DÉCIMO PRIMEIRO VERSO
Dum espartilho donde brota o mar
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um número aleatório entre 1027 e 1143 inclusive.
Descubra
o poema correspondente como uma mensagem particular para o seu dia de hoje.
1027 - Dum espartilho donde brota o mar
Dum espartilho donde brota o mar,
Como dum seio donde amores nascem
É que nos vem navegar
Onde as vidas pascem.
É dum úbere mungido
Que o leite nos corre:
Não fora pelos dedos compungido
E a vida inteira dentre as mãos nos morre.
A quadra munge o sentido
Das tetas da consciência
Como um leite preferido
A qualquer outra evidência.
1028 - Lisonja |
|
Por estúpida que seja, |
A lisonja nos agrada. |
Confirma quanto se almeja: |
- A imagem de
nós sagrada! |
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1029 - Meia-idade |
|
Meia-idade é
quando a gente |
Contradita quanto faz: |
- A ideia diz:
”para a frente!”, |
Geme o corpo:
“para trás!” |
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1030 - Ciência |
|
A ciência nos explica |
Que um vírus se
multiplica. |
Não nos explica
quanto ama |
O choro que
alguém derrama. |
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1031 - Violino |
|
A felicidade é
um hino |
Que se aprende
a praticar |
Como aprendeu violino |
O virtuoso sem par. |
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1032 - Livro |
|
Um livro jamais
é um móvel, |
Pois por dentro
e fora mora, |
Mas mesmo ao
lar mais imóvel |
Nada melhor o decora. |
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1033 - Maneira |
|
Ser pai de boa
maneira |
Ensinar é uma criança |
Sem dar-lhe a
resposta inteira |
Mas o trilho
por que a alcança. |
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1034 - Fera |
|
Cuidado com esta fera |
Na fronteira do degredo: |
- Um homem que desespera |
É sempre um
homem sem medo. |
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1035 - Sarna |
|
Ter ideias às mancheias |
Não basta, se
pegam sarna: |
O problema das ideias |
É o do verbo
que as incarna. |
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1036 - Cativa |
|
Não basta uma
ideia viva, |
Que não cativa
por norma. |
A ideia que nos
cativa |
Cativa-nos pela forma. |
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1037 - Fome |
|
À hora de
termos fome |
Mais vale um
tostão na mão |
Que o saber que
nos consome |
Dos sábios a multidão. |
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1038 - País |
|
Não é riqueza
ou encanto |
Nem poder de comandar, |
- Um país só
vive tanto |
Quanto vive seu pensar! |
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1039 - Tropel |
|
Prazer e felicidade |
Correm, correm, em tropel: |
O prazer fugaz
se evade, |
Ser feliz é ser
fiel. |
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1040 - Rijeza |
|
Felicidade e riqueza |
Não se excluem mutuamente: |
Se esta àquela
traz rijeza, |
Não a cria, inversamente. |
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1041 - Humor |
|
Humor pode transformar |
A discussão na alegria |
De ambos
jogarem ao ar |
As razões que
se teria. |
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1042 - Memórias |
|
Das conversas ao jantar |
Longas duram as memórias |
Quando foram o lugar |
De contar, contar histórias. |
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1043 - Erros |
|
Não camufles
mal de bens, |
A ver se
ninguém confere: |
Admite os erros
que tens |
Antes que outro
os exagere. |
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1044 - Sexo |
|
Amadurece teu sexo, |
Se queres gozo
e conforto, |
Como em antigo complexo |
Apuras vinho do Porto. |
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1045 - Garrafa |
|
A garrafa da memória |
Vive desta condição: |
Depura, por nossa glória, |
Da vida só
quanto é bom. |
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1046 - Espécie |
|
Somos nós a
espécie estranha |
Que dum lado é
maravilha, |
Doutro monta,
do que ganha, |
A si própria
uma armadilha. |
|
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1047 - Resposta |
|
Quem somos nós?
