus, |
Quase o longe à nossa beira. |
523 - Grito |
|
Dizes que és, serás então… |
Mas o quê? - eis a questão. |
Pois sendo, basta teu grito: |
Participas do Infinito! |
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524 - Ausente |
|
Juntos há cinco minutos, |
Já me perguntas as horas! |
Vives sempre rumo aos frutos |
Em que ausente te demoras. |
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525 - Entrosa |
|
O presente é aquele ponto |
Independente da idade |
Em que o tempo, sem desconto, |
Se entrosa na eternidade. |
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|
526 - Linhas |
|
Se te dão papel de linhas |
Escreve ao contrário delas: |
Então verás que adivinhas |
Por trás das nuvens estrelas. |
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527 - Impossível |
|
A política é o possível, |
Mas, levá-la a funcionar, |
Mais depressa um impossível |
Me requer que ande a tentar. |
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528 - Intérmino |
|
Nenhum discurso precisa |
Intérmino de afinal |
Ser para sua divisa |
Devir de vez imortal. |
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529 - Somos |
|
Todos temos de pensar |
Que, antes de virmos a ser, |
Já somos, neste lugar, |
E somos alguém que quer. |
530 - Extraordinário |
|
Por que é que o sonho desperta |
Dentro da vida o lendário? |
- Na altura certa, à luz certa, |
É tudo extraordinário! |
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531 - Horto |
|
Como se luxo e conforto |
Foram o cerne da vida! |
Da felicidade o horto |
É o entusiasmo da lida. |
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|
532 - Átomo |
|
Do átomo aquilo que importa |
É descobrir nele o todo, |
Dum amor cósmico a porta |
Da verdade para o bodo. |
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533 - Arranha-céus |
|
De arranha-céus o elemento |
A raspar o céu, medonho, |
É barreira do cimento |
A separar-nos do sonho. |
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534 - Batota |
|
Certo, há batota no jogo. |
Não deixes que te detenha: |
Se não aposto, me afogo, |
Não venço nem mesmo a manha. |
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535 - Peritos |
|
Escuta sempre os peritos, |
Dirão o não e o porquê. |
Ignora depois os gritos, |
Faz isto: tu próprio sê! |
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536 - Dispara |
|
Dispara um tiro depressa, |
Perturba o alvo durante |
O tempo que a mira peça |
Ao perfeito tiro adiante. |
537 - Geração |
|
Geração que ignora a história |
Perde o passado, é seguro, |
Mas na perda da memória |
Perde também o futuro. |