A resposta |
É bem mais que
uma missão, |
Configura a nossa aposta |
De um dia em
nós se ter mão. |
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1048 - Limites |
|
Por mais que
corra ou que pare, |
Por mais que
olhe ou que me fites, |
Encare-me ou
não me encare, |
Sempre esbarro
em meus limites. |
|
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1049 - Inteira |
|
Aquele que queira |
Compreender a fé |
Disto é que se
inteira: |
- É que ele não
crê! |
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1050 - Impotência |
|
Quando um homem
vence Deus |
Não é nunca com
ciência, |
Vence-o com
nadas bem seus: |
- Vence-o com
sua impotência! |
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1051 - Gravidade |
|
Problema da Humanidade |
É não ser gratificante |
Adorar a gravidade |
Em lugar dum
Deus amante. |
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1052 - Excesso |
|
O tamanho da grandeza: |
Um nada foi no
começo, |
Hoje o infinito embeleza |
De vidas todo
este excesso. |
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1053 - Hereditária |
|
Só uma linha hereditária |
Deu toda a vida
de agora: |
Qualquer
paixão, por mais vária, |
Sempre um primo
é que namora! |
|
|
1054 - Parente |
|
Toda a vida é
copiada |
De semente p’ra semente: |
Assim, ao fim
da jornada, |
A vida é toda
parente. |
|
|
1055 - Multidões |
|
Biliões e biliões |
De vidas na
longa estrada |
E todas as multidões |
São de vida aparentada! |
|
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1056 - Formigas |
|
As formigas não
têm alma, |
Por isso não encontrais |
Como
abalar-lhes a calma |
Com obrigações morais. |
|
|
1057 - Frágua |
|
Salta o corpo,
curso de água, |
A alma que é
sonho e lamento. |
Da força onde
pôr a frágua? |
- No amor do conhecimento. |
|
|
1058 - Resta |
|
O Homem é um
animal, |
Das trevas vem
da floresta, |
Da caverna, pantanal... |
- Em mim de meu
que é que resta? |
|
|
1059 - Torrão |
|
Não há nenhum
torrão de terra, |
Não há nenhuma
gota de água |
A que a vida se
não aferra |
E de que não
respire mágoa. |
|
|
1060 - Pacto |
|
Quase todos estes seres, |
Uns com outros
em contacto, |
Comem, bebem seus haveres, |
- Ser vida é um
imenso pacto! |
|
|
1061 - Rio |
|
O engano é que
busco brilhos |
E nos mais gero
fastio. |
Nunca me meto
em sarilhos |
Quando de mim
próprio rio. |
|
|
1062 - Roseiras |
|
São as roseiras
um sonho |
Que enflora uma
vez por ano. |
Dos outros onze disponho |
Para lhes regar
o plano. |
|
|
1063 - Pessimista |
|
Pessimista não se exorta, |
Queixa-se antes
do barulho |
Quando a sorte
bate à porta, |
Varre a sorte
para o entulho. |
|
|
1064 - Prenda |
|
Quando uma
prenda me dás |
Dos confins
trazida a mim, |
Do presente parte faz |
Toda esta lonjura assim. |
|
|
1065 - Quimicamente |
|
A matéria se associa |
Natural, quimicamente, |
E a vida assim
principia: |
- Quem fala em
milagre mente. |
|
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1066 - Antropomorfismo |
|
Ao falar aos universos |
O nosso maior abismo |
É o do antropomorfismo |
Que à odisseia
tolhe os versos. |
|
|
1067 - Átrio |
|
Ante os confins
do Universo |
Fica a Lua tão
chegada |
Que ao fim com
ela converso |
Cá no meu átrio
de entrada. |
|
|
1068 - Tradicionalista |
|
Na Igreja o
Espírito Santo, |
Servo tradicionalista, |
Mata sempre
todo o encanto |
Que Deus no
tempo revista. |
|
|
1069 - Desencanto |
|
Que direito tem
a Igreja |
De impor o
Espírito Santo |
Por testemunha que almeja |
Trazer-nos só o
desencanto? |
|
|
1070 - Céu |
|
O céu nunca
está no céu |
Porque no céu
nunca o vi: |
- O céu que
afinal é o teu |
É o que está
dentro de ti. |
|
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1071 - Jeito |
|
As ideias dão efeito, |
Mas fora do
corpo, não: |
É nele que têm
jeito |
De nos poder
dar a mão. |
|
|
1072 - Incerteza |
|
Quando o seguro
te apresa, |
A espera não
nasce ainda. |
É diante da incerteza |
Que uma
esperança é bem-vinda. |
|
|
1073 - Perdido |
|
Regime de tudo
ou nada |
É uma falta de
sentido: |
Deslize e queda
na estrada |
Não é de vez
ter perdido. |
|
|
1074 - Grávido |
|
Dedos de chuva alongados |
Escorrem para o
chão ávido |
Nos desertos abrasados: |
O mundo anda
sempre grávido. |
|
|
1075 - Vazio |
|
A segurança da fé |
Que mais é que
proporciona |
Que a que a
ciência põe de pé: |
É um vazio que
funciona? |
|
|
1076 - Véu |
|
O que nos salva
é o sentido |
Em que a
ciência rasga o véu |
Que oculta a
face do céu, |
Templo do desconhecido. |
|
|
1077 - Termos |
|
Façamos o que fizermos, |
Temos sempre de enfrentar, |
E dele nos
próprios termos, |
O infindo antes
de actuar. |
|
|
1078 - Coarctar |
|
Ninguém tem o
poder de o permitir, |
Ninguém o poder
tem de o coarctar: |
- Parem o
cosmos, quero aqui sair! |
Parem o cosmos,
quero mergulhar! |
|
|
1079 - Moderna |
|
A ciência moderna não |
Crerá nas almas
das coisas. |
É, por
consequência, em vão |
Se crês que
nela repoisas. |
|
|
1080 - Assisada |
|
Uma pessoa assisada |
Não terá de convencer |
Duma verdade acabada: |
- Vive-a e
deixa viver! |
|
|
1081 - Força |
|
De pouco
importa o dever |
Ou a força dos
açamos: |
Acabamos por fazer |
O que fazer precisamos. |
|
|
1082 - Privados |
|
Os privados do prazer |
Que o não podem
ter da vida, |
É que do céu
tentam ter |
A vida por cá
perdida. |
|
|
1083 - Rega |
|
Um lugar onde fugir |
Longe da dor e
da mágoa |
Deve um homem prevenir: |
- Toda a rega
requer água. |
|
|
1084 - Face |
|
Desejo de se
abrir todo |
Para que ela o
examinasse |
- É do amor o
estranho modo |
De dois ser
numa só face. |
|
|
1085 - Pinheiros |
|
Quando doer a saudade |
Irei até aos pinheiros. |
Há-de parecer verdade: |
Volto ao lar
dias inteiros! |
|
|
1086 - Vento |
|
Dum para outro momento, |
Eis-me aqui
outra pessoa: |
Leva-me do amor
o vento, |
Subo aos céus e
tudo voa. |
|
|
1087 - Ferro |
|
Casamento, a
voz de ferro |
Badalando o coração, |
Do sol o sino
no aterro: |
E eis a terra
em prenhidão! |
|
|
1088 - Êxtase |
|
Há uma dor que
há no prazer, |
Criadora, mesmo se aguda: |
- O parto da
mãe-mulher |
É um êxtase - e
a vida muda! |
|
|
1089 - Broas |
|
Às vezes aquele amor |
Que se tem
pelas pessoas |
Premeia um grande suor: |
Forte e quente,
sabe a broas! |
|
|
1090 - Mágico |
|
Um dia é um
momento mágico |
Com sentidos escondidos |
E o que em
nossa vida é trágico |
É andarmos disso esquecidos. |
|
|
1091 - Teima |
|
Qualquer um
paga a toleima |
De proceder sem pensar |
Onde o vai
levar a teima |
De o porvir não
ponderar. |
|
|
1092 - Pavio |
|
Duma desgraça o vazio |
Com sofrimento demora, |
O tempo queima
o pavio, |
Em fumo a dor
se evapora. |
|
|
1093 - Conselho |
|
Quem seguir um
mau conselho |
Decerto que se arruína; |
Quem lho deu
não morre velho, |
De perto lhe
segue a sina. |
|
|
1094 - Cancro |
|
O Homem, bem
longe de ser |
Da Terra o ser
mais fecundo, |
Mais que um
predador qualquer |
O Homem é o
cancro do mundo. |
|
|
1095 - Parteira |
|
Pêndulo entre
tumba e berço, |
A Humanidade é coveira |
De todo o sonho
disperso |
Se não for boa
parteira. |
|
|
1096 - Ancora |
|
Quem ancora
mais a vida |
Do sonho que
ata a esperança |
Que do cifrão
na medida |
Vive a vida que
não cansa. |
|
|
1097 - Janela |
|
Robinsons de ilha deserta, |
Cada qual no
seu carril, |
Somos a janela aberta |
Que anda
perdida entre mil. |
|
|
1098 - Heróis |
|
Chocam os
heróis um ovo |
Do que germina depois. |
Porém, feliz,
só um povo |
Que não precisa
de heróis. |
|
|
1099 - Erratas |
|
No galeão de brinquedo |
Os garotos são piratas |
Que a brincar
fogem ao medo: |
- Lêem da vida
as erratas! |
|
|
1100 - Eterna |
|
Vida eterna, vida eterna, |
E o dia tão
passageiro! |
- A morte é a
vida que hiberna |
Ou morre ali
por inteiro? |
|
|
1101 - Rende |
|
Quando alguém
de alguém aprende |
Que nos outros
alguém pensa, |
Uma nova força
o rende |
À vida que isto
lhe apensa. |
|
|
1102 - Passo |
|
Mil quilómetros de viagem |
Começam, senão fracasso, |
Na ninharia da imagem |
De dar o
primeiro passo. |
|
|
1103 - Confessar |
|
Confessar minha impotência, |
Longe de ser a
derrota, |
É dar a minha
anuência |
Da vitória a
qualquer rota. |
|
|
1104 - Ilude |
|
Que tempo nos persuade |
Que o infinito
é que ilude? |
No corpo só
mora a idade, |
O espírito é juventude. |
|
|
1105 - Muralha |
|
Que interesse pode ter |
Ser a vida uma
muralha |
Por trás da
qual o que houver |
É afinal tudo o
que valha? |
|
|
1106 - Espelho |
|
Velho e novo
são o espelho |
Do que envelhecendo inovo: |
- Quando o
velho é muito velho |
Surge inteiramente novo! |
|
|
1107 - Apostas |
|
Já quando um
homem nasceu |
Perdeu todas as apostas |
Da sina que o
iludiu: |
- Vir ver
caras, só ver costas! |
|
|
1108 - Provecto |
|
Dum monumento provecto |
Sem autor que o
gere inteiro, |
O tempo foi o
arquitecto |
E o povo foi o
pedreiro. |
|
|
1109 - Buraco |
|
Temos no crânio
o buraco |
Dos olhos para
o lugar, |
Temos dos olhos
um naco, |
Ainda não temos olhar. |
|
|
1110 - Felizmente |
|
São felizmente os pequenos |
Que aos grandes
irão dar caça: |
Cobram os que
são de menos |
Aos demais a
terra escassa. |
|
|
1111 - Gala |
|
Há tanta vida perdida |
E que de vida
faz gala! |
Não basta
passar a vida, |
O que é preciso
é ganhá-la. |
|
|
1112 - Cão |
|
Nós somos aquele cão |
A que a vida
ameia um osso |
E depois joga
da mão |
Uma pedra em
nosso fosso. |
|
|
1113 - Abuso |
|
A maior calamidade |
É a que traz
mais sacrifícios: |
O abuso da impunidade |
Traz o abuso
dos suplícios. |
|
|
1114 - Lição |
|
Ninguém aprende a lição |
De que o que os
homens arranjam, |
Por fatal destinação |
Os acasos desarranjam. |
|
|
1115 - Cimo |
|
De que vale
estar no cimo |
Se do que fica
distante |
Nem sequer com
este arrimo |
Se vir um palmo
adiante? |
|
|
1116 - Defunto |
|
Crer numa imortalidade |
Dando o
presente por junto |
É apostar na insanidade |
Dos sapatos do defunto. |
|
|
1117 - Moinho |
|
Matar o abuso é
o cadinho |
Para alterar maus costumes, |
Senão
destroi-se o moinho |
E há vento à
espera nos cumes. |
|
|
1118 - Nuvem |
|
Uma nuvem se formando |
Há milénios rebentou |
E há sempre
quem, reparando, |
“Só um raio -
diz - estoirou...” |
|
|
1119 - Esclarecido |
|
O espírito esclarecido |
Tem seus ídolos
que adora |
E se agasta sem
sentido |
Quando a lógica
os devora. |
|
|
1120 - Progresso |
|
Do progresso a crueldade |
Chama-se revolução: |
Maltratou-nos, é verdade, |
Mas fez-nos
voar do chão. |
|
|
1121 - Justo |
|
Ser bom bem
pode custar |
Mas ser bom
custa bem pouco, |
Que ser justo é
que há-de dar |
Com quem o
quiser em louco. |
|
|
1122 - Zero |
|
O zero nunca existiu |
E nunca existiu
o nada, |
Tudo é algo
neste rio, |
Nada é nada na
parada. |
|
|
1123 - Loisas |
|
Não registes
mais nas loisas |
Os bens como
sendo teus: |
- É que os
aspectos das coisas |
São pensamentos de Deus. |
|
|
1124 - Medonho |
|
Mais feroz do
que o mau rico, |
Perversidade há que sobre |
Quando no
avesso me aplico: |
- Bem medonho,
só o mau pobre! |
|
|
1125 - Peito |
|
Porque o
trabalho é de lei |
Importa tomá-lo
a peito. |
E é por ser lei
que então sei |
Que se requer
por direito. |
|
|
1126 - Dádivas |
|
Quando há
dádivas de mundos, |
Ao mundo lhe
acresce a luz |
Tanto que os
contras imundos |
Torna de quanto
a reduz. |
|
|
1127 - Minúcias |
|
As minúcias são folhagem |
Fértil dos grandes eventos |
Que se perde na
voragem |
Dos loucos da
História ventos. |
|
|
1128 - Impossível |
|
Sempre o que é
mais iminente |
Do impossível é
um registo |
E o que será
previdente |
É prever sempre
o imprevisto. |
|
|
1129 - Sentido |
|
Para a vida ter
sentido |
É ver certo o
que ela tem: |
- A ninguém é proibido |
Perder-se salvando alguém. |
|
|
1130 - Tempestade |
|
Tempestade de Verão! |
Custa a
acreditar que o dia, |
Tão fulgurante clarão, |
Chorado haja todavia! |
|
|
1131 - Milionário |
|
Deus é aquele escriturário, |
Dono das coisas
mais belas: |
Como qualquer proletário, |
É um milionário
de estrelas! |
|
|
1132 - Superior |
|
Quem por seu superior |
Tem alguém tal
como um mito |
Deixa de ouvir
no interior |
Suprema a voz
do infinito. |
|
|
1133 - Ventura |
|
Na ventura a
inveja quer |
Já não ser mais
invejosa: |
Gosta a ventura
de ver |
Toda a gente venturosa. |
|
|
1134 - Véu |
|
A ventura mais perfeita |
Mora do íntimo
no véu: |
Na alcova
escura a colheita |
Tem por tecto
todo o céu. |
|
|
1135 - Exclamação |
|
Na cidade, os monumentos |
São como, em conversação, |
Entre os vários elementos, |
Os pontos de exclamação. |
|
|
1136 - Somatório |
|
Uma vida é um
somatório |
De anos, dias, estações |
E é muito mais
o envoltório |
Que soma de decisões. |
|
|
1137 - Decisão |
|
A oportunidade opera |
Com a força
duma acção: |
Tanto pesa a decisão |
Como a ocasião
em que impera. |
|
|
1138 - Ocasião |
|
A quem toma a
decisão, |
Quanto mais por
ela espera |
Maior peso a ocasião |
Em que a tomará
pondera. |
|
|
1139 - Véus |
|
É a verdade
aquela jovem |
Tão pudica quanto bela |
Cujos véus se
não removem |
Nem quando
aflora à janela. |
|
|
1140 - Suporte |
|
Uma hora após a
morte |
Nossa alma desvanecida |
Será apenas o suporte |
Do que fora
antes da vida? |
|
|
1141 - Tente |
|
Procura ser eminente |
No que for banalidade |
P’ra que o
banal te não tente |
Se eminente é o
que persuade. |
|
|
1142 - Vazio |
|
Como o vazio é
o não-ser |
E o não-ser é o
que não é, |
Como é que
iremos manter |
Qualquer vazio de pé? |
|
|
1143 - Escolhos |
|
Aguardar sem energia |
É o tédio de
não ter fundo. |
A esperança é
que nos guia |
Entre os
escolhos do mundo. |